sábado — 19.8.2000

23:41 19-08-2000

Sabadão de sol, depois da visita às Docas que, esqueci de mencionar, é uma senhora concentração de botecos, barzinhos e boites, tanto do lado da margem do rio como do outro lado das Avenidas (da Índia/24 de Julho, à direita no sentido Lisboa-Cascais e Brasília, à esquerda). É por onde passamos a caminho de Cascais.

Por ali se passa em frente a vários locais que pedem notas mentais para futura exploração: o Cais do Sodré, a Praça Dom Luís I, o Largo de Santos, o Museu Nacional de Arte Antiga, a Praça Afonso Albuquerque, o Padrão dos Descobrimentos, a Praça do Império, o Centro Cultural Belém, o Museu de Arte Popular e a Torre de Belém. Ufa. Acho que cubro isso no primeiro ano…

Lembro do nome da praça de ontem: Jardim da Estrela. E lembro-me de anotar, que a memória já vai mal com tanta informação nova.

Vamos pela estrada passando por Oeiras e Estoril, até Cascais e, de lá, ao nosso primeiro objetivo: o Guincho. O Guincho é um dos picos de surf da costa próxima a Lisboa. O primeiro detalhe é a quase ausência de praia em certas partes, o que faz das ondas mais bem formadas, quebrando nas pedras; o segundo é a temperatura da água em agosto, o mês mais quente, é de 19 graus. Brr. Do Guincho, vamos mais para o norte, em direção ao Cabo da Roca, a falésia que é o ponto mais ocidental da Europa. Europa continental, alguém me corrige mas, convenhamos, os ingleses adoram não se achar europeus, não é mesmo? Fatos: o Cabo da Roca fica na longitude 9°30' W, 150m acima do nível do mar, mar azulzinho, quebrando nos rochedos lá embaixo. Espicho o olho e tento avistar a Estátua da Liberdade. Haha. Duh.

Desço pelas pedras até um ponto mais baixo e mais afastado, onde pode-se ficar uma vida a olhar as formações rochosas, as gaivotas e esse mar lindo. Avistamos até uma gruta escavada pelo mar escondida no sopé de uma rocha. Mas não há tempo, nem preparo físico para descer até lá e voltar. Quem sabe no próximo verão.

No alto do rochedo, turistas aplenty, e um marco onde se lê:

«Aqui
Onde a terra se acaba
E o mar começa.»

Que é de Camões e, afinal, descubro que o início do livro de Saramago O Ano da Morte de Ricardo Reis é homenagem ao autor d'Os Lusíadas: «Aqui onde o mar acaba e a terra principia...» Cultura Inútil Kazi tem o patrocínio de…

Vamos pela serra de Sintra até a cidade homônima para descer até o litoral e visitar nosso segundo destino da tarde: Ericeira, outro pico (uma das etapas do WQC tem lugar aqui). Ao longo da estrada, começam a aparecer casebres com pinta de século XV, talvez, de pedras, baixinhos e alguns «sítios» têm murinhos de pedras que parecem medievais também. Preciso confirmar com algum dos meus amigos alfacinhas essa história (lisboetas são alfacinhas e os portuenses são tripeiros, mas vá com cuidado que ambas as expressões são depreciativas). Vamos parando ao largo da costa e olhando as praias até achar uma mais interessante. Meu chefe, o surfista dessa história, já fica amigo do dono do boteco local e arranjamos de ir até a loja de um shaper da região. Na volta, uma passagem pelo centro de Ericeira, (uma arena de touros está montada no caminho, mas não vai dar tempo de assistir à corrida — mais uma coisa para fazer outro dia) cidade pequena e com aquela cara de alçapão de turista. Mas com construções interessantes no centro. Na beira da estrada muito condomínios novos. Os lisboetas estão a descobrir essas plagas.

Volto a tempo de revelar os filmes que bati no Brasil com aquelas máquinas descartáveis. Metade das fotos não saiu. É o que dá comprar essas coisas «baratinhas»…

Fecho a noite experimentando. Algumas baforadas de Montecristo (charutos cubanos) e uns goles de Carlos III (xerez de Jerez de la Frontera). Ainda bem que não fui eu que paguei. These guys know how to live. Só não posso acostumar com essas coisas: se você somar tudo, no fim do dia eu gasto o mesmo que em São Paulo. E ainda vou ter de montar um apê.



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