Havia um momento em 1991 em que
o mundo mudou. Um instante no qual a força cultural da sociedade
moderna experimentou uma implacável mudança. Não,
o Muro de Berlim já havia caído e a economia japonesa continuava
crescendo. Foi algo muito mais tênue, ainda que, ao mesmo tempo tenha
sido tão evidente, poderoso e totalmente inesperado que chocou o
mundo do rock até sua parte mais profunda. Aconteceu durante o verão
daquele ano, quando uma canção chamada "Smells Like Teen
Spirit" foi lançada por uma, então desconhecida, banda residente
em Seattle, chamada Nirvana. A partir do momento em que os riffs recortados
e letras furiosas começaram a preencher o ar, ficou muito claro
para qualquer um que tivesse orelhas que uma nova era do rock'n'roll havia
começado. O hard rock alternativo acabara de chegar
e o Nirvana era o seu mensageiro. No som e na atitude o Nirvana
era diferente de tudo que a sociedade mainstream do rock jamais tinha escutado.
Enquanto eles já existiam no rock underground, durante três
anos, lançaram dois discos pelo selo independente de Seattle, Sub
Pop. Mas, uma vez que assinaram com a gigante Geffen Records parece que
o Nirvana instantaneamente acertou o caminho para o mundo mainstream. Sem
sacrificar nada do seu charme e som latente, o vocalista e guitarrista
Kurt Cobain, o baixista Chris Novoselic e o baterista Dave Grohl se transformaram
em um grupo destinado a destruir o status do rock
e introduzir as massas apreciadoras deste ritmo em um som cheio de sentimentos,
que muito vinha da sensibilidade crua do punk e do tradicionalismo do hard
rock. "Nós vamos para o palco e tocamos", disse
Cobain em 1992. "Se estivermos desafinados, está tudo bem. Seeu
não me lembrar das letras, está tudo bem também. As
pessoas que vem ao show parecem goster dele, não importa o que façamos.
Contanto que haja um feeling no lugar, nós estamos felizes."
Às vezes, parecia que o Nirvana tinha inventado
o feeling que se tornou "o som do começo dos anos 90". Junto com
outras bandas de sua cidade, como Pearl Jam, Soundgarden e Alice In Chains,
o Nirvana ajudou a introduzir o que passou a ser popularmente conhecido
como Grunge Rock Movement-um termo que apenas algumas bandas envolvidas
na cena gostavam ou sequer compreendiam. Para o Nirvana, tudo o que eles
estavam fazendo era continuar uma nobre tradição do rock
underground. A música deles estava baseada em uma energia selvagem
trazida por duas gerações de bandas pouco apreciadas como
o Black Flag, Melvins e Meat Puppets, todos grupos que influenciaram diretamente
no artista que se transformou em compositor, Kurt Cobain. foi o vocalista
predominantemente louro, perpetuamente pálido e magro que se tornou
a cara mais reconhecida de toda a cena de Seattle. As fortes paixões
que vinham de sua canções , as quais revelavam problemas
instalados em sua alma, pareciam falar para uma igualmente problemática
geração, da qual muitos estavam procurando por alguém
que colocasse todos os seus medos, raivas e frustações em
canções. Em Cobain eles encontraram seu santo patrono.
"Kurt foi uma das pessoas com mais dom que eu já
encontrei", Grohl disse. "Desde o momento em que o conheci, que foi depois
do Nirvana já estar junto por algum tempo, eu sentique ele era diferente
de todo mundo que conheci até então. Mas seus problemas,
as coisas que faziam com que as canções tivessem tanto sentimento,
também sua destruição. Ele realmente não podia
competir com o mundo. O estrelato era a última que ele queria. Eu
realmente penso que Kurt teria sido muito mais feliz se ele tivesse feito
música sozinho no meio do mato. Ele jamais estaria preparado para
dar de cara com o clarão das luzes do holofote público."
De fato, parecia que, assim que o primeiro disco do Nirvana
lançado através de uma grande gravadora, Nevermind,
chegou ao topo das paradas , as histórias que falavam sobre os problemas
de saúde, com drogas e dificuldades emocionais de Kurt começaram
a preencher a cena do rock. Chegou a um ponto em que as históriasquase
foram esquecidas, como se tivessem sido inventadas pela imaginação
superativa de alguns publicitários. Infelizmente, todas aquelas
histórias provaram ser verdadeiras. Enquanto a fama do Nirvana continuou
subindo como um foguete-com o lançamento de seu próximo álbum,
In Utero, com o casamento lucrativo de Kurt Cobain com a rainha
do rock, Courtney Love, e com suas turnês de ingressos esgotados-a
saúde do cantor continuou a deteriorar. Por um lado, seus tão
falados problemas só serviram para aumentar para aumentar sua mágica.
Ele era o modelo perfeito para os anos 90, uma talentosa a problemática
alma vivendo à beira de um desastre pessoal. Faltava só uma
transformar Cobain de ícone cultural para Deus do rock e, em abril
de 1994, esta 'coisa' aconteceu. Ele foi encontrado morto em sua casa de
Seattle, vítima de um tiro na cabeça disparado por ele mesmo.
Durante meses o mundo do rock lamentou. Cobain foi rapidamente aclamado
como o símbolo de seu tempo e, talvez injustamente, considerado
o John Lennon de sua geração. Embora tenha sido um compositor
de primeira e um emotivo e poderoso músico, devemos considerar se
as contribuições dadas por Kurt ao mundo do rock serão
lembradas suas canções do que pelo final sangrento de sua
vida. Parece ainda que, sem dúvida, os esforços de Cobain
ajudaram a revitalizaro o mundo do rock e colocá-lo de volta no
caminho certo quando ele mais precisava. Em um tempo no qual todas as bandas
pareciam estar se tornando sintéticas, tatuadas, bem ao estilo de
L.A., cheias de heavy metal bad boys, os esforços de Cobain nos
ajudaram a lembrar como o rock'n'roll deveria ser. Seus versos introspectivose
muito pessoais convenceram um gasto cenário do rock a acreditar
novamente em si mesmo.
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