SOU O QUE POSSO SER
HUMANO GELADO
FRACO DE PULSAÇÃO
HUMILDE MELHORADO
POBRE DE CORAÇÃO
SOU O QUE ME DEIXAM
E QUANDO DEIXAM
SOU E NÃO PASSO
NÃO APERTO O PASSO
NÃO FUJO DA BRIGA
SOU O QUE ME CONVIER
ONDE VOCE ESTIVER
JÁ NEM SOU EU AGORA
NESSA TERRINHA TROPICAL
PARAÍSO MUITO EMBORA,
SÓ DE MULTINACIONAL
SOU QUEM SE CALA CONSCIENTE
NESSA TERRA QUE...
UM DIA VAI PRA FRENTE!!
SAUDADE
VEM E SE ESCONDE
NÃO ESCOLHE IDADE
NÃO ESCOLHE ONDE
SAUDADE FICA NA MENTE
E PIOR QUE TODA A SAUDADE
É A SAUDADE QUE SE SENTE
SAUDADE ATRAI O CHORO
FICA SEM CONSOLO
TORNA-SE CRIANÇA
SE PERDE A ESPERANÇA
PROCURA NO VAZIO
VONTADE DE VIVER
SE APEGA POR UM FIO
VOLTA-SE A SOFRER.
ÉS SAUDADE DA TERRA DISTANTE
POR ONDE DEIXEI MINHA AMANTE
SUANDO NUMA LONGA MADRUGADA
TERRA ONDE ESCREVI UM BOM TRECHO
DESSA MINHA VIDA AO DESLEIXO
DUMA EXISTÊNCIA APAIXONADA
ÉS PARTE DE MIM QUE FICOU NUMA
ESTEIRA
AO RELENTO DE UM DIA QUALQUER
ÉS MINHA PARTE AVENTUREIRA
POR ONDE DEIXEI MINHA MULHER
TAMBÉM ÉS SOLIDÃO
FATIGANTE
ESPERANÇA QUE ME FAZ UM GIGANTE
MAS SE TUDO ISSO FOR EM VÃO
ROGO AO PAI QUE ME POUPE ESSE CHÃO
POR AMAR ME EXPUS À DISTÂNCIA
POR AMOR RESPIREI PERSEVERANÇA
PELO MENOS MEREÇO PERDÃO
O MENINO NASCEU
ESCOLHEU JERUSALÉM
VEIO DO CÉU
VEIO SEM LÉU
VEIO DO ALÉM
O MENINO CRESCEU
ORGULHOU SEU PAI
PLANTOU ESPERANÇA
ENTREGOU-SE NA ANDANÇA
PERTO DO SINAI
O MENINO AMOU
MOSTROU QUE SÓ O BEM CONDUZ
O POVO RETRUCOU
LHE DEU UM BEIJO E UMA CRUZ
VIVO NA TERRA DO PECADO
MORO NA CASA DA FOME
GRITO AS MALDADES DA VIDA
QUE A CADA DIA A FUMAÇA CONSOME
NÃO SEI QUAL O MEIO
NEM IMAGINO O INSTRUMENTO
FAÇO DA FADIGA MEU SEIO
DA VONTADE MEU SOFRIMENTO
COSPE FOGO O SERTÃO INGRATO
EM NOITES POR DEMAIS COMPRIDAS
FOGE QUEM AINDA TEM PERNAS
NUM CAMINHAR SÓ DE IDA
O VENTO DESPE A MUSA
QUE OUTRORA SERIA IRACEMA
HOJE NEM A MATA É VIRGEM
AS MENINAS NÃO FAZEM CENA
O DIA VEM E CARREGA
QUEM POR DESCUIDO FICOU
NAS RODOVIAS DA VIDA
NOS BURACOS DO METRÔ
CANTA O POETA INSANO
SÓ ELE SE ALEGRA EM CANTAR
ENQUANTO HOUVER SERENATA
EM NOITES QUE NÃO TROVEJAR
NA JANELA NÃO ESTARÁ SUA
AMADA
E SIM A CONTA DO ARMAZÉM
A LHE COBRAR SUA VIOLA
POR UNS POUCOS DE VINTÉM
AÍ GRITASTE BEM ALTO
SOFRESTE NA CALADA DA NOITE
DESCOBRES QUEM ESTÁ NO ASSALTO
A LHE ENCHER DE AÇOITE
VOCE DESCOBRE E NÃO DIZ
O NOME DO SEU CAÇADOR
POR QUE QUERES SER FELIZ
ATÉ QUE MORRAS DE DOR.
SERENO CALMO
EM NOITE FRIA ADORMECER
ILUCIDEZ ENQUANTO GEMIA EU E VOCE
INSINUANDO MALÍCIAS
SE PROJETANDO NA CARNE
REVELANDO NA ALMA SUADA
O GOSTO DA ALMA ENCARNADA
LUXÚRIA INCONTIDA
POR ENTRE AS CHAGAS DESSA VIDA
ENQUANTO HAVIA SANGUE
HAVIA SEDE, AMOR HAVIA
INCAPAZ DE SEGUIR NO TEMPO
NOSSAS VIDAS PERMANECIAM
NUM BEIJO ARDENTE
TÃO LONGO QUANTO O PRÓXIMO
BEIJO DEIXAVA
QUERIA TUDO E TUDO FAZIA
E QUANDO FAZIA CONTINUAVA
UMA FUSÃO DISCRETA
ENTRE NÓS DOIS OCORRIA
ERA UM CORPO EM DOIS CORPOS
UMA DELICIOSA ANOMALIA
REVIVENDO AS GRANDES CENAS
COMEÇANDO UM GRANDE AMOR
TUDO QUE ENTRE OS OUTROS PASSA
ENTRE NÓS DOIS FICOU
VOCE DIANTE DE MIM SEM NADA ESCONDER POR
SER IMPOSSÍVEL
COMO PODE UM CORPO AO SEU CORPO SER INVISÍVEL?
COM TODA A PERFEIÇÃO DE GESTOS
TAL QUAL A NATUREZA PLANEJOU
ERA A NOSSA HARMONIA DE ABRAÇOS
ERA A NOSSA AGONIA DE AMOR.
SOU ESCRAVO DA HORA
SOU EXPLORADO PELA MINHA CONDIÇÃO
QUERO MINHA ALFORRIA SEM DEMORA
PRA SER ESCRAVO SÓ DO SEU CORAÇÃO
SOU VASSALO DO MEU SALÁRIO
SOU ESMAGADO SEM COMPREENDER
QUERO ME POSTAR DIANTE AO VIGÁRIO
E SER CONDENADO A TER VOCE
SOU DO CAMPESINATO FAMINTO
SOU DO MAIS BAIXO ESCALÃO SOCIAL
QUERO TE ESQUECER PORQUE MINTO
E MENTIRA DE AMOR NÃO FAZ MAL
SOU ASSALARIADO DE NOSSOS DIAS
SOU UM POBRE CONSUMIDOR
QUERO INGRESSAR NA ACADEMIA
PRA SÓ ESCREVER O NOSSO AMOR.
ACUDA UM POBRE ESTUDANTE
QUE JÁ TEM MULHER
QUE NÃO TEM AMANTE
AJUDEM PELO AMOR DE DEUS
QUE JÁ NÃO TEM FÉ
QUE JÁ ESTÁ ATEU
ACUDAM UM DESESPERADO
UM DESNATURADO ECONOMISTA
UM DESEMPREGADO MARXISTA
ACUDAM ENQUANTO HÁ TEMPO PARA TAL
QUE JÁ NEM TERÁ MENÚ
QUE JÁ CONGELOU O PERÚ
QUE JÁ NEM TERÁ NATAL
ACUDAM A ELE E A TODOS
QUE SE CHAMAM JOSÉ
QUE AINDA TEM FÉ
QUE NÃO TEM AMANTE
NESSE MUNDO ERRANTE
QUASE NÃO PECOU
E SE NÃO PECOU
FOI POR NÃO DEIXAREM
DEIXEM QUE ELE VIVA
QUE ELE SE EMBREAGUE
DE SONHOS, DE AVENTURAS
DE SINUCA, DE BARALHO
ACUDAM A MIM QUE TANTO PEÇO
QUE JÁ NÃO ME RECONHEÇO
QUE JÁ NÃO FAÇO VERSO
QUE JÁ NÃO MEREÇO.
MUNDO IMUNDO (Durante Governo Figueiredo)
O QUE SERIA DO MUNDO
SE ME CHAMASSE RAIMUNDO
SE O TEU SORRISO FALTASSE
SE O PETRÓLEO VOLTASSE
A TER SONO PROFUNDO
O QUE SERIA MULHER
SE POR UM ACASO QUALQUER
EU ME ESBARRACE COM O "JOÃO"
E CAVALGASSE SOLENE
SOB OS OLHOS DA NAÇÃO
O QUE SERIA DA INFLAÇÃO
UM DIA CHEGA SEU FIM
OU MESMO O DO "DELFIM"
QUEM SABE FICAMOS SEM OS DOIS?
O RESTO FICASSE PARA DEPOIS
O QUE SERIA MARIA
DE NOSSA MATA FLORESCENTE
UM DIA SOBREVIVERIA
PRA DERRAMAR A SEMENTE
A COMIDA NA MORADIA
DESSA MULTIDÃO CARENTE
O QUE SERIA DO PIVETE
SE O TREM OU O MORRO ACABASSE
E O CANIVETE ENTERRASSE
ESSA FOME DE CONFETES
O QUE SERIA VERDE E AMARELO
ONDE VIVE UM POVO SINGELO
SOFRIDO, TRABALHADOR E MALANDRO
QUE NOS DOMINGOS ENCONTRA SEU JEITO
PRA SE ESCONDER SOB O PANO
COMO OS NOSSOS "HOMENS DE TERNO".
QUE ANIMAL COMPLICADO É O HOMEM
QUE VAI A LUA E NÃO MATA SUA FOME
QUE ERGUE MONUMENTOS POMPOSOS
QUE ORGULHOSOS PROCLAMAM GUERRAS
QUE A CADA DIA CONDENAM SUA TERRA
QUE DOMINAM A CIÊNCIA
QUE ABOMINAM O PRINCIPAL
QUE SE LEMBRA DO CRIADOR APENAS NO NATAL
QUE MATA MIL ÁRVORES POR UM EDIFÍCIO
QUE POLUI O AR DE SUAS NARINAS
QUE NÃO PRESERVAM O CHÃO
DE SUAS MENINAS
QUE ANIMAL COMPLICADO E NÚ DE SABEDORIA
QUE SE "ARMA" COM UM TERNO
QUE ESTUDA ECONOMIA
QUE SE SENTE TERNO E PROFUNDO
QUANDO SE VÊ ESCREVENDO SOBRE O
MUNDO
PENSANDO FAZER POESIA.
Pequena biografia
José de
Andrade Benício
Nasceu em Volta
Redonda - RJ
aos 27 de março
de 1960
Casado, pai de
duas filhas
Se formou em
Ciências Econômicas
pela Universidade
Federal Fluminense
em 1985.
Desde os treze
anos começou a escrever
poesias e pensamentos.
Teve seu período
mais fértil em termos
literários
entre 1977 a 1984.
É informático
há onze anos, trabalha e
reside atualmente
em Portugal.
José Benício © 1998.