Depois de dois anos de trabalho junto às professoras da Rede de Educação Municipal de Macatuba, no interior de São Paulo, algumas delas hoje prestando serviços junto à APAE, (Associação e Pais e Amigos dos Excepcionais), sinto-me na obrigação de vir a Público para relatar uma parte dessa experiência. Sou professora de Didática e Prática de Ensino no Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da UNESP, no Campus de Bauru. Como tal, devo desenvolver pesquisas de interesse da comunidade cuja aprovação depende de um órgão maior da Universidade, a Comissão Permanente de Regime de Trabalho, cujos relatores analisam os Planos de Trabalho e os Projetos de Pesquisa apresentados pelos docentes, sugerindo e emitindo pareceres sobre seu interesse e validade. Em 1993 apresentei um Projeto de pesquisa que pretendia verificar o valor do uso do vídeo em sala de aula como instrumento de auto-avaliação do professor. É óbvio que as conclusões desta pesquisa poderiam estar influenciando no trabalho pedagógico dos professores observados, mas não era esta, a princípio, minha intenção. Entretanto, por sugestão da Profª Sonia M. Duarte Grego, Relatora da CPRT, que analisou o Projeto e propôs algumas alterações, o que seria apenas um estudo sobre o uso do vídeo em sala de aula passou a ser um Projeto de Educação Continuada para professores, na verdade, um projeto de intervenção com vistas à elaboração de Projetos Pedagógicos que viessem nortear a prática pedagógica das escolas envolvidas. Parecia-me pretencioso, mas desafiador e restava encontrar o espaço para sua realização. Não demorou para que este surgisse. Na mesma ocasião, atendendo a um convite da professora Selma Pereira de Freitas, Diretora da Educação do Município de Macatuba, no interior do Estado de São Paulo, para realizar uma palestra durante a 1ª Semana da Educação, tomei contato com as idéias que ela pretendia implementar para modernizar as ações técnico-pedagógicas nas pré-escolas municipais e percebi que poderia estar colaborando, aliando meu trabalho de pesquisa ao seu projeto de inovação. Com base nas referências obtidas com a tese "A prática pedagógica do alfabetizador: o que falta e o que precisa mudar", propus o acompanhamento do trabalho em sala de aula como uma forma de buscar tais condições. Na verdade o trabalho atenderia o princípio da indissolubilidade entre pesquisa e extensão de serviços, tarefas estas que nos propomos enquanto professores da Universidade. Com o aval da Profª Selma, a tarefa ganhou corpo e foi se tornando cada vez mais apaixonante. Não, é claro, livre dos percalços de um trabalho desta natureza. Barreiras de toda ordem, dificuldades as mais diversas, muitas professoras alheias ao processo, outras acintosamente contrárias a qualquer idéia de mudança foram alguns dos problemas que enfrentamos e ainda estamos enfrentando. Se não bastassem estes problemas relacionados ao próprio Projeto, surgiram muitos outros que quase nos levaram a desistir. Mas mesmo que houvesse apenas uma professora que quisesse continuar já valeria a pena. E foram várias as que continuaram e são testemunhas de que no caminho da transformação não existe retorno. Daqui para a frente só existe a visão do futuro; o passado permanece apenas na história. E é uma história que vale a penas contar. Faço minhas as palavras de Magda SOARES (1991:41) no seu "Metamemórias - memórias": "Conto o passado - o passado de que foi contemporâneo aquela que fui - conhecendo-lhe o futuro; portanto, na verdade, reconstruo-o em função desse futuro, que é o meu presente de hoje. Não propriamente em função do ponto de chegada (não "cheguei" ainda, bem o sei) mas em função do ponto em que agora estou." Zilá |