Em Vitória da Conquista, na Bahia, a professora Eleuza Câmara resolveu fazer uma experiência- despertar o gosto pela leitura nos presos da cidade.Ela já havia feito experiências com professores e alunos, trabalhava com pessoas de seu meio social, mas achou que deveria tentar fazer algum trabalho junto à população carcerária de sua cidade.Era uma experiência que estava dando certo em outros lugares, como na Penitenciária da Papuda, em Brasilia, onde a bibliotecária Maria Conceição Salles realizava fascinante trabalho de reeducação de presidiários através do livro e da leitura. Num trabalho assim, evidentemente há que montar dentro do presídio primeiro uma biblioteca, apresentar aos presos esse objeto ainda clandestino em nossa cultura- o livro.Em seguida necessário era fazer com que os presidiários além de ler, tentassem escrever alguma coisa. Na verdade, o ato de ler e o ato de escrever são atos geminados. Um influencia o outro.Quem lê está lendo a escrita do outro, que fala por ele. Mas escrever é fazer falar o leitor-autor que há dentro de cada um . Assim é que lá em Vitória da Conquista, alguns detentos começaram a escrever, e um deles logrou contar a estória de sua vida de maneira tão espontânea e interessante, que o seu livro tornou-se curiosidade geral não apenas de seus colegas, mas das própria autoridades da prisão. Em breve ocorre o inusitado: o livro acabou sendo editado. Ali o criminoso de ontem repassava sua vida, falava de sua formação, o que o levou ao crime e a visão que, enfim, agora tinha da vida. Publicado o livro, o presidiário-autor chegou a ser notícia do " Jornal Nacional".Como consequência imediata, muitos outros detentos passaram a se interessar mais por ler e por escrever, esperando ter a mesma sorte do companheiro de cela, que agora considerava-se um homem de espírito livre, porque havia descoberto na leitura e na escrita sua ligação com a vida . |