Tanto Ovídio quanto Apolodoro contam essa história. É provável que Apolodoro tenha vivido mais de cem anos depois de Ovídio. É um escritor muito prosaico, o que não é, nem de longe, o caso de Ovídio. Neste caso, porém, preferi (a autora) seguir o relato de Apolodoro. A história de Ovídio mostra-o em um dos seus piores momentos sentimental e exclamatório.
Dédalo foi o arquiteto que projetou o Labirinto para o Minotauro, em Creta, e que ensinou a Ariadne o modo como Teseu podia escapar do mesmo. Quando o rei Minos soube que os atenienses tinham descoberto como fugir, teve certeza de que só o poderiam ter feito com ajuda de Dédalo. Convencido da veracidade de sua suspeita, aprisionou-o com o filho Ícaro no Labirinto. Aliás, o fato de o próprio arquiteto não conseguir sair dali sem algum tipo de ajuda de fora era prova irrefutável da excelência da obra. O grande inventor, porém, não estava em um beco sem saída, e disse ao filho:
A
fuga pode ser evitada por mar e por terra, mas
[não pelo ar e pelo céu.
Fez,
então, dois pares de asas. Ajustaram-nas ao corpo e, pouco antes
de levantarem vôo, Dédalo avisou Ícaro de que não devia
elevar-se muito sobre o mar. Caso o fizesse, o Sol poderia
derreter a cola e fazer com que as asas se soltassem. Porém,
como as histórias mostram tantas vezes, os jovens não tomam
conhecimento dos conselhos dos velhos. Quando deixaram Creta para
trás, voando calmamente e sem esforço algum, o prazer desse
novo e maravilhoso poder subiu à cabeça do jovem. E êxtase,
foi subindo cada vez mais, sem dar ouvidos às advertências
angustiadas do pai. E então as asas se soltaram e ele caiu no
mar. As águas se fecharam sobre o seu corpo enquanto o pai
tomava a direção da Silícia, onde foi generosamente recebido
pelo rei.
Minos enfureceu-se com
a fuga, e resolveu procurar Dédalo até encontrá-lo. Para
tanto, concebeu um plano astucioso. Fez proclamar por toda parte
que daria uma grande recompensa a quem conseguisse passar um fio
através de uma concha de complexas formas espiraladas. Dédalo
disse ao rei da Silícia que, para ele, tal proeza não oferecia
dificuldade alguma. Fez um pequeno orifício na extremidade
fechada da concha, prendeu um fio em uma formiga e colocou-a no
buraco e tapou-o em seguida. Quando a formiga surgiu na outra
extremidade, o fio corria por todas as voltas e flexões da
concha. "Só Dédalo poderia ter essa idéia", disse
Minos, e foi pessoalmente à Silícia para capturá-lo. O rei,
porém, recusou-se a entregá-lo, e Minos foi morto durante a
batalha.