IX
VOLITAR
Tinha sempre notícias de casa, dos familiares. Continuava recebendo muitas orações, estímulos, votos de alegria e para que me adaptasse logo à vida Espiritual. Amigos escreviam, dando notícias minhas aos meus, pela psicografia, através da tia Vera.
Alegrei-me quando Maurício disse:
—Menina Patrícia, escreva um bilhete à sua mãe que transmitirei a sua tia.
Emocionada fiz o bilhete agradecendo-os pelo carinho, dizendo que estava bem e mandando abraços.
Comecei, então, sempre a escrever e um dos meus amigos transmitia à tia Vera. Estava tranquila, o desencarne para mim não fez grandes diferenças, por nenhum momento senti-me separada dos meus. Entendi que não perdi a individualidade, continuava a mesma, meu amor pela família era o de sempre. Não podemos separar nossa vida, ela é um todo, estar encarnada ou desencarnada são fases. Recebia muito, compreendi também que somos heranças de nós mesmos. A reação é conforme a ação.
—Patrícia, — vovó me chamou — venha à sala, vou lhe dar as primeiras lições de volitação.
Fui depressa. Na sala estavam três das moradoras da casa que me incentivaram.
—É fácil! — falavam elas. —Você sabe, saía do corpo encarnada, enquanto dormia. É só firmar o pensamento e a vontade.
—Volitar — disse vovó como se tivesse decorado — é esvoaçar, volatear, locomover-se pelo ar pelo ato da vontade.
Vovó me pegou por um braço e D. Amélia por outro e ensinaram-me a dar o impulso. Tentamos várias vezes até que dei sozinha o impulso e levantei a um metro do chão. É mais fácil dar o impulso na vertical para depois ficar na horizontal. Fiquei parada. De novo recebi ajudas das duas que devagar me empurraram. Incentivaram-me alegres. E, realmente, não foi difícil, logo estava no meio da sala volitando devagar de um lado a outro.
—Até aprender realmente, não se distrais — vovó recomendou. —Volitar é como aprender a andar quando se está encarnada, a pedalar uma bicicleta, ou nadar. Depois que aprende a dominar, faz automaticamente.
Sabia o que era volitar, lera sobre o assunto em diversos livros Espíritas. A sensação que tinha era de voar. Realmente é muito agradável e bom volitar. Sabia também que espíritos desencarnados atravessam paredes, portas, etc.
Dei um forte impulso e rumei para a parede, escutei vovó:
—Não, Patrícia, não!
Bum... Bati a cabeça na parede e caí sentada no chão. Minhas amigas correram e rodearam-me, ninguém riu. Olhei para elas e acabei rindo. Fora um tombo e tanto. Levantei e quis saber.
—Ei, vovó, por que não pude atravessar a parede?
—Patrícia, você só poderá atravessar quando souber. Você leu que desencarnados atravessam paredes, portas, mas de construções de matéria, ou seja, casas de encarnados. Assim mesmo, os que sabem. Os que têm consciência do seu estado desencarnado e aprenderam.
—Só os bons sabem? — indaguei.
—Não, os maus sabem e se utilizam muito deste conhecimento. Saber depende da nossa vontade, do livre-arbítrio e todos podem. Os bons sabem mais porque têm mais quem os ensina e mais interesse em aprender. A construção da Colônia não é como a construção dos encarnados. A Colônia é uma projeção mental. Para que entenda, é feita da matéria sutil como a do nosso perispírito, como este corpo que agora estamos revestidas. Certamente, há os que sabem atravessar esta matéria sutil, tanto os irmãos superiores como os inferiores. Embora nossos irmãos superiores, designo-os assim para que possa entender, quanto mais harmonizados com o Cosmos, maior poder mental têm. Para transpor uma barreira mental é preciso não duvidar do poder de fazê-lo. Já vi um instrutor fazer. Ele projetou uma passagem e atravessou. Mas isto é usado somente para alguma eventualidade. Você não escutava, quando encarnada, que em Centros Espíritas para determinada ajuda irmãos desencarnados ficam confinados a um loca, até poderem ser orientados? Em muitos Centros Espíritas junto com a construção material é também projetada esta energia mental pelos benfeitores. Assim, tanto encarnados como desencarnados só podem entrar e sair pela porta. Estas projeções também são feitas em certos lugares e por determinado tempo para evitar ataques das trevas. Atravessam só os que sabem e conseguem. Talvez, se você quiser, irá aprender no futuro.
Realmente, não tinha visto ninguém entrar na nossa casa e nem em qualquer outro local na Colônia volitando. Todos entravam e saíam tranquilamente pela porta, abrindo-a e fechando-a.
Achei graça do meu tombo e ainda acho graça quando recordo.
Anos depois, estava ensinando meu primo a volitar e lembrei do fato. Resolvi brincar com ele.
—Vamos, Rodolfinho, venha! É isto aí! Vai!
Rumei para a parede e soltei. Segurei o riso. Pensei que, como eu, iria bater a cabeça. Mas Rodolfinho não sabia que desencarnados atravessam paredes, não viera como eu com conhecimentos do Plano Espiritual.
Ele chegou perto da parede, apalpou-a com a mão, virou a cabeça e indagou:
—Patrícia, que faço agora?
—Vira e volta — disse um pouco decepcionada.
Aprendi em poucas lições a volitar pela casa, pelo nosso jardim. Pensava em volitar, firmava o pensamento, subia metros do chão e ia para onde queria.
Vovó me levou ao campo, ou pátio da escola, onde instrutores ensinam a volitar. Fui toda contente.
A escola é muito grande, tem várias áreas e muitos prédios. É muito bonita e agradável, é rodeada de árvores e muitos canteiros floridos.
O pátio é grande, parte gramado, parte ladeado com lindos ladrilhos cinza-claro, em sua volta há bancos e flores. Na Colônia São Sebastião este campo é repartido em duas áreas. Numa parte os principiantes aprendem a volitar, na outra a alimentar-se pela respiração.
Escutam-se pela Colônia músicas agradáveis e suaves. Nos pátios o som é mais alto, porém, não menos agradável. A música suave relaxa e incentiva o trabalho e o aprendizado.
Fiquei encantada, admirando tudo curiosa. Na parte ou campo de volitação, havia cinco instrutores. Cada um com um pequeno grupo de aprendizes. O primeiro grupo, do qual estávamos perto, tinha uns desencarnados que não davam impulso. O instrutor carinhosamente tentava ajudá-los, mas eles pareciam temer. Indaguei a vovó:
—Por que eles nem querem dar impulso? Será que não gostam de volitar?
—Talvez duvidem que conseguirão. Nem todos, Patrícia, aprendem fácil ou gostam de aprender. Sei de muitos desencarnados daqui da Colônia que não sabem porque não querem aprender.
—Será que estes conseguirão?
—O fato de eles estarem aqui é porque querem aprender. Muitos deles, não tendo nem idéia quando encarnados desta possibilidade, desencarnados estranham muito e, pior, duvidam. Mas quem quer, aprende.
Vovó me inscreveu no curso. Tudo bem organizado, tem dia e hora marcado.
Fui apresentada ao primeiro instrutor que me interpelou.
—Patrícia, conhece alguma coisa sobre volitação?
—Conheço.
—Ótimo.
Pegou nas minhas mãos e deu impulso, saí tranquila a volitar.
—Oh! Você deve passar para a turma três.
—O curso tem cinco fases, cada fase com um instrutor. Como já tinha aprendido o básico fui para a terceira fase. Recebi uma apostila para estudar sobre volitação. É bem organizado. Aprendi rápido, em poucas lições concluí o curso e estava apta a volitar. A volitação pode ser feita de vários modos: devagar, rápido, rapidíssimo, na vertical e na horizontal. Devagar é como se andasse, só que acima do chão. Na Colônia volita-se pouco, é mais comum andar pelas suas ruas, avenidas e praças. Normalmente, volitamos devagar. Rápido, quando há mais pressa; e rapidíssimo, o último que aprendemos, volita-se como se fosse desmaterializar para se materializar em outro lugar. Volita-se deste modo a longas distâncias. Vai-se, por exemplo, de um ponto a outro da Terra, em segundos. Na vertical, é usada para a locomoção rápida. Na horizontal, quando se quer apreciar a paisagem.
As crianças e jovens aprendem a volitar nos pátios do Educandário.
O corpo perispiritual é mais denso, quanto mais a personalidade se confunde com o corpo animal, se desligando da aparência animal, ele está onde quer, pois se cosmifica.
Volitar é privilégio de desencarnados. (Certamente que encarnados volitam quando estão com seus corpos físicos dormindo em desdobramento. Mas a sensação agradabilíssima é só para desencarnados que sabem.) Ah, que grande e maravilhoso privilégio!
X
APRENDENDO A SE NUTRIR
Vovó voltou a trabalhar como fazia antes e, nas suas horas livres, passeava comigo. Ela gosta muito do seu trabalho. Passeava muito e fui várias vezes à Praça Redonda. Conversava muito e fiz várias amizades. Foi na Praça Redonda que conheci Ana. Ela também estava a passear. Começamos a conversar e percebemos que tínhamos muitas afinidades e uma sincera amizade nos uniu.
—De que desencarnou? Ou como desencarnou?
Esta pergunta se faz muito por aqui. Começa-se a conversar e logo surge o assunto desencarnação, querendo saber como foi que o corpo carnal morreu. Maurício me elucidou que estas perguntas são mais dos novatos que ainda estão preocupados com a sua desencarnação e querem saber como foi a do outro.
Contei minha desencarnação a Ana e ela, a sua para mim.
—Já faz tempo, tenho decênios de desencarnada. Meu corpo definhou pela tuberculose.
Desencarnou jovem, aos dezessete anos. Ela é inteligente, muito instruída e ama aprender. Passamos horas a conversar. Convidou-me para ir visitá-la no seu trabalho e no seu lar. Ana mora no Educandário.
Fomos visitá-la, Frederico e eu. Frederico, sempre que possível, acompanhava-me aos passeios pela Colônia, sempre esclarecendo-me sobre os lugares e suas funções.
—Patrícia, — disse meu amigo — para trabalhar no Educandário, necessita-se de muito aprendizado e dedicação. Normalmente estes instrutores têm muito tempo de desencarnado e conhecem bem a alma humana. Para ser útil com sabedoria, é preciso saber.
Ana veio nos receber feliz como sempre. Tem seu cantinho, seu quarto, ou mesmo seu espaço, como alguns jovens costumam dizer, ao referir-se onde moram, ou sua moradia como ela diz, na área residencial, reservada aos trabalhadores do Educandário. É bem bonita a moradia destes trabalhadores. Eles podem morar neste Educandário, ou em casas, ou nos alojamentos. Refiro-me ao Educandário desta Colônia, porque depois vi, em outras Colônias, outras formas de residências. As casas são parecidas com a da vovó, moram instrutores e alunos, não ultrapassando dez pessoas. Os alojamentos são muitos e comuns nas escolas. São galpões compridos, com várias portas, que levam ao quarto ou cômodo. É uma beleza! Ana mora no alojamento. Seu lar é uma sala decorada com gosto. Não tem cama, Ana não necessita mais dormir. É um recanto seu para receber alguns amigos, ler, ficar a sós. É onde tem alguns pertences. Quadros lindos, vasos de flores, uma foto de família e um piano. A cor azul-clarinho predomina na sua decoração de muito bom gosto. Conversamos animados e Ana nos presenteou com lindas canções que executou ao piano.
Depois nos levou para conhecer seu trabalho. Ana cuida de sete crianças na idade entre três e quatro anos. As crianças estavam no parque. Quando elas a viram, correram para abraçá-la. Elas lhe querem muito e Ana as ama.
Ana deve ter sido feia encarnada. Melhor dizendo, não teve um físico bonito. Mas desencarnada é a beleza interior que invade. Seu sorriso é doce, seu olhar é meigo. Para seu pequenos, não existe beleza maior. Para mim, Ana é maravilhosa.
Frederico, depois, me explicou que somos o que aspiramos ser. Aparência externa bonita pode também ser plasmada por espíritos ligados à beleza física.
Como é bom fazer amigos, ter amigos.
No Educandário, ouve-se muita música, é um local bem alegre. A todos os visitantes é recomendada alegria. Há muitos animais com os quais as crianças brincam, são bichinhos dóceis, como pássaros, gatos, cães, esquilos, etc. Muitas flores e parques com brinquedos de várias espécies para as crianças. Campos de jogos para os jovens. Ana nos serviu de cicerone, mostrando todo o Educandário, principalmente a ala dos pequenos. O Educandário é uma beleza! Bem planejado, visando o bem-estar dos pequenos e jovens desencarnados, oferecendo-lhes alegria e aprendizagem. Não vi tristeza, crianças normalmente se adaptam fácil por aqui. Foi um belo passeio. Encantei-me com o trabalho e a dedicação de Ana que, tirando poucas horas para o lazer, trabalha o tempo todo a cuidar de cada criança como um filho, um irmão querido.
—Ana — indaguei —os pequenos não sentem falta de seus lares, de seus familiares?
—Certamente que sim e, dependendo da idade, uns sentem mais que outros. Os pequeninos nem estranham, os que entendem sentem sim. Por isso, Patrícia, a recomendação aqui é alegria. Todos nós que servimos aqui fazemos o impossível para ajudar nossos abrigados. Quando a família encarnada compreende, aceita a desencarnação tudo fica mais fácil. Mas se se desesperam, chamam por eles, sentem, choram, necessitam de mais carinho de nossa parte.
—Eles não querem aqui o que gostavam quando encarnados? Exemplo: balas e sorvetes?
—Claro, não mudam de gosto só porque desencarnaram. O Educandário é agradável, mas a ordem impera. Todos na Colônia são convidados a se educar. A disciplina com amor educa. Procuramos atendê-los dentro do limite justo. Muitos querem um brinquedo preferido, isto é fácil, os instrutores plasmam e eles têm seu brinquedo. Balas e sorvetes são distribuídos, mas na medida certa, assim aprendem que devemos nos nutrir de alimentos sadios, tudo equilibrado.
—E os jovens também? Muitos gostavam de refrigerantes, podem tê-los?
—Patrícia, você tem vontade? Aqui, quis tomar um refrigerante?
—Não.
—Assim é com a maioria deles. Vontade está no desejo. E devemos educar nossa vontade. Se algum jovem quiser, pode ter seu refrigerante, mas nunca bebidas alcoólicas. Procuramos, principalmente aos novatos, fazer tudo que é possível para que eles se sintam bem. Mas o Educandário tem normas a serem cumpridas, para o bem-estar de todos. A maioria se encanta com a maravilha que é o Educandário, satisfaz-se com o que ele lhe oferece.
—As crianças e jovens aprendem a nutrir-se pela atmosfera?
—As crianças, normalmente, estão temporariamente aqui. Aprendem conforme são capazes. São muitos entre nós que só se alimentam deste modo. Os jovens gostam mais deste aprendizado.
Dando uma pausa, Ana continuou sua preciosa lição:
—A alimentação de um adulto é mais um exercício de prazer do que nutrição. Todos os nossos vícios são necessidades moderadas do corpo que potencializamos para termos sensações e prazeres. A criança procura o alimento só quando necessita. Ainda não deturpou suas necessidades e, como no astral não há perda de energia, não há busca de alimentos.
Foi um lindo passeio e uma grande lição aprendida em minha visita ao Educandário.
Continuava a ver os meus familiares pela televisão, é tão agradável. Queria, desejava que estivessem bem. Não recebi deles nenhuma revolta, só incentivos. Se, às vezes, sentia leve tristeza, repelia este sentimento, não queria desanimar. Nestes raros momentos, aproximava-me de minhas violetas que estavam sempre lindas e floridas. Sentia-me refeita, era como se o amor de minha mãe me sustentasse juntamente com a força do carinho do meu pai.
Continuava a receber visitas, mas gostava de conversar com jovens ou os que como eu desencarnaram jovens, é mais prazeroso. Talvez porque as conversas normalmente são mais afins. Fiz várias amizades entre os jovens. Vamos a lugares juntos e reunimo-nos para ouvir música.
Notei que Maurício não tomava nem água. Indaguei-o:
—Maurício, como se alimenta?
—Tiro as energias que necessito do sol, do ar e da natureza.
—Será que um dia serei como você?
—Se quiser, esforce-se e será. Eu, nem em excursões, trabalhos entre os necessitados, necessito alimentar-me ou tomar água. Observe, Patrícia, que os moradores da Colônia não são iguais. Há os necessitados, os que querem ser servidos, os que mesmo recuperados fazem trabalhos por obrigação. Há os que servem de boa vontade, mas se acomodam, sentem-se bem como estão, para muitos é o paraíso sonhado. E há os que aproveitam as oportunidades para aprender, servindo com precisão. Você tem seu livre-arbítrio para estacionar, ficar como está, ou progredir, ser como muitos, auto-suficientes, que não necessitam dormir, alimentar-se, têm plena consciência de sua existência espiritual. Não importa se estamos encarnados ou desencarnados, temos que crescer, progredir, pôr em prática o que se aprende. Necessitamos ser e agora, no presente. Muitos encarnados dizem não acreditar na reencarnação, por Jesus não ter dito mais claramente e mais vezes. O que nosso Mestre Maior nos ensinou claramente é que devemos ser melhores, tornamo-nos bons, no presente. Que pode a reencarnação ser de importante a um espírito, se está sempre deixando para o futuro o que tem que ser feito no presente?
—Vou ser como você!
Logo após ter aprendido a volitar, comecei a aprender a nutrir-me pela absorção dos princípios vitais da atmosfera.
Matriculei-me no curso, comecei indo todos os dias em hora marcada, por uma hora.
Neste curso, os instrutores procuram conscientizar seus alunos que realmente estão vivendo num corpo sutil e que são desencarnados. Começa-se aprendendo exercícios para respirar, alguns parecidos com os do Yoga. Digo parecidos porque aqui ninguém se refere a esta ciência de respirar. Faço esta nota porque conheci encarnada alguns destes exercícios. Aprende-se por exercícios, depois faz-se automaticamente, só pela força de vontade. Meu instrutor nos disse que começaríamos a aprendendo com os exercícios, mas é necessária a compreensão da nossa afinidade cósmica. O Pai a todos sustenta. Podemos absorver energia do ar, do sol, ou simplesmente do Cosmo.
Conforme aprendemos, vamos passando para turma mais adiantada, até ter concluído o curso. Conscientizando-se que se quer aprender, tudo fica mais fácil.
O pátio é muito agradável, ao ar livre, e cercado de plantas. Trocam-se muitas idéias e experiências neste curso. Os instrutores são espíritos de conhecimento e experientes, sempre prontos a ajudar. Há muitos horários de aula por dia, mas o pátio está sempre aberto a todos que queiram ir lá fazer exercícios. É bem frequentado, muitos gostam de se exercitar e outros de ir para renovar o aprendizado.
Este curso me fez muito bem, aos poucos fui passando a viver como todos os desencarnados devem viver, mas aos poucos. Demorei mais tempo para concluí-lo.
Já não me preocupava com minha aparência. Meus cabelos ficavam como eu queria. Já não trocava de roupa como no começo e já ia perdendo a vontade de tomar banho, de escovar os dentes e até de me alimentar. Mas alimentava-me ainda uma vez por dia. Nutria-me de frutas, caldos de ervas, doces, pães, tudo baseado em vegetais. Não se mata animais para se alimentar. Gostava muito de tomar água. A água é diferente, cristalina, fluidicante e energética. Normalmente, os habitantes das Colônias tomam sempre água.
Na casa da vovó, ela e suas amigas alimentam-se muito pouco, só após trabalhos que desprendem muita energia, quando voltam da Crosta, do Umbral ou das enfermarias onde estão os muitos necessitados. Alimentando-se pouco, usa-se pouco o banheiro e elas se banhavam raramente, talvez mais para ter o prazer da água caindo sobre si.
Neste período em que aprendia os exercícios da ciência de respirar, em que começava a me alimentar pela absorção dos princípios vitais da atmosfera, aprendia também a dominar a minha vontade e a usá-la para meu bem-estar.
Não sentia nenhuma dor, nenhum mal-estar, não tive mais resfriado. Maurício me explicara que deveria aprender a observar meu próprio interior. Porque ao agir egoísticamente causamos em nós muitos mal-estares.
Dormia cada vez menos, não sentia necessidade de dormir como antes e nem de me alimentar. Gostei muito, porque, com este tipo de alimentação que começava a me nutrir, quase não precisava ir ao banheiro. Depois, não me alimentando mais, o banheiro é um cômodo dispensável.
Nem todos aprendem a volitar e a se nutrir em cursos, há outros modos de aprender, como lendo, pesquisando nos vídeos, alguém que sabe ensinar. Mas, frequentando estes cursos, é bem mais fácil, aprende-se com exatidão e em menos tempo.
É bem agradável conscientizar-se e viver como desencarnado.