BERTOLT BRECHT 1913-1956


 "Os maus temem tuas garras
  Os bons se alegram de tua graca.
  Algo assim
  Gostaria de ouvir
  Do meu verso."
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 NO MURO ESTAVA ESCRITO COM GIZ:

 SOBRE A VIOLÊNCIA

 DAS ELEGIAS DE BUCKOW

 PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

 SE FOSSEMOS INFINITOS

 FERRO

 QUEM SE DEFENDE

 EU SEMPRE PENSEI

 NAO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR

 LENDO HORACIO

 A FUMAÇA

 O MANETA NO BOSQUE

 EPITÁFIO PARA GORKI

 NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ

 A MÁSCARA DO MAL
 
 REFLETINDO SOBRE O INFERNO

 NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO

PRECISAMOS DE VOCÊ

O VOSSO TANQUE GENERAL, É UM CARRO FORTE

ELOGIO DA DIALÉTICA
 
 
 

NO MURO ESTAVA ESCRITO COM GIZ:
 
    Eles querem a guerra.
    Quem escreveu
    Já caiu.
 

SOBRE A VIOLÊNCIA
 
    A corrente impetuosa é chamada de violenta
    Mas o leito do rio que a contem
    Ninguem chama de violento.

    A tempestade que faz dobrar as betulas
    E tida como violenta
    E a tempetasde que faz dobrar
    Os dorsos dos operarios na rua?

DAS ELEGIAS DE BUCKOW

                Viesse um vento
                Eu poderia alcar vela.
                Faltasse vela
                Faria uma de pano e pau.

PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO  QUE LÊ.

        Quem construiu Tebas, a das sete portas?
        Nos livros vem o nome dos reis,
        Mas foram os reis que transportaram as pedras?
        Babilònia, tantas vezes destruida,
        Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
        Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
        No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
        Foram os seus pedreiros? A grande Roma
        Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
        Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
        Sò tinha palácios
        Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
        Na noite em que o mar a engoliu
        Viu afogados gritar por seus escravos.

       O jovem Alexandre conquistou as Indias
       Sòzinho?
       César venceu os gauleses.
       Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
       Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
       Chorou. E ninguém mais?
       Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
       Quem mais a ganhou?

      Em cada página uma vitòria.
      Quem cozinhava os festins?
      Em cada década um grande homem.
      Quem pagava as despesas?

     Tantas histórias
     Quantas perguntas

FERRO

     No sonho esta noite
     Vi um grande temporal.
     Ele atingiui os andaimes
     Curvou a viga
     A feita de ferro.
     Mas o que era de madeira
     Dobrou-se e ficou.

SE FOSSEMOS INFINITOS

     Fossemos infinitos
     Tudo mudaria
     Como somos finitos
     Muito permanece.
 

QUEM SE DEFENDE

     Quem se defende porque lhe tiram o ar
     Ao lhe apertar a garganta,para este ha um paragrafo
     Que diz: ele agiu em legitima defesa.Mas
     O mesmo paragrafo silencia
     Quando voces se defendem porque lhes tiram o pao.
     E no entanto morre quem nao come,e quem nao come
               o suficiente
     Morre lentamente.Durante os anos todos em que morre
     Nao lhe e permitido se defender.

EU SEMPRE PENSEI

 
     E eu sempre pensei: as mais simples palavras
     Devem bastar.Quando eu disser como e
     O coracao de cada um ficara dilacerado.
     Que sucumbiras se nao te defenderes
     Isso  logo veras.

NAO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR

     Nao necessito de pedra tumular,mas
     Se necessitarem de uma para mim
     Gostaria que nela estivesse:
     Ele fez sugestoes
     Nos as aceitamos.
     Por tal inscricao
     Estariamos todos honrados.

LENDO HORACIO

     Mesmo o diluvio
     Nao durou eternamente.
     Veio o momento em que
     As aguas negras baixaram.
     Sim,mas quão poucos
     Sobreviveram!

A FUMAÇA

     A pequena casa entre árvores no lago.
     Do telhado sobe fumaça
     Sem ela
     Quão tristes seriam
     Casa,ávores e lago.

O MANETA NO BOSQUE
 
     Banhado de suor ele se curva
     Para pegar o graveto.Os mosquitos
     Espanta com um movimento de cabeça.Com os joelhos
     Amarra a lenha com dificuldade.Gemendo
     Se apruma,ergue a mão
     Para ver se chove.A mão erguida
     Do temido Guarda SS.

 EPITÁFIO PARA GORKI

     Aqui jaz
     O enviado dos bairros da miséria
     O que descreveu os atormentadores do povo
     E aqueles que os combateram
     O que foi educado nas ruas
     O de baixa extração
     Que ajudou a abolir o sistema de Alto a Baixo
     O mestre do povo
     Que aprendeu com o povo.
 

NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ

 Á memória de Carl von Ossietzky

     Aquele que não cedeu Foi abatido
     O que foi abatido Não cedeu.
     A boca do que preveniu Está cheia de terra.
     A aventura sangrenta Começa.
     O túmulo do amigo da paz É pisoteado por batalhões.
     Então a luta foi em vão?
     Quando é abatido o que não lutou sò O inimigo Ainda não venceu.

A MÁSCARA DO MAL

     Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa
     Máscara de um demônio mau,coberta de esmalte dourado.
     Copreensivo observo As veias dilatadas da fronte,
     indicando Como é cansativo ser mal

REFLETINDO SOBRE O INFERNO

     Refletindo,ouco dizer,sobre o inferno
     Meu irmão Shelley achou ser ele um lugar
     Mais ou menos semelhante a Londres.
     Eu Que não vivo em Londres,mas em Los Angeles
     Acho,refletindo sobre o inferno,
     que ele deve Assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.
     Também no inferno Existem,não tenho dúvidas,esses jardins luxuriantes
     Com as flores grandes como árvores,que naturalmente fenecem
     Sem demora,se não são molhadas com água muito cara.
     E mercados de frutas Com verdadeiros montes de frutos,no entanto
     Sem cheiro nem sabor.E intermináveis filas de carros
     Mais leves que suas próprias sombras,mais rápidos
     Que pensamentos tolos,autómoveis reluzentes,nos quais
     Gente rosada,vindo de lugar nenhum,vai a nenhum lugar.
     E casas construídas para pessoas felizes,portanto vazias
     Mesmo quando habitadas.
     Também as casas do inferno não são todas feias
     Mas a preocupacão de serem lançados na rua
     Consome os moradortes das mansões nao menos que
     Os moradores do barracos

 NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO

      Ficarão maiores As propriedades dos que possuem
      E a miséria dos que não possuem
      As falas do guia*
      E o silêncio dos guiados.
 

*Führer

PRECISAMOS DE VOCÊ.

        Aprende - lê nos olhos,
         le nos olhos - aprende
         a ler jornais, aprende:
         a verdade pensa
         com tua cabeça.

         Faça perguntas sem medo
         não te convenças sozinho
         mas vehjas com teus olhos.
         Se não descobriu por si
         na verdade não descobriu.

         Confere tudom ponto
         por ponto - afinal
         você faz parte de tudo,
         também vai no barco,
         "aí pagar o pato, vai
          pegar no leme um dia.

         Aponte o dedo, pergunta
         que é isso? Como foi
          parar aí? Por que?
          Você faz parte de tudo.

         Aprende, não perde nada
         das discussões, do silêncio.
         Esteja sempre aprendendo
         por nós e por você.

          Você não será ouvinte
          diante da discussão,
          não será cogumelo
          de sombras e bastidores,
          não será cenário
          para nossa ação

O VOSSO TANQUE GENERAL, É UM CARRO FORTE

    Derruba uma floresta esmaga cem
    Homens,
    Mas tem um defeito
    - Precisa de um motorista

    O vosso bombardeiro, general
    É poderoso:
    Voa mais depressa que a tempestade
    E transporta mais carga que um elefante
    Mas tem um defeito
    - Precisa de um piloto.

    O homem, meu general, é muito útil:
    Sabe voar, e sabe matar
    Mas tem um defeito
    - Sabe pensar
 

ELOGIO DA DIALÉTICA

     A injustiça avança hoje a passo firme
     Os tiranos fazem planos para dez mil anos
    O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
    Nenhuma voz além da dos que mandam
    E em todos os mercados proclama a exploração;
    isto é apenas o meu começo

    Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
    Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

    Quem ainda está vivo não diga: nunca
    O que é seguro não é seguro
    As coisas não continuarão a ser como são
    Depois de falarem os dominantes
    Falarão os dominados
   Quem pois ousa dizer: nunca
    De quem depende que a opressão prossiga? De nòs
    De quem depende que ela acabe? Também de nòs
   O que é esmagado que se levante!
   O que está perdido, lute!
   O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
   E nunca será: ainda hoje
   Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

sem título
          Com quem o justo se recusa a ir à mesa
          Se se trata de ajudar a justiça
          Que remédio pareceria demasiado amargo
          Ao moribundo?

         Que baixeza você recusaria cometer
          Para extirpar toda a baixeza?
          Se você pudesse transformar o mundo, o que
          Você não aceitaria fazer?

          Quem é você?

          Mergulha no lodo,
          Beija o carniceiro, mas
          Transforma o mundo.
          Ele precisa ser transformado.

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