Objetivos
e justificativa
O que movimenta os processos de escrita e de leitura?
Por que escrevemos e lemos? Somos movidos pela
necessidade de expressar nossos pensamentos, de nos fazer
ver e ouvir, de nos comunicar. O desenvolvimento de
nossas funções intelectuais, na perspectiva vygotskiana,
é mediada socialmente pelo processo de aquisição da
linguagem escrita. Os signos linguísticos, que no
decorrer de nossa vivência são internalizados, geram
mudanças no nosso modo de ser.
A escrita promove caminhos diferentes de pensar. Ela
é uma forma de gerar, registrar e ampliar o conhecimento.
Segundo Teresa C. Rego (1995, p. 68-69) "o domínio
desse sistema complexo de signos fornece novo instrumento
de pensamento (na medida em que aumenta a capacidade de
memória, registro de informações, etc.), propicia
diferentes formas de organizar a ação e permite um
outro tipo de acesso ao patrimônio da cultura humana (que
se encontra registrado nos livros e outros portadores de
textos").
Buscando a compreensão do binômio Tecnologia e Educação,
partindo dos recursos disponíveis no ambiente escolar,
elaboramos um projeto que visa a construção de homepages,
envolvendo a aquisição da linguagem verbal e não-verbal.
A homepage é o resultado da elaboração de um sistema
complexo simbólico de relações intertextuais e
hipertextuais.
Introduz-se novos elementos no desenvolvimento do
indivíduo, e configura-se um outro tipo de escrita que
exige um novo aprendizado. O aluno não conta
apenas com o papel, a caneta e o dicionário, mas escreve
num teclado, lê numa tela e seu texto é corrigido pelo
auto-corretor de textos que lhe aponta os possíveis
formas corretas. Para dominar a nova técnica, ele efetua
processos de compreensão mentais mais complexos,
diferente daquela do papel que ele já dominava.
O indivíduo depara-se com uma escrita não linear,
pode fazer uso de imagens, palavras e sons
simultaneamente, possui mobilidade espacial. Tudo isso
facilita o processo de produção. A utilização de
materiais diversos para ampliar ou representar um texto,
dão à página um aspecto lúdico que transforma o ato
de ler e escrever numa aprendizagem em forma de jogo.
O indivíduo, ao construir
homepages, observa
como as sociedades organizadas se constróem e sofre
mudanças no seu modo de relacionar-se com o meio. A
aquisição e utilização desse tipo de linguagem ativa
um processo novo para o estudante, propiciando uma
compreensão de como a sociedade globalizada em que
vivemos funciona, e uma visualização melhor dos laços
de dependências que, no decorrer de nossa existência,
criamos com o outro.
Esse trabalho não tem um selo novitativo somente por
tratar-se de uma moderna tecnologia, mas porque introduz
uma forma de escrita hipertextual com a qual a escola não
está habituada a tratar. Uma escrita que permite ao
leitor observar materialmente as diversas conexões que
um texto possui, tornando concretos os cruzamentos de
informações que os leitores geralmente efetuam.
Essa forma de escrita ativa processos mentais de
leitura e escritura diferentes dos que o indivíduo vinha
processando até o momento. Não se trata de dar ênfase
a mais uma habilidade motora, está-se adentrando na mecânica
da linguagem escrita, levando-os a observar como dá-se o
processo cultural e complexo de construir frases, textos,
mudando inclusive o perfil da pesquisa escolar.
Ao agir nesse ambiente virtual, o indivíduo
estabelece a interação entre os textos construídos que
convergem num único texto. Assim como o desenvolvimento
humano é mediado por outros indivíduos que introduzem a
cultura do seu grupo, o texto é permeado por mediações
de outros textos. Cada texto é composto por uma "arca
de palimpsestos" (LUIZ DOS SANTOS).
O aluno parte do conto célula, Madalena de Clarmi Régis,
planeja suas ações e ao fazê-lo compara, deduz,
organiza seu pensamento e o expressa não só através
das palavras. Há todo um movimento de agrupamento de
informações, conceitos e significados, que leva a um
estrelamento do texto. Ele cria e recria partindo dos
significados apresentados inicialmente no conto mater,
arrolando produções de índole diversa: resumos, contos,
poesias, figuras, etc.
Na formulação
da homepage ele descortina e amplia a capacidade
de acúmulo de informação e memória que todo texto
traz consigo ao nascer. Cada link é um outro texto que
é gerado por uma prática de leitura e produção que não
é resultado de uma fala vazia, mas de um discurso
interior, resultado do diálogo de diversos textos.
Essa utilização do computador como ferramenta pedagógica
na leitura e produção de textos, oferece aos estudantes
uma visão do conhecimento científico atrelada ao
conhecimento empírico. "Uma técnica não se
converte em uma ferramenta até que a saiba manejar e lhe
aplicar a criatividade, a imaginação e o saber"(A.
M. Dugud, 1981). O
hipertexto é um recurso que ajuda a superar algumas
dificuldades de escrita e introduz ou melhor, recupera o
aspecto lúdico e artístico ao texto.
Ele traz uma mudança conceitual do ser homem e de
suas relações sociais à medida que o estrelar do texto
o faz perceber as diversidades culturais que o compõe.
Essa visão das partes que o levam ao todo dão-lhe um
entendimento do trabalho coletivo, interdisciplinar que
deveria reger nossa rotina.
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