E vai dizer o quê?
Zeto ( 1º NI )
- Moço, você sabe onde fica... esta rua?
Surpreendeu-me um transeunte abanando um papelzinho.
- Qual?
- Esta aqui! - dando ênfase ao movimento da mão que segurava o
papel.
Então me toquei. Peguei o papel e li:
- Rua São Bento. É lá no Centro. Você tem que pegar o metrô.
- E como é que pega, seu moço?
Só aí me dei conta da extensão do problema. Resolvi conduzi-lo
à estação mais próxima onde o entregaria aos cuidados dos
atenciosos funcionários do metrô.
No caminho, descobri que Severino o nome tinha que ser
este se tratava de mais um retirante dos secos (sem-fim)
confins do sertão. Ser tão sofrido, no melhor estilo João
Cabral.
Ao chegar a São Paulo, adoeceu e ficou asilado na Casa do
Imigrante, onde foi curado e surrupiado. Zanzou pela cidade por
dois dias até conseguir o mágico endereço no qual conseguiria
passagem de volta para a seca ou, se preferisse, auxílio na
capital paulista.
Chegando ao metrô, presenciei um momento inesquecível: epifania
pura! Olhos bem abertos, como os de quem, de súbito, descobre
toda a verdade.
Cabina, escada rolante, catraca, escada rolante, multidão,
escada rolante...
Voltei com a passagem e com um funcionário do metrô.
O tempo pareceu ter ficado parado.
O deslumbramento com a escada rolante era tanto que, cada vez que
um degrau surgia ou sumia, arregalavam-se mais (como se fosse
possível) os já ensopados olhos do retirante.
Terra seca. Olhos afogados de encanto e raiva da vida que levou
sempre subindo e descendo com pernas, vida e esforço
próprios:
- Como o povo daqui é bem tratado, né, seu moço?!!!
- ... (Vide título)