É corrente que exploração de petróleo é uma atividade cara e difícil. É uma lenda que tem o reforço vindo dos orçamentos milionários das grandes multinacionais inclusive a Petrobras.
É uma lenda surgida com a crescente importância que o petróleo adquiriu como combustível para os motores da chamada Civilização do Petróleo.
Pelo meio do século XIX, sua importância se resumia a fins medicinais e iluminação pública. Essa importância cresceu muito com o aparecimento do motor de ciclo Otto em 1876 e o de ciclo Diesel em 1892, acontecimentos que marcaram, de fato, o início da era moderna e da própria Civilização do Petróleo. A necessidade dos combutíveis para os motores tornou-se crucial. A iluminação pública passou a ser feita com lâmpadas elétricas uma patente de Thomas Edison em 1880, usando máquinas a vapor como central de força, posteriormente substituidos por motores a diesel. O aparecimento dos automóveis, dos aviões, dos dirigíveis e dos submarinos só foi possível com os motores a petróleo (de combustão interna) e a vida mudou no mundo todo. A I Guerra (1914-1918) foi uma "guerra de posições" com as construções de trincheiras e poucos movimentos quando gastou-se pouco comvustível. A II Guerra trouxe a "Blitzkrieg", as surpresas, os movimentos relâmpagos e planejamentos intercontinentais. Grandes frotas atravessando os oceanos, esquadrilhas imensas de imensos aviões, tanques poderosos a correr na conquista de novas terras e os submarinos na caça dos inimigos na superfície. Os combustíveis foram apelidados "The pink blood of the war". Sem ela era a paralisia e a derrota. Acabou-se aquela guerra, vieram outras e a vida dos humanos passou a gravitar ao redor do petróleo, cada dia mais necessário. As fortunas foram feitas do dia pra noite. Quem pudesse conseguir petróleo era um novo rico e foram muitas as novas fortunas.
Essa necessidade de petróleo criou uma nova espécie de cientista, o pesquisador de petróleo... e as idéias e teorias sobre o problema começaram aparecer.
As Lendas
De fato, o petróleo nunca foi descoberto por alguém. Ele se apresentava diretamente à superfície e isso sugeria que ele deveria ser procurado na subsuperfície, mas nas imediações dos oil-seepages. A prática demonstrou que era possível achá-lo em locais onde não existiam as surgências de petróleo e a teoria caiu; posteriormente passou-se a pesquisar o tôpo das colinas, desde que o óleo deveria ocupar as partes mais altas dos reservatórios e mais uma vez a prática mostrou que era possível achá-lo também furando os vales, caindo também mais essa. Passou-se a procurar petróleo no tôpo das colinas que estivessem enterradas, de onde surgiu a Teoria de White como foi chamada a idéia de que a acumulação de petróleo se daria na parte altas dos sinclinais e assim prosseguia a saga da exploração, sempre conseguindo algum petróleo com ou sem alguma teoria de apoio. O problema seguinte seria responder como se formava o petróleo. Nasceu a idéia de que havia uma rocha que gerava o petróleo em subsuperfície; eram as source-beds que faziam o seu debut pelo princípio do século e continuam a subsistir até hoje, prejudicando uma programação exploratória eficiente.
No Brasil, especialmente na região do Recôncavo tinha-se como certo que as camadas vermelhas eram um fator impeditivo para geração de petróleo; que os fósseis poderiam identificar as formações geológicas e que as estruturas, um serviço a cargo da Geofísica, deveriam ser fechadas por falhamentos quando estariam cheias de petróleo, ou abertas quando conteriam água. Nenhuma dessas teorias se confirmou sob a prova das perfurações e aos testes de formação feitos em seguida.
O petróleo saía de intervalos onde se esperava água e saía água onde se esperava petróleo; as estruturas altas apareciam baixas e as baixas eram altas para desespero dos geólogos e a confusão aumentava a medida que se furavam os poços. Evidente que com tantos erros, o orçamento para isso designado era curto e o serviço se tornava caro e difícil.
Até hoje a Bacia é considerada um rift sem o ser; a falha limitante da Bacia pela borda leste é tida como uma falha normal, quando de fato ela é reversa e não pode ser normal por impossibilidade física.
Concorda-se como certo que dentro da coluna geológica, entre outras, haviam duas formações conhecidas como Ilhas e Candeias, mas ninguém sabia ou sabe onde ficava, ou fica o seu contato, ou seja, ninguém conseguia, ou consegue separá-las por qualquer método, tanto em superfície como em subsuperfície. O problema de contato entre as diversas formações era proverbial, mas nunca se fez qualquer coisa para saná-lo, como se isso não fosse importante para pesquisar petróleo.
Surgiram novas lendas: o Ilhas é um fácies do Candeias! Ou então as formações eram uma simples soma aritmética Ilhas+Candeias, um absurdo geológico! Os melhores reservatórios da Bacia estariam na formação Sergi e por isso os poços deriam ser profundos. Mas o petróleo surgia em qualquer formação a qualquer profundidade e ficava uma pergunta no ar: que formação seria a produtora de petróleo? Sergi? Candeias? Ou seria o Ilhas? Até inusitados e misteriosos diápiros apareceram para justificar as estranhas misturada de fósseis não contemporâneos nos mesmos sedimentos, culminando com uma espécie de consenso ou acordo de cavalheiros: o que descobre petróleo é a sonda de perfuração o que era a coisa mais importante par a Companhia. Geologia era tão dispensável quanto o era em 1885 quando surgiu a Teoria dos Anticlinais ou Teoria de White quando se dizia que Geologia jamais havia enchido o tanque de um carro.
Todas essas teorias provadamente não tinham nem têm base factual, e por isso aqui são chamadas de lendárias e o seu conjunto levou a Bacia do Recôncavo ao abandono como província produtora de petróleo que vive seus últimos anos, se depender dos técnicos da Estatal. Na realidade, todas as teorias aparecidas durante os anos de exploração da Bacia, se transformaram em erros de exploração e exploração de petróleo não pode ser feita por cima de tantos erros e tantas teorias erradas.
Feita sem os erros tradicionais, a exploração de petróleo nas bacias brasileiras é fácil e é barata. Nossa opinião é que a Bacia do Recôncavo e suas correlatas, ainda não produziram seu petróleo mais importante.
Embora sendo leitura que demanda conhecimento técnico exploratório para serem corretamente compreendidos, alguns fatos passados e havidos nas lides exploratórias da Bacia do Recôncavo, o leitor deve
ler outros arquivos para conhecer as evidências dos erros cometidos na exploração da Bacia e compreender o por quê do fraco desempenho dessa província petrolífera como região de produção de petróleo.
Anderson Caio
1. White. I.C.,The Geology of Natural Gas;V5. no125; pg 521-522;1885
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