FHDolly

Homero Andretta Jr. ( 1º DI )

             O presidente atual parece não conhecer a realidade brasileira, tendo se esquecido das suas promessas de campanha (lembram-se dos 5 dedos?). Talvez sua amnésia tenha ocorrido no momento em que confundiu a sigla PSDB com a PFL e transformou-as em sinônimos. Social democracia só há para os ingênuos e cegos, impossibi-litados de perceber a situação dramática na qual o país se encontra. Talvez o que falte para o presidente seja um contato direto com o povo - afinal, não é ele que se depara todos os dias com mendigos na porta de seu Palácio, nem volta ensardinhado dentro de um ônibus para casa, digo, para o outro Palácio - o da Alvorada.
             Por causa dessa insensi-bilidade presidencial, proponho que se faça um clone de FH, supondo, por absurdo, que este tenha o mesmo nível intelectual, a mesma idade mas não os mesmos “privilégios”. Sem aposentadoria de “vagabundo” e sem emprego (será que existem empregos para sociólogos em um governo onde não se investe no social?), que caminho FHDolly tomaria? Tentaria, talvez, uma vaga de professor na USP - uma das próximas vítimas das privati-zações - mas infelizmente não conseguiria o cargo, posto que o FHOriginal já refutou suas próprias teorias. Ao notar que seu conhecimento de nada adiantaria para obter sustento, FHDolly armaria  uma  barraca de camelô na rua São  Bento, porque nas indústrias nem no comércio encontrou vagas - onde está a globalização que virá salvá-lo? No  segundo dia de trabalho, sua barraca foi destruída pela tropa de choque e, não tendo sobrado qualquer dentadura que lá vendia, abandonou a profissão. Desiludido, porém sem perder as esperanças, decidiu abandonar esta caótica cidade e buscar emprego no campo. Notou que os latifundiários não precisavam de peões e, sem alternativa, juntou-se a um acampamento do MST. Estando com muita fome, apoiou um saque a um supermercado mas acabou sendo preso - sob as ordens do lorde da Bahia, provisoriamente na presidência enquanto a matriz do clone viajava. Em desespero, desem-pregado e com fome, ficou doente e procurou auxílio em um hospital do SUS, onde ouviu dizer, na sala de espera, que o governo não havia repassado a verba para a compra de remédios. Enquanto sofria na maca, ouviu uma entrevista do Original no Jornal Bestial, onde afirmava que a globalização traria benefícios para o Brasil.
             O clone, então, olhou à sua volta e constatou que provavelmente não estava no Brasil. Por certo, no Brasil do futuro neoliberal não há lugar para mendigos, marreteiros, sem-terras, sem-tetos e outros tantos que sequer têm alguma coisa para ficar sem. Sentiu-se esque-cido,  abandonado   pelo governo e, mesmo sendo a cópia, FHDolly envergonhou-se de seu  irmão-de-clonagem, enquanto o povo, enraivecido, jogava-o para fora do hospital, só porque fora confundido com o Original. Voltando ao centro de São Paulo, FHDolly encontrou um ótimo lugar para dormir, onde mijava todas as noites e se enrolava em cobertas sujas para suportar o frio.
 

 

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