NO MURO ESTAVA ESCRITO COM GIZ:
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
NAO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR
NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ
A MÁSCARA DO MAL
REFLETINDO SOBRE O INFERNO
NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
O VOSSO TANQUE GENERAL, É UM CARRO FORTE
NO MURO ESTAVA ESCRITO COM GIZ:
Eles querem a guerra.
Quem escreveu
Já caiu.
SOBRE A VIOLÊNCIA
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contem
Ninguem chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
E tida como violenta
E a tempetasde que faz dobrar
Os dorsos dos operarios na rua?
Viesse um vento
Eu poderia alcar vela.
Faltasse vela
Faria uma de pano e pau.
PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO QUE LÊ.
Quem construiu Tebas, a das
sete portas?
Nos livros vem o nome dos
reis,
Mas foram os reis que transportaram
as pedras?
Babilònia, tantas
vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu?
Em que casas
Da Lima Dourada moravam
seus obreiros?
No dia em que ficou pronta
a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros?
A grande Roma
Está cheia de arcos
de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares?
A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes?
Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a
engoliu
Viu afogados gritar por
seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as
Indias
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro
ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou
Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos
sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
No sonho esta noite
Vi um grande temporal.
Ele atingiui os andaimes
Curvou a viga
A feita de ferro.
Mas o que era de madeira
Dobrou-se e ficou.
Fossemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta,para este ha um
paragrafo
Que diz: ele agiu em legitima defesa.Mas
O mesmo paragrafo silencia
Quando voces se defendem porque lhes tiram
o pao.
E no entanto morre quem nao come,e quem nao
come
o suficiente
Morre lentamente.Durante os anos todos em
que morre
Nao lhe e permitido se defender.
E eu sempre pensei: as mais simples palavras
Devem bastar.Quando eu disser como e
O coracao de cada um ficara dilacerado.
Que sucumbiras se nao te defenderes
Isso logo veras.
NAO NECESSITO DE PEDRA TUMULAR
Nao necessito de pedra tumular,mas
Se necessitarem de uma para mim
Gostaria que nela estivesse:
Ele fez sugestoes
Nos as aceitamos.
Por tal inscricao
Estariamos todos honrados.
Mesmo o diluvio
Nao durou eternamente.
Veio o momento em que
As aguas negras baixaram.
Sim,mas quão poucos
Sobreviveram!
A pequena casa entre árvores no lago.
Do telhado sobe fumaça
Sem ela
Quão tristes seriam
Casa,ávores e lago.
O MANETA NO BOSQUE
Banhado de suor ele se curva
Para pegar o graveto.Os mosquitos
Espanta com um movimento de cabeça.Com
os joelhos
Amarra a lenha com dificuldade.Gemendo
Se apruma,ergue a mão
Para ver se chove.A mão erguida
Do temido Guarda SS.
Aqui jaz
O enviado dos bairros da miséria
O que descreveu os atormentadores do povo
E aqueles que os combateram
O que foi educado nas ruas
O de baixa extração
Que ajudou a abolir o sistema de Alto a Baixo
O mestre do povo
Que aprendeu com o povo.
Em minha parede há uma escultura de
madeira japonesa
Máscara de um demônio mau,coberta
de esmalte dourado.
Copreensivo observo As veias dilatadas da
fronte,
indicando Como é cansativo ser mal
Refletindo,ouco dizer,sobre o inferno
Meu irmão Shelley achou ser ele um
lugar
Mais ou menos semelhante a Londres.
Eu Que não vivo em Londres,mas em Los
Angeles
Acho,refletindo sobre o inferno,
que ele deve Assemelhar-se mais ainda a Los
Angeles.
Também no inferno Existem,não
tenho dúvidas,esses jardins luxuriantes
Com as flores grandes como árvores,que
naturalmente fenecem
Sem demora,se não são molhadas
com água muito cara.
E mercados de frutas Com verdadeiros montes
de frutos,no entanto
Sem cheiro nem sabor.E intermináveis
filas de carros
Mais leves que suas próprias sombras,mais
rápidos
Que pensamentos tolos,autómoveis reluzentes,nos
quais
Gente rosada,vindo de lugar nenhum,vai a nenhum
lugar.
E casas construídas para pessoas felizes,portanto
vazias
Mesmo quando habitadas.
Também as casas do inferno não
são todas feias
Mas a preocupacão de serem lançados
na rua
Consome os moradortes das mansões nao
menos que
Os moradores do barracos
NA GUERRA MUITAS COISAS CRESCERÃO
Ficarão maiores As propriedades
dos que possuem
E a miséria dos que não
possuem
As falas do guia*
E o silêncio dos guiados.
*Führer
Aprende - lê nos olhos,
le nos olhos - aprende
a ler jornais, aprende:
a verdade pensa
com tua cabeça.
Faça perguntas
sem medo
não te convenças
sozinho
mas vehjas com teus
olhos.
Se não descobriu
por si
na verdade não
descobriu.
Confere tudom ponto
por ponto - afinal
você faz parte
de tudo,
também vai
no barco,
"aí pagar o
pato, vai
pegar no leme
um dia.
Aponte o dedo, pergunta
que é isso?
Como foi
parar aí?
Por que?
Você faz
parte de tudo.
Aprende, não
perde nada
das discussões,
do silêncio.
Esteja sempre aprendendo
por nós e por
você.
Você não
será ouvinte
diante da discussão,
não será
cogumelo
de sombras e
bastidores,
não será
cenário
para nossa ação
O VOSSO TANQUE GENERAL, É UM CARRO FORTE
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
A injustiça avança hoje a passo
firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a
ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora
dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como
são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga?
De nòs
De quem depende que ela acabe? Também de
nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que
o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de
amanhã
sem título
Com quem o justo
se recusa a ir à mesa
Se se trata
de ajudar a justiça
Que remédio
pareceria demasiado amargo
Ao moribundo?
Que baixeza você
recusaria cometer
Para extirpar
toda a baixeza?
Se você
pudesse transformar o mundo, o que
Você não
aceitaria fazer?
Quem é você?
Mergulha no lodo,
Beija o carniceiro,
mas
Transforma o
mundo.
Ele precisa
ser transformado.
[Inicio] [Brecht(mirror)] [Cronologia] [Obras]