Você é doador de órgãos?
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Introdução
Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na substituição de um órgão ou tecido, irremediavelmente doente, que compromete a vida de uma pessoa (RECEPTOR) por outro órgão ou tecido de outra pessoa chamada de DOADOR(A), com órgãos ou tecidos sadios. Doador e Receptor devem compartilhar uma série de características biológicas comuns, como grupo sanguíneo e tamanho do órgão, por exemplo.
Um órgão ou tecido transplantado é chamado de enxerto. Conforme a origem do enxerto, o transplante pode receber as denominações de:
- Autotransplante (auto = próprio) ou transplantes de tecido de uma parte para outra do corpo da mesma pessoa, situação em que não ocorre rejeição;
- Isotransplante (iso = idêntico) ou transplantes onde o doador e o re-ceptor são gêmeos, ou seja, geneticamente idênticos. Também não ocorre o problema de rejeição;
- Alotransplante (alo = outro), isto é, transplantes onde o doador e o receptor são da mesma espécie, mas geneticamente diferentes. É, sem dúvida, o mais comum dos transplantes;
- Xenotransplante (xeno = estranho) ou transplantes entre espécies diferentes, por exemplo, o transplante de um órgão de porco para um ser humano.
Embora alguns historiadores vejam na mitologia alguns antecedentes de xenotransplantes, por exemplo, o minotauro (homem com cabeça de touro), a esfinge (leão com cabeça de mulher), a referência mais antiga é de um documento indiano de 700 antes de Cristo que cont[em descrições de métodos de reparação de partes do corpo, em especial nariz e ouvido através de auto-transplantes aproveitado tecidos vizinhos a estas partes. Posteriormente, surgem outras referências aos "cirurgiões" chineses Pien Chi'iao e chinês Hua-To, que viveram entre 136-208 d.C, a quem se atribui a realização de transplantes de órgãos, inclusive de coração. Outra referência histórica é aos médicos gêmeos Cosme e Damião, que por volta do ano 280 realizaram um transplante de perna de um doador cadáver. Por esse e outros milagres Cosme e Damião foram elevados a categoria de santos da igreja católica. Na iconografia eles aparecem realizando o transplante, com uma característica especial de que o doador era negro e o receptor branco.
Veja aqui Uma Breve História dos Transplantes mais completa.
Mas uma das contribuições mais importantes para os transplantes foi a do médico francês Alexis Carrel (1873-1954), no início do século XX, que desenvolveu pesquisas, principalmente relacionadas com cirurgia experimental e transplantes de órgãos e tecidos. Em 1912 ele desenvolveu a técnica de anastomose de vasos sanguíneos e em 1910 demonstrou que esses vasos poderiam ser armazenados por períodos relativamente longos para posterior uso em cirurgias de transplantes. Em 1908, desenvolveu a técnica par o transplante de um órgão inteiro e em 1935, em colaboração com Charles Lindbergh, desenhou uma máquina para suprir com nitrogênio um órgão separado do resto do organismo. Charles Lindbergh, o primeiro aviador a fazer a travessia do atlântico, ajudou na parte mecânica do dispositivo. Os principais aspectos desse trabalho foram apresentados e discutidos no livro "The Culture of Organs". Carrel foi o ganhado do Nobel de Medicina de 1912.
O primeiro transplante de órgão, realmente de sucesso foi realizado em 1954, em Boston, Massachusetts, EUA. Os rins de um gêmeo univitelino foram colocados no outro por uma equipe de cirurgiões liderada pelo Dr. Joseph Murray, posteriormente laureado com o prêmio Nobel de Medicina. Desde então, o transplante renal tornou-se um tratamento de escolha para aquelas pessoas com insuficiência renal irreversível.
Na década de 40, o médico russo, Demikhov, testou várias técnicas de transplante de coração em cães e em 1964 ocorreu a primeira tentativa de transplante cardíaco em humanos quando James Hardy, na Universidade de Jakson (Mississipi, EUA) fez o transplan-te do coração de um macaco para um homem. O coração bateu apenas por uma hora.
O primeiro transplante de pulmão foi realizado em 1962, ano em que também foi realizado o primeito transplante de fígado em Denver, Colorado, EUA.
Em 3 de dezembroa de 1967 na cidade de Capetown, África do Sul, o Dr Christian Barnard realizou o primeiro transplante de coração oficialmente reconhecido. O receptor, Louis Washkansky, recebeu o coração de Denise Darvall, uma mulher com cerca de 25 anos que sofrera um acidente de automóvel com ferimentos fatais. Ela morreu logo após dar entrada no hospital. Barnard, em uma cirurgia com duração de cinco horas, trocou o coração doente de Washkansky's pelo coração sadio de Denise. Washkansky's sobreviveu somente dezoito dias. Morreu em decorrência de uma pneumonia dupla, desenvolvida por causa do seu sistema imunológico deprimido como resultado do uso de drogas para evitar a rejeição ao coração novo.
Um mês após, Barnard aplicou o mesmo procedimento para salvar a vida de Dr Philip Blaiberg, que sobreviveu por 18 meses.
O feito de Barnard desencadeou, como era de se esperar, em todo o mundo, as mais acaloradas opiniões relativas aos aspectos científicos, morais e éticos da sua cirurgia. Em 1968 foi realizado o primeiro transplante cardíaco na Europa, onde o receptor, francês, sobreviveu por apenas três dias. No mesmo ano, realizaram-se cerca de 100 transplantes cardíacos, inclusive no Brasil. 75 dos receptores morreram antes de completar um ano. Essa baixa taxa de sobrevida, então obtida, causou desânimo e praticamente interrompeu os transplantes cardíacos. Na época, Barnard afirmava que a possibilidade de transplante cardíaco trazia uma nova onda de esperança que não poderia ser abalada pela curta sobrevida dos primeiros pacientes.
Barnard morreu em 2 de setembro de 2001, aos 78 anos, de um ataque cardíaco.
No Brasil, o primeiro transplante cardíaco ocorreu nessa época, em 26foi realizado em maio de 1968 por uma equipe chefiada pelo Prof. Euríclides Zerbini, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Foi também o primeiro transplante cardíaco da América Latina e o décimo sétimo no mundo. O receptor, João Ferreira da Cunha, mais conhecido como João Boiadeiro, de 23 anos, morreu 18 dias depois também por causa de rejeição.
Depois de João Boiadeiro, em 1969, Clarismundo Praça foi transplantado em São Paulo, pela mesma equipe do Dr. Zerbini. Sobreviveu por oitenta e três dias.
A falta de remédios para combater o problema da rejeição levou a um retrocesso nos transplantes cardíacos em todo o mundo. Nos anos 70, o número de transplantes de coração caiu para 20. A solução veio em 1972, com a descoberta da substância Cyclosporin A. De 1970 a 1983 não foram realizados transplantes cardíacos no Brasil.
Na década de 80, os trasplantes tiveram um novo impulso. Em 1983 foi inicida a "era moderna" dos transplantes no Brasil. O primeiro transplante cardíaco brasileiro depois da Ciclosporina foi realizado em junho de 1984, por uma equipe chefiada pelo médico Ivo Nesralla, no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O receptor, Ari Zagar, sobreviveu apenas 84 horas.
Em março de 1985, o Instituto do Coração de São Paulo reiniciou as cirurgias de transplante cardíaco naquele Estado, sob a coordenação do cirurgião Adib Jatene. O paciente, Carlos Ferro, sobreviveu até agosto de 1988.
A partir daquele ano, consolidaram-se no Brasil, notadamen-te em São Paulo e Rio Grande do Sul, as cirurgias de transplante de coração. Hoje existe um grande número de receptores transplantados há mais de dez anos. Em média, a sobrevida no primeiro ano após o transplante é de 90% , no quinto de 75% e de 55% para dez anos.
Estima-se que, atualmente, mais de seiscentas mil pessoas, em todo o mundo, encontram-se nas listas de espera por um transplante de órgão ou tecido. A lista de coração é a menor delas, porque a maioria dos candidatos morre antes de conseguir um doador. O meu filho, antes de partir, integrou essa estatística, deixando muita saudade.
Os transplantes de órgãos no Brasil foram iniciadas em 1964, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quando Sérgio Vieira Miranda, 18 anos, portador de pielonefrite crônica, recebeu um rim de uma criança de nove meses, portadora de hidroce-falia. Segundo o Jornal do Brasil de 18 de abril de 1964, participaram do transplante os cirurgiões Alberto Gentile, Pedro Abdalla, Carlos Rudge, Oscar Regua, Antônio Carlos Cavalcante e Ivonildo Torqua-to. Entretanto, o título de pioneiro dos transplantes renais no Brasil é atribuído ao Dr. Emil Sabbaga, que iniciou esse procedimento em 21 janeiro de 1965, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com um transplante entre vivos irmãos.
Atualmente, cerca de vinte e cinco diferentes partes do corpo humano estão sendo, rotineiramente, utilizadas para transplante: inner ear, glândulas, vasos sanguíneos, tendões, cartilagem, músculos, testículos, nervos, pele, ossos, medulla óssea, sangue, válvulas cardíacas, coração pulmão, fígado, rim, pâncrea, intestino.
O fantástico desenvolvimento da tecnologia médica, em especial nos últimos quarenta anos trouxe como resultado o aumento na esperança de vida o que, por sua vez, influencia o crescimento demográfico com reflexos em vários outros aspectos sociais e econômicos e tem tido uma repercussão importante na prevalência de doenças crônica-degenerativas, sem outra alternativa de tratamento que não seja um transplante de órgão ou de tecido.
Em alguns casos (coração, fígado, pulmão) é a única alternativa, mas em todas as situações os transplante oferece a possibilidade de uma melhor qualidade de vida do que outros tratamentos. O exemplo mais marcarte é o transplante renal, cujo tratamento alternativo é a diálise (hemodiálise ou diálise peritonial). O transplante de rim tem a vantagem social de ser mais barato e, o mais importante, a chance de reintegrar a pessoa totalmente à sociedade.
Os transplantes podem ser realizados com órgãos ou tecidos provenientes de doadores vivos relacionados (pai, mãe, irmãos, filhos), não relacionados (cônjuge, por exemplo) ou de cadáveres. Os transplantes de órgãos ímpares (coração, pulmão e pâncreas, intestino, etc.) somente podem ser realizados com enxertos provenientes de cadáveres. Essa regra também, até há pouco tempo, era válida para os transplantes de fígado e de pulmão, mas já estão sendo realizados transplantes hepáticos e pulmonares intervivos, nos quais são retiradas apenas pequenas partes do fígado ou do pulmão de um adulto para o implante em uma criança, com resultados muito animadores. Surpreendentemente, existe também transplante de coração com doador vivo. Ele ocorre em algumas situações em que o receptor com doença pulmonar recebe um transplante duplo de pulmão-coração e o seu próprio coração é implantado em outra pessoa. Essa modalidade de transplante é denominada de transplante dominó.
Um transplante dominó também ocorre quando uma pessoa, recebe um fígado de um doador cadáver (ou parte do fígado de um doador vivo) e o seu fígado é implantado em outra pessoa. Nessa modalidade de transplante pode ocorrer que mais de uma pessoas sejam beneficiada com o fígado do doador/receptor, já que o fígado pode ser dividido em mais de uma parte para ser implantado. O que possibilita esse tipo de transplante é que a doença que promoveu a necessidade do transplante da pessoa que também fez a doação do fígado somente se desenvolverá no(s) outro(s) receptor(es) 15 ou 20 anos mais tarde
Transplantes como de medula óssea são sempre realizados com doadores vivos, mesmo que em alguns casos sejam também realizados com células provenientes do cordão umbilical. A medula óssea tem a capacidade de rápida regeneração, o que não causa nenhum problema para o doador.
Os transplantes têm o objetivo de salvar vidas (coração, fígado, pulmão e medula óssea) e/ou de melhorar a qualidade de vida de pessoas com doenças terminais ou crônicas incapacitantes. O transplante de rim, por exemplo, retira a pessoa do martírio da diálise, que interfere profundamente em sua vida emocional e produtiva, enquanto os transplantes de pâncreas, ou de rim/pâncreas combinado, podem salvar os pacientes diabéticos da insuficiência renal e da cegueira. Acrescente-se a isso os benefícios agregados com o fim da constante injeção de insulina e do rígido e estressante controle da dieta alimentar. É possível imaginar que nesse momento alguém esteja vendo esta página graças a um transplante de córneas.
Quase todas as doenças que levam a uma situação de falência completa de um órgão ou de um tecido e quando as terapias médicas ou cirúrgicas convencionais já não são mais eficazes, têm como última alternativa de tratamento um transplante. Para muitos, o transplante significa literalmente o renascimento. Para outros, a possibilidade do retorno a uma vida normal. Já é uma rotina na prática de muitos hospitais em diversas partes do mundo, mas guarda o aspecto de ser o único tratamento médico que depende da população em geral para ser operacionalizado.
Quem precisa de um transplante?
Não é o propósito dessa página descrever as doenças que levam a uma indicação de transplante, mas algumas indicações são necessárias. Os transplantes são indicados para resolver os problemas de mal funcionamento de um órgão, cuja causa, em geral, tem como base as doenças a seguir indicadas.
Coração
Tipicamente, quem precisa de um transplante de coração são pessoas, em geral entre 15 e 50 anos de idade, com insuficiência cardíaca grave, que não respondem ao tratamento médico-cirúrgico convencional. Depois do câncer, a causa de morte mais comum, em muitos países, é a doença coronariana, que é uma importante causa de insuficiência cardíaca e, portanto, uma indicação freqüente de transplante.
A miocardiopatia dilatada idiopática é uma outra condição que resulta em insuficiência cardíaca grave. No Brasil, uma causa importante de miocardiopatia dilatada é a doença de Chagas.
As pessoas com insuficiência cardíaca grave apresentam-se cansadas, com falta de ar ao menor esforço ou mesmo em repouso e, em geral, com inchaço (edema) nas pernas e nos tornozelos.
Rim
A Insuficiência Renal Crônica Terminal causada por Glomerulonefrite, Pielonefrite, Doença cística, Nefropatia diabética, Doença vascular renal ou Hipertensão arterial é a causa básica de indicação de transplante renal. O transplante de rim é indicado na insuficiência renal terminal, quando a função dos rins é inferior a 10% da sua capacidade de funcionamento.
O transplante de rim não é a única maneira de se lidar com a insuficiência renal crônica terminal. Existe a alternativa da diálise, que substitui artificialmente a função excretora dos rins. Na Hemodiálise, o sistema circulatório da pessoa é conectado a uma máquina de diálise onde o excesso de uréia e outros resíduos passam do sangue para um líquido apropriado. Em geral, esse processo leva de três a cinco horas e tem que ser repetido três vezes por semana, geralmente em um hospital ou clínica especializada.
Outra forma de diálise é a peritonial ambulatorial contínua (DPAC ou CAPD), na qual um cateter fica permanentemente fixo ao abdômen. A própria pessoa introduz o líquido da diálise para a cavidade abdominal e a difusão dos resíduos (uréia e outros) se desenvolve no peritônio. A cada seis horas o líquido é trocado por um novo, processo que dura de 30 a 40 minutos. Nos intervalos a pessoa exerce as suas atividades normais. A principal complicação dessa modalidade de diálise é a infecção peritonial que pode ocorrer, em geral, como conseqüência de contaminação durante o manuseio do material utilizado.
Fígado
Os transplantes hepáticos tornam-se necessários quando a insuficiência do órgão atinge um grau incompatível com a vida. Essa situação pode ser resultado de diversas condições, sendo a principal delas a cirrose que é, por sua vez, causada, na maior parte dos casos, por alguns tipos de hepatite ou uso abusivo do álcool. O câncer hepático primário é considerado uma indicação para trans-plante de fígado, embora a malignidade apresente tendência a produzir metástases. Câncer hepático secundário, ou seja, provenien-tes de outras partes do corpo, não é indicação para transplante.
Pulmão
As pessoas portadoras de quaisquer uma das se-guintes doenças são potenciais candidatos a um transplante pulmonar: unilateral (Fibrose pulmonar idiomática ou secundária, Enfisema pulmonar, Hipertensão pulmonar primária ou secundária) ou bilateral (Bronquiectasias, Doença bronco-pulmonar obstrutiva crônica - DBPOC - e Fibrose cística).
Pâncreas
O transplante de pâncreas tem sido utilizado em três situações em pacientes diabéticos do tipo 1:
- Pacientes diabéticos que já receberam um transplante renal prévio, neste caso já estão utilizando a imunossupressão: transplante de pâncreas após o transplante de rim;
- Pacientes diabéticos com doença renal grave, em diálise, necessitando de transplante renal: transplante simultâneo de rim e pâncreas;
- Pacientes diabéticos sem insuficiência renal e com diabete de difícil controle: transplante isolado de pâncreas.
Córneas
A Ceratocone, uma deformidade da córnea que forma um cone, é uma das principais causas de indicação de trans-plante de córneas. Em geral, não ocorre rejeição.
Medula Óssea
O transplante de medula óssea (TMO) é uma terapia de muita eficácia para muitas doenças e não só para leucemia, como costumamos imaginar. Outras doenças como câncer ósseo, a-nemias hereditárias como a falciforme e a deficiência congênita do sistema imunológico são algumas entre várias outras tratadas com o TMO.
A indicação para um transplante é feita com muito critério. Embora os portadores das doenças acima mencionadas sejam potenciais candidatos a um transplante, nem todos preenchem os requisitos para serem incluídos em uma lista de espera. Além de vários aspectos médicos, são ainda levados em consideração possíveis problemas que eventualmente possam ter influência nos resultados em longo prazo, dependentes das condições de vida. O médico, o candidato e os seus familiares devem levar em consideração pelo menos quatro questões principais:
- Todas as outras terapias foram tentadas ou descartadas?
- A pessoa não sobreviverá sem o transplante?
- Excluindo o órgão doente, é bom o seu estado geral de saúde?
- A pessoa está psicologicamente preparada para, após o transplante, uma mudança do estilo de vida que inclui o uso regular de medicamentos com paraefeitos drásticos e visitas freqüentes a um hospital para exames de controle?
As indicações de transplante têm aumentado nos últimos tempos, por causa da relativa facilidade operativa da terapia e, também, pelo aumento da expectativa de vida da população, bem como por causa do incremento do número de pessoas que têm acesso aos serviços de saúde, mesmo nos países em desenvolvimento. Desse fato, resulta a necessidade de uma maior participação do poder público e da sociedade, em geral, no sentido de aumentar a procura, doação e captação de órgãos.
Nas doenças renais crônicas, mais de sessenta por cento dos portadores tem indicação clínica para um transplante. Para os demais, existe apenas a alternativa das diálises. Estas também permitem que aqueles com indicação de transplante tenham um tempo de espera mais elástico. Existem pessoas esperando um transplante renal há mais de dez anos.
No caso de coração, fígado, pulmão, as situações são mais drásticas. Em geral, quando alguém é indicado para um transplante cardíaco não pode esperar mais do que seis meses para que a cirurgia aconteça.
Os resultados dos transplantes melhoraram muito nos últimos anos. Em termos genéricos, a sobrevida em um ano varia de 70% a 90% e em três a cinco anos, é superior a 70%. Isso significa que em cada dez pessoas que se submeteram a um transplante no fi-nal de 1995, sete ou mais estarão vivas na passagem do milênio. Isso é pouco? Talvez seja, mas considere que provavelmente nenhuma delas que necessitava de um pulmão, fígado ou coração sobreviveria até o Natal de 1996.
Vários fatores estão relacionados com esses resultados. Entre eles, os principais são: gravidade da doença da pessoa na época da cirurgia, critérios da seleção do doador - quanto maior a compatibilidade com o receptor, melhor o resultado - e a experiência da equipe médica que realiza o transplante. É importante, também, o cuidado com que o receptor trata o seu novo órgão, seguindo estritamente as recomendações do seu médico.
O que posso doar?
Quase todas as partes do nosso corpo podem ser utilizadas para transplante. Em janeiro de 2000, em uma operação que durou quase dois dias, um canadense de 20 anos recebeu estômago, fígado, pâncreas e intestino delgado novos.
Um único doador pode ajudar a pelo menos vinte e cinco pessoas. Os seguintes órgãos e tecidos são atualmente utilizados nos transplantes:
- Órgãos: Coração, pulmão, fígado, rim, pâncreas, intestino, estômago.
- Tecidos: Sangue, córneas, ossos do ouvido, dura máter, vál-vulas cardíacas, crista ilíaca, fáscia lata, cabeça do fêmur, ossos longos, patela, costelas, safena, pele, medula óssea.
Embora ainda em caráter experimental, já foram realizados transplantes de uma parte inteira do corpo, como uma mão. Esse tipo de transplante ainda é controvertido. Embora seja coerentemente defendido pelos seus idealizadores, discute-se as vantagens práticas em relação aos riscos associados ao uso de pesadas doses de drogas anti-rejeição para a preservação de um órgão não vital. Em contrapartida, argumenta-se que o conceito de órgão vital é muito relativo e depende da atividade exercida pelo receptor. Provavelmente as mãos são órgãos vitais para um pianista.
É possivel se evitar um transplante?
Embora os transplantes sejam hoje uma rotina em um grande número de hospitais. a chance de se conseguir um doador é relativamente baixa. Considere que a prevalência de causas circunstanciais que levar alguém a se tornar um potencial doador é da ordem de 60 por milhão da população, por ano. Em outras palavras, 60 pessoas em um grupo de um milhão pode chegar a situação de morte encefálica a cada ano. Ao mesmo tempo, 300 pessoas por milhão pode, potencialmente, desenvolver insuficência renal crônica e vir a precisar de um transplante de rim, por exemplo.
Talvez algumas medidas relacionadas ao comportamento possam evitar um transplante.
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