PROFESSORA, PORQUE VOCÊ NÃO DÁ TAREFA? Zilá A. P. Moura e Silva Um dos problemas que a pré-escola vem enfrentando nos últimos anos, pasmem leitores, não são as crianças, mas os pais. Quando as teorias elaboradas pelos pesquisador sueco Jean PIAGET, pelos russos LURIA e VIGOTSKY e pelo francês FREINET, provocam uma revolução copernicana na escola (ou pelo menos em algumas escolas) ainda há pais que perguntam às professoras se não vão "dar tarefa para casa". É claro que há muito que se falar sobre esse assunto do ponto de vista da crítica pedagógica, mas antes de entrar nesse mérito seria importante lembrar das coisas que se vem fazendo com a criança hoje, em função da vaidade da família. Além da escola tem o judô, o inglês, natação, balé etc. Tudo muito importante e saudável logicamente, mas não ao mesmo tempo e com uma criança que muitas vezes nem completou sete anos de idade. Principalmente porque ainda tem a escola e, é claro, a tarefa!!! Talvez fosse útil perguntar porque e para que a tarefa. Reforço, diriam alguns. E eu pergunto; reforço de quê? Sabe-se que a pré-escola não é um espaço onde se devam privilegiar conteúdos, mas exercitar práticas educativas que propiciem o pleno desenvolvimento das crianças, práticas estas que merecem ser reforçadas, mas não por meio de tarefas e sim de jogos e brincadeiras, o lúdico que ajuda a garantir aquele desenvolvimento tão necessário. Os pais que desejam "reforçar"o trabalho desenvolvido na pré-escola deveriam passar um pouco mais de tempo com seus filhos, ajudando-os a perceber as coisas que estão à sua volta, orientando sua observação e estimulando sua linguagem. Passear num jardim é exemplo de uma excelente "tarefa". Quantas coisas não poderiam ser aí observadas? As cores das flores, a forma da copa das árvores, o som diferenciado do canto dos passarinhos, o carrinho do pipoqueiro e tantos outros sinais da vida na natureza e da vida urbana. Conversando com a criança e fazendo-a falar sobre sua experiência os pais não só estarão "reforçando" o trabalho da professora mas estarão, principalmente, valorizando a companhia da criança que, quem sabe, desta forma, não se sentirá tão sozinha (o que tem trazido sérios problemas de aprendizagem para muitas crianças). Construir brinquedos de sucata é uma outra alternativa, além do que, muito econômica. Carrinhos de caixas vazias, telefones com latas de massa de tomate (lembram-se de nossa infância?), andadores, pipas, bonecas de pano (sem nenhum sofisticação, pois isso não é necessário para dar alegria às meninas), tudo isso pode ajudar a criança a desenvolver sua compreensão da realidade, ajudando-a a organizar seu sistema de valores de uma forma mais justa e menos consumista. Ir ao supermercado (para comprar o que é necessário e não o supérfluo) e ler os rótulos, entender como são organizadas as prateleiras, conversar com os funcionários, informar-se sobre o trabalho do açougueiro, aprender que aquele frango que está na geladeira um dia foi uma ave que andou pela granja (já que quintais não existem mais ou são poucos). Quanta experiência os pais podem propiciar aos filhos se quiserem dispor de um pouco de seu tempo... Perceber até mesmo que as casas não têm mais chaminés... Quem sabe assim não veremos mais tantos desenhos estereotipados... A mãe pode pedir ajuda da criança nos serviços domésticos... O pai pode pedir ajuda para lavar o carro... e com isso sentir-se mais próximo da criança. Já dizia um antigo ditado popular "Ajuda de criança é pouco, mas quem desdenha é louco". Isso não só é verdadeiro mas se constitui numa excelente oportunidade para fazê-la aprender e desenvolver algumas habilidades mínimas que descartariam as cópias e repetições mecânicas propostas ainda por algumas professoras. "Ler" o jornal, discutir sobre futebol, falar sobre o último filme de vídeo (mesmo que seja sobre os "Power Rangers" ou os "Cavaleiros do Zodíaco) ou até discutir sobre o salário que é tão baixo e as dificuldades da vida moderna... Criança pode "não entender destas coisas" como pensam alguns, mas se não conversar sobre isso nunca vai entender... Enfim, estando mais presentes não só física, mas afetivamente, ao invés de pedir "tarefas" que muitas vezes são feitas por eles mesmos, os pais estarão contribuindo para o desenvolvimento adequado da criança nesta e em outras faixas de idade. Nada melhor para uma criança do que ter os pais interessados pelas coisas que acontecem em seu pequeno mundo.
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