| VOZ DOS EXCLUÍDOS: Em cada eleição, a maioria
dos votos pertence aos candidatos não-eleitos: são os excluídos da política. Quem são
estes excluídos da política, comparativamente com o quadro dos eleitos, como pensam,
como atuariam no parlamento? Que tal se pudéssemos usar a mídia virtual para estruturar
um canal específico para a sua intervenção no processo político?
|
| PARLAMENTOS REGIONAIS: Há experiências em
desenvolvimento (no RGS as Associações Regionais de Municípios, os Conselhos Regionais
de Desenvolvimento e o Orçamento Participativo) onde se constituem instâncias
alternativas de participação e intervenção no processo legislativo. Que tal se
pudéssemos viabilizar, como um sistema de interações na mídia virtual, algumas dessas
experiências? Haveria a possibilidade de se combinar um trabalho muito amplificado de
consultoria em política pública, com a pesquisa experimental, testando em ambiente de
realidade virtual, o impacto de diferentes formatos e regras para a institucionalização
dessas novas instâncias de participação social.
|
| INQUÉRITOS
POPULARES: Entre o sensacionalismo das CPIs do Legislativo e o velho dito,
que quando não se quer resolver um problema se nomeia uma Comissão para
estudá-lo, temos tido pouca eficácia na promoção ou provocação de reformas
institucionais profundas e conseqüentes, fora de uma via de mão única, que se elabora e
se decide pela iniciativa e pelo poder de pressão do Executivo sobre o Legislativo. Que
tal adaptar a velha tradição democrática do INQUÉRITO POPULAR ao formato de uma
interação midiática estruturada? |
-
- Sobre esse último tópico: dois
eventos recentes sinalizam o ponto que gostaria de ressaltar. Recentemente, a CNBB lançou
no país a campanha da fraternidade com o tema desemprego; e há pouco tempo assistimos à
instalação de um TRIBUNAL DA DÍVIDA EXTERNA no Rio de Janeiro. São caminhos
legitimamente perseguidos por diferentes setores da sociedade, para tematizar uma agenda
política alternativa. Uma primeira pergunta que se impõe responder, nesse sentido, é a
seguinte: que uso a sociedade fez dessas iniciativas?
-
- Em muitos casos, a tematização do
desemprego tem servido tão somente para pretextar a catársis da malhação do Judas-FHC.
E a sentença do Tribunal da Dívida, que aparece na web em alguns sites especializados,
parece não ter comovido quem quer que já não estivesse convertido à sua conclusão dos
fatos. Diante de uma tal frustração, legitimamente experimentada por um simples
cidadão, particularmente atento a estes debates tão cruciais, emerge uma segunda
questão. Somos levados a interrogar-nos sobre a forma como esse debate foi estruturado ou
está sendo promovido?
-
- Na democracia, mais do que a própria
natureza substancial de um tema, é relevante a forma como se expressa o conteúdo das
questões relevantes: o grau de pluralismo admitido na sua promoção; a amplitude e
profundidade da respectiva análise; a transparência e consensualização das regras que
comandam a sua estruturação. A democracia exige um certo grau de estruturação do
debate político. Um conceito solto no mundo pode significar tudo ou nada; pode
instrumentalizar a direita ou a esquerda; pode resultar em solução de conflito um
conflito social ou no seu acirramento.
- Tematizar a solidariedade, a
democracia, ou o desenvolvimento, não implica necessariamente que se seja solidário,
democrático ou desenvolvimentista; e nem que se promova eficazmente a implementação
desses princípios para a ação política. Tudo depende da forma como o debate das
idéias é estruturado no mundo - sobretudo da clareza e do consenso que se conseguir
alcançar sobre as respectivas regras, amplitude e conseqüência. É, exatamente, aqui
que cabe aprofundar uma discussão sobre o potencial da mídia virtual na consolidação
do processo democrático.
O declínio dos parlamentos e sua reversão na
perspectiva da consolidação democrática
- Este projeto reconhece que a crise de
modernidade permeia decisivamente o fenômeno que, em outros contextos têm sido
visualizado como o declínio dos parlamentos, ou o esgotamento da democracia
representativa, face às exigências contemporâneas da participação - como dimensão
essencial da cidadania.
De fato, os parlamentos sofrem hoje de uma
crise que, analogamente, à crise da Universidade, afeta a sua participação no processo
hegemônico das decisões sociais, a sua legitimidade e, até mesmo, em circunstâncias
limite, a sua institucionalidade.
- No que respeita à crise da hegemonia
parlamentar, pode-se perceber, muito claramente, que a função legislativa, que é o
cerne da sua justificação, sofre o duplo assédio: do poder legisferante do Executivo,
em bases concorrenciais e, até mesmo, privilegiadas; e dos processos alternativos de
articulação e normatização sociais, em muitos casos promovidos pelo Executivo, em
outras circunstâncias auto-centrados, como manifestações do que tem sido saudado como a
emergência de uma nova sociedade civil.
-
- Em que o qualificativo serve para distinguir
entre o conceito tradicional, de uma sociedade civil como o mero somatório, fragmentado
na sua composição e anárquico no seu direcionamento, dos interesses privados em
conflito na comunidade, e o conceito novo da sociedade civil como uma dimensão
alternativa de explicitação do interesse público e da sua estruturação em bases
comunitárias ou, mesmo, corporativas - ou seja não-estatais.
-
- Explode essa contradição na oposição
conceitual de democracia representativa x democracia direta, democracia parlamentar
x democracia participativa, permeando, de uma forma mais densa de implicações, o
fenômeno contemporâneo do corporativismo de Estado, que erode os fundamentos da
concepção tradicional do Estado democrático de direito.
-
- De fato, onde o Estado - por suas múltiplas
agências e divisões - passa a atuar como uma corporação, privilegiando os interesses
próprios e a sobrevivência dos respectivos agentes ao interesse coletivo e à
realização da sua finalidade política; nesses contextos, o suposto básico da
democracia liberal, que vê no Estado uma capacidade privilegiada de conduzir à sua
realização o interesse público, fica seriamente comprometida.
-
- Ao longo de todo o projeto da modernidade essa
contradição manteve-se latente, alimentando, no entanto, o conflito manifesto, na ordem
muito real das decisões políticas, entre as razões de Estado e os direitos da
cidadania. E representou-se no plano ideológico na contradição básica de coletivismo e
liberalismo, cujo antagonismo militante, tem-nos permitido avançar definições
importantes da política democrática, mas tem-nos conduzido a distorções graves no
processo da sua institucionalização.
-
- Torna-se muito claro, na perspectiva da
pós-modernidade que adentramos, que a afirmação da cidadania hoje não é favorecida,
muito ao contrário, é obstaculizada pelo corporativismo de Estado. Torna-se muito claro,
também, que a afirmação do interesse público não é favorecida pelo antagonismo
desenfreado de interesses particulares, sejam estes corporativos ou privados, de capital
ou trabalho, ou de uma forma mais genérica de explorados ou exploradores, no seio da
sociedade civil; muito ao contrário, a experiência civilizatória tem demonstrado que a
exacerbação destes antagonismos tem ferido a democracia de morte, sempre onde
viabilizaram um desfecho favorável a qualquer das partes em conflito.
-
- A construção democrática exige uma
instância de composição ético-política de interesses, cuja mediação e adjudicação
não pode tornar-se monopólio de quaquer indivíduo, grupo, corporação ou
instituição. Mas para cujo desempenho devem contribuir todos os indivíduos, grupos,
corporações ou instituições da democracia.
-
- Na democracia que precisamos construir, nenhum
poder de Estado poderá deter o privilégio da elaboração ou da adjudicação do pacto
constitucional. Nem ao Legislativo, nem ao Judiciário, que tradicionalmente os têm
exercido, e muito menos ao Executivo que os tem apropriado, o monopólio do privilégio
constituinte - ainda que setorializado - deixa de imputar-lhes prejuízos e
conseqüências. É isso, aliás que a democracia lhes têm cobrado na emergência
cíclica de irresolvidos déficits de credibilidade e legitimidade.
-
- Enquanto a reflexão sobre essa reforma
necessária não emergir da planície das razões e do discurso da praça pública, onde
cada função há que provar-se útil pelos próprios resultados do seu trabalho,
continuaremos sustentando elites que, insensíveis na sua autosuficiência, gerenciam
instituições inefetivas na sua capacidade de resposta aos desafios da contemporaneidade.
-
- Para exemplificar, apenas, a ostentação do
Judiciário nos seus contemporâneos palácios de mármore, tem-se erigido em verdadeiros
mausoléus da causa democrática em nosso País. A incapacidade demonstrada pelo
Legislativo em prover o País de uma efetiva reforma política, constitui-se num assombro
de corporativismo político, que alimenta a instabilidade institucional da nossa frágil
democracia. E a insensibilidade burocrática das nossas agências Executivas, constitui-se
numa herança trágica de quinhentos anos de dominação estatal sobre a sociedade civil,
cujo rescaldo ainda não conseguimos completar.
-
- Um instrumento
para a construção da cidadania no contexto da sociedade científico-tecnológica
-
- O Projeto Ágora é concebido numa sucessão de
intervenções de natureza política, que atendem à múltiplas necessidades, da
construção da racionalidade, da recuperação da credibilidade e da garantia da
governabilidade, neste País.
-
- Seu objetivo mais imediato e concreto é a
constituição de um PARLAMENTO VIRTUAL, capaz de permitir a mais radical liberdade de
postulação e experimentação no processo da mudança institucional. Em ambiente de
realidade virtual, diferentes alternativas para o desenho e funcionamento das
instituições políticas, podem ser objeto de elaboração prático-teórica. É a
realização da utopia democrática, viabilizada pela exploração do potencial criativo
da cidadania científico-tecnológica.
-
- Trata-se de oferecer um espaço, em tempo
presente - ou seja on line, para que a cidadania, as entidades da sociedade civil,
a Universidade, os partidos políticos, os poderes instituídos, vivenciem, com a
radicalidade própria da reinvenção democrática , e num ambiente experimental, o
desafio da reconstrução institucional da democracia, que circunscreve as diferentes
alternativas e propostas para uma reforma política em nosso País. Isso que significa,
muito concretamente, um chamamento amplo, mas estruturado, à cidadania, para uma
participação criativa no processo de mudança institucional em curso na nossa sociedade.
-
- Este projeto não é, portanto, concorrencial
ao esforço de reforma política em debate no Congresso Nacional. Muito ao contrário,
tende a lhe agregar o complemento necessário da construção de cenários para a
originação e teste da mudança possível e desejável, numa dimensão de profundidade e
numa extensão de impactos, que assegurem uma fácil e desobstaculizada ultrapassagem dos
limites, que têm sido impostos ao nosso potencial de reinvenção democrática, pela
reduzida capacidade de autocorreção do sistema de poder.
-
- O deslocamento da iniciativa de formulação de
propostas de reforma política, desde os laboratórios da burocracia governamental e desde
os impasses do confronto legislativo, para o ambiente de rede virtual, implica na
recuperação de uma centralidade democrática - viabilizada uma ampla e efetiva
participação da cidadania - no processo da nossa reconstrução institucional.
Condição essa que hoje se encontra comprometida pelas injunções do corporativismo de
Estado e da setorialização da política na sociedade contemporânea.
-
- O que este projeto pretende, dessarte, é
viabilizar os requisitos de máxima inclusividade (das interações de poder),
globalização e temporalidade, que o colapso da modernidade tem obviado como as
condições necessárias - mas hoje deficitárias - da possibilidade de uma nova utopia
democrática.
Esboço provisório de uma estrutura operativa
A organização dos trabalhos do
Parlamento Virtual, desde logo, se pretende dividir em três segmentos de atividades: a
discussão temática de políticas públicas (GRUPOS TEMÁTICOS), sua integração
funcional no âmbito da política geral de governo (CÂMARAS SETORIAIS), e a
documentação desses trabalhos numa sala de divulgação (INFORMES E SINOPSES).
GRUPOS TEMÁTICOS |
CÂMARAS SETORIAIS |
INFORMES E SINOPSES |
A estruturação dos grupos temáticos será desenvolvida a partir
da pesquisa e desenvolvimento de uma agenda - que deverá articular a preocupação da
relevância com a discussão da pauta político-conjuntural.
Os informes e sinopses serão contribuições elaboradas pelos
participantes do Mestrado político, posicionando o respectivo debate, num exercício real
e concreto de assessoramento político.
As câmara setoriais serão organizadas de acordo com as
necessidades funcionais de um novo estilo de PARLAMENTO, ao qual incumbe formular e
assegurar a observância de critérios éticos-legais (PROCEDIMENTAÇÃO) para a
tramitação das decisões públicas; assegurar a participação efetiva de todos os
segmentos sociaisi sensíveis à respectiva pauta (SENSIBILIZAÇÃO) e proceder à
integração e visualização dos impactos dessas decisões no conjunto das decisões de
governo e nos estados presente e futuro da sociedade (GLOBALIZAÇÃO DE IMPACTOS).
PROCEDIMENTAÇÃO |
SENSIBILIZAÇÃO |
GLOBALIZAÇÃO DE IMPACTOS |
Desde logo, a experimentação desses prospectos para uma
reordenação das funções parlamentares, constitui um campo de fecunda elaboração, por
via de adequação e confrontação, do Parlamento virtual com os processos de
mudança em curso no Parlamento real.
back to top