Viver de Poesia Manuel M. Torres
Poesia de Hoje e Ciência William Russo
Uni(verso) de Carlos "Platão" de Andrade Hermano Freitas
As Narrativas em Balzac e Flaubert Rogério Salgado Martins
Opiniões a Respeito do Mercado Editorial de Poesias Douglas Kirchner
Publicar Seu Livro de Poesias ? Douglas Kirchner
Riobaldo e o Pacto nas Veredas Mortas Edson P. Cavalcanti
Sobre a Mostra
"100 Livros do Nosso Século"Manuel M. Torres
Balanço:
Um ano de Poetas Brasil
Uni(verso)
de Carlos "Platão" de Andrade
— Publique suas poesias na Internet;
— Publique suas poesias nos jornais locais,
que geralmente dispõe de espaços para a publicação
de pequenos poemas.
— Publique nos jornais de poesias. Geralmente
de periodicidade mensal, estão a disposição dos poetas
como principal veículo de divulgação.
— Coloque suas poesias no colégio
ou no trabalho. Em geral, sempre há espaços apropriados e
disponíveis para isto.
— Fique de olho das feiras com exposições
culturais de sua região. Sempre quando houver uma manifestação
cultural, oficial ou alternativa, dê uma olhada e crie oportunidades
para mostrar seu trabalho.
— Escreva suas poesias em camisetas e
as venda ou saia andando por aí !
— Faça cartões, com suas
poesias, e comercialize-os da maneira mais criativa possível !
— Mantenha contato com outros artistas.
Sua poesia pode ser veiculada em músicas ou mesmo em trabalhos conjuntos
com artistas plásticos.
— Organize saraus ou oficinas de poesia
para a leitura e trabalho conjunto de poetas.
— Seja criativo na exposição
de suas poesias !
Após algum tempo dispendido nestas atividades, o poeta pode desejar
estrear um livro. O importante é que o poeta tenha certeza da qualidade
de seu trabalho. Um livro não é escrito a lápis; não
pode ser apagado depois. Lembre-se que os grandes poetas alimentaram várias
vezes suas lareiras com obras, que após muito trabalho, reveleram-se
fracas, insuficientes, insustentáveis. Um grande poeta deve ser
razoavelmente cruel nestes momentos, não poupando esforços
e não criando um reconhecimento ilusório para seu trabalho,
que sempre é custoso, é difícil de produzir, de criar.
Com a certeza da maturação do trabalho é hora de conhecer
o livro. Para isto, unir-se a outros poetas afins e tentar uma publicação
conjunta pode ser uma excelente idéia. Além de "rachar" as
despesas da publicação, torna-se muito mais fácil
vender os exemplares. Distribui-se a responsabilidade pelas vendas dos
exemplares, cabendo uma cota de vendas para cada um; alternativamente pode-se
fazer a publicação conjunta com venda casada de exemplares
antecipada para cada um dos autores.
Caso o poeta realmente acredite na qualidade de suas poesias e tem certeza
que é o momento certo de publicá-las (isto é muito
importante), é momento de pensar as fontes de financiamento para
o livro. arrange um patrocínio (o mais óbvio é emprestar
uma grana do próprio caixa da família), em forma de doação
ou empréstimo. Publicar o livro com pequenas tiragens (300 a 500
exemplares) é fundamental para a redução dos riscos
do processo. Após a publicação saia vendendo para
os parentes, amigos, além de vender diretamente na rua, em feiras,
em encontros, em bibliotecas, em pequenas livrarias e nos colégios.
Vale compor um comentário sobre o patrocínio. O poeta não
consagrado deve conscientizar-se que o patrocínio vem em forma de
mecenato, raramente em forma de publicidade. Isto cria um relacionamento
distinto dos poetas com seus possíveis patrocinadores. Achar um
mecenas é um pouco diferente do que tentar mostrar a viabilidade
econômica de se publicar um livro, através do retorno publicitário,
melhora de imagem, para a empresa. Portanto, menos arriscado é ir
atrás daqueles abastados amantes da poesia que se dispõem
a colaborar com as publicações, seja através de financiamentos
ou compra de parte da publicação. Este é um procedimento
mais freqüente e mais bem sucedido.
Na realidade, a grande massa de poetas autofinancia sua publicação.
As pequenas tiragens, de 300 ou 500 exemplares, são mais comuns.
Com a evolução tecnológica, o custo de tiragens menores
tem baixado cada vez mais. Depois, segue a batalha para tentar comercializar
estes livros, que em geral, é feita muitas vezes no corpo a corpo,
na rua, entre os amigos, em meios estudantis, etc...
Culpar o país, o povo, a cultura, os empresários ou a conjuntura
econômica por não publicar um livro de poesia é uma
idéia que deve ser descartada. Os procedimentos para a publicação
de livros, salvo raras exceções, sempre foram os mesmos,
independente de país ou época. De fato, o caminho é
longo; entretanto, não poderia deixar de ser, para garantir bons
resultados finais.
Logo na primeira página a discussão capital do livro é
introduzida: a presença ou não do Adversário, do Diabo,
entre nós, e a possibilidade de se fazer um pacto.
O Rosa não era ingênuo; por falta de termos melhores, digamos
que era iniciado nos mistérios do oculto. E embora não caiba
aqui discutir metafísica ou religião, parece claro em cada
linha do livro que o Adversário é existente, embora a concepção
popular do ser de chifres e cauda vermelha seja desprezada como superstição;
mas isso por causa da experiência própria de Riobaldo.
Recapitulando: tem a idéia, desiste, ela volta depois mais forte
e, decidido, vai até uma encruzilhada à meia-noite, para
conferir, mas também porque intimamente desejava encontrá-lo.
Os parágrafos que seguem são "estranhos", dão conta
de que algo imaterial, intangível, teve lugar nas Veredas Mortas,
com o jagunço desorientado perdendo a noção do tempo
e apenas retornando ao acampamento com o dia a clarear.
Os acontecimentos seguintes não deixam dúvida das intenções
do autor. O modo estranho com que Riobaldo se comporta, agressivo e impertinente,
contrastando com aquele antes reservado e tranqüilo companheiro, culminando
com o seu coroamento de chefe do grupo e subseqüentes arbitrariedades.
Se o leitor não acredita, não faz diferença; se o
Rosa acreditava, é assunto de debate; mas se é negado este
significado às páginas do livro, que o pacto se deu de forma
implícita, sem a presença física de nenhuma entidade,
melhor seria fechar o livro e não mais tornar a abri-lo, pois que
assim fica perneta, torna-se história de amor pitoresca, na melhor
das hipóteses, o que seria uma injustiça sem tamanho para
com nosso Joyce sertanejo.
Daí se explica a fixação no Diabo, que aparece na
trama com destaque, perdendo apenas para Diadorim. Riobaldo, introduzido
ao espiritismo cardecista pelo seu amigo Compadre Quelemém (quelemem,
quele memo, aquele mesmo) após abandonar a jagunçagem, começa
a preocupar-se com a salvação ou danação de
sua alma; a relação disto com esta religião é
estranha, já que estes conceitos são poderosos no catolicismo
mas no espiritismo, que prega que toda alma evolui em sua passagem pela
Terra, são, no mínimo, deslocados.
Na prática, este medo vira negação; nas entrelinhas,
em algumas passagens, se entrevê que Riobaldo acredita de fato na
existência, de uma forma ou de outra, do demônio; é
aquele velho costume, mineiro, de dizer aquilo que não pensa e não
dizer o que pensa. E tenta, na verdade, fazer seu interlocutor concordar
na não-existência para tentar desesperadamente acreditar nela,
na não condenação. Manda várias mulheres rezarem
por ele, dia e noite, tentando compensar o pacto, ganhar algum crédito
com o poder Superior; mas no fundo, não acredita nisso. O romancista,
no entanto, não quer deixar um final trágico ao leitor, e
na página final dá o conselho de Quelemém: que depois
de feito, qualquer ato não se pode mais remediar e que resta então
viver o que vem pela frente, da melhor maneira possível. E o ex-jagunço
se tranqüiliza.
Lembremos, apenas como corroboração, duas passagens. Primeiro,
a interpretação que o escritor João Ubaldo Ribeiro
nos dá ao nome do protagonista, que segundo ele passou despercebida
de muitos estudiosos. O que o autor quis caracterizar era a frustração
do personagem, um Rio Baldo, isto é, com pouca água (baldes).
Tendo em vista a taxonomia apresentada em algum lugar do livro, que nos
diz que rio é aquele grande e com muita água, e apresentando
riachos, ribeiros, igarapés e veredas em uma ordem de tamanho e
volume d’água, apenas nos resta acreditar nas palavras do imortal
da ABL. Mas vou mais além: em outra passagem, o livro nos diz que
Deus nos observa um instante só em toda a vida, um momento crucial,
que define o nosso valor aos seus olhos e o nosso destino após a
morte. E esse instante era aquele em que ele foi ao pacto e foi reprovado
à vista divina; daí ele não ser, literalmente, um
frustrado, mas é alguém que frustrou seu destino, nascido
para ter muita água e baldo, devendo rejeitar ao Diabo mas aceitando-o.
É claro que um grande livro oferece múltiplas interpretações; mas também é visível que Guimarães Rosa vez ou outra deixa claro o caminho que deseja que o leitor siga. Portanto, se você discorda do que está acima, tem outra versão ou trechos que mostram incongruências neste artigo, por favor envie um e-mail ao nosso editor. Ficaremos felizes em iniciar uma discussão sobre este livro que supera o mero regionalismo para se inserir nos grandes clássicos da literatura brasileira.
Sigmund Freud.
A Interpretação dos Sonhos(1900)
A.P. Tchekov, As Três Irmãs (1901) Winsor McCay, Little Nemo no País dos Sonhos (1906) Selma Lagerlöf, A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson Através da Suécia (1906) Marie Sklodowska Curie, Tratado de Radioactividade (1910) Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, 7 vol. (1913) Juan Ramon Jiménez, Platero e Eu (1914) Rabindranath Tagore, A Casa e o Mundo (1915) Ferdinand Saussure, Curso de Linguística Geral (1916) Ezra Pound, Cantos (1917) Colette, Chérie (1920) Camilo Pessanha, Clepsydra (1920) Luigi Pirandello, Seis Personagens
à Procura de um Autor (1921)
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento
do Mundo (1940)
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Estes cem nomes
que aparecem nesta lista fazem parte dos livros expostos na mostra "100
Livros do Século", parte da Expo 98, no Festival de 100 Dias, em
Portugal. Antes de mais nada, vale a pena atentar a importância e
inovação de uma mostra de livros, que não são
nada raros, mas pelo contrário, que foram mais importantes e influentes
em nosso século. Expostos em vitrines e divididos a cada 20 anos,
os livros desta mostra nos fazem rever, se não conhecer, as obras
de nosso século. Sem dúvida cada cultura deveria reconhecer
a importância daqueles que se dedicaram a realizar uma produção
cultural humana, seja através da pesquisa ou das artes literárias.
Esta mostra é um convite para países como o Brasil, que costuma esquecer daqueles que contribuíram para formação ou compreensão de nossa cultura ou que esforçaram-se por fundar um conhecimento científico em terras brasileiras. Cada vez mais os livros são carregados de elementos simbólicos e fetichisados. Mesmo no universo digital de final de século em que vivemos, a impressão que nos dá é uma valorização definitiva como objeto de conhecimento e se reconhece sua força intrínseca, retroalimentada ao longo do tempo. Uma bíblia carrega uma significação complexa e profunda, por exemplo, algo insubstituível por um site. É justamente por termos uma opção ao livro, através do mundo digital, que torna-se mais fácil agora admitir sua adequação, seu valor, sua realidade. Um conteúdo que extravasa para conceder ao livro uma significação simbólica para uns, uma aura mística e mítica para outros. Cada livro tem vida própria. Em cada momento histórico é atribuído diferentes valores, ampliando seu universo de significados, em que suas palavras não definem nem tampouco limitam seu conteúdo. Daí a pertinência de uma mostra como esta; um convite a reflexão para aqueles que procuram desvendar um pouco das origens e do pensamento de nosso século. Os organizadores defendem que foi uma escolha estes 100 livros, de uma lista inicial de 250. Não ambicionavam escolher os 100 livros de nosso século. Simplicidade essencial, pois muito mais que uma definição, suas escolhas adquirem o caráter de uma sugestão, apta para ser compartilhada pelos visitantes. Talvez nós também devessemos construir nossas listas dos 100 livros do século, ao menos para pensarmos na importância de obras para nossa formação e para a nossa cultura. É natural, portanto, e lógico, que ocorram ausências. Sem estas talvez perdesse o sentido da escolha. São nas ausências que refletimos sobre a importância absoluta de certas obras. São tantas as ausências pelo fato da amostra não ter se restringido as obras de literatura, cuja opção de escolha de uma obra representativa é algo mais livre e flexível; no que se refere a obras não literárias qualquer escolha exige um cuidado muito maior. Poucos foram os títulos retirados do campo da psicologia. Deu-se maior importância para os filósofos. Entretanto nunca uma ciência tão discutível como a psicologia teve tanta influência na maneira com que nos vemos e nos entendemos. C.G. Jung, M.Klein e Lacan são ausências marcantes. Talvez em menor grau que Fernand Braudel, capaz de revolucionar a construção da história e estruturar um novo sistema de conhecimento. Pior que isto só a ausência de J.Piaget, estudando os mecanismos cognitivos e N. Chomsky, na linguística, responsáveis por um dos grandes debates de nosso séulo sobre a formação do conhecimento humano. Na antropologia Lévi-Strauss seria um dos nomes merecedores de destaque, assim como B.K. Malinowsky e Franz Boas. Nas economia, F.Hayek e K.Polanyi são nomes fortes. Já na literatura e poesia, estranho foi a ausência de Rubén Darío e W.Yeats. Na filosofia, B.Russel por suas obras políticas e Habermas, um dos últimos grandes filósofos. Nas Artes Plásticas, ausência para W.Kandinsky, um dos únicos pintores que tratou teoricamente importantes assuntos. Manuel M. Torres
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