CARTA A MEU AMIGO QUE É PROFESSOR Caro colega. Venho por meio desta, relatar uma experiência difícil mas compensadora em todos os sentidos. Ela está endereçada especialmente a você, colega, que acha difícil o trabalho em sala de aula porque as crianças de hoje são impossíveis e não têm limites. Eu trabalho na APAE, com crianças com problemas de "comprometimento intelectual profundo" (chamadas por muitos de deficientes mentais) e essa tarefa foi, desde o início, muito complicada. Era muito mais que uma tarefa pedagógica, mas uma lição de vida. Lutar com eles contra o estigma que os trata como incapazes, tentando com toda força, junto com eles, conseguir resultados que lhes garantissem um mínimo de qualidade de vida, ainda que dentro do campo daquilo que se considera suas limitações, buscando suas maiores capacidades. Trabalhando em primeiro lugar o "eu" das crianças, respeitando-as como ser humano único, sem subestimá-las descobri que elas são capazes de muitas coisas, estabelecendo relações e limites com o mundo ao seu redor, ainda que, muitas vezes, isolando-se no seu próprio mundo. Difícil ? Difícil sim, mas não totalmente impossível. Conhecer cada um deles, eternamente criança em sua infinita infantilidade... Talvez vocês estranhem essa imagem, mas não é difícil compreender para quem está junto deles. Com certeza você sabe como são as crianças comuns (consideradas normais) aos 16 ou 17 anos, preocupadas com o que vão ser na vida, com planos para o futuro, precisando ser amadas, sim, mas nunca dependentes exclusivamente do afeto das pessoas. Nossas crianças são diferentes. Elas têm absoluta necessidade de serem amadas e compreendidas. Seu mundo é especial, é único. Suas reações às vezes são extremo carinho, enquanto em outras são de muita agressividade. A instabilidade de seu humor é típica de uma criança muito pequena. Quando um sorriso lhes brota dos lábios demostram que estão felizes, especialmente quando são aceitas e respeitadas. Qua*ndo não, quando se lhes impõem limites, gritam em protesto como se exigissem ser aceitos simplesmente como são. A cada atividade de sala de aula a pergunta: Conseguirão realizá-la? - Com irão reagir? Em cada uma de suas respostas é possível observar a amplitude de seus "pequenos conhecimentos", adquiridos num longo processo de crescimento e aprendizagem que muitas vezes leva o tempo da jornada de uma vida e nunca poderão ser iguais aos das outras crianças. Maria Aparecida LEDA Professora da classe
do Maternal I da APAE de Macatuba/SP |