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       ENTREVISTAS

Ivan Furmann
Leila Miccolis
 Gilmar Fonseca e Peter Ravaglio
 Canuto Calmon Martins de Almeida
 
 
   
 
 

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Poetas Brasil © 1998-2000
 

 
 
 
 

 
Leila Miccolis é escritora, poeta, editora e empresária. Atualmente dirige a Editora Blocos, cujo Web-Site está entre os melhores sites de poesia nacional, comfirmado pelos inúmeros prêmios que vem recebendo.

É possível vender poesia ? Em outras palavras, você acha que a poesia é vendável ? (Ainda de outra maneira, a poesia pode tornar-se um gênero popular ?)

Logico que é possível. Pergunte a Ferreira Goulart, a Gilberto MendongaTeles, a Joco Cabral, aos herdeiros de Paulo Leminski ou Cecília Meireles,Mario Quintana ou Carlos Drummond de Andrade se poesia não é
vendável. Quanto a poesia se tornar gênero popular, eu acho que também é possível, desde que ela deixe as elitistas livrarias e vá para a praça, a praia, o bar e o metrô, como fazíamos nas décadas de 70/80.
Quer poesia mais popular do que o cordel, no Nordeste, cantado e vendido em todas as feiras? Só que, para ser vendável, o livro, livreto, folder, etc. tem de ser "trabalhável". O autor não pode querer ter
lucro apenas com uma noite de autógrafos. Se divulgar e tentar colocar seu livro no mercado, mão-a-mão, boca-a-boca, site-a-site, com certeza venderá.

Você acha que estamos tendo um revival da poesia ? Tenho a
impressão que as pessoas estão escrevendo muito. Há muita gente escrevendo.
Embora o nível geral seja ruim, quando há muito material surgindo sempre aparecem algumas coisas boas. Você nota uma nova geração de bons poetas surgindo no horizonte ?

Embora eu pertença a "Geração 70", eu não gosto muito desta
catalogação. Como ela existe, porém, não adianta ignorá-la. De qualquer forma, eu acho que até possível falar de "gerações", quando algo une os poetas de um mesmo tempo — na época, condições históricas como o Golpe
Militar e a censura prévia uniram as cabeças pensantes brasileiras em torno de uma oposição acirrada; e, sem dúvida, a literatura alternativa foi
muito importante como pièce de résistence da cultura não oficial. Não vejo nenhuma característica que una as "Gerações" posteriores; mas também
não vejo necessariamente porque se falar de gerações ou vanguardas: conheço excelentes poetas que surgiram de 80 para cá; têm gente nova muito boa, de estarrecer. Aliás, toda década tem gente muito especial. Ainda bem!
Com relação à quantidade de poetas, vejo que tem muita gente escrevendo sim, por todo este Brasil, o que não considero como um fato necessariamente ruim, afinal é o exercício que faz com que aprimoremos qualquer potencialidade individual. Agora, não posso afirmar conscientemente se hoje em dia se escreve mais ou menos do que nas décadas anteriores (também havia muita gente escrevendo na época do
"boom alternativo"). Tomara que sim, porque a poesia propicia uma melhoria na percepção e na sensibilidade das pessoas, e as aproxima (pelo menos teoricamente); mas não tenho dados concretos que me afiancem esta hipótese.

Você acha que hoje esta mais fácil para um poeta publicar seu livro?
A saída para os poetas hoje é auto-publicação. Sempre recebemos e-mails perguntando como fazê-lo e os custos disto. Qual o custo médio de publicação de um livro simples de poesia, nos preços do mercado ?

Publicar nunca foi muito fácil, verdade se diga. Eu tenho uma editora, junto com Urhacy Faustino; a princípio, comecei a editar porque cansei de ter meus livros publicados de qualquer maneira por outras editoras, sem cuidado, sem carinho, sem ser consultada a respeito de nada e frustrada com o produto final. Com o correr dos anos, descobri que a editoração é uma  arte tão difícil e prazeirosa quanto a literatura. Eu, pessoalmente, não saberia viver sem o livro. E acho que ele é mais importante na vida de
alguém do que possa a nossa vã filosofia imaginar. Há ano e meio, fui  contratada pela TV Manchete para escrever a novela "Mandacaru", por  causa de meu livro de poesia: "Sangue Cenográfico".  A diretora da emissora leu, gostou e mandou me chamar. Então, eu acho que o livro
pode abrir portas sim; ele não seria a saída, mas a entrada para alargar  horizontes. (risos) Assim como a Internet também pode dar esta chance.
Só que o livro "parece" ser mais caro do que o ciberespaco, a primeira  vista. De fato, nao é: você paga provedor, luz, e, principalmente  conta de telefone, sem falar do teu trabalho pessoal e dos desgastes do
micro. Mas estes gastos ficam meio diluídos e você não sente, porque paga aos poucos, mês a mês, sempre. Já um livro, não. Voce desembolsa duas ou
três parcelas de um valor que você considera alto e se assusta; acha  caro, apenas porque o gasto é mais visível e imediato; mas se você  computar o quanto você gasta no seu site, ou no nosso, gastamos durante
o tempo todo em que estamos na rede, provavelmente pararíamos de  colocá-los on line (isto só em teoria, lógico, pois um grande prazer  não se abre mão, mesmo sendo caro, já que ele nos gratifica de outra  maneira, afetivamente). Então, acho uma das soluções para o poeta o
auto-investimento, inclusive pratico-o, como aliás, os grandes nomes  tambem praticavam na época deles também (Manoel Bandeira, por exemplo).
Ninguém aparece sem publicidade: ator, comerciante, artista plástico,  músico, dançarino, político, todo mundo investe em si,prioritariamente.
Menos poeta, que acha que as oportunidades devem cair do céu e que  investir nele próprio é jogar dinheiro fora.

Quanto aos custos da produção gráfica, variam muito conforme o número  de páginas do livro, a tiragem, o numero de cores da capa, etc. A não ser  as antologias que variam de R$ 50 a R$ 140, por página, nenhum livro  individual — a não ser muito pequeno e fino — fica em menos de R$
2.000,00. De repente, até se encontra editora que faz por um pouco  menos, mas com qualidade gráfica péssima, que inclusive compromete o  conteúdo do livro; aliás, atualmente, todo mundo acha-se "editor", sem
entender nada de gramatura de papel, diagramação, computação gráfica,  acabamento, cortes, efeitos especiais, tipos de para capas, manchas,  fichas catalográficas, etc. Acha que é só mandar fazer o livro e  pronto. Não há revisão, assistência técnica aos escritores, sugestões,
ajuda na divulgação ou no lançamento... não há experiência. Nós  adoramos escrever e editar; só com a Blocos (antes de Urhacy eu tinha outra editora) já temos quase 10 anos e 100 livros. Investimos algum percentual em cada livro que gostamos, o que já reduz um pouco o gasto
do autor; mas não desvalorizamos nem o nosso trabalho nem o dos autores  que editam conosco. Nossa meta nao é, como em geral vemos, fazer um  livro por dia; queremos é fazer um livro que dê satisfação a ambas as partes, não importando se for um único por ano.

Pediria encarecidamente alguns valores. As editoras detestam dar  valores, mas o mercado esta ávido para saber quanto necessita para  tal.

Valores são muito relativos, como eu te disse, porque dependem de "n"  fatores; mas os orçamentos para livros sólos variam mais ou menos de R$  2.000,00 a R$ 10.000,00 — ou até mais —  se for feito em papel  couché, por exemplo, com uma tiragem maior, capa policrômica e várias
ilustrações por dentro; mas a Blocos não faz apenas um tipo de livro;  somos criativos... Temos idéias editoriais interessantes, como a que  estamos lançando atualmente: livrinhos com 8 a 16  páginas, em que o
autor encomenda o número de exemplares que quer, de 10 em diante...  Mais barato e fácil, impossível. Esta é a nossa "Coleção Made in Casa" feita para tiragens pequenas (agora, mínimas) e para propostas mais  flexíveis. Enfim, tudo é possível quando se gosta do texto e quando se sente que o autor também reconhece o carinho especial que temos com cada livro em particular.

Você acha que os poetas no Brasil estão mal organizados?

Não temos o mínimo de organização. A "classe" é totalmente desunida, por isto, escritor no Brasil não tem nem profissão regulamentada. Daí as infinitas arbitrariedades que se comete contra ele e que ficam
impunes. Escritor e teatrólogo nao podem nem ser contratados como tais  por nenhuma Secretaria de Cultura, por exemplo, porque eles nao constam na Lei 6.533 de 24.05.78, regulamentada pelo Decreto 82.385, de  05.10.78 que dispõe sobre as profissões de Artista e de Técnico em Espetáculo de Diversões. No meu site eu coloco todas as categorias listadas por esta lei e ao final, pergunto: escritor é o quê ?...

A minha impressão é que os poetas esperam prêmios e concursos governamentais para participarem e a grande maioria dos poetas ainda  trabalha isoladamente.

Certíssimo. Embora eu escreva para cinema, teatro, tv, a literatura impressa, principalmente a poesia, é minha menina dos olhos. Mas eu  acho os poetas muito acomodados, mais do que os escritores de qualquer  outro gênero literário. E é por isso, também, que eles são os mais desconsiderados, pois se autosubestimam e não lutam pelos seus ideais.
Eles próprios se desacreditam, se menosprezam e se sentem derrotados  por slogans pré-fabricados do tipo "poesia não vende" antes mesmo de  tentarem. É muita ilusão os poetas quererem começar "de cima",  ganhando uma "Bienal Nestlé" ou um "Casa de Las Americas"...
 

Todos querem publicar embora nem saibam se seus trabalhos estão prontos para tal. É como se publicar fosse o objetivo último da obra poética; como se a poesia não tivesse nenhum valor em si, se não publicada.

Fabiano, eu não creio que nenhum trabalho esteja "pronto para ser publicado". Meu primeiro livro não podia ser pior; mas, se eu ficasse com medo e não o lançasse, jamais teria um ponto de partida, nao teria a base para evoluir. Então, repito, acho a divulgação importante(publicação on line ou impressa). É preciso ousar mostrar os trabalhos
para ouvir opiniões, saber separar as críticas construtivas das destrutivas para crescer. O livro torna-se um registro importante até da receptividade do público. Agora, concordo que este afã de editar por editar, é tão ruim quanto escrever por escrever, viver por viver.
Literatura, é uma grande aventura neste país de terceiro mundo, cheia de perigos e percalços. E é preciso gostar muito dela para seguir em frente, para não se parar no meio do caminho, e voltar para a segurança de um emprego estável.

Quando me refiro a vontade de publicar penso no cenário em que vivemos. Um oceano repleto de poetas ansiosos.
 

Exatamente, usamos a mesma palavra... Esta ansiedade, embora um tanto natural, pode ser bem auto-destrutiva.

Esta ansiedade, na minha opinião, vem justamente da falta de organização entre os próprios poetas e da total ausência de canais adequados para a divulgação das poesias que não seja a publicação de um livro.

A publicação de um livro é o canal mais oficial de todos. Mas existem programas de rádio que divulgam poesia, a própria Internet, que está repleta de sites poéticos, etc. e tal. Em Blocos, listamos mostras nacionais e internacionais. Só que, todos estes, são registros voláteis, transitórios. O livro é mais duradouro. Na minha opinião,
porém, creio que a ansiedade dos poetas em publicar seus livros vem da falta de informação sobre a sua própria poesia. Em geral, poeta não lê outro poeta; eles próprios não têm hábito de ler poesia...  Então, eles
ficam inseguros, sem referencial. É preciso mudar a mentalidade do próprio poeta. Se ele começar a ler seus colegas, poderá se situar melhor no contexto e, ele próprio, julgar se deve ou não publicar seus trabalhos,naquele momento.
 

O que você pensa sobre a poesia na Internet ? Geralmente sou desconfiado em dizer que a Internet é revolucionária, mas no que se refere a poesia, parece estar trazendo grandes mudanças.

Embore eu adore a Internet, não vejo grandes mudanças neste sentido. Vejo-a como mais um "local público" para veicularmos nossas poesias, nada mais, nada menos.
 

As pessoas não estão prontas para lerem contos, romances ou até mesmo artigos pela Internet, mas lêem poesias. Acho que a Internet pode ser revolucionária para a divulgação da poesia.
 

Não sei... A tela me cansa muito quando preciso ler artigos longos; mas, acho que isto é um "problema" pessoal. Em Blocos, por exemplo, quase que fui "obrigada" a abrir a parte de prosa, de tanto contista excelente que nos escrevia. Agora, além de contos temos: crônicas, depoimentos, artigos, prosa poética e colaborações chovem, opiniões também. Creio que a literatura, como um todo — não especificamente a poesia — está sendo bastante beneficiada através deste "novo" canal.
 

Como tem sido a experiência do site da Blocos ? Vocês estão satisfeitos com a participação das pessoas ?

Ganhamos muito com a parceria do zaz, pudemos ampliar todas as partes, e ainda colocarmos em nosso site um chat e um forum (aliás a pergunta do forum é justamente esta: por que escrevemos muito e publicamos pouco?).
Estamos com quase 60 prêmios (a maioria internacionais, um belo reconhecimento público), e quase 50 mil acessos (na verdade já temos muito mais, mas não tínhamos contador no começo e, também, no primeiro semestre do ano passado ficamos com ele quebrado por muito tempo). Achamos um número significativo para um site cultural que privilegia a literatura emergente, independente, alternativa. É sinal de que dá certo e que o interesse literário é muito grande.
 
 
 

 

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"O músico tem de ser mais poeta e o poeta mais músico" , P.Ravaglio
"Eu boto fé que uma hora ou outra surja uma geração que comece a produzir coisas boas.", P.Ravaglio
"(...) deveriam ser forçados (repito, forçados, como em "Laranja Mecânica") a ler todo tipo de literatura, do mundo todo (...) A gente iria notar coisas do tipo "esse cara realmente foi sobrecarregado de Machado de Assis!" - e não de mídia, de novela, e de comercial de TV, que é a única referência real que eles têm.", Gilmar Fonseca
 
 
 
 

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