Campanha do Brasil em Copas
1930 - 1962 / 1966 - 1982 / 1986 - 1994


Uruguai
Copa do Mundo de 1930

Primeira Fase - 1o Jogo:


Brasil 1 x Iugoslávia 2

Data: 14/Julho/1930
Local: Central Parque Pereira
Cidade: Montevidéu (Uruguai)
Árbitro: A. Tejada (Uruguai)
Técnico: Píndaro
Brasil:
Joel; Brilhante e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando; Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teóphilo.
Gol: Preguinho


Primeira Fase - 2o Jogo:


Brasil 4 x Bolívia 0

Data: 22/Julho/1930
Local: Estádio Centenário
Cidade: Montevidéu (Uruguai)
Árbitro: J. Badway (França)
Técnico: Píndaro
Brasil:
Velloso; Zé Luiz e Itália; Hermógenes, Fausto e Fernando; Benedicto, Russinho, Carvalho Leite, Preguinho e Moderato.
Gols: Preguinho (2) e Moderato (2)


Itália
Copa do Mundo de 1934

Oitavas-de-Final:


Brasil 1 x Espanha 3

Data: 27/Maio/1934
Local: Stadio Comunale Marassi
Cidade: Florença (Itália)
Árbitro: A. Birlem (Alemanha)
Técnico: Luiz Vinhares
Brasil:
Pedrosa; Sílvio Hoffmann e Luiz Luz; Tinoco, Martim Silveira e Canalli; Juiz M. Oliveira, Waldemar de Britto, Armandinho, Leônidas da Silva e Patesko.
Gol: Leônidas da Silva


França
Copa do Mundo de 1938

Oitavas-de-Final

Brasil 6 x Polônia 5

Data: 5/Junho/1938
Local: Stade de la Meinau
Cidade: Estrasburgo (França)
Árbitro: I. Eklind (Suécia)
Técnico: Adhemar Pimenta
Brasil:
Batatais; Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Martim Silveira e Afonsinho; Lopes, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Hércules.
Gol: Leônidas da Silva (3), Perácio (2) e Romeu Pellicciari.
Obs.: tempo normal, 4 x 4; prorrogação, Brasil 2 x 1


Quartas-de-Finais


Brasil 1 x Tchecoslováquia 1

Data: 12/Junho/1938
Local: Parc de Leseure
Cidade: Bordeaux (França)
Árbitro: P. Hertzka (Hungria)
Técnico: Adhemar Pimenta
Brasil:
Walter; Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Martim Silveira e Afonsinho; Lopes, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Hércules.
Gol: Leônidas da Silva
Obs.: prorrogação, 0 x 0


Quartas-de-Finais - Jogo-Desempate


Brasil 2 x Tchecoslováquia 1

Data: 14/Junho/1938
Local: Parc de Leseure
Cidade: Bordeaux (França)
Árbitro: G. Capdeville (França)
Técnico: Adhemar Pimenta
Brasil:
Walter; Jaú e Nariz; Britto, Brandão e Argemiro; Roberto, Luiz M. Oliveira, Leônidas da Silva, Tim e Patesko.
Gol: Leônidas da Silva e Roberto.


Semifinais


Brasil 1 x Itália 2

Data: 16/Junho/1938
Local: Stade Olympique
Cidade: Marselha (França)
Árbitro: H. Wuthrich (Suíça)
Técnico: Adhemar Pimenta
Brasil:
Walter; Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Martim Silveira e Afonsinho; Lopes, Luiz M. Oliveira, Romeu Pellicciari, Perácio e Patesko.
Gol: Romeu Pellicciari.


Decisão do Terceiro Lugar


Brasil 4 x Suécia 2

Data: 19/Junho/1938
Local: Parc de Leseure
Cidade: Bordeaux (França)
Árbitro: J. Langenus (Bélgica)
Técnico: Adhemar Pimenta
Brasil:
Batatais; Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Brandão e Afonsinho; Roberto, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Patesko.
Gols: Leônidas da Silva (2), Perácio e Romeu Pellicciari.


Brasil
Copa do Mundo de 1950

Primeira Fase - 1o Jogo

Brasil 4 x México 0

Data: 24/Junho/1950
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: G. Reader (Inglaterra)
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Ely, Danilo Alvim e Bigode; Maneca, Ademir Menezes, Baltazar, Jair R. Pinto e Friaça.
Gols: Ademir Menezes(2), Baltazar e Jair. R. Pinto.


Primeira Fase - 2o Jogo

Brasil 2 x Suíça 2

Data: 28/Junho/1950
Local: Estádio do Pacaembu
Cidade: São Paulo (Brasil)
Árbitro: R. Azon (Espanha
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Rui e Noronha; Alfredo, Maneca, Ademir Menezes, Baltazar e Friaça.
Gols: Alfredo e Baltazar.


Primeira Fase - 3o Jogo

Brasil 2 x Iugoslávia 0

Data: 1/Julho/1950
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: B. Griffiths (País de Gales)
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir Menezes, Jair R. Pinto e Chico.
Gols: Ademir Menezes e Zizinho.


Turno Final - 1o Jogo

Brasil 7 x Suécia 1

Data: 9/Julho/1950
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: A. Ellis (Inglaterra)
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Maneca, Zizinho, Ademir Menezes, Jair R. Pinto e Chico.
Gols: Ademir Menezes(4), Chico (2) e Maneca.


Turno Final - 2o Jogo

Brasil 6 x Espanha 1

Data: 13/Julho/1950
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: R. Leafe (Inglaterra)
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Zizinho, Ademir Menezes, Jair R. Pinto, Chico e Friaça.
Gols: Chico (2), Ademir Menezes, Jair. R. Pinto, Zizinho e Parra (contra).


Turno Final - Jogo Final

Brasil 1 x Uruguai 2

Data: 16/Julho/1950
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: G. Reader (Inglaterra)
Técnico: Flávio Costa
Brasil:
Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo Alvim e Bigode; Zizinho, Ademir Menezes, Jair R. Pinto, Chico e Friaça.
Gol: Friaça.


Suíça
Copa do Mundo de 1954

Eliminatórias

Brasil 2 x Chile 0

Data: 28/Fevereiro/1954
Local: Estádio Nacional
Cidade: Santiago (Chile)
Árbitro: R. Vincenti (França)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Veludo; Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer e Brandãozinho; Julinho, Didi, Baltazar, Humberto Tozzi e Rodrigues.
Gols: Baltazar (2)


Brasil 1 x Paraguai 0

Data: 7/Março/1954
Local: Estádio do Liberdad
Cidade: Assunção (Paraguai)
Árbitro: E. Steiner (Áustria)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Veludo; Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer e Brandãozinho e Didi; Julinho, Baltazar, Humberto Tozzi e Rodrigues.
Gols: Baltazar


Brasil 1 x Chile 0

Data: 14/Março/1954
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: E. Steiner (Áustria)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Veludo; Djalma Santos, Gérson e Nílton Santos; Bauer e Brandãozinho; Julinho, Didi, Baltazar, Humberto Tozzi e Rodrigues.
Gols: Baltazar


Brasil 4 x Paraguai 1

Data: 21/Março/1954
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro(Brasil)
Árbitro: R. Vincenti (França)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Veludo; Djalma Santos, Gérson e Nílton Santos; Bauer e Brandãozinho; Julinho, Didi, Baltazar, Humberto Tozzi (Pinga) e Maurinho.
Gols: Julinho (2), Baltazar e Maurinho.


Primeira Fase - 1o Jogo

Brasil 5 x México 0

Data: 16/Junho/1954
Local: Stade des Charmilles
Cidade: Genebra (Suíça)
Árbitro: P. Wyssling (Suíça)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Castilho; Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer, Brandãozinho e Didi; Julinho, Baltazar, Pinga e Rodrigues.
Gols: Pinga (2), Baltazar, Didi e Julinho


Primeira Fase - 2o Jogo

Brasil 1 x Iugoslávia 1

Data: 19/Junho/1954
Local: Stade La Fontaise
Cidade: Lausane (Suíça)
Árbitro: E. Faultless (Escócia)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Castilho; Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer, Brandãozinho e Didi; Julinho, Baltazar, Pinga e Rodrigues.
Gol: Didi
Obs.: tempo normal, 0 x 0 ; prorrogação, 1 x 1.


Quartas-de-Final

Brasil 2 x Hungria 4

Data: 27/Junho/1954
Local: Stadium du Wankdorf
Cidade: Berna (Suíça)
Árbitro: A. Ellis (Inglaterra)
Técnico: Zezé Moreira
Brasil:
Castilho; Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer, Brandãozinho e Didi; Julinho, Humberto Tozzi, Índio e Maurinho.
Gols: Djalma Santos e Julinho


Suécia
Copa do Mundo de 1958

Eliminatórias

O sonho numa folha seca

É um chute que, por muitos motivos, merece estar num lugar de honra na história do futebol brasileiro. Primeiro, pelo ineditismo do próprio chute, que faz a bola passar mansamente por cima da barreira formada pelos jogadores peruanos para, em seguida, despencar repentinamente, quase que em uma linha reta, dentro do gol do Peru. A única reação do perplexo goleiro Asca é acompanhar a queda abrupta da bola com os olhos. Não há nenhum exagero em dizer que essa surpreendente trajetória traçada pela bola lembra a traseira hatch back dos automóveis modernos. Como em 1957, porém, os tempos são mais românticos e mais tecnológicos, esse novo tipo de chute criado pelo meia Didi acaba sendo batizado de "folha seca", por lembrar - segundo o estilo literário utilizado pelos cronistas esportivos da época - "a queda indecisa de uma folha numa tarde de outono." Mas, nesta tarde de 21 de abril de 1957, o que os milhares de torcedores presentes ao Maracanã não podem imaginar é que este chute marca o passo inaugural da epopéia do tetracampeonato mundial. Depois de ter empatado em 1 x 1 na primeira partida das Eliminatórias contra o próprio Peru, em Lima, a Seleção Brasileira, então treinada pelo falecido Osvaldo Brandão, precisa de um bom resultado neste segundo jogo disputado no Rio de Janeiro para garantir sua presença na Copa da Suécia, no ano seguinte. E é justamente o que o chute genial desferido pelo pé direito de Didi proporciona: ainda não refeito do trauma provocado pela perda do título em 1950, em pleno Maracanã, e da decepção sofrida em 1954, na Suíça, o Brasil volta a sonhar forte com a conquista do mundo. Essa "folha seca" que toca suavemente as redes peruanas anuncia, dessa forma, não o outono, mas o início da primeira primavera do futebol brasileiro.

Brasil 1 x Peru 1

Data: 13/Abril/1957
Local: Estádio Nacional
Cidade: Lima (Peru)
Árbitro: W. Rodriguez (Uruguai)
Brasil
Técnico: Osvaldo Brandão
Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Zózimo e Nílton Santos; Roberto Belangero e Didi; Joel, Evaristo, Índio e Garrincha.
Peru:
Técnico: Calderón.
Asca; Benitez e Fleming; Salas, Lazon e Calderón; Bassa, Mosquera, Rivera, Terry e Gómez Sánches.
Gol:Índio e Terry


Brasil 1 x Peru 0

Data: 21/Abril/1957
Local: Estádio do Maracanã
Cidade: Rio de Janeiro (Brasil)
Árbitro: E. Marino (Uruguai)
Brasil:
Técnico: Osvaldo Brandão
Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Zózimo e Nílton Santos; Roberto Belangero e Didi; Joel, Evaristo, Índio e Garrincha.
Peru:
Técnico: Calderón
Asca; Benitez e Rovai; Fleming, Lazon e Calderón; Gómez Sánchez, Mosquera, Rivera, Terry e Seminario.
Gol:Didi

Oitavas-de-Final

A Derrota do racismo

São 5 horas da tarde de 24 de maio de 1958. A delegação brasileira que estreará na Suécia dentro de duas semanas inicia discretamente sua viagem para a Europa. Não fosse a polêmica envolvendo alguns de seus componentes, o silêncio que envolvia o embarque seria ainda maior. Nos últimos meses, a imprensa gastara rios de tinta questionando a presença - luxo, invencionice, bobagem - de dentista e psicólogo junto aos jogadores. Depois dos fracassos de 1950 e 1954, nunca a ciência mergulhara tão fundo no futebol para descobrir porque o Brasil não conseguia se impor em campo. Sigilosos relatórios médicos circulavam pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) diagnosticando que o maior problema estava na alma dos jogadores, principalmente dos negros - nostálgicos, emocionalmente vulneráveis. Não é mera coincidência, portanto, que o time que estréia na Copa seja o mais branco possível. Dos 11 escalados contra a Áustria, apenas dois são negros - Dida e Didi, que coincidentemente têm reservas (Pelé e Moacir) de pele ainda mais escura. A seleção ganha bem: 3 x 0, com dois gols de Mazzola e um de Nílton Santos, que desobedecendo as ordens gritadas do banco pelo técnico Feola ("Volta, Nílton. Fica na defesa"), avança, tabela com Mazzola e marca. Na segunda partida, um suado 0 x 0 com a Inglaterra. Deixa claras as deficiências da equipe. Mazzola, por exemplo, está vizivelmente preocupado com as propostas milionárias que lhe chegam da Itália. Ao perder um gol contra os ingleses, tem uma crise de choro que só passa quando o capitão Bellini lhe dá um tapa no rosto. No meio-campo, Dino Sani é um volante clássico, porém frio. Por fim, Joel é um bom ponta-direita, aplicado e raçudo, mas de futebol previsível. Bellini, Nílton Santos e Didi, os líderes do time, concluem que assim não vai dar para ganhar a Copa e reunem-se com Feola para pedir mudanças. O treinador resolve atendê-los e o Brasil começa a vencer seu primeiro Mundial.

Oitavas-de-Final - 1o Jogo

Brasil 3 x Áustria 0

Data: 8/Junho/1958
Local: Estádio Rimnersvallen
Público: 21.000
Cidade: Uddevalla (Suécia)
Árbitro: Maurice Frederic Guigue (França)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; De Sordi (Djalma Santos), Bellini, Orlando e Nílton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagalo.
Áustria:
Técnico: Karl Argauer
Szanwald; Hanappi, Happel, Halla e Swoboda; Koller, Horak e Senekowitsch; Schleger, Körner e Buzek.
Gols: Mazzola aos 38 do primeiro tempo; Nílton Santos aos 4min e Mazzola aos 44min do segundo.


Oitavas-de-Final - 2o Jogo

Brasil 0 x Inglaterra 0

Data: 11/Junho/1958
Local: Estádio Nya Ullevi
Público: 40.895
Cidade: Gotemburgo (Suécia)
Árbitro: Her Albert Dusch (Alemanha Oc.)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Vavá e Zagalo.
Inglaterra:
Técnico: Walter Winterbottom
McDonald; Wright, Howe, Banks e Clamp; Slater, Douglas e Robson; Kevan, Haynes e A'Court.


O mundo em três minutos

O técnico soviético Gavril Katchaline está otimista neste 15 de junho de 1958. Além de acreditar na força de seu time - atual campeão olímpico -, ele tem informações de que os brasileiros, apesar de bons jogadores tecnicamente, são individualistas, temperamentais, imaturos. Ao visitar a concentração brasileira no dia anterior, Katchaline tivera outro motivo para se alegrar: soube que o Brasil entraria em campo sem três titulares (Dino Sani, Mazzola e Joel), que seriam substítuidos, respectivamente, por um tal de Zito, por um garoto de 17 anos chamado Pelé e por um ponta com nome de passarinho, Garrincha, torto como um caminhão tombado. Por todas essas razões, o treinador não pode deixar de sorrir quando o francês Maurice Guigue apita o início da partida. O Estádio Nya Ullevi está lotado: 50.928, o recorde de público no Mundial. Vavá toca para Didi, que lança Garrincha. O lateral Kuznetsov corre. Mané ginga o corpo para a esquerda, mas sai pela direita. Kuznetsov desaba de traseiro no chão. A educada torcida sueca não sabe se ri ou se aplaude. Na dúvida deixa o queixo cair. Sete segundos depois, Garrincha tem de novo Kuznetsov à sua frente. De novo, balança o corpo para direita e passa como uma flecha para a esquerda. Repentinamente pisa na bola e estanca. O lateral soviético volta à carga. Leva outro drible. E mais outro. A torcida fica de pé, atônita. Mané invade a área perseguido por Kuznetsov, Voinov e Krijevski. Dribla os três. Pelé está livre na pequena área. Mas Garrincha, mesmo sem ângulo dispara a bomba. Abola explode na trave direita de Yashin e se perde pela linha de fundo. Um minuto de jogo. O estádio inteiro ri e aplaude com entusiasmo. Garrincha volta para o meio campo com seu trote desengonçado. A defesa brasileira intercepta o tiro de meta soviético e a bola vai aos pés de Mané. Que pass para Didi. Para Pelé. Para Garrincha. Para Pelé. Outra bomba estoura contra as traves de Yashin. Dois minutos de jogo. Garrincha está de novo com a bola. Corre em ziguezague. Finge que vai, e não vai; finge que vai, e vai. Os soviéticos vão ficando estendidos no chão. Um a um. Didi lança Vavá. Gol do Brasil. O relógio marca três minutos. "Foram os três minutos mais fantásticos da história do futebol e a mais assombrosa aparição na ponta-direita desde Stanley Mathews", escreveu deslumbrado o jornalista francês Gabriel Hannot. O técnico Katchaline não sorri mais. Aqueles três minutos são suficientes para ele entender que seua equipe não tem qualquer chance no jogo. Perder de pouco, honradamente, já poderá ser considerado uma vitória. Garrincha e o Brasil continuam dando um show de futebol mas o segundo gol só sai no segundo tempo. De novo Vavá. A Seleção Brasileira deixa o mundo boquiaberto e vira o prato-do-dia da imprensa internacional. Esse, porém era apenas o começo de tudo. Muitos dribles ainda iriam rolar por baixo daquelas pernas.


Oitavas-de-Final - 3o Jogo


Brasil 2 x URSS 0

Data: 15/Junho/1958
Local: Estádio Nya Ullevi
Público: 50.928
Cidade: Gotemburgo (Suécia)
Árbitro: Maurice Frederic Guigue (França)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.
URSS:
Técnico: Gavril Katchaline
Yashin; Kesarev, Kuznetsov, Voinov e Krijevski; Tsarev, A. Ivanov e V. Ivanov; Simonjan, Iljin e Netto.
Gols: Vavá 3min do primeiro tempo e 21min do segundo.


Quartas-de-Final


Um lençol derruba o muro

Nos dias seguintes, à vitória contra a União Soviética, a imprensa internacional mostrou como a magnífica exibição da Seleção Brasileira mexeu fundo em sua emoção. Os adjetivos, escritos nas mais diversas línguas, são de fazer corar até mesmo os mais imodestos: "futebol memorável", "tremenda velocidade de ataque", "absoluto domínio de bola", "time magnífico". No Brasil - então um país que parece decolar definitivamente para o futuro, vivendo com intensidade a construção de Brasília e a montagem de um moderno parque industrial -, a euforia toma conta dos torcedores. País de Gales, equipe medíocre, é o próximo adversário e tudo indica que nova goleada está a caminho. Desfalcada apenas de Vavá, machucado na partida com a URSS, a Seleção Brasileira entra em campo. O Estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, tem neste 19 de junho apenas 25.923 espectadores, pouco mais da metade de sua capacidade. Saída dada, Gales recua inteiro para a defesa. Seu homem mais avançado, postado na linha do meio do campo, é o centroavante Vernon. É uma partida monótona: o Brasil ataca, ataca, mas o gol não sai. (Serão, ao final do jogo, 67 ataques brasileiros contra apenas 3 galese). Acaba o primeiro tempo e o marcador permanece 0 x 0 continua lá. Vinte minutos... e nada. A torcida se impacienta. Gales agora se defende com todos os homens e todas as suas forças à espera de um milagre. Aos 26 minutos, o que era tão sólido se desmancha no ar. Didi pega a bola, pará, vê Pelé livre no interior da área adversária e lhe dá o passe. Pelé mata no peito, dá um lençol curto sobre o tronco de seu marcador e, antes que a bola toque no chão e que o outro zagueiro tenha tempo de fazer a cobertura, chuta rasteiro, no canto direito do goleiro Kelsey. O relógio marca 26 minutos. É sem dúvida a vitória mais difícil da Seleção, em sua partida mais fácil na Copa. O Brasil já é semifinalista.

Brasil 1 x País de Gales 0

Data: 19/Junho/1958
Local: Estádio Nya Ullevi
Público: 25.923
Cidade: Gotemburgo (Suécia)
Árbitro: Hriedrich Speilt (Áustria)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Mazzola, Pelé e Zagalo.
País de Gales:
Técnico: Não disponível
Kelsey; Williams e M. Charles; Hopkins, Sullivan e Bowen; Medwine, Hewitt, Vernon, Allchurch e Jones.
Gol: Pelé 26 do primeiro tempo


Semifinal


Um time do outro planeta

O mundo inteiro espera com ansiedade o início da Semifinal entre brasileiros e franceses, em Estocolmo. E há realmente motivos para tanta espectativa. O ataque da França - Wisnieski, Kopa, Fontaine, Piantoni e Vincent - é uma das sensações do Mundial. Em suas quatro exibições anteriores marcara 15 gols, média de 3,7 por partida. O Brasil, que ainda não mostrara todo o seu poderio ofensivo (seis gols em quatro jogos), tem em compensação a defesa menos vazada da competição: nenhum gol sofrido. Com base nesses números, os analistas internacionais esperam que essa Semifinal seja o jogo mais bonito, movimentado e emocionante de toda a Copa. A outra Semifinal, entre Suécia e Alemanha, em Gotemburgo, acaba, assim, relegada a um plano menor pela imprensa internacional, apesar de a Alemanha ser a atual campeã do mundo. Quando muitos dos 27.100 espectadores ainda estão se acomodando em seus lugares, Vavá recebe um passe em profundidade e, sozinho dianto do goleiro Abbes, enche o pé para inaugurar o marcador. A França não se intimida e corre atrás do empate, que chega aos 8 pelos pés do artilheiro Just Fontaine. É uma partida para quem tem coração forte. Aos 14, Zagalo acerta um chute perfeito. Abbes sem alcançar a bola, que bate na parte inferior do travessão, quica dentro do gol e volta para o campo. Marvyn Griffiths, o juiz, manda o jogo seguir. Todas as expectativas estão sendo seguidas rigorosamente. Os dois times procuram o gol com coragem e volúpia. Didi, aos 39, recebe a bola a cinco metros da grande área francesa, procura para quem passar, mas todos os atacantes brasileiros estão marcados. Então ele chuta. De folha-seca. A trajetória incial da bola indica que vai passar próxima à trave esquerda de Abbes e sair pela linha de fundo. De repente, porém, faz uma curva para dentro e decai no ângulo: Brasil 2 x 1. E o primeiro tempo terminam com a vitória parcial da defesa brasileira sobre o temível ataque francês. Na segunda etapa, com um homem a menos (o zagueiro Jonquet saíra machucado), a França recua. "Decidimos ajudar a defesa. Hoje sei que sonhamos o ímpossivel: marcar jogadores imarcáveis", lembraria anos depois Raymond Kopa, o grande líder do time francês. Se o jogo contra a Rússia fora de Garrincha, essa partida é de Pelé - "um menino de 17 anos ainda sem idade para assistir aos filmes de Brigitte Bardot". É nesses 45 minutos finais que seu talento explode definitavente: marca três gols belíssimos (Piantoni desconta para a França aos 40) e tem uma das atuações mais completas de sua carreira. Na verdade o time inteiro faz uma exibição perfeita, inesquecível. Nesse 24 de junho de 1958 nenhum time é capaz de vencê-lo. No dia seguinte, o mundo de novo gasta todos os adjetivos das línguas existentes para falar da Seleção. "Eles parecem vir de outro planeta", escreve o jornal esportivo francês L'Equipe. "O time do Brasil voa como o vento, com uma fria determinação e o coração quente", descreve o matutino sueco Dagens Nyheter. O mundo sabia então escrever bem o que via e sentia.

Brasil 5 x França 2

Data: 24/Junho/1958
Local: Estádio Raasunda
Público: 27.100
Cidade: Estocolmo (Suécia)
Árbitro: B. Mervyn Griffiths (País de Gales)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.
França:
Técnico: Albert Batteux
Abbes; Kaelbel, Jonquet, Penverne e Lerond; Marcel e Kopa; Wisnieki, Fontaine, Piantoni e Vincent.
Gols: Vavá aos 2min, Fontaine aos 8min e Didi aos 39min do primeiro tempo; Pelé aos 8min, 19min, e 31min e Piantoni aos 40min do segundo tempo.


Final


A primeira vez para sempre

O favoritismo do Brasil é massacrante. Sua vitória na Final está sendo cotade em 40 por 1 pelos apostadores de Londres. Ainda assim, os torcedores escutam seus rádios apreensivos. As notícias não são agradáveis: o Brasil vai jogar de azul e o campo está pesado por causa das chuvas. Ninguém tem dúvidas de que, primeiro, a Suécia obteve uma importante vitória psicológica ao obrigar o Brasil a trocar de uniforme e, segundo, que um gramado encharcado prejudica muito mais ao time canarinho, uma equipe leve e técnica. Esse segundo problema os próprios suecos até procuram minimizar cobrindo o gramado com lonas gigantescas. A primeira questão, a do uniforme azul, o falecido empresário Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação, resolve com genial habilidade. Chama os jogadores e, com um sorriso e a voz mais entusiasmada que consegue, dá a notícia a eles: "Vamos jogar de azul como eu queria - a mesma cor do manto protetor de Nossa Senhora Aparecida." Com isso, o Brasil transforma a vitória psicológica da Suécia em vitória sua. Mas não é só a torcida que está nervosa antes do jogo. Na concentração sueca, os jogadores gastaram a noite toda pensando em como marcar os atacantes adversários. Pelo lado brasileiro, o lateral De Sordi também não conseguiu dormir a noite inteira. Ele está uma pilha de nervos. Informado da situação, o médico Hílton Gosling chama Djalma Santos ao seu quarto. O velho Djalma mostra-se tranquilo, pronto para jogar. Gosling vai então conversar com De Sordi, que andara queixando-se de dores musculares. O médico pede-lhe mil desculpas, mas terá que barrá-lo: "Pode ser um início de distensão, De Sordi. Sinto muito, mas não podemos nos arriscar. Infelizmente você está fora." A torcida não se preocupa. Afinal, Djalma Santos só não foi titular desde o ínicio por causa do relatório médico racista que acusva a vulnerabilidade emocional dos atletas negros pelas derrotas de 1950 e 1954. O veterano Liedholm faz 1 x 0 para a Suécia logo aos 4 minutos de jogo. Didi coloca a bola debaixo do braço, caminha calmamente até o meio do campo e, virando-se para os companheiros, diz: "Vamos encher esses gringos. Nós somos melhores." Na primeira oportunidade que tem, lança Garrincha, que pára à frente do lateral Gustavsson. Por segundos, os dois ficam imóveis. Mané ginga para a esquerda e passa pela direita. Dribla outro zagueiro e cruza para a pequena área. Vavá, aos 8, só tem o trabalho de escorar para as redes. Aos 32, Garrincha repete a mesma jogada, como num vídeo-tape, e Vavá faz 2 x 1. A superioridade brasileira é indiscutível. E o cerco aperta na segunda etapa. Aos 11, Didi lança Pelé, que dá um lençol em Axbon, finta Bergmark e marca o terceiro. Aos 23, Zagalo faz o quarto. Simonsson desconta aos 35, mas Pelé, de cabeça, aos 44, encerra a goleada. Fim de jogo, o massagista Mario América tira a bola do juiz e corre para o vestiário. Pelé ajoelha-se e chora. Zagalo chora. Gilmar, Nílton Santos e Didi choram. O Brasil inteiro chora, grita, pula, se abraça. Brasil, campeão do mundo, Pela primeira vez. E para sempre sempre.

Brasil 5 x 2 Suécia

Data: 29/Junho/1958
Local: Estádio Raasunda
Público: 49.737
Cidade: Estocolmo (Suécia)
Árbitro: Maurice Frederic Guigue (França)
Brasil:
Técnico: Vicente Feola
Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.
Suécia:
Técnico: George Raynor
Svensson; Bergmark, Axbom, Börjesson e Gustavsson; Parling e Gren; Hamrin, Liedholm, Simonsson e Skoglund.
Gols: Liedholm aos 4min, Vavá aos 8min e 32min do primeiro tempo; Pelé aos 11min, Zagalo aos 23min, Simonsson aos 35min e Pelé aos 44min do segundo tempo.


Chile
Copa do Mundo de 1962

Oitavas-de-Final - 1o Jogo


Sob os efeitos da ressaca

O Brasil de 1962 não é o mesmo de 1958. Quatro anos após a conquista do primeiro título mundial, o país está paralisado por uma espécie de ressaca. Da euforia vivida durante o Governo Juscelino Kubitschek e seu plano de desenvolvimento acelerado - os famosos 50 anos em cinco, que renderam a construção de Brasília a partir do nada e a implantação de um moderno parque industrial -, pouco resta. Ao contrário, o futuro parece incerto. Jânio Quadros renunciou um ano antes, jogando o país no atoleiro político que acabará com a tomada do governo pelos militares em 1964. É sob esse clima de angústia nacional que a Seleção embarca para tentar o bicampeonato no Chile. A maioria dos 22 jogadores inscritos havia participado da campanha de 1958, com a diferença de que estavam quatro anos mais velhos. E isso também ajuda a esfriar o ânimo da torcida, pois é como assistir uma nova versão de um filme já visto. Mesmo fora do Brasil, a Seleção não empolga. "O Brasil joga bom futebol, mas sua equipe está quatro anos mais cansada, quatro anos mais viciada num sistema de jogo que todos conhecem", diz Helenio Herrera, técnico da Espanha. A estré contra o México mostra que tanto a torcida como Herrera tinham razão em sua falta de entusiasmo. No primeiro tempo, com os mexicanos trancados na defesa, o Brasil mostra-se um time desentrosado, apático, sem criatividade. Resultado: 0 x 0 tedioso. Na segunda etapa, porém a equipe melhora, passa a forçar mais. Garrincha, aos 11min, dribla dois adversários e dá para Zagalo marcar seu único gol naquele Mundial. Aos 27, Pelé engana quatro zagueiros e chuta para fazer 2 x 0. Com a vitória garantida, o time passa o resto do tempo tocando a bola. Ainda não era daquela vez que a Seleção incendiaria a torcida.

Brasil 2 x México 0

Data: 30/Maio/62
Local: Estádio Sausalito
Público: 10.484
Cidade: Viña del Mar (Chile)
Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.
México:
Técnico: Ignácio Trellez / Alejandro Scopelli
Carbajal; Del Muro, Cardenas, Sepúlveda e Villegas; Najera e Jasso; Del Aguilla, Reyes, Hernández e Diaz.
Gols: Zagalo aos 11min e Pelé aos 27min do segundo tempo.


Oitavas-de-Final - 2o Jogo


País chora a dor de Pelé

Embora sofra as primeiras pressões para modificar a equipe ainda no vestiário depois da partida com o México, o técnico Aymoré Moreira se mostra firme: "Não mudaremos o time até o final da Copa." Às vésperas do Mundial, ele barrara Bellini, o capitão de 1958, poruqe MAuro deixara claro que não aceitaria a reserva de novo. É assim, com a mesma escalação da estréia, que a Seleção entra em campo para enfrentar a Tchecoslováquia, que vencera a Espanha por 1 x 0 em seu primeiro jogo. Os tchecos formam uma boa equipe - técnica, forte, aguerrida. A partida começa equilibrada, com os dois times preocupados principalmente em exercer uma marcação eficiente por todo o gramado. O maior problema que a Seleção Brasileira encontra no adversário chama-se Masopust, um meio-campista de grande talento na armação de jogadas de seu ataque. Já os tchecos temem, sobretudo, a genialidade de Pelé e Garrincha, jogadores que podem decidir o jogo em um único lance imprevisível. A marcação sobre eles é limpa, mas implacável. Garrincha encontra grandes dificuldades para vencer o lateral Novak, que recebe a cobertura do zagueiro Popluhar. Pelé, sempre vigiado de perto por Pluskal e Masopust, também não consegue ameaçar o gol defendido por Schroif. Mas a Tchecoslováquia também não consegue criar situações de perigo para Gilmar. Aos 28, num lance isolado, Pelé recebe passe de Didi, avança até a entrada da área adversária e chuta forte. Enquanto a bola sai sem direção, Pelé leva as mãos à virilha. É uma fisgada que dói no Brasil inteiro. Pelé está fora da Copa. O jogo prossegue no mesmo ritmo e termina em 0 x 0. Mas a preocupação da torcida é muito maior: que será da Seleção agora sem o Rei? É com essa pergunta na cabeça que o país vai para cama na noite de 2 de junho de 1962.

Brasil 0 x Tchecoslováquia 0

Data: 2/Junho/1962
Local: Estádio Sausalito
Público: 14.903
Cidade: Viña del Mar (Chile)
Árbitro: Pierre Schwinte (França)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.
Tchecoslováquia:
Técnico: Rudolf Vytlacil
Schroif; Lala, Pluskal, Popluhar e Novak; Masopust e Scherer; Stibranyi, Knosnak, Adamec e Jelinek.


Oitavas-de-Final - 3o Jogo


O Brasil decola para o bi

Nunca uma Seleção Espanhola mereceu tanto ser chamada de Furia como aquela de 1962, formada por jogadores da mais fina linhagem: Santamaria, Del Sol, Puskas, Gento, Collar. E o Brasil tinha um encontro marcado com ela no Estádio Sausalito, em Viña del Mar, no dia 6 de junho, quando sua classificação para as quartas-de-final seria decidida. Na véspera, o técnico Aymoré Moreira confirmara que Amarildo seria o substituto de Pelé. Os dois times entram em campo e é como se aquele fosse o primeiro jogo do Brasil no Mundial. A torcida acorda, cola o ouvido no rádio e escuta... Escuta um jogo tenso, difícil, dramático. A bola queima os pés de um time tão experiente como o brasileiro. A Espanha marca 1 x 0. Nílton Santos faz pênalti em Collar, mas malandramente dá um passo para fora da área. O juiz cai na conversa. Se a Furia tivesse feito 2 x 0... A seleção volta diferente para o segundo tempo. E vai para cima. Garrincha fica impossível, enlouquece os espanhóis com seus dribles. Aos 27, numa jogada sua, Amarildo empata. Aos 40, em outra jogada sua, Amarildo marca o gol da vitória. A Espanha não tem nem tempo nem ânimo para reagir. A torcida sai de sua letargia e entra no clima da Copa. O Brasil finalmente decola para o bi.

Brasil 2 x Espanha 1

Data: 6/Junho/1962
Local: Estádio Sausalito
Público: 18.715
Cidade: Viña del Mar (Chile)
Árbitro: Sérgio Bustamante (Chile)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo.
Espanha:
Técnico: Hernández Coronado / Helenio Herrero
Araquistain; Rodri, Echevarria, Pachín e Gracia; Vérges e Peiró; Collar, Adelardo, Puskas e Gento.
Gols: Adelardo aos 35min do primeiro tempo; Amarildo aos 27min e aos 40min do segundo tempo.


Quartas-de-Final


O nascimento da lenda

Desde que o jogo contra a Tchecoslováquia terminara, Garrincha vinha estranhando a deferência com que passou a ser tratado por todos. Sempre que um membro da comissão técnica ou mesmo outro jogador cruzava com ele pelos corredores da concentração vinha a inevitável pergunta: "Tudo bem, Mané?" Garrincha podia ser ingênuo, mas não ingênuo, mas não era bobo. Percebia claramente que esse repentino interesse tinha como causa a contusão de Pelé, até entao o principal depositário das esperanças brasileiras de chegar à sua segunda conquista mundial. Quando lhe pergutavam "tudo bem, Mané?", ele sabia que na verdade estavam lhe dizendo "Pelé está fora, agora é contigo, você precisa jogar por ele e por você." Só uma coisa Garrincha não conseguia entender: como ser também Pelé jogando fixo na ponta-direita? Para poder suprir a ausência do Rei, ele precisava de liberdade para correr pela direita, pela esquerda e pelo meio - onde lhe desse na veneta. Essa era a principal preocupação de Garrincha antes do jogo contra a Inglaterra, pelas quartas-de-final: como fazer para jogar por ele e por Pelé? Já os jogadores e a comissão técnica achavam que o problema de Mané poderia ser facilmente resolvido com uma boa sacudidela psicológica. Para mexer então com seus brios, disseram-lhe que o lateral inglês Flowers andara falando pelos jornais que não o deixaria fazer nada durante a partida. Foi uma maldade o que fizeram com o pobre Flowers e com toda a defesa inglesa. Porque Garrincha entrou em campo disposto a acabar com qualquer jogador de branco que surgisse a sua frente. Começa o jogo e tome drible. Dribles em Flowers, em Norman, em Wilson, em Bobby Moore. Mané está ensandecido. Corre pela direita, pela esquerda, pelo meio. Do banco o técnico Aymoré Moreira grita: "Fica na ponta para segurar o zagueiro." Garrincha finge que não é com ele. E tome drible. E tome gols. Aos 32, marca o primeiro de cabeça - logo ele que desde menino detestava cabecear -, mas a Inglaterra empata seis minutos depois. Aos 8minm do segundo tempo, Mané cobra uma falta com tanta violência que a bola explode no peito do goleiro e sobra limpa para Vavá. Aos 14min, recebe passe de Amarildo pela meia-esquerda e enfia o pé, de primeira. A bola faz uma curva infernal e entra no ângulo. Ao abraçar Didi, Garrincha brinca: "Viu, não é só você que sabe chutar assim." Falta ainda meia hora para acabar o jogo, e cada minuto tem o peso da eternidade para os zagueiros ingleses. Garrincha não sossega. Dribla, dribla, dribla. "Preparamos nosso rapazes durante quatro anos para enfrentar times de futebol. Não esperávamos um jogador como Garrincha", queixa-se o técnico inglês Walter Winterbotton no vestiário. É naquela tarde de inverno em Viña del Mar que Mané recebe o batismo da lenda e se torna um gigante, um terrível demolidor de defesas, um demônio que enlouquece os adversários com suas jogadas imprevisíveis. Para o Brasil, no entanto, ele continua apenas um anjo. Um anjo torto que faz a torcida rir e leva o país a acreditar ser simplesmente impossível não erguer de novo a taça de campeão do mundo.

Brasil 3 x Inglaterra 1

Data: 10/Junho/1962
Local: Estádio Sausalito
Público: 17.736
Cidade: Viña del Mar
Árbitro: Pierre Schwinte (França)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo.
Inglaterra:
Técnico: Walter Winterbottom
Springett; Armfield, Bobby Moore, Wilson e Flowers; Normam e Haynes; Douglas, Greaves, Hitchens e Bobby Charlton.
Gols: Garrincha aos 32min, Gitchens aos 38min do primeiro tempo; Vavá aos 8min e Garrincha aos 14min do segundo tempo.


Semifinais


Ah, Garrincha, Garrincha...

Antes da Copa, computadores previam em Moscou que a URSS seria campeã. Como a infalibilidade daqueles novos prodígios tecnológicos era inquestionável, os soviéticos passaram a ser os grandes favoritos. Assim, quando sua Seleção desmontou o miot soviético com uma vitória de 2 x 1, o Chile foi ao delírio. Se seu time fora capaz de derrotar os "cérebros eletrônicos" de Moscou, não seria o Brasil que lhe barraria o caminho. Na tarde de 13 de junho, a delegação brasileira entra no Estádio Nacional, que recebe o público recorde na Copa: 72.896 pessoas barulhentas, apaixonadas, certas da vitória. Para azar delas, porém, Garrincha descobrira contra os ingleses as delícias que existiam na parte central do campo. "É muito bom jogar por ali. A gente recebe um monte de bola", dizia. A partida começa. Mané tem pelo menos três chilenos na marcação. Para escapar dessa vigilância, ele não pára. Aos 9, faz 1 x 0 com um chute de perna esquerda, perna que sempre usou apenas para apoio. Mais tarde, Garincha explicaria o gol: "A bola veio para a esquerda, mas não dava para trocar de pé . Então chutei de esquerda fazendo de conta que era de direita." O Chile tenta equilibrar o jogo à base do entusiasmo. É pouco. Apesar de marcado com violência pelo lateral Eládio Rojas, Garrincha faz uma das mais incríveis apresentações individuais da história dos Mundiais. É dele também o segundo gol - de cabeça, aos 32. O Chile desconta no final do primeiro tempo. Logo no reinício do jogo, Garrincha cruza para Vavá fazer 3 x 1. Mais uma vez os chilenos diminuem. E mais uma vez Vavá aumenta. Quatro minutos depois, cansado de apanhar, Garrincha aplica um chute no traseiro de Rojas. Mais que violenta, a cena foi cômica. Mas Mané é expluso - pela primeira e única vez em sua carreira. O Brasil fica a um passo de seu segundo título.

Brasil 4 x Chile 2

Data: 13/Junho/1962
Local: Estádio Nacional
Público: 76.594
Cidade: Santiago (Chile)
Árbitro: Arturo Yamazaki (Peru)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amrildo e Zagalo.
Chile:
Técnico: Fernando Riera
Escutti; Eyzaguirre, Contreras, Raul Sánches e Rojas; Rodrígues e Tobar; Ramírez, Toro, landa e Leonel Sánches.
Gols: Garrincha 9min e 32min, Toro aos 41 do primeiro tempo; Vavá aos 3, Leonel Sánches (pênalti) aos 16 e Vavá aos 32min do segundo tempo.
Expulsão: Garrincha e Landa


Final


A arte de ser brasileiro

Como ganhar da forte Tchecoslváquia, na Final, sem Pelé, machucado, e sem Garrincha, suspenso? Essa era a pergunta que jogadores, comissão técnica e torcida se faziam quase à beira do pânico logo após a vitória sobre o Chile. Nos dias seguintes, os dirigentes convenceram a FIFA a absolver Mané. No entanto, um vírus comum de gripe não pôde ser convencido pelos cartolas brasileiros. Assim, com 39 graus de febre, lá está Garrincha em campo. Os tchecos não sabem disso e colocam três homens de praxe para marcá-lo. É uma partida bonita, de alto nível técnico. Aos 15, Masopust faz Tchecoslováquia 1 x 0. Amarildo, no entanto, empata no minuto seguint. Não há mais gols no primeiro tempo, mas ainda assim a torcida chilena gosta do espetáculo e aplaude os dois times. Sem poder contar com Garrincha em sua plenitude física, o Brasil encontra dificuldades para chegar o gol de Schroif até que, aos 24 do segundo tempo, Amarildo escapa pelo lado esquerdo, dá um drible seco em seu marcador e cruza para a testada de Zito. Liderada pelo notável Masopust, a Tchecoslováquia não se entrega. Corre, luta, tenta jogadas ofensivas. Mas o time tem um problema de difícil solução: embora precise atacar com mais gente, prende até três jogadores sobre Garrincha. Mané diverte-se com o dilema Tcheco. Sem poder correr por causa da gripe, passara o jogo todo apenas balançando o corpo diante de seus marcadores, que chegavam a formar uma fila bem comportada à sua frente. "Fiquei fingindo o tempo todo", lembraria às gargalhadas anos depois. Aos 33min, Djalma Santos dá um chute alto em direção à área adversária. Schroif, o bom goleiro tcheco, atrapalha-se e deixa a bola cair nos pés de Vavá. É gol, é o bi. A torcid comemora quela hegemonia que parecia inabalável. Ser brasileiro era uma arte.

Brasil 3 x Tchecoslováquia 1

Data: 17/Junho/1962
Local: Estádio Nacional
Público: 69.089
Cidade: Santiago (Chile)
Árbitro: Nicolai Latishev (URSS)
Brasil:
Técnico: Aymoré Moreira
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nílton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo.
Tchecoslováquia:
Técnico: rudolf Vytlacil
Schroif; Tichy, Pluskal, Popluhar e Novak; Masopust e Schrer; Pospichal, Kadraba, Kvosnak e Jelinek.
Gols: Masopust aos 15 e Amarildo aos 16 do primeiro tempo; Zito aos 14 e Vavá aos 33 do segundo tempo.


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