Ministério Público da União
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
13ª e 14ª Promotorias de Justiça Criminal de Brasília
A Justiça e a Imprensa
A imprensa tem como função não só a
de transmitir notícias e comunicar fatos. Ao contrário, deve exercer ativo papel na formação de opiniões
e na educação de um povo.
Raro, porém isto se dar no que pertine aos diversos órgãos
que integram, aos olhos da sociedade, o que esta denomina de Justiça (englobando, aí, o Ministério Público
e a polícia judiciária).
Exemplo dos mais corriqueiros é a divulgação
da atuação dos protagonistas do processo criminal em total desconformidade com a realidade.
Qual o assíduo e atento leitor de jornais que não
se deparou ainda com prisões "decretadas" por promotores de justiça, condenações "pedidas" por magistrados?
Recentemente, ao divulgar notícias sobre o "caso Galdino", o Correio Braziliense anunciou que a Promotora de Justiça
encarregada do feito havia "marcado o interrogatório" dos acusados...
De forma inequívoca se frustram anseios... O da imprensa,
que é não só a entrega da informação, mas de uma que seja fidedigna e que cumpra a tarefa de educar a
sociedade a que se dirige... O da Justiça e de seus órgãos auxiliares, porquanto sua atuação não
chega fielmente ao conhecimento da população... E o da sociedade, que perde assim a possibilidade de conhecer
mais a fundo as suas instituições, em prejuízo da própria democracia.
Sem querer enfrentar a discussão sobre culpados, fica uma questão
para o debate: o que podemos fazer para alterar o quadro hoje posto?
Comentários
1) Comentários da Drª Regilene Nascimento, Advogada em Brasília - DF:
Este tema e de grande relevância jurídica, mormente se enfrentado nos dias
de hoje onde tudo se justifica sob o palio de um exercício de democracia.
Portanto, entendo ser necessário, preliminarmente, conscientizar a
sociedade o que seja um Estado Democrático, que no Brasil se qualifica
ainda como DE DIREITO. Sem essa conscientização e definição escorreita do
conceito de DEMOCRACIA, a mídia vai continuar atuando como um grupo de
"comadres" ao invés de uma elite estruturada a serviço do Desenvolvimento
Nacional.
O que vivenciamos hoje e o resultado de um desenfreado desejo da mídia em
obter e oferecer um "furo de noticia", o que a permeia de lastimável irresponsabilidade, pois
não só cria expectativas no seio da sociedade no
que pertine a uma potencial feitura de Justiça, mas pior que isso, muitas
vezes "condena", antecipadamente, aquele sobre o qual pairam meras
suspeitas - o que agride sobremaneira direitos e garantias constitucionais
(ao da ampla defesa por exemplo) - e outras vezes pior, mediante a imposição de
considerações anímicas pessoais, para atender interesses
juridicamente escusos, torna o "vilão" em vitima e vice-versa.
E é preciso tornar suficiente e claramente publico que não existem nem
democracia nem liberdade absolutas dada a heterogeneidade de uma
sociedade; a necessidade de fixação de um mínimo de garantias legais
essenciais a convivência humana já conduz a naturalidade dessas inexistências
(de liberdade e democracia absolutas). Portanto, criar-se um
mecanismo procedimental a veiculações de matérias pela mídia, escrita ou
falada, não seria nenhuma violação a liberdade de imprensa, pois essa
"liberdade" ha de ter como limite a liberdade de ser um humano, aquele
sobre quem se noticia.
No entanto, não entendo que o caminho seja a elaboração de mais diplomas
legais plenos de sanções, sejam pecuniárias sejam contra a livre locomoção do infrator. O caminho e a
conscientização dos jornalistas de que essa profissão atinge milhares de pessoas ao mesmo tempo, motivo pelo qual
eles, jornalistas, devem se tornar mais sensíveis aos fatos e buscarem
antever as conseqüências, muitas vezes gravosas, que uma reportagem,
partida de meros indícios ou presunções, poderá causar no mundo.
Entendo que se deva sensibilizar a mídia para os aspectos não só da sua própria
moralidade como instituição como aquela que e inerente a
humanidade e fazê-los ver que a imprensa poderá ser muito mais útil se os
efeitos dela decorrentes contribuírem para a crescimento da honra dos
homens como tal, pois sinto que nos dias de hoje, moral e honra tem sido
olvidados em momentos cruciais nos quais aqueles deveriam prevalecer.
Porque o Direito e uma ciência do DEVER-SER, e que entendo que não serão normas
jurídicas que tornarão a mídia mais responsável; será preciso um
mecanismo a médio e longo prazo que gere normas naturais de conduta; essas
sim, terão força legitimamente cogente e viabilizarão uma imprensa digna
de sua existência.