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Cícero Romão
Batista nasceu a 24 de maio de 1844, na vila do Crato. Desde cedo manifestou a vocação
sacerdotal, vindo a Fortaleza para estudar no seminário da Prainha. Auxiliado por seu
padrinho, o coronel Luis Antônio Pequeno, pôde continuar seus estudos, apesar da alerta
do pai. Ordenou-se aos 26 anos, e em 1872 foi enviado para o pequeno povoado de Juazeiro
do Norte. No seminário não registraram-se fatos estranhos com o jovem estudante, mas ele
e seu primo José Marrocos eram vistos como "arrivistas". José Marrocos foi
mandado embora e Cícero ordenou-se padre, por intervenção do bispo D. Luis, apesar da
reprovação do Reitor do seminário. A princípio Cícero não se afeiçoou ao povoado, e
sua intenção era voltar para Fortaleza. No entanto, conta-se que Jesus lhe aparecera em
um sonho, instruindo-o no sentido de cuidar dos pobres. Fixou-se então no lugarejo e
lá exerceu o sacerdócio, normalmente, até 1889, quando se deu o primeiro caso de
milagre, entre tantos outros atribuídos a ele: a hóstia recebida pela beata Maria de
Araújo transformou-se em sangue na sua boca. Logo a sua fama se espalhou, e todos acorriam para o
Juazeiro em busca da proteção o "santo milagreiro". Juazeiro depressa se
transformou em um enorme ajuntamento de pessoas, vindas de todos os lugares do sertão. Em
breve, Cícero deixou de ser apenas um líder religioso, para se transformar na mais
prestigiada liderança política do sertão nordestino. Em vão, a hierarquia da Igreja
tentou manter um controle sobre o padre, enviando-o até mesmo a Roma, para entrevista com
o Papa; mas isso só fez crescer seu prestígio junto ao povo. Algumas pessoas exerciam
grande influência sobre ele; a princípio foi seu primo José Marrocos, jornalista de
talento, que soube manipular com habilidade junto ao povo, as notícias em torno dos
milagres. Depois, foi o médico baiano Floro Bartolomeu, que articulou a aproximação do
padre com os coronéis e a política acciolina. Com a transformação de Juazeiro em
município, padre Cícero foi seu primeiro prefeito. A essa altura, o padre já
estava mergulhado no complexo xadrez político das oligarquias. Esse envolvimento culminou
na "Guerra Santa" que apreendeu contra o presidente Franco Rabelo, causando a
sua queda do poder em 1914; foi a sedição de Juazeiro. Mesmo depois de sua morte, em
1934, a influência do Padre Cícero permaneceu muito viva entre o povo sertanejo. Essa
influência não se limitou à região do Cariri, nem somente ao Ceará ; ele se
estendeu por todo o Nordeste e até além dele. Diariamente a "Meca" do Cariri,
Juazeiro, é procurada por romeiros vindos dos mais diversos lugares. Essas romarias são
mais fortes nas comemorações do dia da padroeira, Nossa Senhora das Dores, de Nossa
Senhora das Candeias e dia de Finados. O turismo religioso tomou-se a maior fonte de renda
de Juazeiro, tomando-a uma das maiores e mais prósperas cidades do Estado. No período
das ramadas, os hotéis ficam lotados com os fiéis que vêm pagar suas promessas, bem
como, adquirir "souvenirs", para que a proteção do "padim" lhe
acompanhe sempre, deixar seu óbulo na Igreja, morada do santo querido. Nos restaurantes
não faltam o baião-de-dois com o piqui e a carne de sol. A noite, os repentistas embalam
seus ouvirias com histíorias do padre e de outros heróis do imaginário sertanejo. E,
como não poderia deixar de ser, junto com os repentes, as rezas. Os locais mais visitados
são a casa do Padre Cícero e o Horto. No alto dele, a estátua esculpida em 1969, por
Armando Lacerda, com 27 metros de altura. A casa foi transformada em museu e conta no seu
acervo com oratórios, imagens sacras, batinas, paramentos, prataria, mobiliário e
objetos, doados pelos romeiros. Objetos de peregrinação são também a Casa dos
Milagres, onde são depositados os ex-votos, peças de gesso, madeira e plástico, que
representam partes do corpo humano curadas por obra das promessas, além de retratos e
cartas e a Capela do Socorro, onde o padre está sepultado. Em 1994 comemorou-se o
Sesquicentenário de seu nascimento, com realização de romarias, seminários em vários
locais do Brasil e apresentação de filmes, peças de teatro, além de lançamentos de
livros e cordéis.
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