É ridículo, não nego: Mas como me comovia Aquele pintinho cego Que eu criava e não me via.
O meu cuidado primeiro, Quando cansado chegava, era indagar o caseiro Meu ceguinho como estava.
E ele que vivia a sós, Num momento que aparecia. Certamente conhecia O timbre da minha voz.
Vinha vindo e tateando Pela grama do jardim. Abaixava-se piando A esperar com alegria A festa que eu lhe fazia Quando o tinha junto a mim.
Uma vez (se bem me lembro Era no mês de dezembro) Pus a criadagem tonta... Ninguém dele dava conta.
Fiquei louco, furibundo, Pus em campo todo mundo, Gente corria assustada Pelo jardim, pela estrada,
Até que o acharam com frio, Longe, num campo baldio, Tonto, sem poder voltar. O seu caminho de volta Era escuro e misterioso Como uma noite sem luar.
Então resolvi prendê-lo: Fiz-lhe uma casa de palha E a todo instante ia vê-lo. Desse modo procurava Dar-lhe paciência e esperança Enquanto ele era criança, Para aguardar o futuro Mais escuro que o esperava.
Mas o destino, na trama Como a aranha o prendeu. O caseiro resolveu soltá-lo um pouco na grama... E ele desapareceu. Quando no fim de semana Voltei à minha choupana... Vinha feliz! Mal sabia Que ele não mais existia.
E me acredite, não cego Chorei com pena e saudade Daquele pintinho cego Que não via a claridade Do sol que ilumina o dia Que dá vida a todos nós, E entanto me conhecia E era feliz quando ouvia O timbre da minha voz.
|
|Projeto| |Práxis educativa| |Pressupostos
filosóficos| |Objetivos e justificativa| |Literatura e Informática|
Contato/Sugestões: adalu@zaz.com.br Última atualização: 27/03/01 00:39:58 |