AO DEUS BRANCO...



Ao final do dia, quando chego em casa,
sobre a minha cabeça, o mundo desaba;
desato a mágoa que estava retida no fundo da alma,
para, enfim, expeli-la.
Todas as noites são possibilidades
de que a morte me pegue, de modo suave.
Quase no sonho, me despeço dos meus,
e - cara-a-cara - converso com Deus:
Em nome dos santos, do teu filho,
e do teu maldito encanto...amém!
Deus branco, ocidental,
que legitima aos tiranos, sua diabólica opressão:
a Guerra Santa agora usa dioxina
para alvejar o papel da escravidão!
As outras cores são lavadas com chacinas!
Teu reino é branco como é branca a tua barba!
Teu efeito é como dependência química!
Tuas imagens são a podridão dourada.
Com o dinheiro doado à "Santa Família",
dás, para eleitos, o que for prazeroso;
aos opressores, dás a plena anistia,
e a César, o que tiras de teu povo.
Deus onipotente e preconceituoso:
pra que também tratem, todas as espécies,
da mesma forma que maltratas os heréges,
combates o que é novo, e delegas a uns poucos
um poder similar ao que tu exerces!
"Tomai e comei, meu corpo é vosso pão",
faria sentido se o Planeta o dissesse!
Os doutrinados que te pedem o perdão,
trocam pecados por um punhado de préces;
e agora, com o auxílio da tua máfia,
confundem a fé com a submissão letárgica!
Como acreditar que sejam justos os teus castigos,
se outros é que pecam, e cobras de teu filho?!
Deus capitalista, ouço tuas risadas etéreas
no ringir das máquinas e tilintar das moedas.
Vendes um falso paraíso, que aos pobres deserda.
Criaste um céu sem riso e sem graça,
que gera a aceitação da desgraça e duma vida de tédio.
O paraíso real que, na verdade, é a Terra,
os teus fiéis depredam e o tornam um inferno!
sua glória é fazer jus a um paraíso imaginário;
sua vida é uma cruz, criaram aqui o seu próprio calvário!
O pão-de-cada-dia que era nosso,
vai ao Primeiro Mundo para os porcos,
é consumido ou revendido por ricos reacionários,
ou, por ironia, esbanjados por pobres que são otários.
Deus insano e raivoso, detestável soberano,
já foi imposta, a tua vontade, pela espada;
toda a tua bósta, por toda a parte, espalhada!
Podes até deixá-la aqui, pois ela, a tantos, satisfaz!
Mas será um favor tu ficares aí no céu, e deixares a Terra em paz!

Por tudo isso, o meu deus terá de ser outro,
que, além de gente, respeite plantas e animais;
multifacetado, e que valorize o novo;
implacável, mas justo, prazeroso e amigo;
saudável, mesmo que não eterno nem infinito!
sem instalar nenhum céu nas flutuantes alturas...
que seja apenas música, desenvoltura do riso,
em cujo ritmo baila, com toda a sua formosura,
esta quase-esfera: O VERDADEIRO PARAÍSO!

(parte do poema OCEANU)


 

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