Três Idades

A vez primeira que te vi,

Era eu menino e tu menina.

Sorrias tanto...Havia em ti

Graça de instinto, airosa e fina.

Eras pequena, eras franzina...

***

Ao ver-te, a rir numa gaivota,

Meu coração entristeceu.

Porquê? Relembro, nota a nota,

Essa ária como enterneceu.

***

Quando te vi Segunda vez,

Já eras moça, e com que encanto

A adolescência em ti se fez!

Flor em botão... Sorrias tanto...

E o teu sorriso foi meu pranto...

***

Já eras moça... Eu, um menino...

Como contar-te o que passei?

Seguiste alegre o teu destino...

Em pobres versos te chorei.

Teu caro nome abençoei.

 

Vejo-te agora. Oito anos faz,

Oito anos faz que não te via...

Quanta mudança o tempo faz

Em tua atroz monotonia!

Que é do teu riso de alegria?

 

Foi bem cruel o teu desgosto.

Essa tristeza é que mo diz...

Ele marcou sobre o teu rosto

A imperecível cicatriz:

És triste até quando sorris...

***

Porém teu vulto conservou

A mesma graça ingênua e fina...

A desventura te afeiçoou

À tua imagem de menina.

E estás delgada, estás franzina...

MANUEL BANDEIRA

 

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Última atualização: 27/03/01 00:39:48

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