Considerando que a passagem evangélica de Lucas -"Levantou-se entre
eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Jesus disse-lhes:
...Que o maior entre vós seja como o menor e aquele que mandar como
aquele que serve.Pois qual é o maior? O que está sentado
à mesa ou o que serve? Não é o que está sentado
à mesa?"-(Lc.22, 24-27),consagra o princípio da participação
e democraticidade na Igreja, por parte de todos os seus membros;
Considerando
que a aceitação deste princípio implica a dependência
intrinseca dos que servem (a hierarquia) em relação
aos servidos (a comunidade cristã), seja no âmbito do
seu processo de escolha, seja no âmbito da avaliação
do serviço prestado, não fazendo sentido que os servidores
se perpetuem no poder autocraticamente, ignorando a vontade dos"senhores"
que servem e nos quais reside a verdadeira autoridade;
Considerando
que este princípio é reafirmado por Cristo, para responder
à angústia do poder já instalada nos Apóstolos,
seja no episódio dos filhos de Zebedeu ("aquele que quiser tornar-se
grande entre vós seja aquele que serve"- Mt. 20, 24-28 / Mc.10,
41-45), seja na discussão sobre qual deles seria o maior, apontando-lhes
o exemplo duma criança ("se alguém quer ser o primeiro seja
o último de todos e o servo de todos"- Mc.9, 33-37 / Lc.9, 46-48);
Considerando
que a aceitação deste princípio torna nulos e ilegítimos
todos os cargos hierárquicos da Igreja actual, designados de
forma não participativa...
Solicito
a aplicação imediata deste modelo participativo às
Comunidades cristãs e a todos os níveis hierárquicos
da Igreja;
Apresento
a candidatura (simbólica) de todos os cristãos aos vários
Serviços da Igreja com base no direito atribuido por Cristo
aos membros da sua Igreja.
J Lemos
Pinto . 13 de Maio de 1988
Participação
e Democracia na Igreja
Hoje, na Sociedade moderna, nenhuma organização consegue
atingir os Objectivos principais sem a participação e motivação
de todos os seus Membros. Este princípio, agora tão valorizado,
já está claramente consignado nos Evangelhos, quando Jesus
Cristo insiste várias vezes junto dos Apóstolos, preocupados
com a futura chefia do grupo, que o mais importante da sua Igreja não
eram eles próprios mas a própria Comunidade da qual eram
servidores. O episódio (parábola) da "refeição
à mesa", narrado pelo evangelista Lucas, é não só
a 1ª grande definição do Poder como Serviço
dos outros, mas também a consagração do princípio
da participação e democraticidade na Igreja: "Levantou-se
entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Jesus disse-lhes:...Que
o maior entre vós seja como o menor e aquele que mandar como aquele
que serve. Pois qual é o maior? O que está sentado à
mesa ou o que serve? Não é o que está sentado à
mesa? " (Lc. 22, 24-27).
Ora, se
os mais importantes são os que estão sentados à mesa
e não os que servem, isso implica a dependência intrinseca
dos que servem (a hierarquia) em relação aos servidos (a
comunidade cristã), seja no âmbito do seu processo de escolha
ou designação, seja no âmbito da prestação
de contas ou avaliação do serviço prestado! Não
faz sentido que os servidores se auto-escolham e perpetuem no poder autocraticamente,
ignorando por completo a vontade dos "senhores" que servem à mesa
e nos quais reside a verdadeira autoridade. A mensagem oculta desta
parábola já angustiava de tal modo os Apóstolos que
Cristo se viu obrigado a reafirmá-la por várias vezes, seja
no episódio dos filhos de Zebedeu ("aquele que quiser tornar-se
grande entre vós seja aquele que serve"- Mt. 20, 24-28 / Mc.10,
41-45), seja na discussão dos apóstolos sobre qual deles
seria o maior, apontando-lhes o exemplo duma criança colocada no
meio deles ("se alguém quer ser o primeiro seja o último
de todos e o servo de todos"- Mc.9, 33-37 / Lc.9, 46-48).
Este princípio
significa que, na Igreja todos os cristãos são Membros com
iguais
direitos e deveres, que o Espírito de Deus sopra onde quer e
como quer, que todos são chamados à mesma e única
Perfeição, enfim, que o governo da Igreja não pode
ser privilégio duma hierarquia autocrática pois ele pertence,
por imposição do seu Fundador e como é lógico,
aos que estão sentados à mesa, a Comunidade cristã.
Somos assim obrigados a concluir que o modelo hierárquico existente
na Igreja, aos vários níveis (Padres, Bispos, Papa),
é
ilegítimo e contrário às orientações
do seu Fundador, por ignorar o Princípio da Participação
inerente ao modelo do Serviço! Por isso, institucionalizar a participação
dos Cristãos na organização de que são membros,
é a grande revolução necessária na actual Igreja!
Nesse sentido...,
é urgente implementar modelos participativos
na escolha dos Chefes religiosos, com possibilidade de opções
diferenciadas, dinamizando a comunidade cristã e transformando-as
em modelo organizacional exemplar da sociedade; é urgente
desenvolver mecanismos e estruturas de base, responsáveis pelas
grandes decisões comunitárias, pela planificação
e avaliação das actividades;
é urgente reformular
a estrutura da Celebração Eucarística no sentido duma
participação mais activa de todos os presentes, introduzindo
a diversidade de testemunhos da Palavra, estimulando a presença
dos jovens (pela música mais ritmada, pela reforço da expressividade,
etc), vivificando a oração através de gestos comuns
(na saudação da Paz, no levantar dos braços durante
a oração do Pai Nosso, na participação da Consagração
do Pão, etc.); enfim, é urgente desenvolver estruturas
de voluntariado e testemunho, a nível de cada Comunidade e a nível
de toda a Humanidade, aproveitando as imensas energias humanas resultantes
do prolongamento e antecipação da idade de Reforma !..
Enquanto
isso não acontece, os que ocupam lugares hierárquicos (incluindo
o Papa), deviam ter a coragem de confirmar (publiscitar) o seu poder junto
dos "senhores que servem à mesa", isto é, junto das respectivas
Comunidades cristãs, onde a consciencialização da
participação é já um processo irreversível!
Sendo esta a maior revolução de todos os tempos na Igreja,
ela vai (à semelhança da revolução copernicano-galilaica),
subverter a lógica da pirâmide hierárquica, exigindo
um funcionamento diferente da Igreja...; ela vai implicar profundas alterações
no modelo vocacional da Igreja (sacerdócio e vida religiosa); ela
vai fazer perder privilégios adquiridos, destruir hábitos
e rotinas sem sentido; ela vai, enfim, exigir estratégias e metodologias
mais dinâmicas e menos burocratizadas, obrigando a descentralizar
a Igreja aos diversos contextos culturais...
Estas mudanças podem gerar na Igreja muita angústia e ansiedade...
Mas, só assim, vai ser possível testemunhar a mensagem
da Vida Eterna, numa sociedade cada vez mais exigente de verdade e autenticidade!
E
porque havemos de ter medo..., se o Autor da Mudança é Jesus
Cristo?
O prolongamento da média de vida humana, associado à frequente
antecipação da idade de Reforma, está gerando uma
larga faixa etária de Reformados cuja importância social tem
vindo a aumentar. A transformação das Sociedades industriais
em Sociedades de Serviços está gerando um movimento de Reformas
antecipadas, provocadas pela inadequação funcional às
novas situações. Verifica-se assim a existência de
um capital humano, valioso em maturidade de vida e disponível para
o serviço voluntário dos outros, que não está
a ser devidamente aproveitado na Igreja e em torno do qual se poderia desenvolver
um novo esquema vocacional radicalmente diferente do existente.
Nesse sentido, propomos que seja criado nas Dioceses, um Serviço
de Voluntariado, temporário e gratuito, destinado a casais ou
leigos, adultos e disponíveis, visando a orientação
de paróquias vagas de clero ou o apoio nos diversos Serviços
da Igreja.
Serviço
hierárquico e participação laical
Na Sociedade moderna nenhuma Organização consegue atingir
os seus Objectivos sem a participação e motivação
de todos os seus Membros. Este princípio, só agora valorizado
pelas Organizações humanas, está claramente consignado
nos Evangelhos. Com efeito, Jesus Cristo insistiu várias vezes junto
dos Apóstolos, preocupados com a chefia do grupo, que o mais
importante era a Comunidade da qual eram servidores, (Mt 20, 24-28
/ Mc 9, 33-37 / Mc 10, 41-45 / Lc 9, 46-48 / Lc 22, 24-27) e, convencido
de que esse ia ser o principal problema da sua Igreja como Organização,
voltou a insistir no momento crucial da Última Ceia, através
do gesto rebaixante do Lava-pés (Jo 13, 4 -16), que eles eram
designados exclusivamente para servir e que o maior dentre eles devia
ser o maior servidor, o menor de todos. Este princípio significa
que, na Igreja, todos os baptizados são Membros com iguais direitos
e deveres, que o Espírito de Deus sopra onde quer independentemente
da opção laical ou eclesiástica, que todos são
chamados à mesma Perfeição, enfim, que o Poder na
Igreja não pode ser um privilégio da Hierarquia "servidora"
pois ele pertence, por imposição do seu Fundador (e como
é lógico), aos que estão sentados à mesa (Lc
22, 24-27), e não aos que servem. Se os que estão sentados
à mesa (Comunidade cristã) são os verdadeiros
"senhores" e donos da Igreja, a eles compete escolher os seus servidores
e não vice-versa!
Assim, visando ultrapassar o modelo de poder autocrático existente
na Igreja, ilegítimo e contrário às orientações
do seu Fundador, mas também reforçar o sentimento
de pertença à Organização da Igreja por
parte dos seus membros, propomos:
1- Que
a
escolha do Chefe máximo da Igreja (o Papa) e dos Chefes das Igrejas
locais(os Bispos) seja feita por todos os Cristãos a
partir de opções programáticas distintas, transformando
esse acto numa oportunidade ímpar de divulgação da
mensagem cristã. Para isso propõe-se, um esquema de participação
experimental na escolha de alguns cargos hierárquicos, sendo
esse modelo, depois, generalizado a todos os níveis hierárquicos.
2- Que
sejam implementada a participação de todos os Cristãos,
através de esquemas de
consulta
vinculativa, acerca das grandes decisões da sua comunidade...
3- Que
seja reformulada a estrutura da Celebração Eucarística
no sentido de uma maior participação da Assembleia e valorização
da oração Comunitária: introduzindo na Liturgia da
Palavra, a par do testemunho do Celebrante, o testemunho dos leigos
dessa Comunidade vivificando a oração da Assembleia,
através da generalização dos gestos simbólicos
do celebrante, a toda a Assembleia, etc...
Enquadramento
cristão do casamento civil
Se a Organização
Social, em geral, e as Instituições humanas, em particular,
representam um nível de superioridade em relação à
animalidade e são o resultado final dum longo processo de hominização,
as Leis que sustentam essas Instituições significam já
um primeiro degrau de racionalidade e espiritualidade que o Cristianismo
não pode desprezar, a exemplo do próprio Cristo que respeitava
as leis do seu País: "dai pois a César o que é de
César..." (Mt. 22, 21).
Nessa
linha de pensamento propõe-se que a Igreja reconheça
o casamento civil como uma etapa intermédia e importante em ordem
ao casamento religioso, enquadrando os dois modelos de tal modo que
o casamento cristão funcione como a etapa final dum processo de
crescimento na Fé alicerçada e construida a partir dos Valores
humanos.
Estatuto
dos sacerdotes casados
Existem
milhares de ex-sacerdotes que renunciaram ao ministério e constituiram
família legítima. E embora possuam um elevado capital cultural
e religioso eles têm sido ignorados ou marginalizados na Igreja.
Em contrapartida, a mesma Igreja Católica toma a atitude de aceitar
no seu seio os clérigos casados da Igreja Anglicana, o que é
contraditório e insustentável, pois utiliza tratamentos diferenciados
para situações idênticas, com prejuízo dos seus
próprios membros e benefício dos estranhos...
Nesse
sentido, propomos que aos ex-sacerdotes católicos, casados,
seja concedido o mesmo estatuto dentro da Igreja que foi concedido aos
clérigos anglicanos que ingressaram na Igreja Católica.
Famílias
provenientes de pais separados
Existem
inúmeras famílias legalmente constituidas e derivadas da
situação de divórcio de um ou de ambos os conjuges,
com filhos nascidos em resultado da segunda união, numa situação
de total irreversibilidade, sendo por esse facto excluidos da comunhão
da Igreja.
Uma vez
que os novos filhos do casal não têm qualquer responsabilidade
da situação em que foram gerados e são admitidos à
comunhão da Igreja, originando no mesmo lar uma situação
paradoxal e inconcebível numa perpectiva educativo-cristã,
propomos
que o sinal do Perdão evangélico seja estendido a estas situações.