TRABALHO INFANTIL: O QUE DIZEM AS SAGRADAS ESCRITURAS

Flavio Augusto Picchi

 Na primeira edição deste jornal, fiquei assaz atônito com a repercussão alcançada por meu artigo “Interesse Próprio e Ensino Alheio”, tendo sido acusado de direitista, entreguista, governista, fascista, entre outros, (só não me chamaram psicanalista). Uma pena não ter ouvido críticas com argumentos concretos que pudessem suscitar tal alvoroço, talvez por não terem compreendido o que realmente quis dizer. Por uma coincidência, a declaração do Presidente Fernando Henrique veio, no mesmo dia da publicação do artigo, confirmar o que escrevi, de um modo um tanto quanto grosseiro.
 Decidi, por fim, renunciar a minha prévia opinião, aceitando a falta de argumentos de alguns, e escrever sobre assuntos um pouco mais tranqüilos, para que não suscitem tantas animosidades. Os opositores que se manifestem pelos meios cabíveis. Trate-se do tema que titula estas mal traçadas.
 Muito embora cada vez mais pessoas e organizações se dediquem a combater o trabalho infantil, esquecem-se de verificar como as Sagradas Escrituras se manifestam. Há coisas que, embora eu considere desnecessárias dizer, sempre são importantes. Para a civilização ocidental, é a obra literária mais importante. No campo religioso, todas as religiões que a tem por guia tratam-na por escrita sob direta inspiração divina, de modo que, para os que professam religião afim, opinião contrária à bíblica é inegavelmente anti-divina, levando seus portadores a inescusável danação eterna.
 Mas que nos trazem as palavras do livro sagrado? A história daquele homem nascido de uma mulher castamente intocada. O fato para o qual quero que todos atentem é o que segue: quando menino, ele próprio trabalhou duramente no ofício de seu pai, carpinteiro. Fato que apenas aqueles cegos à verdade se escusam de ver. Mas como o próprio menino posteriormente diria, aqueles que tiverem olhos, que vejam.
 É altamente blasfemo que seres humanos imperfeitos se insurjam contra os desígnios daquele que nos criou. Tendo sido o trabalho infantil por ele impingido ao próprio enviado, com que razão pode alguém argumentar contra? É uma atitude insensata e anti-natural, que, por óbvio, só pode ter sido incutida por ações demoníacas. Mais que tudo, o grande livro nos dá o exemplo perfeito a ser seguido, imitado, nunca renegado.
 Imaginem, meus leitores, se depois de dois mil anos, a providência indique, para o novo nascimento daquele homem, um casebre na zona da mata nordestina. Quem terá suficiente autoridade para retirá-lo da lide, como esforçado e mirrado cortador de cana, bóia fria que novamente, por seu sofrido esforço, nos redimirá? Os futuros acontecimentos estarão irremediavelmente cambiados. O império do mal se apoderará do planeta, quiçá do universo todo, por simples capricho de homens egoístas e ignorantes à verdadeira palavra. Toda a humanidade pagará com seu sofrimento e dor, sofrimento este que poderia ser expiado pelo suor pueril.
 Lutemos contra essa cruel realidade: entre as crianças trabalhadoras poderá estar a nossa própria redenção. Não podemos impedi-las, tampouco censurar seus patrocinadores. Ao contrário, incentivá-los. Só assim teremos a certeza de estar cumprindo nossa tarefa cristã. O resto é coisa do demônio.
          Em resumo, a pergunta que fica e não quer calar é: quem seria o orientador do mestrado em direito criminal (sic) de Alexandre Toledo, da novela “Torre de Babel”, nesta vetusta academia?

 

1