OS INSTRUMENTOS GEOFÍSICOS NÃO FUNCIONAM EM PESQUISA GEOLÓGICA:
EVIDÊNCIAS

Introdução

Vimos que, bem antes do início da aplicação dos métodos geofísicos em pesquisa geológica no Brasil, as formações geológicas da Bacia do Recôncavo já tinham sido nomeadas. São nomes antigos colocados pelos pioneiros do estudo daquela região, ainda no século XIX. Quando começaram as aplicações dos métodos geofísicos e paleontológicos, a tendência natural foi achar as formações já anteriormente estabelecidas por aqueles pioneiros. Devido às condições de trabalho daquele tempo (fim do século XIX e princípio do século XX) não foi possível fazer um trabalho geológico correto. Foi feito o melhor que se podia fazer, mas, infelizmente, foi feito de modo errado. O motivo central da dificuldade era o desconhecimento de que haviam movimentos tangenciais na crosta terrestre. Os continentes, juntos que eram no passado geológico, agora estavam separados como decorrência desses mesmos movimentos.
Dessa maneira, e pelo mesmo motivo, não somente a Paleontologia falhou no estudo dos sedimentos das bacias do Recôncavo e Tucano. Os métodos físicos também nunca funcionaram. Em outras palavras, nem a paleontologia pode determinar e datar os sedimentos estudando fósseis, nem a geofísica pode determinar as estruturas em subsuperfície. No primeiro caso porque os fósseis estão misturados e no segundo porque as estruturas postuladas não existem na subsuperfície da Bacia. Os instrumentos registravam apenas anomalias de velocidade das ondas sísmicas, devido à textura singular dos clásticos da Bacia.
A principal função da sísmica no Departamento de Exploração, era determinar a estratigrafia vigente (contato entre as formações), a profundidade do embasamento onde se assentam as rochas armazenadoras de petróleo, os blocos onde deveria estar armazenado o petróleo, os falhamentos, os dobramentos e demais estruturas. A teoria sismológica foi criada na suposição de que o instrumento poderia examinar a subsuperfície, onde era impossível a penetração humana.
Vamos continuar apreciando os prospectos, as previsões sísmicas e a constatação da realidade das perfurações feitas em diversas áreas do Recôncavo.
Nquele tempo, os principais objetivos para encontrar petróleo eram as formações Sergi e uma anomalia interpretada dos perfis elétricos chamada de Zona A as quais, também eram tidos como refletoras dos sinais sísmicos. Usando o mesmo método comparativo entre o prognóstico ou o prospecto do poço e o observado depois da construção do mesmo.
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Área de Cabeceiras

Cabeceiras é o poço-teste para verificação do acerto das críticas sobre o método geofísico. Não havendo uma prova como esta, poderiam pairar dúvidas sobre as conclusões feitas nos poços anteriormente vistos. Cabeceiras vai provar que havia erro no raciocinio exploratório.
O pioneiro é o 1-CAB-1. É um prospecto de origem sísmica, com apoio dos estudos de superfície e da gravimetria, e testaria uma estrutura de

...forma dômica secionada por falhas de pequeno rejeito com reflexão no embasamento.
O poço foi locado sobre uma estrutura conhecida entre os geólogos como Plataforma Quiricó/Limoeiro ou Quiricó/Laranjeiras, onde a Bacia, pelo que indicavam os mapeamentos sísmicos, seria rasa.
Lembremos mais uma vez, esta locação situava-se entre outros poços problemáticos comentados anteriormente, todos pendurados em sedimentos desconhecidos devido aos erros de profundidade cometidos pelos interpretes dos sinais sísmicos: 1-SU-1-BA, 1-CAL-1-BA, 1-CLO-1 e CLO-2, 1-CG-1 e 2, cujas profundidades e estratigrafias estavam indefinidas.

Este poço vai demonstrar que todos aqueles prospectos estavam errados, pois o embasamento naquela parte da Bacia não é raso. O que ocorre àquela profundidade é um conglomerado formado também com fragmentos de rocha do embasamento, fato comum em toda a Bacia.
As interpretações realizadas pelos técnicos da sísmica, sem a informação paleontológica indicavam pouca profundidade para a locação. Mas como os poços ao redor tinham problemas de estratigrafia e profundidade (mencionados anteriormente), esta deveria ser bem maior, segundo o pesquisador da estratigrafia da Bacia.
A sonda designada para o poço foi a no64 com capacidade de perfurar 3.000m.
Pelo prospecto do poço, o Sergi deveria ser encontrado aos 2.160m e a profundidade final seria a 2210m depois de penetrar 50m no Sergi.
Posteriormente, já em plena perfuração, o poço foi aprofundado para solucionar problemas estratigráficos da região pois havia polêmica sobre a existência ou não da plataforma rasa.
A sonda furou até 3.164m ultrapassando a profundidade estabelecida no prospecto e a capacidade de perfuração da mesma, sem encontrar os objetivos prognosticados inclusive o embasamento. A broca ficou pendurada em sedimentos desconhecidos, por incapacidade de penetração da mesma, demonstrando

O poço foi tamponado e abandonado como seco.
Nas atas das reuniões e no relatório final do poço, reconheceu-se que o mesmo não tinha cumprido o seu programa. A perfuração alcançou 3164m de profundidade e
...decidiu-se paralisar a perfuração em conseqüência de haver sido esgotada a capacidade da sonda. (Relatório no11 da pasta do poço).
Foram 165m além da capacidade da sonda e 1.000m(!) além da previsão sísmica para o Sergi, ficando a sonda pendurada em sedimentos desconhecidos. Não havia nenhuma plataforma, especialmente rasa e confirmava-se a total prostituição da estratigrafia usada na exploração da Bacia. A sísmica dessa vez tentou explicar-se:
A linha sísmica de refração 12-R-46 mostra no SP 12-1465, próximo a locação uma profundidade máxima do embasamento de -3000m, usando-se no cálculo a função velocidade normal do Recôncavo. O levantamento acústico do poço indica no entanto velocidade sísmica maior do que o normalmente empregado. Na interpretação de reflexão, o intérprete deu maior peso aos dados de reflexão em detrimento aos de refração, razão pela qual a previsão de profundidade foi muito menor daquela que se obteria se usasse os outros dados sísmicos disponíveis. (Documento da pasta do poço).
A tentativa de explicação justificou apenas o poço de Cabeceiras, pois não foram mencionados os outros poços furados na mesma região: Capianga, Caboclo, Subauma etc. Esses poços foram furados até pouco mais de 1.000m pela suposição de que havia uma plataforma rasa naquela região. Observar que a profundidade alcançada pelo poço de Cabeceiras poderia ter duplicado a profundidade dos outros poços, se não fosse a impossibilidade mecânica de fazê-lo, sem que se encontrasse nada do que foi prognosticado. É evidente a inexistência da plataforma rasa que qualquer geofísico que tenha trabalhado na Bacia jura que tem.
É que eles não sabem que os sinais sísmicos não funcionam.
Entretanto, se o poço tinha sido construído para comprovar-se se havia ou não havia erro, era tempo da chefia dar uma parada técnica para rearranjar o "meio do campo" como se diz em linguagem popular, ou seja, repensar o prosseguimento da exploração da bacia com apoio sísmico. Mas, a chefia do antigo SETEX era exercida por outro geofísico. Ele aceitou a justificativa dada pelo serviço da geofísica e nada fez para sanar a deficiência e o erro prosseguiu com todas as conseqüências advindas do mesmo.
Não havia qualquer explicação razoável para o comprometedor resultado verificado em Cabeceiras e pagaríamos caro por tal comportamento.

Área de Riachão

No pioneiro de Riachão, 1-RIA-1-BA, o embasamento fora previsto pela sísmica a 3.425m de profundidade, recomendando-se no prospecto uma sonda com capacidade de perfurar 4.000m.
O embasamento foi encontrado a 2.846m, 581m ou mais de meio quilômetro acima do previsto sendo este mais um exemplo da impossibilidade dos interpretes geofísicos da sísmica distinguirem, pelo menos, o embasamento de rochas clásticas.
Observar: em Cabeceiras, Capianga e Caboclo, o embasamento fora previsto raso e a sonda provou que naquela região, o embasamento continua desconhecido, pois nenhuma sondagem chegou até ele. No presente caso, o embasamento fora previsto fundo e ele apareceu raso. Veremos adiante vários desses casos, evidenciando o que queremos provar: a sísmica não funciona na previsão de estruturas na subsuperfície

Área de Cardeal da Silva

1-CDS-1-BA é o pioneiro da área. É um prospecto da sísmica que testaria uma feição dômica no bloco alto da falha de Patioba próximo ao topo do Sergi.
A profundidade final do poço foi prevista para 3.025m (-2.890m), cerca de 30m dentro do embasamento.
A profundidade alcançada foi de 3.540m (-3.405m) dentro do que foi chamado de Aliança. Foram 515m ou mais de meio quilômetro de diferença, sem alcançar qualquer dos parâmetros previstos.
Causa pasmo e admiração o relatório do grupo técnico que se reúne para apreciar os resultados do poço. Diz o relatório do grupo (documento da pasta do poço):

A interpretação sísmica foi prejudicada devido ao espessamento dos conglomerados provenientes da borda leste, culminando com erro na previsão das unidades estratigráficas, as quais foram constatadas abaixo do previsto.
Para simplificar pode-se resumir: os conglomerados não passam de subterfúgio tentando explicar o inexplicável.
Os conglomerados prejudicaram a interpretação? Ora, os conglomerados são a característica textural mais importante, expressiva e óbvia da Bacia e estão lá desde que ela se formou. Se isso prejudica ou atrapalha as interpretações, há que mudar-se o método de investigação, pois é impossível retirar de lá os conglomerados.

Área de Fazenda Imbé

FI-1

O pioneiro da área, 1-FI-1-BA é um prospecto de 1963 oriundo da sísmica que previra o Sergi a 2.200m de profundidade onde o poço deveria parar. Após a perfuração verificou-se que o Sergi fora omitido por uma falha (achada no perfil elétrico!) de 950m de rejeito, não detectada pela sísmica, passando o poço do Candeias para o Aliança fenômeno que ja víramos acontecer em Capianga e Caboclo. O prospecto de Imbé tinha sido baseado na existência de um fantasma, pois o Sergi não estava lá para responder aos sinais da sísmica, mas, mesmo assim, foi achado. Segundo o geólogo do poço, o que estava presente no mesmo, era uma falha, a qual não fora detetada pelo interprete dos sinais sísmicos. Atira-se no que se vê e mata-se o que se não vê.
O embasamento que não fora previsto, mas que deveria ser fundo (ao redor de 2.500m) foi encontrado a 1768m, ou 432m mais alto que a própria previsão do Sergi, mostrando a confusão interpretativa existente entre clásticos e embasamento. Quem poderá saber a que profundidade estará o embasamento!
Em um dos relatórios, o geólogo que acompanhou o poço sugere que

...é preciso uma revisão dos dados sísmicos e gravimétricos. Os sísmicos pela não detecção das falhas e os gravimétricos posto que tinham condenado a locação colocando-a em um baixo.

Era um poço com petróleo novo e isso era o que contava. Se ele tinha sido construído em completo desacordo com regras geológicas, pouco importava.

FI-8

Na locação de 3-FI-8 o embasamento fora previsto pela sísmica aos 2.100m esperando-se um baixo onde estariam presentes o Sergi, o Itaparica e a Zona A.
A sonda perfurou até 2.484m, quase 400m fora da previsão, onde o embasamento foi encontrado, mas não houve sinal da Zona A nem do Itaparica e muito menos do Sergi.
Outra vez não havia definição entre embasamento e sedimentos, e sem a presença dos conglomerados, ficou difícil explicar o resultado tão desajustado. Para o pesquisador a conclusão é outra: com ou sem a presença dos conglomerados a sísmica não funciona.

FI-10

Ainda no mesmo campo de Imbé, já se havia furado o poço de número 3-FI-5, o qual havia alcançado o embasamento aos 2.225m de profundidade. Em seguida foi furado o 3-FI-10, segundo a sísmica, situado no mesmo bloco do 3-FI-5. De fato, os dois poços são separados por uma distância de 1.000m no terreno e os parâmetros deveríam ser os mesmos, inclusive a profundidade do embasamento.

O 3-FI-10 alcançou o embasamento a 2.978m, com uma diferença de 753m entre os dois parâmetros de subsuperfície nos dois poços, evidenciando que eles não estavam situados no mesmo bloco, ou seja, o bloco postulado também não existia. Ele foi inventado pelos técnicos da sísmica para justificar uma locação.

FI-13

Ainda em Imbé o poço 3-FI-13-BA foi furado por que 3-FI-12 e 3-FI-8 eram portadores de óleo e

...reinterpretações sísmicas recentes suportadas (sic) por dados de subsuperfície situam os subsequentes FI-8, FI-12 e FI-13, no mesmo bloco estrutural de forma triangular com mergulho NW estando o FI-13 numa posição intermediária entre o mais alto da estrutura (FI-8) e o mais baixo (FI-12).
O esboço da figura superior dá idéia do raciocínio do intérprete.
foi designada para furar o poço, uma sonda com capacidade para perfurar 3.000m. O poço tem 3.088m de profundidade final. Esgotou e ultrapassou a sua capacidade de perfurar e ficou pendurada em sedimentos desconhecidos. O petróleo esperado também desaparecera.
Evidentemente não havia qualquer indício de realidade nos prognósticos da sísmica. As interpretações eram todas equivocadas.
O esboço inferior mostra o desastre que aconteceu naquele campo, devido à inadequação do método sísmico para fazer tal tipo de pesquisa.

Área de Jacuípe

Situada a leste da Bacia do Recôncavo. Entre outros poços foi furado o JAN-2-BA proposto pela sísmica que deveria ter a sua profundidade final aos 2.600m no Ilhas inferior.
O poço foi furado até 3.041m, 441m além do previsto, e ficou pendurado em sedimentos desconhecidos e indefinidos, por incapacidade mecânica de continuar perfurando.
Quando o furo alcançou 3.018m, os comandos foram trocados por tubos de perfuração para a coluna ficar mais leve de maneira poder continuar-se o poço.
Vinte e três metros mais profundo, aos 3041m deu-se o poço por terminado sem qualquer resultado, sendo tamponado e abandonado como seco.

Na mesma área temos o JAN-1 onde se lê no prospecto que

... as excelentes condições de trapeamento apresentadas na estrutura mapeada pela sísmica, levaram à locação do JAN-1.
O Relatório final evidencia os mesmos problemas e um parágrafo sobre os resultados sísmicos onde se lê:
2) Interpretações sísmicas postulavam para o JAN-1 um bloco baixo conforme ilustrado no mapa estrutural sísmico do topo do Ilhas inferior. Na realidade os resultados obtidos com a perfuração deste pioneiro revelaram um bloco alto contrariando aquelas interpretações.
O poço foi revestido e testado, mas é seco e abandonado. As excelentes condições de trapeamento tinham sido inventadas. Não eram reais e a sonda provou isso.

Área de Fazenda Azevedo

O primeiro poço do campo é o 1-FA-1-BA. A sísmica tinha indicado um alto anômalo do embasamento, coincidente com um alto gravimétrico. A profundidade final do poço seria de 1.892m, com 50m furados no embasamento, previsto para ser alcançado aos 1.842m. Os objetivos primários seriam as areias do Ilhas e Candeias.
A sonda furou até 2.335m - 493m além da previsão para o topo do embasamento e 135m além da capacidade de perfuração da sonda e ficou pendurado em sedimentos desconhecidos.
A sonda escalada para fazer a perfuração tinha a capacidade para alcançar 2.200m e foi bem escolhida desde que o embasamento, segundo a previsão estaria a 1842m. O Sergi, que não fora previsto, apareceu. O embasamento que fora previsto desapareceu demonstrando que a Bacia do Recôncavo, continuava a ser um mistério total para os seus exploradores! Achar petróleo era fruto, nada mais do que acaso e de muita sorte.

Ainda em Fazenda Azevedo há o poço 4-FAX-2-BA que furaria uma estrutura mapeada pela sísmica 2800m nordeste de FA-1. Tal estrutura seria 60m mais elevada que o topo do Sergi no FA-3 (2.313m). A profundidade final seria a 2.370m, com 80m dentro da formação Sergi. Diz o prospecto:

Esta locação, deverá substituir a locação sugerida pela DIVEX (Divisão de Exploração) no SP 9.7291 da 9-RL-324 em vista de que esta última cairia no lado baixo da falha de Fazenda Azevedo, e em situação desfavorável para o Sergi.
A previsão do embasamento é da ordem de 2.640m.
Furado o poço verificou-se que o Sergi estava a 2.657m onde era esperado o embasamento. O fundo do poço está a 2.737m pendurado em sedimentos desconhecidos e nem sinal do embasamento. O geólogo diz em seu relatório:
Não se confirmou a previsão sísmica de ter topado a formação Sergi mais elevada que no FA-3.
O Sergi do poço foi encontrado 314m mais baixo que no poço da correlação e o embasamento sequer alcançado.

Área de Fazenda Mangueira

Em Fazenda Mangueira 1-FM-1-BA, as previsões sísmicas para o embasamento eram da ordem de 3.600m. O poço furou até 4.704, 1.104m além da previsão sísmica, sem ter encontrado qualquer dos objetivos para que foi feito. O embasamento ficou fora da capacidade de perfuração da sonda no 14 (5.000m), ficando o poço pendurado em seção estratigráfica desconhecida. Fazenda Mangueira foi furado em 1964, quando os progressos da técnica sismológica - excelentes para à época - eram acanhados em relação aos atuais.
Vejamos um poço onde as técnicas modernas de obtenção de informações da subsuperfície já são da era da eletrônica, da informática, dos semicondutores e dos computadores.

Área de Baraúna

1-BRN-1-BA é um prospecto de 1982 e fica na Bacia de Tucano. O mapa de referência é o mapa estrutural sísmico ao nível do arenito com gás do 1-LB-1-BA. Diz o prospecto:

Justificativas Estruturais: A locação situa-se ao nível do arenito com gás do 1-LB-1-BA, em uma estrutura dômica no primeiro degrau da falha de Inhambupe em um bloco alto em relação ao da estrutura do 1-IN-1-BA e cerca de 900m mais elevada. As seções sísmicas da área são de boa qualidade e asseguram o fechamento por mergulho em todas as direções. Apenas na direção ESE o controle é precário e o fechamento se daria, em parte, contra o embasamento do bloco alto da Falha de Inhambupe.
Os objetivos principais seriam Arenitos da Fm. Candeias, Arenito Sergi e Arenito Boipeba, enquanto os secundários seriam os arenitos do Grupo Ilhas. A profundidade final prevista é de -5.100 (30m dentro do Precambriano Fm.Estância). A sonda encarregada do trabalho foi a BO-2-Brasoil com capacidade de perfurar 6.000m, e o estado final do poço é: tamponado e abandonado como seco. A profundidade atingida foi 4.995m ou praticamente 5.000m. A estratigrafia prevista mencionava as formações tradicionais (Candeias, Sergi, Aliança etc). Depois da perfuração a estratigrafia resumiu-se à formação Marizal sobre o grupo Massacará que por sua vez fica sobre a formação Salvador, um surrealismo geológico dos mais extraordinários.
Ao final da perfuração, como a estratigrafia prognosticada não tivesse sido constatada, a sísmica, para justificar-se tomou uma das mais inusitadas atitudes técnicas: para estabelecer seus parâmetros apoiou-se no problemático zoneamento fossilífero cujos resultados eram e são tão errados e irreais como os da própria sísmica.
Devido a ausência de marcos litológicos típicos, utilizou-se o zoneamento fossilífero constatado para estabelecer o posicionamento estrutural deste poço em relação ao 1-IN-1-BA. Devido a melhor resolução da seção sísmica 65-RL-031 que está a 1 km e paralelamente a seção 65-RL-069 que passa pelo poço, foram plotadas as constatações paleontológicas, em profundidade, com base no TTI etc. etc. etc.
Algo parecido com um cego pedindo ajuda de outro para atravessar uma avenida movimentada. É desastre na certa.
Os fósseis se comportam aqui, exatamente como no restante da Bacia: totalmente misturados e a ajuda que podia oferecer, atrapalha mais ainda. Nesta locação especificamente, o relatório da Paleontologia na pasta do poço, diz:
A perfuração atingiu sedimentos provavelmente pertencentes ao Andar Jiquiá a 2310m, Andar Buracica a 2490m e ao Andar Aratu a 3390m.
Observa-se ainda que o Sumário Biocronoestratigráfico do poço, exibe mais pontos de interrogação do que dados definitivos. O primeiro parágrafo informa que algumas biozonas estão ausentes. O segundo diz que vários e grandes intervalos sem fósseis, com fósseis indeterminados... devido talvez aos conglomerados. No terceiro parágrafo afirma-se:
Os limites dos andares presentes no poço são muito problemáticos, devido ao fato acima mencionado (os conglomerados).
mas, mesmo assim, os interpretes da sísmica aproveitaram as precárias informações paleontológicas para...Impossível imaginar para que!
Antes da perfuração do poço afirma-se que, as seções sísmicas são de boa qualidade... No relatório final do poço, entre outras contradições, lê-se:
As seções sísmicas não possuem a mesma resolução devido aos conglomerados que devem ter sido responsáveis pela não continuidade lateral dos refletores .
Outra vez os conglomerados seriam os culpados e (incrível que pareça) os responsáveis (sic), pela indefinição estratigráfica.

Para não tornar enfadonha a leitura deste documento, não citaremos mais exemplos. Eles podem ser examinados aos milhares nos arquivos técnicos da Estatal. Entretanto, tanto quanto se pode observar, a obtenção, interpretação e resultados dos trabalhos sísmicos são precários, tanto antigamente como modernamente, tanto ao norte como no sul; tanto a leste como no oeste da Bacia. Vez por outra, por golpes de sorte, consegue-se até achar petróleo novo.
Vale frisar que os exemplos acima citados não foram escolhidos para figurarem aqui. O fenômeno acontece em todos, absolutamente todos os poços da Bacia, o que nos leva à conclusão:

Os instrumentos geofísicos, sofisticados que sejam, são inadequados à pesquisa geológica.
Com eles encontra-se o que se quiser, inclusive formações inexistentes, contatos inexistentes, falhas inexistentes e outras estruturas também inexistentes, até que a prática das perfurações, demonstre essa inexistência.
Somente o corporativismo existente dentro do Departamento de Exploração, exercido, especialmente pelos técnicos provenientes da área da Geofísica, pode explicar que, tantos erros, nunca provocaram pelo menos, a curiosidade de outros técnicos.
Ainda hoje continua-se a trabalhar da mesma maneira dilapidando fortunas quase no limite da loucura técnica trabalho esse que levará ao abandono da Bacia.

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