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Reorientação profissional

Márcia Morás

Vera Lúcia Molineiro Dias

A expansão industrial conduziu o mundo do trabalho a novas formas de organização. O ciclo da produção é fragmentado; o indivíduo não participa de todas as etapas do trabalho da empresa. A conseqüência é a quebra do saber do trabalhador que não vê o resultado daquilo que faz.

Na atualidade as empresas estão passando por reformulações gerais na estrutura e na organização do trabalho. O mundo moderno nos impõe uma série de reflexões. Podemos constatar que os problemas e os desafios decorrentes dessa modernização são múltiplos, especialmente se considerarmos as transformações sem precedentes que vem ocorrendo desde meados dos anos 70 nas esferas econômica, política e sociocultural, configurando um processo de reorganização geral do sistema capitalista.

Entre a multiplicidade de aspectos deste vasto processo, vale referir a globalização da economia, a transnacionalização das estruturas de poder e a reestruturação do trabalho, fazendo emergir novas formas de relações no mundo.

Fazendo uma análise mais aprofundada da nossa sociedade, podemos claramente observar sua tendência a tornar-se cada vez mais pragmática e materialista. Este processo é resultado de “tal modernização” que visa a produtividade e o lucro, em detrimento do bem estar da maioria da população.

Corroborando com essa realidade surgem novos quadros sintomáticos advindos das diferentes formas de organização do trabalho. E é essa realidade que até o momento foge ao controle de profissionais ligados a área da saúde.

Cada tempo escolhe criteriosamente suas metáforas na história do trabalho. As LER (Lesões por Esforços Repetitivos) / DORT (Distúrbio Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) são as mais pragmáticas metáforas das condições do trabalho contemporâneo. Constituem um sintoma de um tripé desequilibrado no âmbito psicológico, fisiológico e organizacional. Geram polêmica nas empresas, nos sindicatos, entre os médicos, no INSS, nos Tribunais de Justiça do Trabalho, suscitando o envolvimento de profissionais da área da saúde para a detecção do problema e a busca da amenização do sofrimento dos trabalhadores acometidos pelas LER/DORT. A razão advém do fato das LER/DORT, além da sua complexidade individual, ainda estar se tornando um problema epidêmico nas empresas.

É de fundamental importância considerarmos também a constituição de complexos de subjetivação: indivíduo – grupos – máquinas – trocas múltiplas, que ofereçam à pessoa possibilidades diversificadas de recompor a corporeidade existencial, de sair de seus impasses repetitivos, e de alguma forma se re-singularizar.

Histórico das LER/DORT

“Conheci um homem, notário de profissão que ainda vive, o qual dedicou toda sua vida a escrever, lucrando bastante com isso; primeiro começou a sentir grande lassidão em todo o braço e não pode melhorar com remédio algum e, finalmente, contraiu uma completa paralisia do braço direito. A fim de reparar o dano, tentou escrever com a mão esquerda, porém, ao cabo de algum tempo, esta também apresentou a doença. Em verdade martiriza os operários o poderoso e tenaz esforço do ânimo, necessitando para o seu trabalho grande concentração do cérebro, contenção dos nervos e fibras; sobrevem as cefalalgias, corizas, rouquidão, lacrimejamento de tanto olharem fixamente o papel, conseqüências que afetam muito mais os contadores e mestres de cálculos, como assim se chamam os que se alugam aos comerciantes.”

Bernardino Ramazzini

A preocupação com as doenças ditas profissionais sempre existiu. Embora essas afecções tenham sido reconhecidas recentemente pela legislação brasileira, os primeiros registros que se tem notícia datam do século XVII. Nesta época, Bernardino Ramazzini já fazia a correlação da doença com a ocupação das pessoas.

A introdução da filosofia do Taylorismo, segundo Dejours (1997) “assinala um período que irá interferir de um modo acentuado na saúde dos indivíduos, submetendo o corpo a uma nova disciplina. O sistema Taylor neutraliza a atividade mental, o aparelho psíquico não é a primeira vítima desse sistema, mas sim o corpo. Corpo sem defesa, corpo explorado, corpo fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental. Corpo doente, portanto, ou que corre o risco de tornar-se doente“ (pág. 19).

O Taylorismo impôs aos trabalhadores novas formas de organização do trabalho, através de movimentos repetitivos, uso excessivo de força na realização das atividades, tensão, necessidade de produzir mais em menor tempo, pressão das chefias, relacionamento conturbado com os colegas e/ou superiores, medo de perder o emprego, perda de sentido nas atividades que realiza, dificuldade para perceber e respeitar os limites do próprio corpo. O corpo aparece como principal ponto de impacto dos prejuízos do trabalho.

Sabe-se que as LER/DORT, através de vários relatos médicos, são uma doença gerada pela sucessão de traumas físicos, provocadas pelas posturas inadequadas, pela exigência excessiva e pela exploração da força de trabalho. Com todas essas conclusões teríamos um diagnóstico pronto e a prevenção se bastaria apenas pelas medidas ergonômicas e pelo estabelecimento de regras quanto aos níveis de produção exigidos, pausas, diminuição da jornada de trabalho etc. Porém, apesar de uma revisão dos dados médicos disponíveis venha em um primeiro momento responder algumas de nossas questões, essa análise é insuficiente para determinar com precisão a extensão do problema.

Temos conhecimento, no entanto, que algumas empresas passaram a adotar medidas ergonômicas na tentativa de solucionar o problema, contudo o número de casos não chegou a diminuir significativamente, sendo que em algumas empresas o número não cessou de crescer.

No Brasil essas afecções foram registradas pela primeira vez em1982, no centro de processamento de dados do Banco do Brasil, em Porto Alegre. De início foram diagnosticados 9 casos que foram considerados pelo banco como sendo de trabalhadores que simularam este sintoma. Porém, no final deste mesmo ano apareceram 16 novos casos; mesmo com esse acréscimo no número de casos o banco não fazia o nexo causal de “tenossinovite” como sendo relacionadas ao trabalho (Rocha, citado por Ribeiro, Herval Pina,1997).

Somente em 1987 é que a tenossinovite passa a ser reconhecida como doença do trabalho pela legislação acidentária brasileira (Portaria 4062 de 06/08/87, assinada pelo então Ministro do Estado da Previdência e Assistência Social; Raphael de Almeida Magalhães, atendendo solicitação do movimento sindical).

No Brasil, no início da década de 90, houve um aumento explosivo nos casos de LER/DORT. O Ministério do Trabalho e Previdência Social, no ano de 1991 publica a primeira norma sobre LER. Em 1992 é a vez da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, baixar norma técnica específica reconhecendo as lesões por esforços repetitivos (LER), como doença do trabalho. Em 1993 é o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) quem publica a sua; e todas muito parecidas.

Esse Instituto que é um dos órgãos do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), dentre as diversas funções está a de SegurIdade Social, ou seja, recolher os prêmios para assegurar um determinado bem (neste caso a saúde das pessoas) e custear o prejuízo quando este ocorre, quando o trabalhador é afastado por doença ou acidente, ou quando desenvolve uma capacidade temporária ou permanente para a sua função original. Esses “benefícios” são descritos pelo Regulamento dos Benefícios da Previdência Social (RBPS), cuja redação de 1997 (decreto 2172 de 05/03/97), dedica um capítulo inteiro à questão do acidente do trabalho, definido como: “o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ... provocando lesão corporal ou perpetuação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária”. A lei considera como acidentes de trabalho as seguintes entidades mórbidas:

Ø     doença profissional (ou mesopatia): “assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante de relação anexa”. Exemplos de mesopatias: intoxicação por chumbo, mercúrio ou solventes orgânicos, as alterações auditivas causadas pelo excesso de ruído etc, ou seja, aquelas que possuem nexo causal presumido.

Ø     doença do trabalho (ou tecnopatia): são as adquiridas ou desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, mas cujo nexo causal não é presumido, e deve ser provado.

Ø     condições equiparadas ao acidente de trabalho: outros acidentes no trabalho não diretamente relacionados à atividade realizada, acidentes de trajeto etc

Por ser as LER/DORT uma doença cujo reconhecimento é recente, existe por parte dos profissionais ligados à área da saúde uma dificuldade no estabelecimento do seu nexo causal (trabalho x doença).

O nexo causal da doença com o trabalho é uma dificuldade a que o trabalhador está sujeito quando o médico que o examinou não estabelece a correlação; as empresas por sua vez se negam a emitir o CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) documento imprescindível para que o trabalhador receba os benefícios previdenciários.

O Ministro da Previdência Social, através do Diretor do Seguro Social, fez publicar no Diário Oficial da União, o novo texto da Norma Técnica da LER, rebatizada de DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (OS/DSS/INSS nº 606 de 20/08/98).

Essa Ordem de Serviço nº 606 propõe uma serie de modificações que não se restringem a sua denominação, mas sim a diminuição de concessão de benefícios acidentários. Algumas mudanças que atingem o direito do trabalhador, merecem destaque como por exemplo:

Ø     quanto à emissão do CAT (Comunicação por Acidente de Trabalho), deverá ser emitida apenas com diagnóstico firmado da doença ocupacional. Já na antiga Norma Técnica (1993) a CAT deveria ser emitida mesmo na suspeita, nos casos iniciais, para evitar a evolução da doença.

Ø     quanto ao nexo de causalidade, a OS (Ordem de Serviço) nº 606 cria um novo critério para aferição da incapacidade para o trabalho: o Nexo Técnico. Conceitua o nexo técnico como a relação entre o “diagnóstico e o trabalho”; e, o nexo causal a relação entre a “clínica com etiologia”. Para caracterizar o nexo técnico o perito médico deverá estabelecer a “correlação entre a afecção e a execução do trabalho”. (o nexo causal foi descartado nessa OS).

Outro ponto bastante importante é quanto ao critério epidemiológico, na OS nº 606, o aparecimento da lesão em outros trabalhadores também não é considerado na avaliação da causalidade, já na N.T. (Norma Técnica) anterior o critério epidemiológico reforçava o vínculo de causalidade.

As LER/DORT obrigam o indivíduo a dar uma parada em sua vida, leva a um questionamento, a uma reflexão sobre si, e as mudanças significativas que ocorrem no seu modo de vida. Essa pessoa não é apenas aquela que tem um membro que doe, mas sim aquela que sofre.

Para uma investigação mais detalhada do trabalhador lesionado, é necessário fazer uma análise do problema que nos leve a um diagnóstico amplo que envolva essas três abordagens: a doença; o trabalhador com suas características individuais e o trabalho, com sua organização e divisão dentro da empresa.

Qualquer trabalho com as LER/DORT exige uma equipe multidisciplinar, trabalhando sobre os diferentes aspectos que envolvem esta questão.

Para uma melhor compreensão das LER/DORT, partiremos de um enfoque tridimensional do referido problema: a análise clínica; a psicológica; e a organizacional.

Em relação a questão clínica podemos dizer que as LER/DORT provavelmente são afecções advindas do trabalho, causando dor e incômodo demasiado, sobre o qual os trabalhadores não têm controle.

Segundo Antônio Lopez Monteiro (1995), promotor de Justiça de acidente do trabalho do Estado de São Paulo, as LER/DORT classificam-se em quadros clínicos específicos e inespecíficos. Os quadros clínicos específicos comprometem tendões, músculos ou nervos (bursite, cisto sinovial, síndrome do túnel de carpo etc.).

Em um primeiro momento o indivíduo sentirá, sensação de peso e desconforto no membro afetado. Aparecem em caráter ocasional durante o trabalho, não interferindo na produtividade.

Já em uma outra etapa a dor será mais persistente e mais intensa, aparecendo durante a jornada de trabalho de modo intermitente.

Em seguida a dor passa a ser persistente, mais forte e com irradiações definidas; nesta etapa há sensível queda da produtividade, e o retorno a atividade produtiva é problemático. Assim, acentua-se cada vez mais este quadro até que a capacidade de trabalho fica anulada, onde a invalidez se caracteriza por uma impossibilidade de um trabalho produtivo regular.

A maioria das lesões em LER/DORT, localizam-se nos segmentos superiores do aparelho locomotor. As partes mais afetadas pela ordem são: os punhos, as mãos, os ombros, os braços, comprometendo freqüentemente o pescoço e coluna vertebral.

As LER/DORT, se expressam das mais diferentes formas. Os sintomas, e os padrões clínicos, freqüentemente são vagos e inespecíficos; várias estruturas podem estar comprometidas, isoladas ou associadamente (musculares, esqueléticas e nervosas) e as queixas dos pacientes podem não traduzir a extensão da lesão.

Vários são os fatores que contribuem para a evolução da doença, a manutenção dos mecanismos geradores das lesões, emprego de procedimentos terapêuticos não apropriados e a não adesão por parte dos adoecidos às propostas de reabilitação.

No exame clínico fatores tais como: intensidade da dor, da inflamação, da incapacidade funcional, da duração em que ocorre os episódios da dor são de fundamental importância no diagnóstico. A dor pode ser classificada em episódios, agudos e crônicos.

A dor crônica é persistente, geralmente vaga, e agravada por estressores físicos ambientais ou psicogênicos, gerando incapacidade para as atividades profissionais, sociais e familiares. Esses fatores associados produzem nos indivíduos ansiedade e depressão.

Como é sabido, as lesões das LER/DORT, são causadas por traumas sucessivos, e a sua permanência podem levar a cronicidade da doença e até mesmo a sua irreversibilidade.

Muitos são os aspectos da fisiopatologia e sintomas das LER/DORT. Esses estudos carecem de maior aprofundamento, porém apontam para a diferença de reações entre os indivíduos que compõem a população que adoece, e aqueles que não adoecem; (aparentemente sujeitos as mesmas condições e estímulos).

Outra particularidade das LER/DORT é quanto a sua prevalência no gênero feminino. Algumas justificativas apontam para a menor capacidade do sistema músculo-esquelético, frente as tarefas no trabalho e no lar (dupla jornada), alterações hormonais e maior labilidade emocional.

Sabe-se que em relação as LER/DORT na maioria dos casos, e principalmente em suas fases iniciais, os exames complementares podem apresentarem-se normais. Esse fato que pode induzir o médico à questionar a veracidade das queixas dolorosas. Esses pacientes por não apresentarem lesões passam a serem vistos como simuladores de sintoma. Esta questão não deve ser negligenciada mas sim investigada. Quais seriam as causas que contribuem para que o indivíduo simule o sintoma?

Análise Psicológica

Os questionamentos acerca do problema são muitos. Ângelo dos Santos Soares nos remete a tais questões: “por trás dos computadores, nos bastidores da informática, homens necessários para que as máquinas realizem seus feitos notáveis: enfrentam as doenças operacionais (tenossinovite), o stress, as angústias e os baixos salários. Será a profissão do futuro — o trabalho informático — mais um mito da modernidade”?

Durante as pesquisas bibliográficas encontramos dúvidas apresentadas por profissionais pioneiros nas discussões dessas lesões, assim como aqueles envolvidos no seu trabalho e prevenção quanto a gênese das LER/DORT. As dúvidas apresentadas por esses profissionais ligados à área da saúde, nos remeteram a seguinte reflexão: quais seriam os fatores de ordem psicológicas que comporiam a gênese das LER/DORT?

Quando falamos em LER/DORT, automaticamente nos reportamos a dor, que pode servir de sinal que “algo” não vai bem com aquele trabalhador, podendo agir como uma válvula de escape, como um meio para solucionar um problema.

A IASP (International Association for the Study of Pain) define dor como uma experiência sensório e emocional desprazeirosa, com dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos. Consideram fenômenos emocionais na composição da dor, desencadeados por fenômenos sensório, na maioria dos casos, onde a magnitude da lesão tecidual que provocou a sensação não guarda relação direta com a intensidade da dor. Logo a intensidade, assim como outras características de sua dimensão são sempre subjetivas.

A subjetividade é de extrema importância nesse contexto. Subjetividade é modo ou modos de ser do sujeito. Sendo assim a avaliação clínica é sempre baseada nos relatos do trabalhador, e não raro o profissional pela subjetividade da dor, deparar-se com dados que o intrigará.

Marilena Chauí (1997), faz uma interessante observação referente a essa questão ; onde a sua preocupação não é com as novas formas de subjetividade, mas sim com novas formas de sociabilidade, porque é nelas que uma subjetividade é moldada e plasmada...e pergunta: “o que pode ser uma nova sociabilidade da classe trabalhadora, quando, em decorrência da forma atual do capital e da revolução tecnológica, ela perdeu todos os referencias de identidade de classe (portanto, de sua subjetividade) e seus referenciais de espaços e tempo... que nova subjetividade coletiva pode ser criada numa sociedade que se assenta sobre o desemprego estruturalmente, mas continua valorizando moralmente o trabalho e por isso desmoraliza, humilha, degrada o desempregado, e que julga todo trabalhador um desempregado em potencial e, como tal descartável...? (pág. 18).

A primeira sintomatologia apresentada pelos indivíduos, acometidos pelas LER/DORT é o sintoma (dor), que é uma sensação carregada de emoção, reflete um estado fisiológico e afetivo, portanto, é um fenômeno subjetivo. Essa afecção relacionada ao trabalho e com características próprias, vitimizam o trabalhador em plena fase produtiva prevalentemente abaixo dos 40 anos, e portanto com expectativa de vida elevada, acarretando enormes custos aos sistemas de saúde e seguridade social, e principalmente possíveis danos à nível psicológico advindos do referido problema.

O indivíduo não vive em um mundo isolado, é parte integrante e atuante do contexto cultural, familiar e social. É através dessas integrações objetivas que o cidadão passa a fazer as suas apreensões subjetivas. É neste contexto que a intersubjetividade vai sendo construída, criando ao homem a possibilidade individual e coletiva de pensar, agir e relacionar-se com o mundo em que vive.

Análise Organizacional

Com a Revolução Industrial e mais especificamente nas últimas décadas com a introdução de novas tecnologias nos postos de trabalho registrou-se um aumento nos casos de LER/DORT, que se deve a vários fatores: a mecanização e a informatização, o ritmo de trabalho acelerado, a redução da flexibilidade do tempo, o aumento da produtividade, a pressão das chefias, a constância nos movimentos realizados etc.

Por todas essas razões e outras as quais ainda carecem de investigação, é que enfatizamos; a tecnologia não é neutra, existindo um entrelaçamento entre os seus procedimentos e o homem que a utiliza.

O trabalhador de LER/DORT, sofre inúmeras transformações que lhe são impostas pela doença. Esse indivíduo fora do seu contexto de trabalho, modifica a sua maneira de ser, onde aquilo que reconhecia como seu, perdeu totalmente o sentido, os seus referenciais são alterados de forma abrupta e a sua identidade perde-se nesse ambiente desconfirmador ocasionado pela doença

Segundo Sato e cols.(1993), devemos focalizar a relação sujeito / trabalho levando em conta o ambiente concreto em que os indivíduos estão inseridos, as relações sociais que estabelecem entre si e os efeitos dessas relações (e do ambiente construídos por elas) sobre a subjetividade.

Significa considerar também os processos históricos e socioculturais, que determinam os fenômenos estudados. Fatores sócio-econômicos, como a progressiva industrialização aliada ao sedentarismo da sociedade moderna, levaram ao aumento da prevalência das doenças crônicas do aparelho locomotor relacionadas ao trabalho.

Neste projeto de Orientação Vocacional / Profissional, o público alvo será trabalhadores, que por estarem adoecidos estejam afastados temporariamente ou definitivamente de seus postos de trabalho.

Utilizaremos dois instrumentos metodológicos, um questionário e entrevistas (inicial e final). O questionário será aplicado quando da entrevista inicial, as sessões serão individuais com duração de uma hora. Como o projeto prevê a formação de dez grupos, com doze participantes em cada um deles, serão realizadas cento e vinte entrevistas iniciais.

O questionário será compacto com perguntas fechadas, auto-aplicável às pessoas que tiverem condições de escrever. Já para os indivíduos incapacitados do ponto de vista da escrita, o questionário será aplicado pelas próprias psicólogas. As perguntas abordadas levarão em consideração alguns itens como: idade, sexo, estado civil, grau de instrução, qual o posto de trabalho, quais as características da empresa, qual a ocupação, quanto tempo na função, ritmo de trabalho, atividades extras, como faz uso das horas de lazer, como estabelece suas relações no trabalho e fora dele etc.

A entrevista possibilitará o estabelecimento do vínculo, para uma posterior intervenção e nesse contexto estaremos firmando nosso “contrato de trabalho”. No tópico objetivos específicos está detalhado como serão utilizadas as informações colhidas nesta etapa inicial.

Após as entrevistas montaremos os grupos para início do trabalho de Orientação Vocacional / Profissional. Para o seu desenvolvimento utilizaremos técnicas lúdicas, dinâmica de grupo, role-play e discussões dirigidas, como também a aplicação de questionário de interesse.

Através de jogos que objetivarão a construção de projetos de vida, daremos ênfase as seguintes relações:

Ø     sujeito x sujeito

Ø     sujeito x trabalho

Ø     trabalho x sujeito

Ø     sujeito x “projeto de vida”

Ainda que essas relações focalizem a mesma problemática, possuem características próprias determinadas pelo contexto onde foram desenvolvidas e pelos indivíduos envolvidos.

Priorizamos o trabalho em grupo, por considerarmos um dispositivo ideal para que trocas de sentimentos, de idéias, e de informações aconteçam. E é a partir dessas possibilidades, que o indivíduo passa a se perceber e a refletir o “seu estar no mundo”.

Apesar de ser uma intervenção, não deixará de ter o caráter de pesquisa, assim a partir das relações acima estaremos levantando os dados abaixo:

Ø     no campo da análise da organização do trabalho, para investigar os diversos fatores causais das LER/DORT, e as associações para o desencadeamento da doença, assim como as condições do trabalho que possam ter ocasionado a lesão,

Ø     a investigação se estenderá para as repercussões psicossociais na vida dos trabalhadores, o que a doença causou e quais as influências da organização trabalho no comportamento desses indivíduos,

Ø     analisar em que momento da suas vidas apareceu o sintoma e se estabelece alguma correlação consigo mesmo para o acometimento das LER/DORT.

Na etapa final serão realizadas as devolutivas (individuais) aos participantes, contemplando um total de cento e vinte atendimentos.

Ao finalizarmos o trabalho, cruzaremos os dados obtidos para perceber alguns fatores, tais como:

Ø     houve reinserção ao mercado de trabalho?

Ø     qual o nível de satisfação?

Ø     voltou a trabalhar na mesma função, ou na mesma empresa, ou houve mudança?

Ø     as possibilidades criadas durante os grupos, em relação ao trabalho?

A avaliação do trabalho que será colocado em análise será pautada nos efeitos produzidos.

Todos os dados obtidos no transcorrer do trabalho, serão compilados para uma futura publicação.

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