O lugar da necrópole
Adélia Prado
Há quem tendo cantado e batido os dentes no copo já morreu. Há quem tendo falado suas dores secretas está hoje sob lápides, excrescendo sobre mim o seu fantasmas de pessoa verdadeira, rebelada, de pessoa poética. Na juventude me comprazia o fúnebre, As faces lívidas dos poetas doentes. Hoje, só preciso da vida pra morrer. Nas metrópoles, o campo santo acaba confundido, rodeado de bares. E por causa disso iludem-se as pessoas de ter nas mãos a indomesticável. O cemitério quer ladeira e montes para os quais se olha ao entardecer: um dia estarei lá, lá longe, no incontestável lugar.
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