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Agricultura orgânica Continuação O segundo modelo, trouxe intenso desmatamento; mecanizações pesadas que pulverizam e compactam o solo, também acarretando sua erosão e consequente esterilização; uso maciço e abusivo dos adubos químicos e dos agrotóxicos que envenenam a terra, seus frutos e os seres vivos; e as grandes monoculturas que tornam os sistemas ecológicos estéreis, favorecendo principalmente o aparecimento de pragas e doenças e criando condições sociais injustas e miseráveis.
Diversos locais no Brasil onde outrora existiram terras férteis, hoje são verdadeiros desertos, frutos de um modelo de manejo do solo absolutamente inadequado ao nosso clima tropical. Pois assim foi no Sul e será também no cerrado, se este modelo continuar dominando.
Arações profundas, solo descoberto e exposto, capinas freqüentes, são técnicas apropriadas para países de clima temperado, e não para países como o nosso, com alta insolação e fortes chuvas.
Dado este triste passo, temos agora a questão das sementes. Atualmente, o que existe é uma verdadeira guerra pelo controle genético das sementes. Mais ou menos como está acontecendo com a informação, quem tiver o controle sobre o capital genético, terá um poder quase ilimitado sobre a humanidade.
O mais novo "avanço" são as sementes transgênicas, desenvolvidas por multinacionais fabricantes de produtos químicos para agricultura, e de consequências ecológicas imprevisíveis.
Os países de Terceiro Mundo têm sido os que mais sofrem, pois apesar de possuírem a maior diversidade de variedades, por falta de verbas e de interesse político, não dão o devido valor às pesquisas, e por isso tornam-se um "prato" para as poderosas multinacionais que influem até nos governos dos países subdesenvolvidos para poderem obter controle sobre o banco genético das nações mais pobres.
A "Revolução Verde", que deu o Prêmio Nobel ao Dr. Norman Borlaugh, em 1970, foi concebida sob o bondoso discurso de que se objetivava propiciar aos países pobres melhores condições de alimentar sua população. Na verdade, o que se conseguiu foi torná-los quase que completamente dependentes das multinacionais que vendem a sua panacéia em pacotes (sementes híbridas/adubos sintéticos/agrotóxicos), e destruir boa parte do seu capital genético.
Países tradicionalmente agrícolas como a Índia, que possuía milhares de variedades de arroz, hoje está reduzida a algumas centenas, em função da introdução das sementes híbridas.
A China, que há 5000 anos faz sua tradicional rotação soja/arroz e possui uma invejável tecnologia de aproveitamento de matéria orgânica (fezes humanas, esgotos de cidades, lixo - nada é perdido) está hoje em plena "lua-de-mel" com a parafernália química que lhes foi imposta sob a capa de "agricultura moderna".
O trágico é que as tais sementes híbridas de alta produtividade, sozinhas, não fazem verão. Então, é necessário que sejam superalimentadas com adubos químicos, que por sua vez, tornam as culturas suscetíveis ao ataque de pragas e doenças, sendo então necessário o uso do que as indústrias hipocritamente chamam de "defensivos".
No Paquistão, o arroz milagroso da Revolução Verde, acarretou numa praga nunca vista de gafanhotos, enquanto que, na Indonésia, o uso desvairado de agrotóxicos contaminou rios e lagos, matando os peixes e criando uma onda de fome sem precedentes.
Dado mais este passo, não é preciso dizer que a nossa lavoura já está devidamente "calibrada" com todos os adubos químicos de praxe.
Estes adubos entre outros males, produzem frutos enormes porém insossos (veja a diferença de sabor entre o cenourão do mercado e a cenoura da horta caseira), mais pobres em nutrientes e mais perecíveis.
As multinacionais dos venenos souberam fazer um bom marketing subliminar, manipulando os critérios de qualidade do consumidor: bom é o que é enorme, e tudo igualzinho.
Isto sem falar em certos conceitos errôneos, mas infelizmente ainda bastante em voga, que procuram vender a idéia de que agricultura sem química não é viável em larga escala e que a agricultura ecológica produz frutos feios e caros.
Além disso - exatamente por produzirem frutos enormes, que na verdade são produtos com mais água - o uso dos adubos químicos torna as plantas mais sensíveis ao ataque de pragas e doenças, e aí é que entram os agrotóxicos envenenando tudo: a terra, as culturas, as pragas, os insetos que se alimentam das pragas (que só são pragas porque seus predadores também são exterminados pelos venenos), os rios e lagos, os animais e o homem.
No meio desse arsenal, também se inserem os herbicidas, que são usados antes e durante o ciclo das culturas para fazer a "capina química", ajudando ainda mais a esterilizar e envenenar o solo. Sim, porque em todo o processo de plantio, desde os venenos a base de mercúrio que envolvem as sementes, passando pelos adubos sintéticos, pesticidas, fungicidas e herbicidas, todos são altamente biocidas e contaminadores. Muitos permanecem décadas no solo e tem alto poder cancerígeno.
O baixíssimo nível de informação da maioria dos agricultores faz com que estes usem produtos sem o menor critério, seja na aplicação ou seja na observância dos prazos de carência.
Continuando nossa jornada, se nosso agricultor ainda estiver vivo (porque milhares de pessoas morrem ou se intoxicam por ano no Brasil e no mundo), poderá colher e vender sua safra. Isto se, apesar dos venenos, as pragas e doenças não tiverem impossibilitado a produção (o prof. Chaboussou em sua teoria da Trofobiose, mostra que, ao contrário do que se poderia pensar, veneno chama praga), se o banco não obrigar o agricultor a vender suas terras para pagar os juros escorchantes do empréstimo para compra de insumos, e se as gangs de atravessadores não comerem quase todo o seu lucro.
Se a produção tiver que passar por armazenamento, ela ainda levará mais um banho de veneno para "protegê-la" dos carunchos e gorgulhos, e o agricultor ainda sofrerá a ação de outra máfia: a dos armazenadores, que muitas vezes é o próprio governo. E estamos cansados de ver toneladas e toneladas de alimentos apodrecerem nos armazéns por causa da política dos preços, da política de abastecimento, da política agrícola, da política de políticas...
No caso das frutas, estes insípidos produtos da agricultura convencional são em sua maior parte pré-amadurecidos artificialmente (o que mata mais ainda o seu sabor), em câmaras de maturação que utilizam gases (geralmente acetileno). Muitas vezes ficam meses em frigoríficos aguardando entresafra.
E o consumidor acaba tendo que ingerir um alimento contaminado. Para ilustrar: em 1978 o Instituto Biológico de SP juntamente com a CEAGESP e o CATI fez um monitoramento de resíduos de agrotóxicos nos produtos hortícolas. Na época, o trabalho indicou que 7% das frutas e 13% das hortaliças apresentavam teor de resíduos acima do permitido. Em 1985, outro estudo mostrou que nas frutas, o teor havia aumentado para 13%. Em 1984, o ITAL de Campinas (SP) comprovou que 41% das amostras utilizadas em uma pesquisa apresentaram teor de resíduos acima do permitido.
Atualmente o panorama não deve ter melhorado muito, inclusive porque novos personagens foram incluídos no drama, como por exemplo os produtos utilizados diretamente nas verduras, frutas e legumes, para que tenham maior durabilidade no transporte e na comercialização.
Mas, infelizmente, a coisa não fica só por aí: muitos alimentos, como por exemplo os cereais, vão para a indústria serem "beneficiados". Um eufemismo tragicômico que na verdade deveria chamar-se "maleficiar", do momento em que se tiram dos grãos o que eles tem de mais nobre e mais nutritivo: a película que os recobre, rica em fibras, proteínas e vitaminas. Aí quem acaba comendo a melhor parte dos cereais são os animais em suas rações, enquanto que o consumidor come alguma coisa pouco melhor que isopor. E este isopor, é muitas vezes ironicamente acrescido de vitaminas sintéticas colocadas para repor as naturais que se perderam no refino!?!
No caso do açúcar, o esquema ainda é pior, pois transformam a cana (que pode virar rapadura, açucar mascavo e melado ricos em ferro) em um sal de sacarose altamente nocivo e desmineralizador. Sob a afirmativa de que "açúcar é energia", o que se obtém na verdade é um violento choque hiperglicêmico, que vai roubar do organismo vários nutrientes (especialmente o cálcio), acarretando ainda suscetibilidade a várias doenças (principalmente o diabetes).
O sal de cozinha sofre um absurdo parecido: o bom e velho sal marinho, rico em dezenas de sais minerais e oligoelementos (principalmente o Iodo - natural - que é perdido no refino, tendo que ser reposto sob forma sintética), é refinado, gerando um sal de cloreto sódio, extremamente retentor de líquido no organismo, e cujo subproduto industrial é a água sanitária.
Ainda na área da industrialização, é preciso não esquecer dos aditivos, conservantes, espessantes, flavorizantes, corantes, aromatizantes, muitos deles causadores de doenças e proibidos em países de primeiro mundo. Exatamente como acontece com os agrotóxicos e com muitos remédios de farmácia, são vetados em países desenvolvidos e são descaradamente vendidos por aqui.
Como grande parte da classe médica - assim como a dos agrônomos - segue a cartilha das multinacionais, tudo isso passa desapercebido pelo consumidor comum.
Até agora falamos apenas dos alimentos de origem vegetal. Se o assunto for alimentos de origem animal, o panorama não é lá muito melhor. Afora o fato de que comer carne é um hábito que facilita o aparecimento de diversas doenças, como o câncer do aparelho digestivo e os problemas cárdio-vasculares, geralmente as criações são tratadas com rações industriais "enriquecidas" com antibióticos e hormônios que vão chegar ao consumidor através da carne, do leite e dos ovos. Tais aditivos podem causar câncer e danos no sistema imunológico e reprodutor de quem consome os alimentos contaminados.
Isso sem falar que, muitas vezes, os animais são abatidos em matadouros clandestinos sem as menores condições de higiene e de humanidade (fazendo com que o consumidor engula juntamente com a carne, a adrenalina e a energia de pavor que o boi liberou ao ser morto cruelmente).
O vegetarianismo, além de mais saudável e mais ético, é também economicamente mais rentável e ecologicamente mais correto. Segundo o IBGE, um boi precisa de 3 a 4 hectares de terra para produzir cerca de 200 kg de carne no período de 4 a 5 anos. Neste mesmo espaço, pode-se colher 19 toneladas de arroz, ou 32 de soja, ou 34 de milho, 23 de trigo ou ainda 8 de feijão, sendo que pode-se plantar de 2 a 3 safras por ano, de alimentos muito mais puros, saudáveis e equilibrados. Sem falar nas imensas áreas de floresta que são derrubadas para a formação dos pastos.
De 20 anos para cá, muitas iniciativas tem sido tomadas no sentido de se tentar reverter este quadro. Embora ainda pequenas em relação ao tremendo poder e influência que tem as multinacionais e seus modelos, estas iniciativas tem dado os seus frutos, e um destes frutos é a Coonatura.
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Mutirão dos associados para plantio no Sítio Semente
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