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Quando estou contigo
Ainda estou mais sozinho
Do que quando estou sozinho
Quando estou contigo
Ainda consigo ser mais inútil
Do que o inútil que normalmente sou
Quando estou contigo
Repito-me mais
Do que quando escrevo
Quando estás comigo
O teu sorriso falso
Nunca chega a ser um sorriso
Quando estás comigo
A tua mente vazia
Está noutro sítio vazio
Quando estás comigo
Nem consegues fingir
Que não estás a fingir
E mesmo assim
A única coisa que eu quero
É estar contigo
Quantos luares
já desperdiçámos?
Quantas palavras que não dissemos?
Pensa bem
Quantos por-do-sol que passaram
Quantas vezes os teus olhos não choraram
Quantos dias deixámos passar
Quantos olhares se perderam no ar
Pensa bem
Quantas lágrimas terei perdido
Quantos sorrisos podia ter tido
Quantos poemas por serem escritos
Quantos versos por serem ditos
Pensa bem
Quantos luares desperdiçámos
Pensa bem
De quem é a culpa
Nunca quis ser
Aquilo que eles tentam
Eu não sou eles
Eles é que são os outros
Sempre tentei resistir
Àquilo que eles falam
Sou mais fraco de que eles dizem
Mas sou mais forte do que eles pensam
E mesmo tendo perdido
Consegui ganhar
Não me consegui libertar
Mas eles não me conseguiram moldar
Sou diferente
E por isso estou só
A única solução
As cinzas e o pó
Riam-se
É só o que sabem fazer
Vou acabar
E vocês não sabem quem amou
Vou acabar
Porque não sei ser como quero
E não quero ser como sou
As horas passam
E eu não lhes toco
Os dias correm
E eu não os apanho
Estou parado no meio do tempo
Estou sozinho no meio das pessoas
As pessoas que falam
E eu não ouço
As coisas que se passam
E eu não vejo
Estou sozinho no meio de tudo
Não sei o que é que existe verdadeiramente
E o que imaginei
As horas passam
Os dias correm
Foram mesmo horas?
Foram mesmo dias?
Ou apenas segundos neste vazio imenso
As pessoas que falam
As coisas que se passam
Eles falam mesmo?
Ou eles nem existem?
Ou eu nem existo?
As horas que não passam
Eu toco-lhes
Os dias que não correm
Eu apanho-os
Só ouço as pessoas
Quando elas não falam
Só vejo as coisas
Que não aconteceram
Algum dia
Ainda me hão-de explicar
Porquê
Hoje fiz um desenho!
Quis tentar retratar
Aquilo que não tenho
Mesmo não sabendo desenhar
Quis que saísse do pincel
O que eu queria da vida
Quis pôr no papel
Mesmo que fosse só de fugida
A tinta revelou
Todo o meu desejo
A inspiração criou
O que eu queria ver e não vejo
No fim senti-me cansado
Mas mesmo sentado e ofegante
Profundamente realizado
Por ter descoberto o importante
Agora passo os dias a olhar
Para aquilo que é só meu
Aquilo que o coração quis desenhar
Um retrato teu
Nunca ninguém
percebeu
Também nunca ninguém tentou
Nunca ninguém viu
Nem nunca ninguém se esforçou
Nunca ninguém leu
E se leu não gostou
E se gostou não percebeu
Porque nunca tentou
Nunca ninguém se riu
Nunca ninguém amou
Eram todos bons actores
Mas nunca ninguém ligou
Nunca ninguém percebeu
Nunca ninguém mudou
Nunca ninguém reparou
Nunca ninguém ouviu
Nem nunca ninguém sentiu
Nunca ninguém entrou
Mesmo os que eu deixei
Nunca ninguém falou
Nem aceitou o que eu dei
Nunca ninguém chorou
Nem mesmo se interessou
Nunca ninguém andou
Para além do que eu sonhei
Nunca ninguém deu
Mesmo quem recebeu
Nunca ninguém sentiu
Tudo o que a mim me doeu
E nunca ninguém arriscou
E nunca ninguém viu
E nunca ninguém ouviu
E nunca ninguém percebeu
E é pena.
Apanho uma flor
Dou-te
Aceitas?
Olho para ti
Choro
Choras?
Comparo o sol
Com os teus olhos
Gostas?
Vivo uma vez
Só para ti
Acreditas?
Fico cego
De amor por ti
Vês?
Grito
Por ti
Ouves?
Toco-te
Só uma vez
Sentes?
Fujo
Com medo
Chamas-me?
Tremo
Sozinho
Comoves-te?
Peço-te uma palavra
Só uma
Dás-me?
Respiro
Pela última vez
Importas-te?
Morro
No escuro
Reparas?
Eu sei
Tens na mão
uma pomba
Que te vai explicar
Tudo o que nunca ninguém percebeu
Que te vai dizer
Quem sou eu
Vai-te fazer entender
O que eles nunca quiseram ver
Vai-te tentar dizer
O que eu sempre quis ser
Vai talvez cantar
Quem sabe até chorar
O importante é tocar-te
Onde nunca consegui tocar
Depois do que vou dizer
Se calhar até te vais rir
Mas só te peço uma coisa
Nada mais te vou pedir
Tens uma pomba na mão
Não a deixes fugir
Tudo o que escrevo
Tudo o que vejo
Tudo o que ouço
Tudo o que sinto
Tudo o que toco
Tudo o que penso
Tudo o que choro
Tudo o que imagino
Tudo o que crio
Tudo o que faço
Tudo o que amo
Tudo o que sou
É só para ti
Podia ser tão
simples
Fim do túnel
Fim do túnel
Continua escuro
Não há luz
Outro túnel
Outro túnel
Impuro
Carrego a cruz
Morte
Não liberta
Morte
Não liberta
Vejo a luz
Atrás de mim
Nunca lá estive
Princípio=Fim
A luz passou
Atrás de mim
Não em vida
Não no fim
Morte
Não Liberta
Morte
Não Liberta
Outro túnel
São tantos
Outro Túnel
Escuro
Morte
Vida
É igual
É escuro
Existo
Não existo
Não sei
Só
Hoje olhei cá
para dentro
E não vi ninguém
E achei estranho
E achei que não estava bem
Mas depois lembrei-me
De quem costumava cá estar
Era uma voz
Que há muito tempo não ouço falar
E lembrei-me
Que quando a voz desapareceu
A viver cá dentro
Fiquei só eu
Mas o tempo é tanto...
E agora
Até mesmo eu
Já me fui embora
Ser poeta é
ser teimoso
É ter o hábito penoso
De acreditar em ideais
De ver em tudo sinais
Ser poeta é ver olhos aos milhares
E só pensar nos teus
É saber que se me olhares
É para me dizer adeus
Ser poeta é andar perdido
Entre o querer e o não saber
É ter o coração partido
E não o conseguir ver
Ser poeta é ser doente
É ter um desejo cá dentro a gritar
E por mais que tente
Não o conseguir realizar
Ser poeta é ser louco
E dar importância aos pormenores
Que significam muito mas fazem pouco
E ignorar as coisas maiores
Ser poeta é não saber parar
E amar, e sentir, e morrer
E continuar a olhar o mar
Mesmo depois de anoitecer
Ser poeta é ser triste
E não conseguir perceber
Que tudo o que não viste
Foi porque não quiseste ver
Ser poeta é acreditar cegamente
Que aquela voz que ali vem
Vai ser diferente
E que vai ficar tudo bem
Ser poeta é tropeçar
Em cada degrau da escada
Ser poeta
Não é nada
Se o mundo acabasse
Sobrássemos só nós dois
Olhavas para mim?
Se te pedissem
o meu nome
Se alguém quisesse saber
Lembravas-te?
Se nos cruzássemos
no deserto
Sem mais ninguém por perto
Falavas-me?
Se eu te desse
o sol
Só para ti
Aceitavas?
Se eu morresse
Sobrasse o resto do mundo
Reparavas?
Se eu repetisse
Tudo o que já te disse
Percebias?
Se o mundo acabasse
Sobrássemos só nós dois
Choravas?
Eu não.
Tenho uma pedra
na mão
E quem me dera ter nascido
Com ela em vez de coração
Uma pedra fria
Por muito que lhe batessem
Não sofria
Uma pedra da calçada
Até podia tentar
Mas não sentia nada
A pedra não tinha dor
Era cinzenta por não ter cor
E não chorava por amor
Uma pedra não é oca mas é vazia
E mesmo que caísse
Nem sequer se partia
Uma pedra vive sem ninguém
Não precisa de mais pedras
Se for deixada só por alguém
Uma pedra normal
Se deixar de servir
Substitui-se por outra igual
Uma pedra é estática não corre
É fria e não vive
Mas também não morre
Uma pedra resiste á chama
E nunca chora
Porque nunca ama
Mas infelizmente
Cá dentro tenho um coração
E a pedra está só na mão
E vou ter que a pousar
Porque tenho lágrimas para limpar