DELÍRIOS DO TEMPO
Lábios encantados
marcaram a retina,
com gosto de mulher
que fere o olfato com olhar felino.
Qual música ele cantou
e me deixou tão triste?
De que cor eram as pétalas
da rosa vermelha que ele desfolhou?
Íris que atravessa mares,
delírios de raios solares,
vertigens de paisagens
esquecidas na memória.
Tempo, os contratempos,
Levam a vida com o vento.
Tempo, os sentimentos,
Provocam tempestades de pensamentos.
OSSOS DA CIDADE MORTA
Numa noite sem clavícula,
a cidade sem mandíbula
equilibra-se nas vértebras
como se fosse a capital.
Central da fome, da miséria,
das costelas à mostra
maxilares famintos de artérias
sedentos de sangue Aorta.
Nas calçadas, praças e sarjetas,
debaixo de enormes viadutos
iluminados por letras em néon
que maquiam o caos absoluto.
Fêmur, tíbia, Fíbula, Úmero,
embrulhados em papéis do lixo.
São tristes os ossos sem ofício
dos mendigos da cidade morta.
ÁGUAS MARINHAS
Que é feito da garota de vestido azul safira,
que desfilava pelas praias sua pose feminina.
Encantava quem passava e quem mais ela queria,
com seu corpo de mulher e seu jeito de menina.
Ela se foi um dia, com as pupilas brilhantes;
na cabeça de cinderela, os sonhos de amante.
Como duas esmeraldas seus olhos só queriam,
brilhar para a glória e para os homens de Sevilha.
As Águas Marinhas estão saindo do Brasil,
e o céu de lá, certo que não é azul turqueza
e o
topázio é falso, como as promessas de riqueza.
Pedras preciosas, rubis e diamantes são eternos,
brilham tanto no verão, quanto no inverno e
não choram as lágrimas das Águas Marinhas.
PEDRAS
Gente não nasce pra viver como párias!
Na contramão da história e sem memória,
trancados entre quatro paredes ou
agonizando como peixes na rede.
Soldados desarmados e sem guerra
morrendo nas frentes sem batalha,
inúteis penetras a viver na terra e que
não devem nunca destruir muralhas.
Não nascemos pra viver como pedras.
Pedras, pedras, simplesmente pedras
quebradas, caladas e cumprindo regras,
mas, nascemos pra brilhar como pedras,
Diamantes, Diamantes, Diamantes
indomáveis, fortes e mais: Pensantes!
GOSTO DE SAL
Quando me encontro no quarto sozinho,
Parto pra longe, alterando o caminho
Que há muito trilho, cansado, faminto,
Opaco e sem o brilho dos poemas que pinto.
Quando volto à realidade, a luz me comove,
Chove lá fora, mas nenhuma folha se move
E a gente pensa que a vida assim, não pode;
E que nesta Terra, um dia, a canção explode!
Uma lágrima rola fria no rosto e
Uma lágrima, não vale o gosto do sal;
Posto que uma lágrima, é só uma lágrima
E precisamos urgentemente inundar todo o sol.
Precisamos inundar os mares da Terra;
Os rios, lagoas, montanhas, crateras;
De esperança na vida, de fé e felicidade,
De amor, de paixão e de muita vontade!
MIGALHAS
Se os dias fossem sempre nublados,
o mar não imitaria a cor azul do céu,
e à noite, as estrelas brilhantes no espaço,
não penetrariam a luz nos telhados quebrados.
Vagariam perdidas ao léu.
Seriam canções sem estrelas,
poemas sem luz do luar,
seriam paixões sem centelhas. . .
Migalhas de amor pra sonhar.
Seriam amores perfeitos,
eterna primavera no ar,
seriam rosas sem espinhos . . .
Migalhas de paixão pra chorar.
Migalhas,
somente migalhas de canções pra cantar.
Migalhas,
somente migalhas de vida pra morte levar.
Nathan de Castro F. Junior © 2000
Nascido em Olhos d'Agua-MG- residindo atualmente em Divinópolis-MG-
46 anos, bancário, há 24 e poeta dos fins de semana.
Endereço: Rua João Lara, 219 - Planalto - Divinópolis-MG-
e-mail - nathanjr@xnext.com.br