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4. A CAMINHO DA DESERTIFICAÇÃO

 

As florestas tropicais estão reduzidas a quase metade. Em 1990, 17.000.000 de hectares foram destruídos e todos os anos é abatida uma imensa massa florestal. Os homens de negócios contratam enormes máquinas para limparem grandes áreas, vendendo a madeira e utilizando a terra para searas ou pastagens.

Entre 1960 e 1980, 1/4 das florestas da Nicarágua, Honduras, Guatemala e Costa Rica foi derrubado para criar pastagens para o gado destinado à confecção de hamburgers.

No Brasil, a auto-estrada Trans-Amazónica vai abrindo um grande rasgão na maior das florestas tropicais. Colonos, que se vão fixando ao longo da estrada, tentam cultivar a terra e destroem a floresta. Para além deste caso, no Brasil, o abate de árvores e a expansão agrícola e urbana destruíram já 95% das florestas costeiras atlânticas.

Desde há longo tempo, agricultores pobres cultivavam clareiras abertas na floresta, mudando para outros terrenos logo que o solo estivesse degradado, para lhe dar tempo a que se regenerasse e nele pudessem crescer novas árvores. Agora, porém, o aumento da população obriga a que um maior número de agricultores desbaste uma maior área, utilizando a terra mais intensivamente, sem lhe dar tempo a recuperar a fertilidade.

Os criadores de gado procuram aumentar as suas manadas e rebanhos, para corresponder também às crescentes necessidades de carne e leite. Mas maiores manadas e rebanhos exigem mais forragem, e os terrenos de pastagens, embora imensos, não são ilimitados. As pastagens ocupam quase 1/4 das terras do planeta (cerca do dobro da área dedicada às searas) e incluem as savanas, as estepes da Ásia Central, as pradarias da América do Norte, as pampas da Argentina, as campinas da África do Sul e as dunas da Austrália, que embora enormes, são muito secas, pouco produtivas ou muito íngremes. Até há pouco, estas pastagens permitiram um grande acréscimo das manadas e rebanhos. Porém, em meados da década de 80, o mundo possuía cerca de 3.000.000.000 de ovelhas, cabras e bois, e grande número de pastagens já não comportava mais animais. Começaram, então, a abater-se florestas para obter novas pastagens. Por outro lado, como os agricultores ficavam com as melhores terras para a agricultura, que também precisava de responder ao aumento da população, os criadores de gado utilizaram terras cada vez menos férteis e mais secas.

.Os criadores de gado, as tribos de agricultores e os homens de negócios estão, pois, a devastar enormes florestas húmidas da América Central e do Sul, do Sudoeste Asiático e da África Ocidental. Sem árvores que permitam uma absorção e uma libertação gradual das águas das chuvas, os rios tendem a extravasar as margens e a provocar inundações, após as grandes chuvadas, ou a secar.

As terras "vazias" - áreas escassamente povoadas e demasiado secas para a produção de alimentos - estão também a ser usadas para a agricultura e criação de gado pelas populações cada vez mais numerosas que vivem nas suas imediações. O solo seco e poeirento é levado pelo vento quando os agricultores o lavram ou o gado come a sua escassa vegetação, cujas raízes fixam o solo e impedem a erosão.

" A pobreza, ela própria, também degrada o ambiente (...). Os pobres e mal nutridos muitas vezes destroem o ambiente que os rodeia para sobreviverem. Dizimam florestas; acabam com os pastos pela apascentagem excessiva; dão uso intolerável a terrenos já de si pobres..." (Relatório Bruntland).

Os pântanos e terras alagadas estão a ser enxutos por todo o mundo, para serem utilizados como prados ou terrenos de construção, ou ainda, quando estão perto da costa, para serem transformados em portos ou marinas. Mas o desaparecimento das terras alagadas vai eliminar gigantescas esponjas que absorvem a água dos rios e a libertam gradualmente, secando o solo.

Tudo isto está a contribuir para a desflorestação e a expansão dos desertos, fazendo escassear os alimentos e contribuindo para a poluição do ar em todo o planeta, pelo desaparecimento dos "pulmões" da Terra.

 

 

5. A VIDA SELVAGEM E A POLUIÇÃO

 

Nenhum organismo pode escapar aos efeitos venenosos da poluição. Uma das grandes ameaças à vida selvagem é o uso de pesticidas - químicos venenosos usados pelos agricultores com o fim de conseguirem melhores e maiores colheitas. Contudo, destroem não só os insectos nocivos mas também outras formas de vida selvagem. Numa cadeia alimentar, o veneno é ingerido pelos animais mais pequenos. Estes, por sua vez, são comidos por animais de maior porte. Os maiores predadores, tais como as aves de rapina, as raposas ou os texugos, acumulam gradualmente tal quantidade de veneno, que acabam por morrer ou ficam incapacitados de se reproduzir.

Frequentemente a água está seriamente poluída pelas substâncias que os lavradores lançam nos campos: pesticidas e fertilizantes. Na realidade, apenas metade do fertilizante químico utilizado num campo é absorvida pelas culturas: o resto é arrastado pelas águas. Ao poluir a água doce, os fertilizantes aumentam o alimento vegetal disponível e dão origem a uma "explosão" de vida vegetal aquática. Este crescimento exagerado de plantas, principalmente algas, que se estendem como um tapete à superfície de um lago, reduz a quantidade de oxigénio necessária aos animais aquáticos e estes morrem.

Fábricas e cidades descarregam nos rios resíduos não tratados e esgotos e, frequentemente, complexos industriais neles despejam produtos químicos perigosos. As substâncias atiradas para os rios podem incluir mercúrio das fábricas de pasta de papel e bifenóis policlorados da fabricação de plásticos. Esta água poluída mata muitas formas de vida selvagem.

Também a chuva ácida, além de destruir árvores, pode matar quase todas as formas de vida nos rios e lagos.

A vida selvagem é afectada, mesmo no meio do oceano. As gotículas de petróleo, que aderem aos ovos dos peixes, causam anomalias nos embriões; e resíduos de petróleo envenenam os nervos das larvas dos peixes. Mas, de todas as criaturas marinhas, as aves são as mais atingidas: confundem os derrames de petróleo com águas calmas onde tentam descansar, as penas ficam oleadas e, incapazes de voar, vogam à deriva, morrendo de desidratação e cansaço.

A descarga de esgotos não tratados, químicos tóxicos e desperdícios nucleares, no mar, ameaça a vida marinha. As criaturas que vivem nos fundos marinhos são as primeiras a ser atacadas pelos venenos. Os poluentes são filtrados da água e concentrados no seu corpo. Vão-se acumulando ao longo da cadeia alimentar, até serem ingeridos pelo último predador, o homem, causando, frequentemente, intoxicações alimentares.

Os restos de plástico podem ser armadilhas mortais. As gaivotas esgravatam materiais flutuantes à superfície da água e, atiram ao ar aros de plástico que lhes caem sobre as cabeças ou à volta dos pescoços, estrangulando-as. As tartarugas marinhas e as baleias ingerem sacos de plástico, que tomam por medusas, que lhes provocam a morte por asfixia. Encontrou-se um cachalote com 50 sacos de plástico entalados na garganta. Também as precintas plásticas de embalagens e as tiras plásticas que mantêm unidas as latas de bebidas tem feito diminuir a população de focas, no Pacífico Norte.

Anualmente perdem-se no mar cerca de 100 km de rede de nylon, do milhão e meio de quilómetros de redes de pesca que são lançadas. Essas redes continuam a pescar sozinhas, sem governo. Capturam e provocam o afogamento de tartarugas e aves marinhas, focas, golfinhos e baleias.

A maior parte das pessoas mantém as suas casas e jardins limpos e arrumados mas, por qualquer estranha razão, tem padrões diferentes no campo ou na praia. Negligentemente, deita fora latas de bebidas, recipientes plásticos, papéis, velhos pneus e baterias de carros, garrafas partidas... A lista é interminável e tudo isto pode constituir um perigo para os animais, tanto selvagens como domésticos.

Os pescadores desportivos e os caçadores contribuem para o sofrimento da vida selvagem. Peças de chumbo para a pesca e munições para armas de fogo ficam espalhadas nas margens dos rios, onde são ingeridas pelas aves, que morrem lentamente de envenenamento pelo chumbo. Na América do Norte, 75% dos patos selvagens morrem anualmente por ingestão de chumbo e só 1% é abatido a tiro.

Também a destruição das florestas significa a destruição de muitas espécies animais, além das vegetais, tal como a secagem dos pântanos, onde proliferam mais seres vivos do que em qualquer outro meio terrestre, pois são grandes viveiros de peixe e camarão e constituem fonte de alimento para as aves.

 

6. COMO SALVAR O PLANETA

 

A poluição, que é o preço que estamos a pagar por um desenvolvimento agrícola e industrial rápido e sem consideração pelos seus efeitos no ambiente, está a sufocar os rios, a extinguir a vida nos oceanos, a envenenar o ar e a despojar a terra.

Para vencer a guerra ecológica é preciso a vontade coordenada de todos os países do mundo. Mas é preciso também o empenho comum de todos os homens. Todos nós somos responsáveis pela poluição, quer guiemos um automóvel ou deitemos lixo na rua. A Humanidade inteira - pela primeira vez na sua história - encontra-se perante uma decisão universal, absoluta e tremenda: salvar-se ou morrer. O destino de cada um está ligado ao destino de todos.

Em 1992 realizou-se, no Rio de Janeiro, a Cimeira da Terra, com representantes de 178 países, que debateram muitos destes problemas e avançaram com propostas concretas para a resolução de alguns. No entanto, 5 anos depois, muito pouco foi feito, porque o lucro continua a ser a grande motivação dos homens. Esquecem-se que a Natureza tem um jeito infalível de nos devolver o lixo abandonado descuidadamente.

No entanto, algumas coisas estão já a ser feitas e outras vão a caminho da sua realização.

Assim, por exemplo, muitas das cidades atingidas pelo smog resolveram o problema, proibindo a utilização de combustíveis ricos em enxofre. Mas as nações pobres têm mais dificuldade em promulgar tais leis. Por isso, nos finais da década de 70, o ar de Londres era 16 vezes mais puro do que o ar de Bombaim, na Índia.

O problema da poluição por chumbo dos gases de escape dos automóveis pode ser evitado usando gasolina com reduzido teor de chumbo. Em muitos países do mundo ela já é usada e os automóveis que se fabricam modernamente vêm logo preparados para a utilizar. A maioria mesmo não pode consumir gasolina com chumbo.

Quanto às emissões de CO2 para a atmosfera, os países industrializados estão a tentar definir os níveis dessas emissões a ser autorizados, em conferências para esse efeito. No entanto, como as principais potências militares e industriais são também os principais poluidores, essa limitação não será ainda, provavelmente, a que o planeta necessitaria...

Há uma outra forma de contribuir para evitar o efeito de estufa provocado pelo excesso de dióxido de carbono (CO2): é a plantação de árvores nas zonas desflorestadas. As árvores ajudarão a absorver o dióxido de carbono em excesso, detendo o processo do sobreaquecimento.

A prevenção das chuvas ácidas implica processos de combustão radicalmente diferentes dos que são usados, ou o uso de filtros para a depuração dos gases. Mas, mais uma vez, só as nações mais ricas se podem permitir tais precauções, por enquanto.

Quanto ao problema do "buraco" do ozono, a preocupação internacional tornou-se tão grande que, em 1988, cerca de 40 países assinaram um acordo - o Protocolo de Montreal - em que se visava alcançar uma redução de 50% na utilização de CFCs até 1999. Nesse sentido, muitos países estão a reduzir a sua produção, substituindo-os por produtos mais "amigos do ambiente", com a mesma função de fazer sair o conteúdo das embalagens em forma de spray, na maior parte dos aerossóis. Os frigoríficos é que ainda não abandonaram os CFCs, se bem que alguns já os tenham em menores quantidades.

O mundo começa a tomar também a tomar consciência do perigo da poluição dos mares. Na década de 70, um grupo de países acordou em cessar o lançamento de matérias perigosas nos mares pouco profundos. Na década de 80 os pesticidas mais perigosos começaram a desaparecer dos mares que banham a América e o Norte da Europa. A Convenção de Londres baniu a descarga de resíduos contendo metais pesados, como o chumbo, e produtos cancerígenos nos mares, e o Tratado de Oslo organizou uma lista negra de produtos químicos que não podem ser descarregados no Mar do Norte e no Nordeste Atlântico. A Convenção para a Conservação da Vida Marinha do Antárctico preocupa-se com o frágil ecossistema dos mares do Sul. Alguns países estão a criar zonas protegidas de mar costeiro, cujos fundos serão preservados de qualquer tipo de interferência. O estado dos mares mais poluídos, como o Báltico e o Mediterrâneo, está a melhorar. As companhias petrolíferas iniciaram a produção de bactérias que "comem" o petróleo e procuram novos processos de eliminação do petróleo derramado. Existe também o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, de acordo com o qual, cientistas analisam permanentemente a pureza dos mares de todo o mundo. Parece, assim, existir uma vontade internacional de preservar os mares do globo. É possível e necessário salvá-los, pois sem eles não há futuro para a vida na Terra.

Em relação às águas doces, algumas nações já começaram a depurá-las. Os escandinavos, por exemplo, adicionam limo à água dos seus lagos para a limpar do ácido indesejável. O tratamento dos esgotos está a ser feito em muitos países e, por exemplo, em Inglaterra, permitiu que os salmões voltassem a aparecer no rio Tamisa, pela primeira vez desde 1830. Também os resíduos das fábricas estão a ser filtrados dos produtos químicos nocivos, antes de serem lançados nos rios, nos lagos ou na atmosfera. Mas mais uma vez, muitos destes tratamentos não serão possíveis tão cedo nas nações mais pobres.

Para preservar as florestas, é urgente que os governos actuem de imediato, ou em breve desaparecerão. Alguns países estão a exigir aos responsáveis pelo abate de árvores que voltem a plantar as áreas desbastadas, mas é preciso também proibições de mais abates, para que as que ainda existem não se percam.

Começa-se também a obter consenso dos governos no sentido de preservar muitas das terras alagadas. Em 1971 desencadeou-se uma campanha a nível mundial nesse sentido, e 10 anos depois, 30 nações já acordaram em fazer um aproveitamento mais prudente dessas terras.

Combater a desertificação, excepto no caso das regiões em que esta é provocada pelo clima, não é muito difícil, protegendo o solo. Há essencialmente 4 processos de combater o alastrar dos desertos: a irrigação das terras secas; a utilização de fornos e estufas, que consomem metade do combustível gasto nas fogueiras a céu aberto; a plantação de grandes áreas de árvores resistentes à seca como as acácias, que crescem depressa, fornecem abrigo e impedem o vento de arrastar o solo; a plantação em dunas de areia, pois as plantas ajudam a areia a estabilizar-se.

O despejo de lixos e de desperdícios tóxicos é já regulamentado por muitas leis, mas é difícil fazê-las respeitar, especialmente a nível internacional. Para resolver os problemas criados pelos resíduos, as fábricas começam a ser obrigadas a construir centrais de reciclagem. Além disso, estão a ser desenvolvidos planos para tratar o lixo que ninguém quer. A Bélgica planeia a construção da primeira "ilha de lixo", no Mar do Norte, embora haja muito receio de que possa ser utilizada para armazenar resíduos tóxicos e nucleares, sem os adequados cuidados, longe da vista do público.

É fundamental uma mudança de atitude em relação ao lixo.

E nisso todos temos que ajudar, separando-o, para simplificar e reduzir os custos da reciclagem, e evitando espalhá-lo por todo o lado.

Apesar de, no Reino Unido, ser proibido atirar lixo para o chão, muitas vezes este amontoa-se na rua, atirado por pessoas que ficariam furiosas se alguém lhes sujasse o jardim.

Temos que considerar toda a Terra como o nosso jardim particular, a nossa casa, e, como tal, mantê-la limpa e arrumada em tudo o que estiver ao nosso alcance. Essa é a contribuição de cada um de nós. E é urgente. É uma questão de contribuir para conservar a vida ou para a destruir, de viver ou morrer.

S.O.S.

PARA O PLANETA TERRA!

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

- Enciclopédia Combi Visual - volumes 1, 6 e 7

* Colecção "Natureza em Perigo" - Edinter:

- "O mar está a morrer" - Michael Bright

- "Poluição e Vida Selvagem" - Michael Bright

Edições Asa:

* Colecção "Factos.. Factos.. Factos":

- "Chuva ácida" - John McCormick

- "Resíduos tóxicos" - Nigel Hawkes

* Colecção "O Mundo no Ano 2000":

- "Planeta Terra" - David Lambert

- Expresso Revista de 30 de Maio de 1992

- "50 coisas simples que você pode fazer para salvar a Terra" -

The Earth Work Group - Difusão Cultural

- "Guia do Jovem Consumidor Ecológico" -

John Elkington e Julia Hales - Gradiva Júnior

 

Trabalho realizado por:

Rui Nuno Leitão

de Carvalho

 

 

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