Salete - Virgem dos Alpes
Melaine Calvat não era uma pastora qualquer. Ela não devia o seu apurado misticismo, a sua extrema sensibilidade, a nenhuma das educações humanas. Também não sabia ler nem escrever. Jamais botara os pés na escola e mal frequentava a igreja paroquial, mais amiga das ermidas perdidas nos recantos e alturas quase inacessíveis das montanhas. O pai dela, Pedro Cavalt, que trabalhava na construção e por isso passava semanas ausente de casa, foi quem a ensinou a rezar; ela a amava. A mãe, Júlia Bernard, não se dava bem com ela, porque Melaine sempre chorava quando assistiam a algum espetacula na aldeia. Ela preferia suas montanhas, suas árvores, suas flores...
Uma tarde, escreve o abade gouin, posta para fora de casa, ela foi para aquela floresta que tanto amava.
O sol se punha, os pássaros não mais cantavam, tudo estava em silêncio. Sentou sobre uma árvore cortada, Pôs-se a chorar de novo, lembrando de seus pais, que acreditava ter perdido para sempres.
E a seguir tornou a lembrar-se do crucificado, do Cristo que não chora, que tem os olhos fechados e cala... Naquela noite, na floresta, ela teve um sonho. Apareceu-lhe aquele belo menino, com túnica cor-de-rosa e sandálias brancas, que Melanie já conhecia e a acompanhava desde seus sete anos, a quem chamava de "irmão querido". Nesta ocasião, Melaine queria beijá-lo, mas "o anjo" deu a entender que ainda não era o momento. Ao perguntar-lhe para onde gostaria de ir, a menina respondeu: ao cálvario. A floresta desaparece e ela descobre o segredo da crucificação, experimenta a dor e a subida. Mais tarde, acorda no mesmo lugar onde caíra no sonho. Vê seu "irmão pequeno" que lhe entrega seus primeiros estigmas, os quais se tornaram invisíveis, a pedido dela. Ali Melaine passou vários dias alimentando-se com frutas silvestres que sabia descobrir nas florestas. De vez em quando seu "irmão pequeno" trazia para ela um misterioso "reconfortante", feito de flores, e em outro momento, convertido em piedoso sacerdote, apareceu com o coração ardente à vista. Foi tocá-lo e ele transformou-se em uma sagrada forma. Melaine comungava na floresta, naquela sacralidade primordial, que as boas igrejas de pedras apenas tentam imitar. Aquele "irmão pequeno" era Jesus Cristo e mais ninguém.
Melaine nascera em 7 de nov. de 1831, em Corps, pequeno povoado dos Alpes Franceses. Muitas ciranças da zona rural eram empregadas como pastoras entre a primavera e o outono, a serviço de outras familias, algo mais abastadas, donas de alguns animais, Melaine Cavalt começou pastorear nos morros quando estava com seis anos. No ano anterior ao da aparição mais relevante da sua vida, em 1845, estivera em dois lugarejos diferentes; Saint-Michel e Quet-en-Beaumont, mas não tendo sido bem-tratada neles, seus pais resolveram, no ano seguinte, deixá-la na casa dos Prat, que eram amigos e viviam na aldeia dos Ablandins, na Salete. Melaine tinha então 15 anos.
Maximino Giraud também nasceu em corps, em 27 de agosto de 1835. Estava, portanto, com 11 anos de idade quando conheceu Melaine. Não sabia ler nem rezar; falava apenas patois e também pastoreava. Muito curioso, não possuía a sensibilidade de Melaine, nem a sua espiritualidade, embora fosse bom e singelo... E aconteceu que o pastor que guardava as duas vacas, duas terneiras, e duas cabras de Pedro Selme, adoeceu, de modo que esse camponês chamou Maximino para substituí-lo,e sendo ele mais novo, mandou que se juntasse a Melaine, que conduzia e cuidava nos altos pastos das quatros vacas do senhor Prat.
Uma Bela Senhora
Apariçoes recentes