Dia 17/04/96 Roberto me escreveu:
Oi Marcio, (se me permite dispensar o Dr)
Comecei agora à viajar pela sua lista
de discussão,
Inicialmente , também temos usado pouco
oxibutinina intravesical, porém tem um pós graduando na Unicamp(Julio
de Rio preto) que faz sua tese sobre o assunto. perguntarei a ele como
está indo e se possível pedirei a ele para
participar da discussão. Gostaria de
discutir nos casos de trauma raqui medular com lesão baixa aonde
o paciente
apresenta hipo ou arreflexia do detrusor quando
vocês orientam ao paciente manter micção através
de valsalva ou credê.Até o momento, sempre oriento um diário
miccional para avaliar se as manobras tem sido efetivas ou seja apos as
micções faz auto-cateterismo e mede o residual. Caso o residual
seja baixo e o paciente se mantenha clinicamente bem sem infecções
, deixo o paciente sem autocateterismo
O que voçe acha ?
Um abraço, Roberto
G Lucena
Ps: Faço residencia na unicamp porém
sou do Recife, votarei para Recife em janeiro
Para: Grupo de discussão em urodinâmica
Assunto: Grupo de discussão em urodinamica
Data: Domingo, 26 de Abril de 1998 17:11
Ao GDU
Antes de tudo queria desejar:
BoasVindas os novos participantes!
Gostaria também de expressar aqui minha opinião á respeito de micções com valsalva. Acho, como o José Tadeu , que micções com valsalva são de risco para o trato urinário inferior. O trabalho clássico de McGuire diz que pressões acima de 40cm/H2O (em Mielomeningocele) são de risco para trazerem repercussões ao trato urinário. Além disto, em homens, a alta pressão intravesical, realizada contra a resistênica esfincteriana, promove refluxo prostático e o resultado à longo prazo é comprometimento da função reprodutora. Como fator de bom prognóstico para coleta de semen por eletroejaculação, a realização de CIL é fator fundamental, mais que o próprio tempo de lesão. Porém, devemos nos ater à realidade. Muitos pacientes não têm condições de realizarem cateterismo intermitente por motivos sociais. A pressão alta intravesical por manobra de valsalva, aumenta também a pressão abdominal, aumentando também a pressão à nível ureteral, diminuindo a chance de refluxo. Acho a conduta do Roberto boa caso o paciente não tenha condições de realizar o cateterismo. A literatura americana não cita treinamento vesical como possível conduta nestes pacientes, e o CIL é a conduta. Porém acho que devemos estar alertas quanto á esta possibilidade terapêutica e dos riscos aí envolvidos.
Márcio,
Estou de acordo com sua visão social neste caso. Também
creio que devamos ter nossa realidade social em mente. Mas os pacientes
vítimas de TRM, necessitam inicialmente de tratamento multidisciplinar.
Nesta etapa, já com a avaliação urológica feita,
poderão ter orientação adequada desde o início
do tratamento quanto ao CIL (cujo custo unitário da sonda plástica
é menor de 50 centavos) e cuidados mínimos de higiene. Poderão
fazer uso do CIL, reutilizando muitas vezes um mesmo cateter. Creio que
seja mais uma questão educacional, tanto dos pacientes quanto dos
médicos envolvidos com este tipo de tratamento.
Só não concordo em substituir valsalva por CIL neste
caso específico. Quanto aos problemas sociais, cabe a nós
tentarmos mudar esta dura realidade de falta de informação,
orientando todos os profissionais evolvidos, médicos ou não!
Obrigado por mais esta oportunidade.
Caro José Tadeu
O problema social é imenso, e extrapola nossos desejos. Quiz colocar este aspecto aqui pois na literatura americana nem se cita outra possibilidade de esvaziamento vesical. Somente queria lembrar que 50 centavos 4 vezes ao dia representa R$60,00 por mes, ou seja muitas vezes, mais da metade da renda do paciente. Reutilizar a sonda é uma possibilidade mas tenho pacientes que não tem agua encanada em casa. E esta é uma representação social significativa. Não devemos abandonar o paciente porque ele não tem condições, mas devemos tentar adaptar-nos à situação. Estou de pleno acordo com voce que esta não deve ser a terapêutica de escolha, e ignorar cateterismo interrmitente hoje é como tratar pneumonia sem antibiótico.
O GDU está crescendo!!!
Bom dia.
Meu nome é Carlos e há +/- 1 ano tenho procurado desenvolver
meus conhecimentos em urodinâmica e bexiga neurogênica. Acho
extremamente importante discussões como as que tenho acompanhado
no GDU, principalmente quando podemos contar com pessoas experientes.
Sobre urodinâmica e B.N., pergunto:
1- Os relaxantes musculares, como o lioresal, conseguem promover
um relaxamento eficaz do esfincter externo?
2- Seria necessário associar algum tratamento farmacológico
para doentes com dissinergismo vésico-esfincteriano se vamos introduzir
cateterismo intermitente?
3 - Sobre pacientes com arreflexia detrusora ou hipocontratilidade
vesical, o betanecol é uma opção?
Aguardo, ansioso, comentários a respeito!
Carlos
A.R.Sacomani
São Paulo - SP
Agradeço a rápida inclusão de minhas questões
na home page do GDU.Desculpem-me mais não me apresentei corretamente.
Sou urologista formado pela Santa Casa de São Paulo em 1997. No
mesmo ano, após o término da residência médica,
decidi desenvolver meus conhecimentos em urodinâmica realizando um
estágio no Grupo de Bexiga Neurogênica da Clínica Urológica
do HCFMUSP. Atualmente, estou realizando pós-graduação(mestrado)
nesse serviço. Continuoaguardando seus comentários sobre
as questões que coloquei. Gostaria de parabenizar o Dr. Márcio
por abrir este espaço, para que todos nós
interessados em Urodinâmica possamos nos corresponder e trocar
informações. Acho também que uma página para
discussão de casos é uma ótima idéia e, em
breve, mandarei um dos meus.
Um abraço
Carlos
A.R.Sacomani
São Paulo - SP
1- Os relaxantes musculares, como o lioresal, conseguem promover um relaxamento eficaz do esfincter externo?
Quanto a primeira pergunta, acho que há um bom relaxamento(dose-dependente) da musculatura esquelética uma vez que os episódios de Disreflexia autonômica são mais brandos ou desaparecem (se não houver fatores desencadeantes, lógico) com o uso de lioresal. Porém, não acredito que façam o relaxamento necessário para dispensarmos o CI nos casos de Dissinergia Detrusor Esfincteriana de qualquer tipo. Acho muito arriscado. Portanto, uso como medicação "coadjuvante".
2- Seria necessário associar algum tratamento farmacológico para doentes com dissinergismo vésico-esfincteriano se vamos introduzir cateterismo intermitente?
A segunda pergunta acho que foi um pouco vaga,
que tipo de abordagem terapêutica se refere? Quimioprofilaxia? Em
alguns casos, após a certeza de sua adaptação quanto
ao CI, mantenho-o sem quimioprofilaxia e observo com urinálise periódicos.
Os pacientes em geral agradacem a conduta de simples observação.
3 - Sobre pacientes com arreflexia detrusora ou hipocontratilidade vesical, o betanecol é uma opção?
Quanto a sua pergunta sobre o betanecol
para pacientes com arreflexia ou hipocontratilidade: Inicialmente, não
prescrevo betanecol para pacientes com arreflexia por não acreditar
no seu efeito para tais casos, uma vez que a drenagem urinária se
fará por cateterismo intermintente; além do que a droga seria
de uso contínuo e cara para nosso padrão de população.
Nos casos de hipocontratilidade detrusora, descarto inicialmente
a presença de obstrução infra-vesical ( adenoma de
próstata, estenose de uretra, etc...) porém isto nem sempre
é fácil. Este quadro pode ser a descompensação
de uma obstrução infra-vesical agora mascarada. Portanto,
atualmente uso para pacientes jovens e tenho resultados satisfatórios,pelo
menos quanto a clínica dos pacientes atendidos...
Gostaria que todos pudessem colaborar para que este canal de comunicações
cresça cada vez mais...
Tenho certeza que o Márcio ficaria muito feliz com uma grande
discussão a
respeito desses assuntos ...
Finalmente alguém se animou a participar efetivamente sobre
alguma questão aqui!! Parabéns José
Tadeu pela sua participação.
Gostaria aqui de expressar também minha opinião e
complementar com alguns comentários
1- Os relaxantes musculares, como o lioresal, conseguem promover um relaxamento eficaz do esfincter externo?
Quanto ao uso de relaxantes musculares, estou de pleno acordo que devem ser usados para melhorar a espaticidade dos pacientes e não para tratar a dissinergia vésico esfincteriana. Lembre-se que estes pacientes muitas vezes tem contrações de membros inferiores, que os impede até de fazer manobras simples como mudar de decúbito.
2- Seria necessário associar algum tratamento farmacológico para doentes com dissinergismo vésico-esfincteriano se vamos introduzir cateterismo intermitente?
Quanto uso de alguma medicação para pacientes com dissinergia acho que deve ser utilizado droga anticolinérgica para diminuir ou inibir as contrações hiperativas. Portanto devemos propiciar somente esvaziamneto vesical com C.I. e não permitir micção por contração. Concordo com o que o José Tadeu disse à respeito da quimioprofilaxia. Gostaria de lembrar que estes pacientes mantêm bacteriúria e que o controle deve ser feito com leucocitúria e sintomas clínicos. somente a presença de bactérias não impõe antibioticoterapia.
3 - Sobre pacientes com arreflexia detrusora ou hipocontratilidade vesical, o betanecol é uma opção?
O Betanecol ja foi utilizado como uma droga muito boa para propiciar contração vesical. Acho que hoje ele deve ser reservaà hipocontratilidade mesmo, pois esta droga não desencadeia contração coordenada, podendo aumentar a pressão por fasciculação vesical (contrações localizadas), mas não promovendo uma contração verdadeira. Além disto a uretra tem receptores colinérgicos. Assim o Betanecol aumenta a resistência uretral, dificultando o esvaziamento vesical!. Tem contraindicação absoluta em obstrução, e como o José Tadeu ja citou, fazer diagnóstico diferencial de obstrução nesta situação pode ser problemática, pois os gráficos de estudo fluxo pressão são definidos para pacientes com contração detrusora.
Gostaria inicialmente agradecer os comentários sobre
o caso de hipo ou arreflexia detrusora,esclareço que fiquei fora
da discussão por algum tempo devido problemas técnicos.
Com relação ao uso do betanecol, também concordo
que seus resultados não são bons, utilizo apenas em alguns
casos de disfunção vesical pós cirurgias pélvicas
( nos primeiros dias de pos operatório) mesmo assim com resultados
precários . Em casos de bexiga neurogênica nunca utilizo.
Achei uma ótima idéia abrir discussão para casos .
Um abraço,
Caro Dr. Márcio.
Recebi por esses dias a revista Urodinâmica publicada pelo
Dr. D'Ancona. Finalmente, uma revista nacional que fala especificamentesobre
avaliação urodinâmica! Talvez este possa ser o canal
para difundir o GDU! Estou aproveitando este espaço para ampliar
meus conhecimentos e discutir vários assuntos com pessoas muito
mais experientes que eu.
Gostaria de colocar alguns assuntos em questão:
Acho excelente esta idéia de uma revista brasileira sobre urodinâmica. Muito pouco se tem feito ou falado sobre urodinâmica aqui no Brasil. Ainda não recebi um exemplar, mas vou procurar o meu esta semana. É duro morar no interior :-)))
1- Alguém ainda faz perfil uretral?
2- Alguém utiliza, eventualmente, o perfil uretral durante
a micção para avaliar melhor o ponto de obstrução?
-----Mensagem original-----
De: Carlos Sacomani <sacman@uol.com.br>
Data: Domingo, 17 de Maio de 1998 13:12
Assunto: Re: Grupo de discussão em Urodinâmica
Com relação às suas considerações sobre minhas questões, concordo completamente! Também concordo que o que lesa o trato urinário alto são pressões constantemente elevadas (complascência diminuída com Pdet superior a 40). Vejamos, quantos segundos demora a micção? Será que um aumento de pressão por breves segundos ou, por minutos se considerarmos todas as micções, pode realmente levar ao comprometimento do trato urinário superior? Eu acredito que não!
Um abraço
Prezado Carlos
Devemos sempre diferenciar as pressões. Como ja disse anteriormente, alta pressão de saída de urina com valsalva são menos lesivas que alta pressão com contração vesical. Assim também, alta pressão com perda de elasticidade é diferente de alta pressão com contração. Acredito que a pior situação é a lta pressão com contração, pois além de atingir altas pressões, também levam a disfunção detrusora, com espessamento de parede, divertículos e fibrose. Devemos até ter em mente ão não é tão alta, e a lesão na parede se estabelece, como nas contrações autonômicas, aonde a pressão intravesical até são em níveis baixos, mas a lesão detrusora se estabelece.
[[ ]]'ão
Vamos começar a discussão dos casos para vermos como fica!
Caro marcio, se tambem me permite abstensao do dr,
Sou Aderivaldo Cabral Dias Filho (melhor me chamar de Vado), e sou, como o Roberto, residente do hc-unicamp. Sua idéia de abrir a pagina para discussão de casos e excelente, põe a coisa mais pé no chao.
Eu tenho um caso:
É um paciente de cerca de 40 anos, com queixa de dor perineal
(que o incomoda muito) e freqüência e ocasionalmente jato interrompido
(que o incomoda pouco). Apos a tradicional busca por uma prostatite, ou
o que o valha, foi indicada uma urodinamica, que mostrou uma fase cistométrica
com boa capacidade e boa complacência e sem CNI, e um fluxo/pressao
com Qmax de 15ml/s, com jato intermitente e com atividade eletromiografica
do assoalho presente. O paciente usou alfabloqueador e não melhorou
nada. como estava utilizando doses baixas, aumentei a dose e aguardo retorno.
Minha pergunta é:
Posso diagnosticar este paciente como tendo dissinergia detrusor
esfincteriana (acho que sim)?
Temos algo mais a fazer por ele?
De onde apareceu isto?
Nossa conduta esta de acordo com a sua, ou vc utiliza alguma medida
adicional (tendo em vista que o alfa bloqueador teria acao na musculatura
lisa do colo da bexiga, e a atividade detectada e oriunda de mm estriada)?
Parece que foi mais de uma pergunta, marcio.
um abraço, Vado
Aderivaldo Cabral Dias Filho (infelizmente o Vado mandou a correspondência sem endereço de resposta)
-----Mensagem original-----
De: Carlos Sacomani <sacman@uol.com.br>
Data: Domingo, 17 de Maio de 1998 13:24
Assunto: Grupo de discussão em Urodinâmica
Caro Vado,
Primeiramente gostaria de cumprimentá-lo por ter aberto a
sessão de discussão de casos deste grupo. Algumas coisas
devem ser consideradas com relação ao quadro em questão:
1) há quanto tempo o paciente exibe tal queixa? Houve algum
fator desencadeante?
2) do ponto de vista neurológico, considerando-se a história
e exame físico, há algo que sugira comprometimento neste
setor?
3) será que o pacte. possui uma dissinergia vésico-esfincteriana
ou ele contraiu a musculatura perineal e o esfincter externo durante o
exame em função do quadro doloroso?
Acredito que o trato urinário baixo deste pcte. deva ser
melhor inspecionado. Observe que a queixa do doente é mais relacionada
com a dor do que com o fluxo baixo (embora não haja, muitas vezes,
correlação entre o quadro clínico e a avaliação
urodinâmica como mostram vários trabalhos). Observe se ele
não apresenta obstrução prostática, estenose
uretral para justificar o jato intermitente que vc. encontrou (gostaria
que vc. também nos informa-se qual o Pdet durante o fluxo de 15ml/s
p/ avaliar melhor presença ou não de obstrução).
Será que seu paciente interrompe o jato voluntariamente em decorrência
da dor perineal?
Devido a estas considerações acho precoce enquadrar
como dissinergia vésico-esfincetriana. Acho necessária melhor
avaliação.
Com relação ao uso de alfa-bloqueador acredito que
não será eficaz. Se o quadro for de dissinergia a ação
desses fármacos é diminuta.
Outra questão: como vc. afastou o diagnóstico de prostatite?
Muitas vezes quadros de prostatite crônica são de difícil
diagnóstico e nos orientamos basicamente na clínica do doente.
Vc. já tentou diminuir o quadro álgico e reavaliar
o doente após?
Vc. tentou alguma medicação anti-inflamatória?
Lembre-se que a queixa principal do pcte. é dor perineal!
Outro dado: cistite intersticial também existe em homens!
Apesar de não ter diminuição da capacidade (em geral
esses doentes possuem CV<300ml e sensibilidade aumentada), frequência
urinária elevada e dor suprapúbica e/ou perineal fazem parte
do quadro! Há alguma avaliação cistoscópica
deste doente?
Lembre-se também que pctes. com CA in situ podem apresentar
apenas queixas irritativas.
Aguardo participação dos demais colegas! Acho que
este caso vai render muita discussão!
Um abraço
Carlos
A.R.Sacomani
Primeiramente gostaria de colocar aqui alguns pontos sobre a apresentação.
Apesar de nossa tendênica ser colocarmos um resumo da história,
acho fundamental tentarmos apresentarmos o caso mais completo, e suas dúvidas
à respeito da história e exames são muito pertinentes.
Acho que a colocação dos gráficos do estudo urodinâmicos
ser de muito interesse. Apesar de tentarmos manter a discussão mais
coloquial, acho que uma apresentação mais acadêmica
sera necessária.
Um ponto que achei interessante foi a discussão de dissinergia.
Acho que a definição de dissinergia, como contração
esfincteriana na vigência de contração vesical muito
falha. Uma situação como esta, aonde a dor não permite
o relaxamento esfincteriano, seria dissinergia? Ou a dissinergia estaria
presente em disfunção neurológica somente? E em crianças
com bexiga neurogênica não neurogênica, como seria a
classificação. Em pacientes com Sindrome de Dow e em paralisiua
cerebral como fica a classificação?
No caso em discussão, acredito que a dor seja a causa e não
a conseqüencia. Um ponto não esclarecido na urologia, são
os processos "inflamatórios" como prostatodínea e cistite
intersticial. Acho na verdade que são sindromes e não diagnóstico.
Afastar um Ca in situ é fundamental, mas a biópsia clássica
da Cistite Intersticial é uma situação pouco freqüente,
e se não pensarmos nesta possibilidade, jamais faremos este diagnóstico.
Estamos aguardando a réplica do Vlado (bem como seu endereço eletrônico :-)))))
Com relação à dissinergia detrusor esfincteriana, gostaria de levantar uma dúvida sobre o diagnóstico.
O diagnóstico só pode ser feito pela eletromiografia ou a videourodinâmica demostrando fechamento à nivél esfincteriano na vigência de contração detrusora é diagnóstico de dissinergia? Esta colocação se dá pela dificuldade de realizar a eletromiografia , principalmente em pacientes com sensibilidade perineal.
Caro Roberto
A EMG é um dos métodos de se realizar o diagnóstico de dissinergia. O diagnóstico pode ser realizada com eletrodos perineais de superfície, que apesar de não ser o método ideal para se realizar o diagnóstico, permite que o estudo seja feito sem grandes traumas ao paciente, principalmente quando a sensibilidade perineal esta preservada. Mas a Video urodinâmica, o perfil pressórico uretral dinâmico e as medidas de fluxo pressão permitem também a realização deste diagnóstico. Se um pacinete urina, e durante sua micção o fluxo ocila sem alteração significativa de pressão, ou o que é mais frequente, apresenta contração de alta pressão e o fluxo se estabelece somente quando a contração esta cessando, podemos fazer o diagnóstico de dissinergia, que no último caso, classificaríamos como dissinergia inicial e no anterior seria dissinergia intermitente.
Caro Márcio (também peço a licença de omitir o Dr.)
Realmente só se diagnostica cistite intersticial quando
se pensa em cistite intersticial. Também acho que se trata de uma
síndrome. Há dois grandes pesquisadores sobre C.I.: Hanno
e Parsons. O segundo admite que C.I. seria uma síndrome caracterizada
por aumento da frequência urinária + dor suprapúbica
e/ou disúria na presença de urocultura negativa. Ele acredita
que a síndrome uretral, as trigonites e uretrites idiopáticas,sejam
estágios iniciais da C.I.. Já Hanno se prende mais aos critérios
da NIDDK, porém também considera a cistite intersticial como
síndrome. Concordo que a biópsia não faz diagnóstico.
Eventualmente o patologista pode encontrar aumento de mastócitos
que ajuda no diagnóstico. A cistoscopia com hidrodistensão
pode mostrar as glomerulações (petéquias na mucosa
vesical) ou a presença da "úlcera" de Hunner (eu nunca vi!!!).Na
urodinâmica: baixa capacidade vesical às custas de sensibilidade
aumentada.
Frequentemente,quando pensamos em C.I., nos lembramos daquelas
mulheres com queixas baixas crônicas que já passaram por n+1
urologistas. Porém devemos nos lembrar que a C.I. também
ocorre em homens. No caso do Valdo, o sintoma mais marcante é a
dor perineal! Eu pergunto dissinergia vésico-esfincteriana dói?
Será que o achado eletromiográfico relatado por Valdo não
seria uma contração perineal ou do assoalho pélvico
em função do quadro doloroso? Ainda sobre dissinergia:
eu tenho o conceito de que é a não abertura do esfíncter
durante uma contração detrusora. Já vi laudos de urodinâmica
de outros colegas que evidenciaram bexigas com hipocontratilidade e consideraram
a presença de dissinergia através do estudo fluxo/pressão
simplesmente por que o fluxo era baixo! Eu não concordo! Acho que
o diagnóstico de dissinergia é difícil! Só
se torna fácil quando há um quadro neurológico associado
como nos pctes. com trauma raquimedular, esclerose múltipla, etc..
Além disso, costumamos diagnosticar a dissinergia do esfíncter
externo. Quando ocorre dissinergia do esfíncter interno, o exame
urodinâmico tradicional é insuficiente.
Márcio, agradeço novamente por este espaço
aberto para discussões.
Tenho aprendido muito e também tenho a possibilidade de expressar
livremente minhas idéias e conceitos.Aguardo as réplicas
aos meus comentários e dos demais colegas.
P.S. Vc. já recebeu a sua revista Urodinâmica?
Um abraço
Acredito, como ja disse anteriormente, que cistite intersticial não
é propriamente um diagnóstico, mas uma síndrome. Dentro
dela estão vários diagnósticos, inclusive este qeu
chamos de cistite intersticial, com úlcera de Hunner (ja vi em 2
pacientes, do sexo feminino, com sangramento intenso), mastócitos
no exame microscópico anatomo patollógico, mais frequente
em mulheres, etc...
Quanto ao caso de dor perineal, é muito difícil caracterizarmos
a dor nestes paciente. Tenho atualmente um paciente que me procurou após
fazer duas cirurgias para Hérnia de Disco, por dor pélvica.
O paciente veio em cadeira de rodas. O achado cistoscópico e histológico
foi de Cistite intersticial . Após duas dilatações
o paciente melhorou em 70% do seu quadro doloroso. Com isto quero dizer
que este quadro doloroso, associado ao quadro de distúrbio psicogênico
(primário ou secundário) dificulta a avaliação
clínica destes pacientes.
Como tb ja discutoti anteriormente a dissinergia em Bexiga Neurogênica
é de mais fácil diagnóstico. Em pacientes sem lesão,
não uso o termo dissinergia, mas atividade esfincteriana durante
a contração (Involuntária? Voluntária?). Acredito
que realmente seja a dor gerando a atividade esfincteriana e não
ao contrário.
Quanto a dissinergia de esfíncter interno (liso), é
uma situação pouco discutida e pouquíssimas vezes
suspeitei deste diagnóstico. Desembriogênese de colo sim,
mas dissinergia não