O show

666 - SHOW NO BRASIL - 666





'' VOU MOSTRAR AOS BRASILEIROS ALGO QUE VOCÊS NUNCA VIRAM E NUNCA VERÃO DEPOIS. ''



Marilyn Manson Brazilian "Tour"

São Paulo, 08 de setembro de 1997 - Olympia

Por muito tempo eu não vi uma banda causar um alvoroço tão grande. Eles estavam por todas as partes: nos principais jornais da cidade, TV e estações de rádio. Eles povoaram as mentes (e provavelmente os pesadelos) de muitas senhoras religiosas. Os ingressos haviam se esgotado. Marilyn Manson personificou um velho ditado popular: "Falem bem ou falem mal, mas falem de mim".

Percebi algo muito singular com a vinda da banda ao Brasil. Em um país conhecido por suas mulheres semi nuas nas praias, carnaval, Sexta Sexy, presidente pego com uma donzela em trajes sumários (ou a ausência de, no que tange à roupa íntima...), guerra do tráfico nos morros e Notícias Populares, a banda parecia perder um pouco de seu poder.

Não é de se estranhar a reação que eles tiveram nos EUA. O país parece que tem orgulho em ser hipócrita. No caso do Brasil, o Marilyn Manson perdeu sua força, já que as pessoas não se importavam realmente com o que eles faziam ou deixavam de fazer. É aquela velha história: você se nutre da reação de seus inimigos. Quanto mais eles tentar destruí-lo, mais força você ganha. No fundo, todos acreditam que a banda é um grupo de 05 esquisitos, tentando chamar a atenção. De certa forma, isso tornou a música mais relevante.

Eu, Dedei e Patty chegamos atrasadas ao Olympia. O circo estava formado! Havia todo o tipo de gente concentrada à frente do local: malabaristas, góticos, metaleiros, curiosos, clubbers. Parecia que todos os freaks da cidade haviam se reunido. Até Zé do Caixão foi conferir a performance de seu pupilo (o Pogo é um grande fã de seu trabalho - vocês precisavam ver a feição dele quando soube que "Coffin Joe" tinha ido ao show. Ele ficou MUITO decepcionado porque não se encontrou com ele).

Corremos e discretamente, conseguimos chegar a 1a fila. Eu sei que isto não é atitude das mais nobres, que haviam pessoas esperando por horas na fila para garantir um bom lugar... Mas, o mundo é dos espertos, honey...

Quando finalmente as luzes se apagaram, a sensação foi indescritível. Isto vai soar piegas, mas foi inevitável: eu comecei a chorar... Uma vergonha! Agarrei a mão da Dedei e nos olhamos. Um sentimento de realização tomava conta de nós. Principalmente porque eu tenho desejado que essa banda viesse para cá por anos a fio (quando eu comecei a gostar da banda, ninguém os conhecia. NINGUÉM! E ainda tinha de aguentar um monte de menininhas histéricas na frente do hotel falando como elas são fãs do MM há um tempão e tal... Eu sei que é um ciúme bobo, mas...).

Ouvimos a introdução. Nós sabíamos. O show havia começado. Era "Angel with the Scabbed Wings". A primeira pessoa da banda que vimos foi Twiggy. Seguido por Pogo e Zimmy. O Ginger está o tempo todo atrás de seu drum kit, o que dificultava um pouco as coisas para nós. Faltava uma pessoa. Foi quando, entre muito gelo seco e luz, ele surgiu. Braços erguidos em uma saudação. Assim que vi Mr. Manson, sorri para Dedei e Patty e dei adeus ao mundo. Começamos a pular e cantar (resultado: um hematoma - mais um, hi hi hi! - no joelho e uma dor de garganta do cão). Se bem que não tínhamos muita escolha. Ou pulávamos ou a morte se faria muito próxima. Eu fiquei muito surpresa com o público. Todos pulando e cantando todas as músicas. Eu me lembro de Zimmy e Pogo me falando de como eles tinham se divertido. Segundo eles, a platéia foi muito boa. Mais detalhes no final...

Eles tocaram algumas músicas do "POAAF", tais como Get your Gunn, Lunchbox, Cake and Sodomy ( com direito a um "cafuné" todo especial de Mr. Manson em suas nádegas) e My Monkey (sexy!). Como eu não esperava que eles tocassem faixas do 1o disco, ouvir essas faixas serem tocadas ao vivo foi incrível.

Um momento bastante marcante foi "Sweet Dreams". Não que esta seja minha música preferida, mas a platéia a cantou, palavra por palavra, de forma que eu mal podia ouvir a voz de Marilyn. E me lembro bem desta canção em particular, porque uma menina do meu lado começou a berrar histericamente o nome de Marilyn, mostrando seus seios... Acho que ela não percebeu que aquilo não era um show do Bom Jovi... Mas enfim, cada um faz o que acredita que lhe convém.

Houve um instante em que os papéis se inverteram. Olhei para Twiggy e ele simplesmente observava aquela grande massa suada a sua frente. A impressão que eu tive foi que nós éramos o show e Twiggy o espectador, atento e feliz. Ele mal piscava. Obviamente, houve o momento "Vandeuville" do show. "Vandeuville" demais para o meu gosto. Sangue falso demais, teatro demais. No entanto, levando em conta que isto é puro entretenimento, tudo vale a pena. Mas eu confesso: ao ver Marilyn com a garrafa quebrada nas mãos, eu realmente comecei a ficar desesperada. Comecei a passar mal mesmo. Eu me recuperei do susto rapidamente, afinal de contas o show continuou como se nada tivesse acontecido. E quando vi aquele mar de "sangue" escorrendo de seu peito, percebi que eu me preocupei à toa.

Outros grandes momentos foram "Deformography" e "Apple of Sodom". Por quê? Simples: Elas são duas grandes músicas. Ponto. Qualquer outra explicação é inútil (brincadeirinha... Além disso, eu não sabia ao certo se eles tocariam essa música, o que tornou tudo mais interessante).

Após mais algumas músicas, no meio da escuridão do palco, eu vi os roadies levando o pódio ao palco. Antes que Marilyn pudesse voltar, tudo o que se podia ouvir naquele momento era "Hey! Hey!". "Antichrist Superstar" é provavelmente uma das faixas mais fortes do novo disco e uma de minhas favoritas. Flocos de neve começaram a cair do teto. O efeito foi bárbaro! Então, Mr. Manson agora em seu look de ditador, sobe ao pódio e com a Bíblia nas mãos, começa a rasgar suas páginas, até que a joga ao público. Essa parte do show teve um feedback de mídia incrível. Levando em conta que nós somos o maior país católico do mundo, não é se estranhar. O curioso foi constatar que o protesto em frente ao Olympia não aconteceu. Talvez os religiosos daqui sejam um pouco mais inteligentes que os americanos e tenham percebido, a tempo, que grande perda de tempo e esforço seria essa manifestação.

Outro ponto alto do show foi "Irresponsible Hate Anthem". Mr. Manson surgiu vestindo tão somente uma bandeira americana. No final da música, ele tirou a bandeira (obviamente, para a tristeza das meninas mais afoitas, ele vestia algo por baixo), e fingiu limpar a sua bunda com ela. A platéia foi à loucura! Quando ele jogou a bandeira, segundo alguns amigos que estavam perto do local em que a bandeira caiu, o tumulto foi tão grande que parecia que eles iam morrer! Eu posso imaginar as centenas de pessoas brigando por ela. De acordo com esses mesmos amigos, aproximadamente 20 garotos pegaram a bandeira, saíram do show, todos segurando um pedaço dela (!) e cortaram-na, para garantir, dessa forma, que todos tivessem um pedacinho do "souvenir" . Gee....

Eles terminaram o show com "R n'R Nigger". Outra grande surpresa! Mas eles não tocaram "Man that you Fear", que é uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos. Emocionalmente forte, mas sem precisar ser agressiva. Enfim... Zim Zum me disse que eles tinham de escolher uma das duas músicas para encerrar o show. Segundo Zimmy, dificilmente eles tocam "R n' R Nigger", somente em shows que eles estejam se divertindo muito e a platéia seja muito boa.

Durou 80 minutos. 80 minutos em que o caos e a beleza andaram de mãos dadas. Eu vi dezenas de shows antes, mas eu vou lhes dizer uma coisa: este foi o melhor show da minha vida! Eu sei que meus amigos vão me encher o saco, pois eu já vi Ozzy, Alice Cooper e outros vários ótimos performers, mas nada pode se igualar a este show.

O mais importante a respeito desta crítica é que palavras não são suficientes para descrever o que acabávamos de testemunhar. Apenas as pessoas que estavam no Olympia aquela noite poderão entender. Esqueça os rumores e fofocas. A beleza se esconde no olhar, na forma em que enxergamos as coisas, sem valores ou julgamentos. Muitas vezes eu penso que o Marilyn Manosn tenta resgatar aquela criança que existe dentro de nós, aquele parte que é puro instinto e emoção, sem um olhar crítico e moralista sobre tudo.

Talvez isto tudo seja uma grande brincadeira para banda. Uma piada de mal gosto e nós caímos direitinho. Mas, nós, milhares de pessoas protegidas pelo anonimato, tornamo-nos um único ser. Essa massa sem rostos sob o controle de um único homem. Naquela noite, Marilyn Manson foi, realmente, o Antichrist Superstar.

Eliana I.

SET LIST

(não está totalmente em ordem de apresentação)

- Angel with the Scabbed Wings

- Get your Gunn

- Cake and Sodomy

- Dried Up, Tied and Dead to the World

- Tourniquet

- Deformography

- Little Horn

- Lunchbox

- My Monkey

- Sweet Dreams

- Apple of Sodom

- Antichrist Superstar

- Irresponsible Hate Anthem

- The Beautiful People

- The Reflecting God

- Rock n' Roll Nigger









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