Ainda não havia nascido
Quando os espadachins,
Ao som dos clarins,
Os cobriam, ao passar.
Eu vi seus olhares,
Discretos, cúmplices,
Trançando cálices,
Selando a união
Que juravam honrar.
Sentia-me em colo seguro,
Amoroso, sagrado,
Mostrando-me, quadro a quadro,
O preparo de meu habitat.
Ouvi a voz santa que dizia
"Tu serás agraciado
Com todo o legado
Que se poderia unir
Pra te ajudar".
Despertei naqueles braços
Ternos, envolventes,
A me embalarem em peito quente,
De batida forte, compassada,
De minha mãe.
Alegria e coragem
Seria sua marca e mensagem
A nós, soldados, tenentes
Ou já capitães.
Descobriria que o jovem senhor,
Altivo, sóbrio, sereno,
Grande, se fez pequeno,
Pai, se fez amigo,
Amigo, se fez guia.
O ex-menino caboclo
Demonstra, pouco a pouco,
Em sua nobre conduta,
Toda sua sabedoria.
Os sorrisos testemunham,
Nas fotos, desde petiz,
Que feliz eu fui e felizes eu fiz,
Àquêles, com quem convivi.
Eram tempos em que havia tempo
Para se ouvir o coração.
Bons tempos de então!
Guardados na lembrança
Dos meus sentimentos.
Até que um dia o destino
Nos descobre e cobra a conta,
A cada um a sua monta.
Sou eu, então, o ex-menino,
Que, com a mulher tão sonhada,
Às vêzes se amedronta
Quando a vida nos afronta
De forma tão dura
E determinada.
Aí, descubro aqui dentro,
Que nesta hora,
Em que adulto também chora,
O caminho tão procurado
Aparece, quando não mais se crê.
Vejo-o nas pegadas de seus passos
Que, às vêzes em descompassos,
Exigidos, obstinados,
Não se deixam abater.
Eu os vejo, eu os ouço...
"Ignores o mau exemplo
Pois não é este o templo
De tua evolução.
Não cedas à fraqueza
Das forças que tens de sobra
Pois esta não é a obra
Que te dará créditos
Nem grandeza".
Ainda assim me inquieto,
Que dimensão terão vocês,
Como manter a altivez,
Serenidade e até alegria,
Em todos os momentos?
Na verdade, saber eu sei.
Até praticar já tentei.
Mas uma só vida não me basta
Para tanto ensinamento.
Neste dia, que lhes pertence,
Meus joelhos, que ensinastes
"Só pelo bem os desgastes
Sem nunca curvá-los
À desonra ou insensatez"
Se dobram à sua frente,
Humildes, reverentes,
Num preito de gratidão e amor
Por vocês.
O cabelo em desalinho,
Pescoço agradecendo
A gravata desatada...
Mais um gole, outra garrafa...
Tantas, como os cigarros
Queimados, junto ao chão.
A razão, já conturbada,
Distraída, esquecida,
Deslocada...,
Pelo vazio da solidão.
As notas do piano
Se esvaem e se confudem
Com lembranças trôpegas
Pra que mais perturbem
O meu interior.
Filosofo pra mim mesmo
Por que o próximo copo,
Já insoso..., teimoso...,
nunca é tão gostoso,
Quanto o primeiro,Como o amor.
Ao final do blues,
Meus olhos mareados,
Marejados...,
Lentos..., distantes...
Parados...
Procuram
Na cortina de fumaça.
Apenas saber
Onde... e como...
Está você.
Quando vejo teu sono
De mulher menina
Que o quarto ilumina
Com um sorriso discreto
De quem se encontra
Em outras paragens,
Feliz, sem bagagens
Deste mundo concreto...
Quando vejo teu sono
Me sinto tomado,
De amor assaltado,
Teu espírito de luz,
Se chega e me invade,
Me envolve, me afaga,
Me inebriaga,
E também me seduz...
Quando vejo teu sono
Me assaltam as lembranças
De jovens, crianças,
Na vida a sorrir.
Desperta o amor.
Se descobrem entre tantos,
Com fé nos encantos
Do alegre porvir...
Quando vejo teu sono
Da mulher companheira,
Da mãe verdadeira,
Que sua vida oferece
Em combate sem trégua
Às adversidades.
À dura realidade,
Que o pesadelo conhece...
Quando vejo teu sono
E percebo a guerreira,
Aguerrida e prisioneira
De temores e incertezas,
Socorrida e socorrendo,
Armada e sem direção.
Procurando solução,
E vencendo fraquezas...
Quando vejo teu sono,
De mulher e amante,
Terna e constante,
Sinto Deus em assédio,
Em serena paz e amor.
Sei que está comigo,
E que fala comigo,
Por teu intermédio!
A mãe que me quis,
Concebeu e hospedou,
Ao chamar-me Luiz
Me fez em homenagem
E me homenageou.
Em sua bagagem,
De vida intensa,
Me ciceroneou.
Se manteve a meu lado
Em meus anos bisonhos,
Tão quanto risonhos,
Me fez tão feliz!
A mãe que Deus quis,
Com que me presenteou,
Chamou-a em missão
E, de coração,
Se apresentou.
Acolheu tanta gente
Que em filhos tornou.
Com tanta grandeza
Sua missão superou.
Thereza, Thereza,
A tua existência
Me faz tão feliz!
E chegou novamente o Natal,
Que sentimentos e reações
diferentes sugere a tantos.
Para mim, um momento mágico.
De verdade.
Semeado desde não sei quando.
Descobri-me e cresci fascinado por
ele.
Sinto-me criança.
Sentir-me criança, faz-me descansar
o espírito.
Livre para afogar-se em sentimentos que
o dia a dia ironiza.
Aberto para perceber o que meus
olhos nem sempre vêem.
Neste ambiente de magia
Percebo uma árvore,
Que brota do chão,
Que cresce, floresce e resplandece
Soberba, em sua simplicidade,
Silenciosa, despretensiosa.
Bondosa.
Proteção segura do calor
escaldante
Ou da insana tempestade.
Alimenta também.
Acolhe ninhos, embala crianças.
Sem cobranças.
Vejo também um guerreiro
De uniforme branco, sem a
De uniforme branco, sem armas ou
armaduras.
Sem fronteiras, sem bravuras.
Apenas sereno e atento.
Sua guerra é o arrebatamento
Do amor e da paz.
Gabriel, seu comandante, por decisão
superior,
Nos brinda com um representante
Permanente.
Camuflado, feito gente
Que, como a tal árvore, somente
Veio para servir.
Que ventura tê-lo como amigo.
Oculto, apenas em sua verdadeira
natureza.
O meu amigo oculto
É o meu PAI.
Nascido em 16.05.1951, em Curitiba/PR.
E-Mail lugorocha@uol.com.br
Administrador de empresas, consultor e
pequeno empresário.