O lugar da necrópole

 

Adélia Prado

 

Há quem tendo cantado e batido os dentes no copo

já morreu.

Há quem tendo falado suas dores secretas

está hoje sob lápides,

excrescendo sobre mim o seu fantasmas

de pessoa verdadeira, rebelada,

de pessoa poética.

Na juventude me comprazia o fúnebre,

As faces lívidas dos poetas doentes.

Hoje, só preciso da vida pra morrer.

Nas metrópoles,

o campo santo acaba confundido,

rodeado de bares.

E por causa disso iludem-se as pessoas

de ter nas mãos a indomesticável.

O cemitério quer ladeira e montes

para os quais se olha ao entardecer:

um dia estarei lá,

lá longe,

no incontestável lugar.

 

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Última atualização: 27/03/01 00:39:58

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