Shavuot
Pentecostes
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6 de Sivan
sete semanas depois da Páscoa.
27 de maio de 2007
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Deuteronômio
16.9
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A vida de um israelita nos tempos bíblicos era profundamente marcada
por um ciclo de dias e festivais religiosos instituídos por Deus
(ver Gn 2:1-3; Êx
20:8-11; 23:10-19; Lv
23; 25:1-34; Nm
10:10; Nm 28-29).
Essas festas e dias religiosos tinham o objetivo de marcar eventos e ensinar
verdades fundamentais no plano de Deus para a redenção da
humanidade. Dentre esses "tempos sagrados" encontra-se Shavuot, a
"Festa das Semanas", também conhecida como o "Dia de Pentecostes".
Em Êxodo 23:16, Shavuot é
designada como Hag haQatsir, a "Festa da Sega", pois ela marcava o início
da colheita dos cereais em Israel. Todo israelita deveria nesse dia
comparecer perante Deus no santuário trazendo como oferta dois pães
levedados, preparados com farinha de trigo recém-colhido.
Esses pães representavam os primeiros frutos da terra, os Bicurim,
as primícias da colheita daquele ano (Êx
23:16; Lv 23:17), por isto era chamado
também como Yom haBicurim, o "Dia das Primícias" (Nm
28:26). Assim, no início do trabalho da colheita, o israelita
deveria tomar tempo para louvar e reconhecer a Deus como Aquele que nos
dá o alimento e faz brotar os frutos da terra. Na Bíblia,
essa festa é também designada como Hag haShavuot, a "Festa
das Semanas" ("Shavuot", em hebraico, que quer dizer "Semanas"), pois se
deveriam contar sete semanas desde o dia posterior a Pessach ("Páscoa"),
ou seja 49 dias, e no 50º. dia ela seria então celebrada (Lv
23:15-16; Êx 34:22; Nm
28:26; Dt 16:10).
Como era celebrada precisamente no qüinquagésimo dia após
Pessach ficou popularmente conhecida como o "Dia do Pentecostes", do grego
"Pentekostés" ("qüinquagésimo"), devido à influência
da Septuaginta (tradução da Bíblia Hebraica para a
língua grega) que era a versão da Bíblia mais usada
por judeus e cristãos nos primeiros séculos da Era Comum.
Além da oferta obrigatória de dois pães de farinha
de trigo a serem oferecidos com a oferta de animais prescrita pela Lei
(Lv 23:17-20), o israelita devia trazer consigo
uma oferta voluntária dos primeiros frutos de tudo que já
começava a amadurecer no seu campo (Dt
16:10). Assim, eles procuravam não só pelas primícias
dos cereais, mas também por frutos temporões da videira,
da figueira, da romeira, da oliveira e da tamareira, as espécies
agrícolas características de Israel (Dt
8:8). Ao encontrar essas primícias, ele amarrava umas
às outras e as colocava em um cesto, o qual era decorado com folhagem
e flores e trazido ao templo em Jerusalém, apresentado ao sacerdote
oficiante e colocado diante do altar no templo. O ofertante então
dizia as palavras que se encontram em Deuteronômio 26:5-10,
recontando brevemente a história de Israel desde Abraão até
os seus dias, e reconhecendo que tudo que ele é e tem lhe foi dado
graciosamente por Deus. Depois disto, ele tomava dos frutos que estavam
no cesto e os compartilhava de modo festivo e alegre com os membros de
sua casa (filhos e servos), com os levitas (tribo israelita que se dedicava
exclusivamente ao serviço de Deus e do templo e portanto não
tinha terra), com os pobres, os órfãos, as viúvas
e os estrangeiros que viviam em Israel (Dt
12:12; 16:10-12;
26:11).
As prescrições religiosas encontradas em Deuteronômio
26 indicam que a Shavuot não tinha um caráter simplesmente
agrícola, mas que ela era também o tempo oportuno para a
renovação da aliança entre o israelita e Deus, através
da oferta voluntária, da recapitulação de sua história
passada e do ato de compartilhar das bênçãos que ele
tinha recebido de Deus com as outras pessoas.
O aspecto bíblico de Shavuot como o dia anual de renovação
da aliança foi extensivamente desenvolvido pela tradição
religiosa judaica do início da Era Comum. Shavuot foi identificada
como o dia em que Deus estabeleceu Sua aliança com Israel no monte
Sinai. A chave para esta interpretação é a ligação
etimológica e fonética entre o nome hebraico da festa, "Shavuot"
("Semanas"), o número hebraico "Shevá" ("sete") e a palavra
"Shevuá" ("juramento, voto"). Depois de sete ("Shevá")
semanas do dia de Páscoa (repetindo assim o ciclo da semana da criação
sete vezes), o povo de Israel estava ao pé do monte Sinai e ali
trocou juramento ("Shevuá") de fidelidade e aliança com Deus
tornando-se assim o Seu povo (em paralelo a uma cerimônia de casamento,
sendo Deus o esposo e Israel a noiva). Os elementos característicos
deste evento foram:
1) Tevilá ("imersão") em água.
2) Manifestação divina em forma de fogo, trovões,
sons de trombeta, terremoto e fumaça como de fornalha sobre o monte
Sinai (Êx 19:16-19);
3) Convite à uma aliança com Deus na aceitação
da palavras divinas expressas nas duas tábuas dos 10 Mandamentos
e nas leis subseqüentes (Êx 20-23);
4) Aspersão do sangue da aliança sobre o altar ao pé
do monte e sobre todo o povo (Êx 24:6-8)
no momento em que Israel fez um juramento solene de aceitação
e fidelidade a Deus (Êx 24:3-4);
5) Manifestação do Espírito de Deus sobre Moisés
e os 70 anciãos que subiram ao monte e viram ao Deus de Israel (Êx
24:9-11; Nm
11:16-17). Shavuot celebra também o dia em que Deus estabeleceu
o Seu povo como nação santa, um reino de sacerdotes (Êx
19:5-6), e é conhecido também como o dia em que Deus
constituiu a Sua "Igreja" ("Congregação"), segundo a palavra
grega "Eklesia" encontrada na Septuaginta em Deuteronômio
4:10; 9:10
e 18:16.
A elaborada interpretação judaica sobre Shavuot como
o dia da "Aliança do Sinai" não aparece nos antigos escritos
históricos judaicos de Flávio Josefo e de Filon de Alexandria,
que viveram no primeiro século da Era Comum. É somente
nos escritos rabínicos de séculos posteriores que ela será
encontrada. No entanto, essas idéias correspondem intimamente
à apresentação desta festa nos escritos da B'rit Hadashá
("Novo Testamento"). Para Yohanan haMatbil ("João Batista"),
por exemplo, Jesus era o Messias prometido que viria e imergiria ("batizaria")
não somente em água, mas em fogo e no Espírito (Mt
3:11), ou seja, Ele efetuaria uma renovação da experiência
do Sinai. Em Atos 2, quando os discípulos, no "Pentecostes",
receberam o Espírito Santo, podemos encontrar os cinco pontos característicos
da interpretação da festa de "Pentecostes" como o dia da
aliança no Sinai:
1) Judeus provenientes de todas as nações foram imergidos
("batizados") nesse dia (At
2:41);
2) Manifestação da presença divina através
dos sinais do fogo, grande vento e sons (At
2:2-3, 19-20);
3) Convite a uma aliança com Deus através de Jesus, a Palavra
viva e ressurrecta (At
2:11, 14-40);
4) Ênfase na morte e ressurreição do Messias, correspondendo
ao sangue da Aliança (At
2:22-38);
5) Derramamento do Espírito de Deus (At
2;3-4, 17-18, 38). Assim, precisamente cinqüenta dias
após a morte de Jesus na Páscoa, o "Dia da Igreja" se repetiu
com poder e grandes manifestações divinas sobre todos aqueles
que aceitaram a renovação de sua aliança com o Deus
de Israel.
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