3 - FELU RESOLVE COMBATER ANTÔNIO SILVINO 


Adaptado do livro Reminiscências escrito por Dagoberto em 1984   Em outra passagem de seu livro, Juvenal Lamartine referiu-se a uma das investidas de Antônio Silvino à fazenda de Januário da Nóbrega, no município de Caicó, acompanhado por "14 cabras", tendo morrido no combate que ali se travou dois deles: Azulão e Pilão Deitado.

Este acontecimento se reveste de certa importância na nossa narração, pois Felu, que na ocasião era Promotor Público em Acari, achou por bem tomar posição pessoal na perseguição a Antônio Silvino, inclusive pegando em armas.

Felu assumiu o cargo de Promotor Público do Acari em 1o de março de 1911, no governo de Alberto Maranhão, e foi reconduzido em 19 de maio de 1915, já no governo de Ferreira Chaves, cuja administração foi marcada por um sistemático combate ao banditismo imperante nos sertões.

Os cangaceiros, que antes se organizavam sem maiores dificuldades, porque contavam com a proteção daqueles a quem chamavam de "padrinhos", começaram a sofrer reveses.  Por ocasião da investida do bando de Antônio Silvino à fazenda Pedreira, no município de Caicó, de propriedade de Januário da Nóbrega, quando em refrega com a Força Pública perdeu a vida o célebre Pilão Deitado, criou-se uma inimizade com elementos da família Nóbrega, tendo Antônio Silvino selado esta inimizade com um discurso em que prometeu vingar-se.  Concomitantemente a este acontecimento, cangaceiros remanescentes foram saquear a casa de Clementino de Faria.  Mas este, avisado, mesmo sem tempo de reforçar a sua defesa, conseguiu defender-se e dispersar o bando.  Trancado em casa com a mulher e os filhos menores, Clementino de Faria armou-se de farta munição e de rifles e recolheu-se ao sótão e ficou a observar os visitantes que se aproximavam, a cavalo, guiados por um homem a pé.  Ao vê-los atravessar a ladeira próxima, disparou suas armas contra o cangaceiro que ia à frente.  Caindo com o impacto, o homem saiu arrastando-se na direção do açude, desaparecendo em seguida.  Clementino de Faria continuou a atirar, alternadamente da janela e dos oitões bloqueados, dando a impressão aos cangaceiros que estava com sua casa bem guarnecida. De fato, ao cair da noite, os cangaceiros restantes resolveram desertar.  No dia seguinte foi encontrado morto dentro do açude o primeiro bandido visado, com arma, um saco de munição, dinheiro e jóias.

As reações governamentais até então tinham sido esporádicas e os particulares,sempre receosos de perseguição, também não tomavam nenhuma atitude.  A deliberação do novo governo de combater o banditismo teve efeito contagiante.  As polícias do Acari, de Jardim do Seridó e de Currais Novos fizeram então um pacto de auxílio mútuo em caso de investida daqueles bandidos em suas respectivas áreas.

Félix Bezerra de Araújo Pereira, então Delegado de Polícia de Acari, logo organizou, com a colaboração de seu filho Felu, uma guarda de 20 homens, pertencentes às primeiras famílias do lugar, e mais três soldados, todos armados de rifles e carabinas.
 
Certo dia, Felu recebeu um bilhete de seu pai, com o seguinte recado: "Junte imediatamente o pessoal da guarda, pois Antônio Silvino está neste momento almoçando em casa de Piano Pereira, na Soledade, onde me encontro.  Poderemos capturá-lo no caminho de Picuí". Felu logo reuniu todos os voluntários e quando seu pai chegou, após ter ido despreocupado jantar em casa de Antônio Pires, na Carnaubinha, revelou ainda que Antônio Silvino, ao cumprimentá-lo e indagar seu nome e função, exigiu dele que fosse, como delegado que era, arrecadar determinada importância na vizinhança. Com a escusa maneirosa que lhe foi dada, deu-lhe as costas aborrecido.  Disfarçando, o pai de Felu conseguiu sair e apressadamente dirigiu-se ao encontro do grupo, no Acari.  Sob o comando de Felu, seguiram todos imediatamente para a garganta da Serra, onde forçosamente teriam que passar os cangaceiros.  Para atingir o objetivo, tiveram que subir a serra da Gargalheira, imenso amontoado de pedras de todos os tamanhos.  No meio do caminho ouviram um grande estampido e viram um homem a cavalo correr da sede da construção do açude Gargalheira ao seu encontro.  Era um portador de um tio-avô de Felu, José Bezerra, chefe político de Currais Novos, com um bilhete para o pai de Felu, aconselhando que retornassem, pois Antônio Silvino estava seguindo para a Paraíba, sem cometer nenhuma arbitrariedade.  Todos foram unânimes em que recuar seria covardia e seguiram adiante na perseguição ao bando do famoso cangaceiro.

Avançaram, então, por um atalho na Serra, até atingirem a estrada.  O dia ainda estava claro e puderam observar que não havia outros rastros senão de gado, mas em direção a Carnaubinha.

A convicção de todos era de que o grupo de cangaceiros ainda ali estivesse e somente seguiria adiante ao surgir da lua, como costumavam fazer os bandoleiros. 



Não perca os outros capítulos de "Felu e o Cangaço", principalmente o desfecho desta história:

1 - As Origens do Cangaço

2 - Antônio Silvino Interpela a Menina Olga Lamartine
 
4 - O Encontro Frustrado e a Retirada de Antônio Silvino
 



   

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