Há vários vírus que atuam como agentes causais da hepatite: A,B,C,D,E, e G. Que são marcadores virais? Os Antígenos(Ag) e os Anticorpos (Ac) presentes no soro, em conseqüência de infecção pelos diversos vírus da hepatite; representam assim, componentes da estrutura do vírus (Ag)ou Ac gerados pelo sistema imune, em resposta à presença dos Ag. Principais marcadores virais: Vírus Ag Ac A anti-HAV IgM e anti-HAV IgG B HBsAg anti-HBs HBcAg anti-HBc IgM e IgG HBeAg anti-HBe HBV-DNA e DNA-polimerase C anti-HCV D anti-HDV IgM e IgG E anti-HEV IgM e IgG G Os marcadores virais são encontrados no soro sangüíneo. Assim é sempre para os Ac, mas alguns Ag podem ser detectados no tecido hepático, como HBsAg, HBcAg e HBeAg.
O HAV é um enterovírus RNA e a contaminação se processa por via fecal-oral. O período de incubação é 2 a 6 semanas; na prática não se detecta o vírus A ou seus componentes antigênicos no sangue. A hepatite A é endêmica nos países atrasados, com precária estrutura sanitária, e uma doença em extinção nos países do primeiro mundo. A doença se exterioriza em menos de l0% dos infectados. Não há evolução para formas crônicas, e o risco de curso fulminante é < 1/1000. A infecção induz à produção de Ac = anti-HAV. Anti-HAV IgM apresenta-se apenas nas primeiras semanas de infecção. Após esse período surge o anti-HAV IgG, que permanece por tempo indeterminado. É comum a infecção em nosso meio, onde mais de 90% da população apresentará anti-HAV. A forma fulminante parece ser mais comum na gestante. Podem ocorrer formas colestáticas que determinam níveis elevados de bilirrubinas, fosfatase alcalina e gamaglutamiltranspeptidase. Tais casos exigem o diagnóstico diferencial com as icterícias obstrutivas. A parturiente desnutrida e com hepatite aguda está exposta a complicações hemorrágicas durante a dequitação e o pós-parto imediato; o tratamento é a reposição de sangue total ou concentrado de glóbulos. Não há indicação de cesárea. Vacina: em maiores de 18 anos, 1,0 ml IM, e após 6 a 12 meses, mais 1,0 ml; se menor que 18 anos, 0,5 ml; após 30 dias mais 0,5 ml e após 6 a 12 meses, mais 0,5 ml.
É um vírus DNA, cujo contágio se faz por via parenteral e sexual.
O HCV é um vírus RNA, de transmissão parenteral, representando o agente habitual da hepatite pós transfusional.
O HDV é um vírus RNA defectivo. Ele somente se replica em presença do vírus B (HBV). A infecção pode se dar ao mesmo tempo que a infecção B (simultânea), ou pode ocorrer em indivíduos já portadores crônicos do HBV (superinfecção). Em nosso meio somente existe na região Amazônica. As vias de transmissão são idênticas às do HBV. Os marcadores do HDV são o Ag D e seu Ac (anti-HD). Na hepatite crônica usar INF, 9 milhões U, 3 vezes por semana, por 12 meses. Infecção simultânea O potencial patogênico do VHD fica limitado à viremia do VHB, sem mencionar que a replicação do VHD suprime a do VHB. De uma infecção simultânea B e D pode resultar formas fulminantes, fatais, mas em geral este tipo é benigno e auto-limitado. Verifica-se neste caso que, às curvas dos marcadores do HBV características da fase aguda, superpõem-se as dos marcadores do HDV. O Ag D está presente no soro, no mesmo período observado para o HBsAg. Depois torna-se positivo o Ac anti-HD de classe IgM, que marca a fase aguda da infecção D. Superinfecção Aqui, a constante produção do HBsAg assegura a persistência do agente D. Nesta situação, ao perfil típico dos marcadores no portador crônico do HBV se alinham os marcadores D. Na fase inicial há predomínio do anti-HD IgG, que permanecerá por tempo indeterminado. O portador crônico do HBV, ao se infectar com o vírus D, poderá apresentar sintomas ou não. No portador assintomático a infecção pelo HDV se manifestará como uma hepatite aguda HBsAg positiva mas anti-HBc IgM negativo. A pesquisa do anti-HDV IgM demonstrará, então, a infecção aguda pelo vírus D. Em hepatopatas crônicos a infecção D agravará o quadro histológico, acelerando o curso da doença causada pelo HBV. O diagnóstico de uma infecção ativa pelo HDV pode ser feito pela pesquisa do RNA viral no soro e no tecido hepático ou do HD-Ag, o Ag viral.
É a principal causa de hepatite não-A, não-B, transmitida via fecal-oral. É indistinguível da hepatite A clinicamente. Diagnóstico requere identificação de 27-34 nm virus-like particles pela imune eletromicroscopia em fezes na fase aguda. Ele é vírus RNA que afeta populações da África e Ásia, apenas, nas formas de epidemia e endemia, associado à contaminação da água. Incubação de 2 a 9 semanas. A infecção resulta em hepatite aguda, leve, resolvendo em 2 semanas, sem seqüelas, mas com alto risco de evolução fulminante em gestantes, principalmente no 3º trimestre. Mais freqüente dos 15 aos 40 anos. Não há risco de cronificação. Na fase aguda há anti-VHE-IgM e IgG.
É um flavavírus, que divide 27-40% de sua seqüência homológica com o HCV. Não é uma causa importante de doença hepática crônica. O fígado não é o sítio primário de replicação viral. Há uma alta prevalência de HGV em doadores de sangue (1-2%). HGV é transmitido pelas rotas EV e sexual. O screening de rotina em doadores de sangue não é recomendado. Diagnóstico - requere métodos virológicos baseados em testes sorológicos ou PCR, usando o Ac E2. Nenhum destes é facilmente disponível.
É um vírus recentemente descrito. Sua epidemiologia e doenças associadas são desconhecidas. Viremia é comum, mas não há associação com doença hepática. Ainda não há kits comerciais para sua detecção.
Descrita em 1950 por Waldenstrom, que chamou atenção para sua incidência preferencial em mulheres entre 15 e 25 anos ou na menopausa. Etiologia desconhecida, parecendo haver alterações imunes a nível do linfócito T supressor. Em conseqüência formam-se auto-Ac contra o hepatócito. Os Ac antinucleares são os mais comuns, mas são também encontrados em outras hepatopatias. Os Ac anti-músculo liso (SMA) podem estar associados aos AAN, e seu Ag alvo é a actina, uma proteína do citoesqueleto. Só quando encontrado o Ac antiactina (AAA) pode-se afirmar que se trata de HAI. Se os títulos de SMA forem menores que 1:160 é obrigatória a pesquisa do AAA. Os Ac antimicrossomais fígado/rim (LKM) reagem com o citocromo P 450 dbl; predominam na infância e associam a outras doenças de caráter autoimune, como o diabetes melitus insulino dependente, vitiligo e tireoidite de Hashimoto. Os Ac contra o Ag solúvel do fígado (SLA) são detectados através de radioimunoensaio e parecem constituir-se de citoceratinas dos tipos 8 e 18, elementos do citosol hepático. Os Ac anti-SLA não são organoespecíficos, e podem ser detectados nos rins e outros tecidos. Há ainda LSP (Liver Specific Protein), na membrana dos hepatócitos. Há um Ac antimembrana de hepatócito, o LMA (Liver Membrane Antibody), mais específico que a LSP, associado à HC ativa autoimune. Também C4 em níveis baixos e presença de HLA B8 e DRW3. Classificação A HAI tipo I é definida pela presença do SMA, com especificidade para o AAA. A presença de Ac não-organoespecíficos, como os ANA é freqüente. 75% dos pacientes são mulheres, com picos entre 10 e 25 anos e 45 a 70 anos; o homem é afetado em idade maior. Em 10% dos casos há associação com outras doenças autoimunes. Há hipergamaglobulinemia. 40% evolui para cirrose em 3 anos. A HAI tipo II é definida pela presença do Ac anti-LKM; é rara e mais agressiva; mais freqüente entre 2 e 14 anos. A associação com doenças auto-imunes é mais comum que no tipo I. Há Ac organoespecíficos, i.e., anti-célula parietal gástrica, e ausência de SMA e de Ac não-organoespecíficos em geral. 80% dos casos progridem para a cronicidade em 3 anos, com necrose em ponte, necrose multilobular e cirrose ativa. Há correlação entre o título do anti-LKM e a atividade da doença, medida através das aminotransferases e gama globulinas séricas. Apesar da agressividade a resposta à imunossupressão é importante. 50% dos pacientes sobrevive por 14 anos, tendo à histologia hepática cirrose inativa. A HAI tipo III é definida pela presença do Ac anti-SLA. 30% dos pacientes tem Ac anti-SMA e 40% algum outro autoAc, como antimitocôndria, antitireóide, antimembrana do hepatócito e FR. Mais comum dos 30 aos 50 anos. Há hipergamaglobulinemia, aminotransferases elevadas e boa resposta aos corticóides. Laboratório No início da doença as aminotransferases podem estar bem elevadas (10 - 30 vezes); há gama globulina acima de 3 g/dl; ambas caem espontaneamente durante a doença. A bilirrubina está entre 2 e 10 mg/dl. Trombocitopenia e leucopenia são comuns mesmo antes de haver hipertensão portal e esplenomegalia. Pode se encontrar anti-VHC em pacientes com HAI quando usados testes de primeira geração. A sorologia positiva para o VHC pelo ELISA é na verdade falso-positiva, pela hipergamaglobulinemia própria desta doença, já que a corticoterapia, levando à queda dos níveis de gama globulinas também elimina os resultados antes falso-positivos. A importância está no tratamento diferente para a hepatite crônica pelo VHC, com INF alfa, o qual piora clínica, bioquímica e histologicamente os pacientes com HAI. Histologia Biopsiar tão logo a coagulação permita. A hepatite crônica ativa, com necrose periportal e infiltrado plasmocitário importante, é a alteração mais comum; às vezes, sinais de cirrose ativa, ou se em remissão pela corticoterapia, cirrose inativa. Clinica A HAI pode ocorrer como uma hepatite viral aguda em 25% dos casos. A hepatite aguda grave não é rara, com encefalopatia hepática e alta mortalidade. Mas em geral o paciente permanece assintomático por meses ou anos. A icterícia colestática é rara. Os idosos tem doença mais avançada. Angiomas aracniformes em face, região cervical, tórax e MS aparecem e desaparecem de acordo com a atividade da doença. Estrias cutâneas pigmentadas são comuns no abdome e quadris. Gengivorragia, epistaxe e equimoses podem ocorrer. O fígado está aumentado, sugerindo cronicidade; nódulos são raramente palpáveis. O baço é palpável, mesmo na ausência da hipertensão portal, quando associado à hiperplasia linfóide. Diagnóstico diferencial Com HC através dos testes RIBA II e PCR. Todo paciente menor que 30 anos, com HC deve ser submetido ao exame da córnea com lâmpada de fenda. Os pacientes com doença de Wilson podem ter anéis de Kayser-Fleischer através deste exame. Confirmação diagnóstica pelo achado de cobre e ceruloplasmina séricos reduzidos e aumento do cobre urinário; o cobre hepático está aumentado. A ingestão de alfa metildopa, isoniazida e nitrofurantoína deve ser excluída. A hemocromatose é pesquisada pela determinação sérica do ferro. Na doença hepática alcoólica a histologia mostra esteatose (rara na HAI), corpúsculos de Mallory, infiltrado polimorfonuclear focal e lesão mais importante na zona 3. Mas o mais importante na diferenciação das hepatites crônicas é a biópsia. Tratamento A terapia imunossupressora prolonga a vida; se não tratados, a doença progride para a cirrose, insuficiência hepática e morte. A longo prazo, em geral, há progressão lenta e inexorável para a cirrose.
De que modo o sistema imune reconhece o HBcAg para produzir seu Ac específico? As partículas virais íntegras, liberadas na circulação podem ser captadas por linfócitos B, através de receptores específicos, sendo neles introduzidas. Ali os diversos elementos antigênicos do vírus, inclusive o HBcAg, são separados e reexpostos na membrana celular. Isto permite que linfócitos T auxiliares reconheçam os Ag e transmitam a informação para linfócitos citotóxicos e para células produtoras de Ac. O HBcAg só é detectado em tecido hepático, por técnica de imunoperoxidase. É um índice de replicação viral. Sua pesquisa deve ser, pois, incluída, quando se faz biopsia em paciente de hepatite crônica, de etiologia B. A positividade para HBcAg no tecido marca infecção replicativa. O que é clareamento imune? Período em que se verifica a negativação do HBeAg e o surgimento do anti-HBe, tornando-se negativo no soro, também, o HBV-DNA, além do que deixa de ser observada, ao nível tecidual, a presença do HBcAg. É descrito um surto transitório de agudização, com elevação das aminotransferases, as quais, posteriormente, retornam aos níveis normais. O que é clareamento tardio do HBsAg? Pacientes positivos para HBsAg por mais de 6 meses, em geral assim permanecem indefinidamente: tornam-se portadores crônicos do HBV. Porém tem havido um número reduzido de doentes nos quais se observa a negativação tardia deste Ag; sejam eles assintomáticos, ou mesmo portadores de hepatite crônica, ou até já de cirrose. A incidência desse clearance tardio é 0,5 a 3%/ano. Nas infecções pelos vírus B e C, como identificar a ocorrência de replicação viral? Com a introdução da técnica de PCR (polymerase chain reaction) tornou-se possível verificar a presença dos ácidos nucléicos (DNA ou RNA) daqueles agentes virais. Por esse método uma única molécula de DNA pode ser detectada no soro, sendo a seguir, por ação da polimerase, ampliada em número milhares de vezes, o que permite sua identificação. Assim, a positividade num soro em estudo, para HBV-DNA ou HCV-RNA, pela técnica de PCR, demonstra a presença daqueles vírus. Ora, se estes componentes genômicos (DNA ou RNA) são detectados no soro, significa isto que há vírus na circulação, podendo-se inferir a ocorrência de replicação viral.
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