Desabrocha, assim como a flor,
acolhe os raios do meu amor,
deixa eu acariciar a tua
pétala macia e silhueta nua.
Entre sussurros e abraços,
suave, desliza em meus braços.
Testemunhas ? Só a alma,
cúmplice da minha calma.
O resto deixa comigo,
ao redor do teu umbigo
um lábio desejo carnal,
jardim entre quatro paredes,
tu és borboleta, eu a rede,
à espera do bem e do mal.
Assim caminha a humanidade
em todas as direções,
atropelando a verdade,
multiplicando vilões.
A miséria identifica
grande parte das nações
e curva-se à minoria rica
nutrida sem restrições.
Que mundo é esse Primeiro
que controla o mundo inteiro
e detém todo dinheiro
sugado do mundo Terceiro ?
É o mundo dividido
em mundos tão diferentes,
o Primeiro indiferente,
os demais subnutridos.
Que mundo é esse Primeiro
inimigo do Segundo,
cruel ditador do Terceiro
a controlar todo mundo ?
É o mundo decadente,
à deriva e sem razão,
escravo do tempo presente
rumo à destruição.
AIDS quem pensa que escapa
na relação inconstante,
levando uma vida errante
será varrido do mapa.
AIDS você que acredita
ser o dono da razão,
o corpo à disposição,
a mesma seringa maldita.
AIDS você que procura
uma emoção diferente,
busca a AIDS consciente
uma simples aventura.
AIDS quem brinca e abusa,
geração promiscuidade,
um homem de verdade
camisinha sempre usa.
AIDS quem crê ser imune,
trocando a fiel parceira,
põe em risco a companheira,
não há de escapar
impune.
AIDS quem volta pra casa
tranqüilo e despreocupado
e, depois de ter transado,
a família inteira arrasa.
AIDS de você que ignora
o infeliz do teu irmão
que, por falta de instrução,
a morte levou embora.
AIDS você, meu irmão,
elimina a prepotência,
faz da própria consciência
a única prevenção.
Muito além . . .
das idéias descabidas,
da violência desmedida,
das emoções recolhidas,
da inútil investida,
das crianças subnutridas,
da miséria distribuída,
das esperanças contidas,
da incurável ferida,
das tristezas repartidas,
da briga pela comida,
das mulheres desvalidas,
da derrota conhecida,
das balas que rolam perdidas,
da falta reconhecida,
das promessas não cumpridas,
da imagem destruída,
das etapas percorridas,
da vontade suicida,
das críticas recebidas,
da imensa dor sentida,
das lágrimas escorridas,
da inocência perseguida,
das crescentes invertidas,
da punição merecida,
há uma luz que alimenta a chama
da vida . . .
Sentado aqui feito um escriba
percorro num segundo Curitiba,
à mercê do tempo e dos ruídos
que martelam os meus ouvidos.
Corre o meu pensar deliberado
dando asas ao olhar compenetrado,
concebe-me apenas o impossível
semelhante à concepção
do dirigível.
É o fruto do dia mais agitado
em busca do salário contado
embora a consciência me diga :
tu não és cigarra, és
formiga.
E eu vejo, não muito longe de casa,
um e outro transeunte perdido,
coitado que a si mesmo arrasa,
adeptos da psicologia do vencido.
Algo bate e rebate na consciência
martirizando minha inteligência
como se eu fosse o responsável
por toda essa situação lastimável.
A depressão toma lugar na sala,
inibe meu sorriso e minha fala,
bloqueia meu intelecto
em todas as desgraças que detecto.
Por fim, a vida parece acabada
na minha concepção abalada,
vejo o futuro indignado,
um otimista que mudou de lado.
Tantos reclames de uma vida errante
soam ridículo e deselegante
quando acordo e penso novamente :
sou homem, sou útil, sou gente.
Por esse mar onde navego
a tempestade nunca se acalma,
o vento atravessa a alma,
por vezes me deixa cego,
quando não cego, olhos marejados,
pernas trêmulas, braços cansados,
o sol é mera possibilidade,
ele próprio teme a tempestade,
é preciso suar no comando do navio,
a superfície é extensa,
a vida é um pequeno rio
apenas com a diferença :
o rio segue a corrente
e sabe onde quer chegar,
o homem se opõe à corrente
e perde a noção do mar .
. .
Sem terras se vai o trabalho,
sem trabalho morre a terra,
sem terra sobra sem-terras,
legítimos donos da terra.
Que faz o sem-terra sem terra ?
Enterra o sonho da lida
na terra que acende a vida
no árido campo e na serra.
Mas para quê tanta terra
no meio daquela serra
se o dono tem a razão
e ninguém mais põe a mão
?
Terra mais do que sem-terra,
o chão espera calado,
dentro do sonho do arado,
peleja que não se encerra.
Dessa dura condição,
resta o preço, fim da guerra :
um pedacinho de chão,
sete palmos só de terra .
Parem os pedintes de esmolas,
apaguem as luzes das escolas,
que o carteiro não entregue mais
a carta de uma semana atrás,
rasguem as leis da constituição,
desintegrem a nação,
carros, barcos e aviões
são meras alucinações,
cancelem a edição de amanhã,
suspendam as manchetes de jornais,
que o trabalhador não se vá
nem o patrão corra atrás;
eliminem da memória
o triste registro da história,
Carandiru, Candelária,
inflação e desemprego,
miséria e fisiologismo,
um povo à beira do abismo,
o interesse individual,
as forças contrárias do
mal;
o povo jamais esquece
o rombo do inss,
a falta de democracia
num país que não se cria,
tudo pára, param todos,
saiu a condenação
do país sem coração,
julgado por unanimidade,
mereceu a implosão.
Viver em paz comigo mesmo
(ainda que eu morra infeliz)
ser alegre todo dia
(ainda que eu deite triste)
dar amor a vida toda
(ainda que eu fique sozinho)
deixar as águas rolarem
(ainda que eu naufrague)
enfrentar a tempestade
(ainda que o vento me leve)
crer na força das palavras
(ainda que eu morda a língua)
contemplar de frente o sol
(ainda que eu siga no escuro)
esperar pelo possível
(ainda que pareça impossível)
construir a liberdade
(ainda que eu viva preso)
voar alto cada dia
(ainda que eu desça ao abismo)
ser capaz da forma justa
(ainda que eu me faça injusto)
tomar as dores do mundo
(ainda que eu viva de enganos)
crescer segundo a segundo
(ainda que dure mil anos)
CURRICULO LITERÁRIO
DADOS / AUTOR : Brasileiro,
casado, 36 anos, 2 filhos, comerciário,
contista, poeta, cronista, autor de 3
livros inéditos e o seguinte
currículo literário :
Destaque no XV Concurso Nacional de Poesias
promovido pelo Jornal
Revista Brasília, com o poema DEZ
ANOS ATRÁS;
Premiado no 2º Concurso Nacional de
Trovas, promovido pela União
Brasileira de Trovadores, de Salvador/BA
- Antologia IRMÃ DULCE – À LUZ DA
FRATERNIDADE;
Premiado no Concurso Literário de
Contos promovido pelas Indústrias
KLABIN e Colégio Estadual Dr. Luiz
Vieira – Antologia A FAZENDA MONTE ALEGRE
CANTA SEU CANTO;
Primeiro colocado no Concurso MUTIRÃO
DE POESIA 1998, promovido pela
SRR Editora de Porto Alegre fazendo jus
ao prêmio máximo em dinheiro e
publicação de uma antologia
com os 20 melhores classificados.