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Adubos químicos - por que não usá-los

Na prática da agricultura, no manejo do solo e das plantas, devemos encarar a terra como um mundo complexo e interado onde devem viver em equilíbrio um número incalculável de microscópicos seres animais e vegetais, que garantem a perfeita fertilidade do solo e a sanidade das plantas. Devemos encarar a terra considerando seus aspectos físico, químico e biológico, procurando promover, proteger e conservar a harmonia entre estas três partes.

A agronomia "oficial" ainda tende a considerar o solo como sendo um mero suporte que, sob o efeito de adubos químicos e agrotóxicos, e sob o risco de degradação do solo, deve produzir enormes vegetais sob o falso argumento de que é necessário que se use a parafernália sintética para que a produção aumente e se possa alimentar mais gente.

A outra face da moeda, porém, nos mostra que apesar dos adubos sintéticos darem à curto prazo uma resposta em termos de uma maior produtividade e produtos de maior tamanho, estes produtos são em geral menos saborosos, mais pobres em vitaminas e sais minerais e vem impregnados de resíduos venenosos.

O fato de ser usarem insumos sintéticos não matou a fome do mundo e poluiu consideravelmente o planeta, com um modelo agrícola extremamente dependente do petróleo e pouco preocupado com a ecologia.

Os altos preços do petróleo e o estado crítico do meio ambiente em muitas regiões produtoras (algumas se tornaram verdadeiros desertos), está fazendo com que a agronomia tradicional volte-se para dar atenção aos velhos insumos naturais.

Hoje, após a II Guerra e após décadas de uso e abuso dos adubos hidrossolúveis e dos agrotóxicos - foram a grande panacéia! - o establishment agrícola volta-se à pesquisa e utilização de insumos naturais que foram relegados ao segundo plano, como o composto, esterco, lixo doméstico, rochas moídas, cinzas, etc., bem como alternativas mais ecológicas de manejo tais como: rotação de culturas, coberturas vivas e mortas, cultivo em curva de nivel, plantio direto, etc.

Não devemos usar adubos químicos, primeiramente porque são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água da chuva e das regas, fato que acarreta três coisas:

- Uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas causando expansão celular (as membranas celulares ficam mais finas) e fazendo com que aumente muito seu teor de água. Isso as torna um "prato" para as pragas e doenças, além serem menos saborosas e com seu teor nutritivo empobrecido.

- Outra parte (muitas vezes a maior parte) é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos, acabando por causar, juntamente com os despejos de esgotos, a eutrofização - que é a morte de um rio ou lago por asfixia, pois os excessivos nutrientes além de estimularem um crescimento excessivo das algas, roubam para se degradarem, o oxigênio da água.

- Há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (sulfato de amônio,p.ex.), que sob a forma de óxido nitroso vai, assim como ocorre com os fluocarbonetos do aerosol, destruir a camada de ozônio da atmosfera.

Vários tipos de fertilizantes químicos, geralmente os mais usados, são violentos acidificadores do solo, além de serem biocidas (destruidores da microvida do solo).

A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas forma um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria.

As sementes ditas melhoradas, são muito mais exigentes quanto à adubação para poderem ficar gigantes. A utilização do adubo torna as plantas mais fracas e mais sucetíveis ao ataque de pragas e doenças. E cada vez tem-se que utilizar mais e mais adubos e venenos para manter o nível desejável de produção.

O uso de adubos químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário da adubação orgânica onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não "apetecendo" às pragas.

Sabemos que os elementos mais utilizados pelas plantas são o Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg).

As formas sintéticas mais utilizadas como adubo nitrogenado são o sulfato e o nitrato de amônio e a uréia. São substâncias realmente riquíssimas em N (a uréia tem 45%), mas que, como dissemos acima, acidificam o solo, matam a microvida, poluem as águas e produzem vegetais pouco resistentes, levando ao uso de agrotóxicos.

Em relação ao P, a forma mais utilizada é o superfosfato. É fruto da solubilização de rocha fosfática mediante utilização de ácidos. Processo caro e poluente, que resulta em um produto que dependendo da qualidade química da terra, pode ser de baixíssima solubilização.

Deixa no solo residuais de anidrido de ácido sulfúrico, venenoso e poluidor.

Em termos de K, a forma mais utilizada é o cloreto de potássio, que deixa no solo o cloro, também venenoso e poluente.

Efeitos nocivos dos adubos químicos nos alimentos:

Segundo o engenheiro agrônomo francês Claude Aubert, os adubos nitrogenados modificam o teor das plantas em vários elementos essenciais:

- a presença de nitratos nos alimentos agrícolas é extremamente perigosa devido à possibilidade de transformarem-se em nitritos, substâncias tóxicas e eventualmente letais. O teor de nitratos pode ser multiplicado por 30 na folha de espinafre, em conseqüência da utilização, mesmo moderada, de adubos nitrogenados. Nesta cultura, em experiências, o nível de nitratos não passou de 60 ppm com adubação de até 60kg/ha, mas com aumento para 180/240 kg/ha, o nível de nitratos subiu para 600 ppm! Na cenoura, com os mesmos 60kg/ha, os nitratos estavam na faixa de 50 ppm, subindo para 300 ppm com adubação de 180 kg/ha.

- o nível de matéria seca também cai. Em espinafres sem adubação nitrogenada sintética o teor de matéria seca ca é de 6,8%, caindo para 5,5% com adubação de 120k./ha. Na batata, com adubação de 120 kg/ha a queda é desde mais de 24% até uns 22% de matéria seca.

- o teor de proteínas aumenta, mas sua composição é modificada: o teor de aminoácidos diminui. No milho, p.ex. doses elevadas de N aumentam o teor de proteínas, mas apenas as de baixo valor nutritivo.

- o teor de cobre diminui consideravelmente quando aumentam as quantidades de N.

- o teor de vitaminas é também modificado; o teor de riboflavina (vit. B2) dos espinafres cresce primeiro para decrescer em seguida quando se aplicam doses crescentes de N. A vitamina C é prejudicada pelo N sintético (Na cenoura, p.ex. há uma redução em 1 mg. de vitamina/100gr de matéria seca quando a adubação chega a 280 kg./ha. No espinafre, com esta dose, cai de 40 para 25mg de vitamina C.).

- a elevada utilização de N, diminui a faculdade de conservação da colheita e modifica desfavoravelmente seu sabor.

- a adubacão nitrogenada sintética também reduz o teor de glucídeos em frutas e legumes. Nas cenouras, p.ex., o teor de açúcares que normalmente é de 7%, cai para menos de 6% com aplicação de doses acima de 200kg/ha. No espinafre a redução é proporcionalmente maior, caindo de 0,9 para 0,3%, e nas batatas o amido (em proporção à matéria seca) cai em média de 65 a 60%.

- os adubos potássicos perturbam o equilíbrio mineral das plantas. Quantidades crescentes de potássio produzem um aumento considerável do teor de potássio em certas plantas (espinafre,p.ex.) e uma diminuição correlativa do seu teor em sódio e magnésio. A relação potássio-magnésio pode variar, segundo as quantidades do potássio aplicado, de 1 a 12. Na folha do espinafre a relação potássio-sódio pode passar de 0,5 a 20, ou seja, 40 vezes mais.

- o aumento de potássio leva igualmente a uma baixa do teor nas plantas de vários outros elementos minerais, como o cálcio, e alguns oligoelementos, como o boro e o manganês.

- o teor das plantas de proteínas e a qualidade biológica da proteína são também modificados: o teor de proteínas do espinafre aumenta com o aumento da adubação potássica, mas o teor dessa proteína em varios aminoácidos essenciais (incluindo a lisina) diminui correlativamente.

- o teor em caroteno de diversas plantas (alface, cenoura, etc.) passa por um máximo, para diminuir depois, sob o efeito de quantidades crescentes de adubos potássicos.

- o aumento da adubação fosfatada aumenta o teor de P nos espinafres, assim como o teor de tiamina na aveia e no feijão-miúdo, além de produzir carência de zinco nas plantas.

Ainda sobre este assunto, o também francês André Voisin dizia que em virtude da utilização dos adubos químicos, os produtos vegetais podem apresentar até 4 vezes mais K, 2 vezes mais ácido fosfórico, 50% do teor de magnésio, 6 vezes menos sódio e 3 vezes menos cobre.
 

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