Conquista da seleção dona da casa é usada como propaganda para o regime fascista
A campanha do campeão
Oitavas-de-final
27/05 Itália 7 x 1 EUA
Quartas-de-final
31/05 Itália 1 x 1 Espanha
01/06 Itália 1 x 0 Espanha (Desemp.)
Semifinais
03/06 Itália 1 x 0 Áustria
Final
10/06 Itália 2 x 1 Tchecoslováquia
Artilheiro
Nejedly (Tchecoslováquia)
Ganhar a Copa do Mundo que sediaria era um ponto de honra para a Itália de Benito Mussolini. O fascismo avançava na Europa e a vitória dos italianos seria propaganda desse regime autoritário.
Para garantir o melhor time possível, Mussolini mudou leis para facilitar a naturalização de bons jogadores descedentes de italianos que nasceram em outros países.
Pela primeira vez, o número de países inscritos (32) superou o número de vagas (16), obrigando o início do sistema de eliminatórias.
O Uruguai, campeão em 1930, boicotou o torneio em protesto à ausência da maioria das seleções européias na primeira Copa.
O torneio adotou o sistema de eliminatória simples, do tipo "perdeu, cai fora". Nenhum país das Américas venceu na estréia.
O maior adversário da Itália foi a Espanha, considerada por muitos o melhor time da Copa. Para vencê-lo, a Itália jogou 210min: 1 a 1 na primeira partida (com prorrogação) e 1 a 0 no jogo-desempate.
Na final, com o time cansado, a Itália venceu a Tchecoslováquia por um minguado 2 a 1.
ITÁLIA - 2
Combi; Monzeglio e Allemandi; Ferraris 4o, Monti e Bertolini; Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari e Orsi. Técnico: Vittorio Pozzo.
TCHECOSLOVÁQUIA - 1
Planicka; Zenisek e Ctyroky; Kostalek, Cambal e Kcril; Junek, Svoboda, Sobotka, Nejedly e Puc. Técnico: Karel Petru.
Local: Estádio Nacional (Roma) Juiz: Ivan Eklind (Suécia) Gols: Puc aos 25min e Orsi aos 35min do primeiro tempo; Schiavio aos 5min da prorrogação.
BRASIL (14o lugar)
Titulares
Posição
J
G
Pedrosa
Goleiro
1
-
Sílvio
Zagueiro
1
-
Luís Luz
Zagueiro
1
-
Tinoco
Médio
1
-
Martim
Médio
1
-
Canali
Médio
1
-
Luizinho
Atacante
1
-
Armandinho
Atacante
1
-
Leônidas
Atacante
1
1
Patesko
Atacante
1
-
Reservas
Germano
Goleiro
-
-
Otacílio
Zagueiro
-
-
Ariel
Médio
-
-
Valdir
Médio
-
-
C. Leite
Atacante
-
-
Átila
Atacante
-
-
Técnico: Luiz Vinhares
Brasil: Seleção cai logo na estréia
Os números do Brasil
Jogos: 1
Gols Pró: 1
Gols Contra: 3
Outra briga, desta vez entre profissionais e amadores, enfraqueceu o Brasil para a Copa da Itália.
A CBD, amadora, teve dificuldade para montar uma boa seleção, pois surgira no país uma nova entidade - a Federação Brasileira de Futebol, profissional.
A maioria dos bons jogadores brasileiros atuava em clubes profissionais, filiados à FBF. Não houve acordo para uma trégua durante a Copa.
A solução foi negociar diretamento com os jogadores. A CBD aliciou Leônidas (Vasco), Luizinho e Valdemar de Brito (São Paulo), entre outros.
Os clubes profissionais eram contra. O Palestra Itália (hoje Palmeiras) escondeu seus jogadores em uma fazenda.
A campanha foi curta. O Brasil foi eliminado na estréia, em Gênova, pela forte seleção espanhola: 3 a 1.
Com 30 minutos de jogo, os espanhóis já venciam por 3 a 0, dois gols de Langara e um de Iraragorri, de penâlti.
No segundo tempo, o Brasil melhorou. Leônidas pegou um rebote do goleiro zamora e descontou aos 7 minutos.
Oito minutos depois, Luizinho teve um gol anulado pelo juiz alemão Birlem, por impedimento.
Aos 25 min, Valdemar de Brito desperdiçou um penâlti, defendido pelo grande Zamora.
Valdemar se redimiria muito mais tarde: foi ele quem descobriu o talento de Pelé.
"Os espanhóis exigiram mais de nós"
"A partida mais difícil de todas foi contra a Espanha, que pode ser considerada como a inicial, já que o jogo contra os EUA não podia ser visto como um teste preparatório.
O time que a Espanha enviou para o Campeonato do Mundo era formidável: técnico, aguerrido, com velocidade latina e ardor ibérico.
Precisamos de 210 minutos de jogo para vencer. Nenhum outro time nos exigiu tanto.
Com tal valor se comportaram os espanhóis naquelas duas partidas em Florença, que foram necessários homens de têmpera especial para batê-los, homens fortes e confiantes como só o fascismo pode criar."
Vittorio Pozzo, técnico campeão pela seleção italiana, faz a defesa do sistema político ditadorial imposto por Benito Mussolini na Itália.
Curiosidades
Lenço na Cabeça
O atacante italiano Luigi Bertolini, melhor cabeceador da Europa, disputou a Copa com um lenço branco na cabeça. As bolas tinham costuras que machucavam a testa do jogador.
Brasileiro campeão
Anfilogino Guarisi, o Filó, brasileiro que jogou no ataque do Corinthians, foi um dos italianos naturalizados no time campeão.
A Frase
"Ides para um país que se renova moral e materialmente. O italiano, que se sentia deprimido antes do fascismo, sente-se agora orgulhoso de sua raça. É esse exemplo que deve guiar os esportistas brasileiros".
De Getúlio Vargas, presidente, à delegação que seguia para a Itália.