Gilberto Rabelo Profeta
Teoria do Pensamento
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Vemos, aí, elementos trabalhados por Lévi-Strauss,
o "pensamento inconsciente" como infra-estrutura dos
sistemas sociais e um inconsciente visto como um vazio, realizando
a interpenetração natureza/cultura. Elementos de
Merleau-Ponty, com seu "homem natural", e de Lévy-Bruhl,
com seu homem primitivo. Quer Artaud partir do vazio ao cheio,
do plano do pen-samento individual ao plano do coletivo/cultura.
O organismo humano funciona em analogia com o organismo da natureza.
"Como a vida, como a natureza, o pensamento vai de dentro
até fora antes de ir de fora para dentro. Começo
a pensar no vazio e do vazio vou até ao cheio, e quando
alcanço o cheio posso voltar a cair no vazio". O
pensamento vai do inconsciente para o cons-ciente, mas a linguagem
clara o impede. As palavras preenchem o inconsciente e impedem
o pensamento. Cristalizam o pensamento e o repetimos julgando
estarmos pensando. Se Artaud quer uma linguagem baseada nos signos,
"a matéria se transforma em signos", vendo ele
uma corrente de impressões, correspondências e analogias,
quase antecipando Piaget(Probl P): "é preciso concebermos
o sistema aberto das correspondências de um lado e a organização
das percepções e ações no meio ambiente,
do outro". Artaud parte do abstrato ao concreto, do ponto de vista à coisa real, para depois retornar da coisa real ao ponto de vista. É este o mecanismo básico de seu teatro da crueldade e que pode ser trazido a uma teoria do pensamento: o pensamento deve partir do concreto ao abstrato. Insere Artaud o homem em seu contexto eco-bio-psico-sócio-cultural, matematizando em uma "equação entre o Homem, a Sociedade, a Natureza, e os Objetos". Procurando o que a ciência de sua época abandona, o pensamento sob a lógica/"abaixo a lógica" nos pareceu Artaud associacionista, adotando a te-oria da imagem para o pensamento e para o significado, em postura neoplatônica e junguiana(JH EPA). Começa em Hume que quer reduzir todo o pensamento ao sistema de imagens, e em quem viu Sartre(JPS I 15) uma noção não nominada, a do inconsciente. Não separa, porém, Hume, o pensamento da palavra. Quer Sartre o pensamento como "conjunto de significações lógicas", enquanto, para Artaud, a lógica nada tem a ver com o processo de pensar, sendo dele apenas um instrumento. Ruth Kempson(RMK TS), em seu "Teoria Semântica", condena a "teoria imagística do significado", por encontrar palavras com significado que não apresentam imagem mental. Seus exemplos, contudo, denotam apenas uma preocupação com imagem visual. Dificuldade popperiana, linha metodológica da autora: a possibilidade de pensamento por imagem não é absolutamente científica. Este o cuidado com nosso texto. Trata-se de procurar tecer um modelo do que poderia ser a concepção do pensamento em Artaud, com a convicção metodológica de que os modelos não são verdadeiros ou falsos, apenas procuram explicar fatos. Torna-se necessário procurar um campo conceitual onde visualizemos como a apreensão do sistema da realidade se transforma em conhecimento sobre a realidade e que permita explicar: a) um sistema de contradições, jogo de antinomias; b) um sistema de sínteses e ressínteses, queimar formas; c) um sistema de associações que permita um jogo de mil possibilidades; d) um sistema que funcione no teatro amplo da incerteza. |
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