Assim como o dia vem, se vai,
e a noite cai impiedosa.
Enquanto há luz posso ver o que
sou,
na escuridão, melodia tortuosa.
Espero da verdade não as rosas,
mas seus grandes espinhos,
que me traga a esta realidade,
e esvazie meus sonhos mesquinhos.
Não sei como escapar da noite,
olhos abertos nesta imensidão,
inútil é fugir sem rumo,
e tentar não ver a escuridão.
O ladrão a tem como álibi,
e terá a paz que o dia lhe roubou,
como gatos vadios em muros,
a vida mostra o que o destino lhes guardou.
Escuridão que me ofusca os olhos,
não poupastes nem mesmo meus sonhos,
as trevas insistem em torna-los tristes,
cruéis
e enfadonhos.
Meus olhos enxergaram o nada.
Mas o nada era vasto, tanto, que
nem pude notar que enchergava.
O velho cego, privilegiado por
guiar-se na escuridão, sobrevive
Ai de mim, tornei-me cego a poucos instantes.
Desejei ser míope para que mais
pudesse ver,
ver vultos, não seus rostos,
mas sua luz,
e o que vi foram sombras, de uma cruz.
Confinado em mim, padeço.
Paredes de carne, grades de ossos.
A voz não saiu, o sonho sucumbiu.
Minhas pernas quebradas já não
doem.
Ao arrastar-me perdi os braços,
ao deitar-me, a consciência
O dia tarda a passar, e a noite esperada,
deseja o dia.
Sobrou-me a dor abrúpta, austera.
A náusea companheira tentou expeli-la,
mas frustrou-se ao ver sua grandeza,
truculenta enfim, doi dentro de mim.
O que esperar do agora, se este não
se
difere do antes, levantar-me?
Talvez seja o momento, mas nem tento,
a cruenta dor há de guiar-me.
Doce criança, te invejo,
não porque sou velho,
ainda posso andar,
o que me perturba é não
mais
poder sonhar.
A inocência traiu-me,
e a indecência trouxe-me.
Não aprendi a tanto sorrir na infância
quanto tu doce criança.
Cresceu o meu desejo,
mas não tenho ensejo,
queria nascer novamente
para saber o que a criança sente.
De tanto que sofri, esqueci...
A inocência que habita em ti me assusta.
Caminhos se cruzam, e minha voz adverte:
Tua doce presença não se
faz justa,
e sentimento algum me converte.
Queria tanto ver teu suave rosto,
sentir o teu corpo e seus odores,
e ao fim do prazeroso gozo,
não me sentir como o espinho das
flores.
Mulher, não demores em partir,
não se atraque a meus pés,
minha inútil presença não
a fará sorrir,
suas lágrimas não trarão
uma atitude revés
Lembra-te de mim com desgosto,
e posto que tu cruelmente padeças,
levanta-te e sigas rumo oposto,
para que definitivamente me esqueças.
Observo os pingos da chuva,
como se escorressem pelo meu rosto
em forma de lágrimas.
Chuva intensa, o barulho que faz enche
meus ouvidos surdos.
Não me atrevo a gritar.
Choro só, e a chuva representa lágrimas.
Contido, peno indefeso,
o sol simplesmente recusa-se em nascer.
E o sol seria sorrir,
mas sorrir na chuva ?
Paradoxo.
O insano sorri ao leu,
mas sou lúcido, demais.
Choro tanto que a chuva não é
capaz...
... de ser chuva.
Disse doces palavras nos teus ouvidos,
não ouvistes.
Beijei teus lábios,
bocejastes.
Toquei teu seio
disfarçastes.
Afaguei-te,
se afastastes,
Te joguei no leito,
refletistes tua imagem no teto.
Rasguei-lhe as roupas,
se assustastes.
Penetrei em ti,
Chorastes.
E finalmente verteu o esperma.
Lava-te meretriz, e se vá.
Vozes na segunda-feira fria, chovia.
Desejei que o sono durasse, mas amanheceu
o dia,
despertei noutra vida, pois meu corpo
fedia.
Seria simples não olhar as feridas
e os vermes festejando,
mas os olhos se compadeceram chorando,
e foi o fim do sono brando.
Curei as chagas com náusea e desgosto,
sentia que ainda pior seria olhar meu
rosto,
e ao ver-me , meus lábios sorriram
no espelho... o oposto.
O que toda mulher tem,
na verdade ninguém imagina,
não se sabe onde começa
ou termina,
e o que pensam todos, penso também.
O que procuramos em cada esquina,
não tem voz e não respira,
por misérias, esconde a ira,
e o coração que o peito
confina.
Quero saber o que toda mulher tem,
para que permita tanta indisciplina,
no fundo deve haver algum bem.
Cresce ainda o desejo que me desatina,
preciso encontrar alguém,
do que simplesmente uma vagina.
A equação desviou as retas.
Tínhamos seu vértice como
esperança,
e agora a distancia,
diversifica nossas metas.
O destino poderia vir como a tangente,
mesmo que não tivesse origem,
as tristezas que nos afligem,
desvaneceriam com o sentimento latente.
Aritmética, te imploro e prostro-me
a ti,
fazeis com que nova equação
elaborem,
para que possamos voltar a sorrir
Que o deleite e o fim do sofrimento não
demorem,
e o que se tornou sonho se faça
sentir,
que as retas paralelas enfim se deflorem.
As beldades transitam em sonhos e realidade.
Em verdade, o glamour se opõe à
vadiagem,
máscaras de baile inibem o desejo
de buscar-te.
Virtual é meu gozo, pois na realidade
tive o deleite,
e por mais que não aceite, insisto
em errar.
À usura entrego-me, mas só
até o baile acabar.
A busca incessante por mim mesmo me fez
procurar-te,
para que me mostrastes o que já
sentias mas não sabias,
que o vulgo desejo é que me traz
ao desastre.
Sílnei Lopes da Silva © 1999
silopes@uol.com.br