4 - O ENCONTRO FRUSTRADO E A RETIRADA DE ANTÔNlO SILVINO
Adaptado do livro Reminiscências escrito por Dagoberto em 1984 "De qualquer maneira já estamos incompatibilizados e só temos que avançar". Prosseguiram, então, por cima da serra, ou seja, por um atalho, chegando à dita estrada com o dia ainda claro. Diversas partes do caminho foram examinadas, para poderem entrar em posição. Nenhum rastro de gente, a não ser de gado, notava-se ali, mas na direção da Carnaubinha.
A convicção de todos era de que o grupo de cangaceiros ainda estivesse lá, donde certamente sairia ao surgir da lua (20 h), como de costume fazem os bandoleiros.
A seguir, colocaram-se 14 homens em fila, um após outro, nus da cintura para cima, à margem esquerda da estrada, cheia de grandes pedras soltas, que serviriam de abrigo e cobertura a todos, possibilitando um confronto mais seguro contra um possível revide do inimigo. O outro lado da estrada era desprezível para organizar defesa, por ser campo descoberto. Ficou convencionado que o ataque seria iniciado ao se defrontar o primeiro cangaceiro com uma árvore "catingueira", à beira da estrada. Significava essa forma de posição para o combate, que 14 homens atirariam à queima-roupa, inclusive o chefe, o único que estava a cavalo. Por outro lado, dois companheiros foram postos na retaguarda, enquanto que o restante, inclusive o pai de Felu, que ocupava importante ponto estratégico, para evitar a evasão por outra direção. Ficaram então na expectativa do que pudesse acontecer.
Não deixava de ser angustiante a expectativa, principalmente para quem, pela primeira vez, enfrentava tanto perigo de vida. Ao sair da lua, ouviu-se um tropel para o lado da Carnaubinha. Era gado que voltava da bebida. Viu-se, ao mesmo tempo, um homem a cavalo que, ao se defrontar com a árvore assinalada, foi interpelado por Felu: - Quem vem lá? - respondeu dizendo chamar-se Francisco Elviro. Felu o reconheceu e indagou-lhe sobre Antônio Silvino; respondeu-lhe que este estava jantando em casa do seu pai, na Carnaubinha, e que Thomaz lrineu o avisara de que um grupo de homens procedentes do Acari andavam a sua procura para prendê-lo com os demais cangaceiros. Esclareceu, ainda, que Antônio Silvino, tomando conhecimento de que o procuravam, saiu imediatamente com o seu grupo em direção à Paraíba. Perguntado por Felu por que estava tão nervoso, respondeu-lhe que estava com medo, porque imaginava ser Antônio Silvino o interlocutor, daí a frustração do plano de captura. Em face do fato, voltaram todos para o Acari, onde, no outro dia, ainda cedo, Felu recebeu o primeiro recado de Antônio Silvino, por intermédio de uns comboieiros que o haviam encontrado nas imediações do Picuí.
Mandava dizer a Felu que voltaria em breve para lhe ensinar a fazer emboscada e iria lhe dar uma surra com cipó-de-boi enfeitado, sendo que o castigo a infligir ao seu pai seria mais pesado. Resultado: passou-se mais de um ano, como que em guerra declarada, sem tranqüilidade, até que as forças de Pernambuco, em combate, feriram e prenderam o célebre bandoleiro.
A tropa que destroçou o bando, em 28 de novembro de 1914, no combate de Lagoa do Lage, foi comandada pelo Alferes Teófanes Torres, da PM de Pernambuco.
Depois do episódio da fuga e antes da prisão de Antônio Silvino, ninguém da guarda tinha sossego, em vista da visita prometida.
Certa noite, já tarde, ouviu-se um tiro como de rifle, fora do perímetro da rua, no Acari. Os pequenos grupos foram logo se formando pela cidade. Um deles, de que fazia parte Felu, observou, por trás da cadeia, um vulto de homem abaixado, com chapéu de palha de abas largas, que foi logo convidado a se identificar. Incontinenti, sem dar qualquer palavra, saiu numa carreira desabalada, em cuja direção o grupo fez vários disparos. No dia seguinte, encontraram-se rastros de alpercatas grandes no lugar onde estivera o vulto, e mais adiante, manchas de sangue, uma aqui, outra acolá, numa só direção, até que se perderam em procura do rio. De uma mulher de nome Maria Eloy, filha de Vicente de Moura, dona de um modesto café, ouviu-se a afirmação de que, ao despertar com o tiroteio da noite anterior, escutou um tropel a passar pela calçada de sua casa, e, ao mesmo tempo, alguém dizer: - "por caridade me carregue daqui". Até o presente, ou seja, há mais de 80 anos só resta a preservação de que esse vulto fosse um espião de Antônio Silvino. Finalmente, em 1914, quando Antônio Silvino estava preso, no Recife, Felu foi visitá-lo na cadeia pública, quando o amigo que o acompanhava perguntou ao velho cangaceiro se ele conhecia o Dr. Félix Antônio Silvino baixou a cabeça e nada respondeu.
Não perca os capítulos
anteriores de "Felu e o Cangaço":
2 - Antônio Silvino Interpela a
Menina Olga Lamartine
3 - Felu Resolve Combater Antônio
Silvino
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