Levítico 23:33-41
O Senhor mandou Moisés falar ao povo sobre
outra festa: “A Festa das Tendas. É no dia quinze do sétimo
mês hebraico. Quer dizer que a festa é realizada cinco dias
depois do Dia da Expiação – nos últimos dias de setembro
ou começo de outubro. A Festa das Tendas deve durar sete dias.
“No primeiro dia, o povo se reunirá em assembléia
sagrada. Ninguém trabalhará nesse dia. “Em cada um dos sete
dias, serão apresentadas ofertas queimadas ao Senhor. No oitavo
dia será realizada outra assembléia santa, com o oferecimento
de sacrifícios queimados ao Senhor. É dia de reunião
solene. Fica proibido todo trabalho.
“São estas, pois, as festas do Senhor. Festas qo
ser realizadas regularmente, todos os anos. São ocasiões
de santo descanso, em que o povo é convocado para assembléia
sagrada, para apresentar ao Senhor ofertas queimadas. As ofertas são
de cereais, de animais sacrificados e de bebidas. Cada coisa no tempo certo.
“Todas estas realizações serão feitas além
das ofertas normais feitas nos outros dias, tanto as ofertas de livre vontade
como as que são feitas para cumprir promessas ou em obediência
à Lei.
“No dia quinze do sétimo mês, ao terminar
a colheita, vocês começarão os sete dias de festa.
E tanto no primeiro dia como no oitavo, terão santo descanso.
“No primeiro dia da festa, peguem galhos carregados de
frutas, folhas de palmeiras, galhos de árvores de muita folhagem
e ramos de chorão. Façam tendas com os galhos e passem sete
dias cheios de alegria na presença do Senhor.
“Esta festa anual de sete dias é obrigatória
para todas as gerações. Por lei será celebrada no
sétimo mês.
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O ano agrícola judaico se encerrava com a grande Festa
dos Tabernáculos (em hebraico: Hag Sucot). Logo após o verão,
entre os meses de setembro a outubro, os israelitas se dirigiam para Jerusalém
para as grandes festas de outono (Rosh haShaná ["A Festa das Trombetas"],
Yom Kipúr ["o Dia das Expiações"] e Sucot ["a Festa
dos Tabernáculos"]), as quais se seguiam uma após a outra
durante o 7º mês do calendário judaico.
A Festa dos Tabernáculos se tornou um dos momentos
mais felizes do ano litúrgico judaico. A antiga literatura judaica
(Flávio Josefo, no seu livro Antiguidades Judaicas, e o Talmude)
descreve como era a celebração dessa festa nos dias do segundo
templo em Jerusalém. Multidões de peregrinos vinham de todas
as partes de Israel e do mundo, e chegavam a Jerusalém em caravanas
coloridas e festivas. Uma vez em Jerusalém, eles preparavam e habitavam
em tendas de ramos ao longo das ruas, no pátio do templo, sobre
os telhados das casas, nos montes e vales ao redor da cidade. A cidade
de Jerusalém estava toda decorada com ramos de oliveira, palmas,
salgueiros, frutas frescas e flores. Os peregrinos levam sempre consigo
ramos de palma e murta que agitavam com alegria enquanto participavam dos
serviços religiosos no templo, das orações e do cântico
do Halel, a coleção de salmos de louvor (Salmos 113-118).
A cerimônia mais marcante da festa era intitulada "O
Regozijo no Local da Retirada da Água" (em hebraico: Simchat Beit
haShoavá). Durante o ano, a cada dia, após o sacrifício
ter sido queimado, uma oferta de vinho era derramada sobre o altar (chamada
geralmente de libação). Durante os dias da Festa de Tabernáculos,
além da libação de vinho, era derramada também
uma de água. A cada manhã da festa, os sacerdotes faziam
soar as trombetas, de modo longo e penetrante, aos primeiros raios do sol.
O povo se despertava então para mais um dia com exclamações
de alegria e júbilo. Os sacerdotes desciam então ao tanque
de Shiloach ("Siloé"), levando consigo um frasco de ouro para enchê-lo
de água, e retornavam ao templo de forma cadenciada e pausada, ao
som das trombetas. Após o sacrifício e de ter entoado o Halel,
os sacerdotes, segurando os ramos e frutos da terra prescritos em Levítico
23, rodeavam o altar de bronze, o qual estava adornado com ramos frescos
de salgueiro, e recitavam as palavras do Salmo 118:25: "Oh! Salva-nos,
Senhor, nós Te pedimos!" O sacerdote responsável pelo serviço
do dia subia então a rampa do altar de bronze e derramava a água
do frasco de ouro sobre uma bacia de prata, e vinho sobre uma segunda bacia.
Na seqüência, de forma simultânea, o conteúdo de
ambas bacias era derramado sobre o altar e todos os presentes irrompiam
em júbilo exclamando: "Eis que o Senhor Deus é a minha força
e o meu cântico.... Vós com alegria tirareis águas
das fontes da salvação" (Isaías 12:2-3). Na tradição
judaica, esta cerimônia comemorava a "Rocha" da qual brotou "água
viva" e que acompanhou os israelitas durante a sua peregrinação
no deserto (ver Êxodo 17:1-7; Números 20:2-13; 21:16-18) e
que era símbolo de Deus e do Messias.
A segunda cerimônia mais marcante da festa ocorria
de noite. Quatro grandes candelabros de sete braços, contendo no
topo de cada braço vários litros de óleo e pavios
feitos de vestes sacerdotais desgastadas, iluminavam toda a área
do templo e a cidade de Jerusalém. Um orquestra tocando flautas,
harpas, címbalos e tambores, acompanhava uma procissão de
tochas, na qual havia danças e grande regozijo entre os peregrinos.
Enquanto isto, o coral de Levitas, posicionado nas escadarias internas
do templo, entoava os "Salmos de Ascensão" (Salmos 120-134). Estas
cerimônias noturnas eram momentos de grande alegria e marcavam profundamente
o espírito da festa.
A descrição das Festas dos Tabernáculos
na Bíblia Hebraica e nos escritos judaicos nos ajuda a compreender
várias passagens da B'rit Hadashá ("Novo Testamento") que
estão diretamente relacionadas com esta festa, ou que evocam os
temas da mesma. Os capítulos 7-10 da Evangelho de João são
um exemplo disto. João 7:37-38 nos diz que no último dia
de uma Festa dos Tabernáculos, Jesus se levantou perante todos em
Jerusalém e exclamou que Ele era a verdadeira fonte da "água
viva", numa direta referência à cerimônia matutina do
"Regozijo no Local da Retirada da Água". No mesmo dia, Ele também
declarou ser a "luz do mundo" (João 8:12), numa referência
à cerimônia noturna. Em João 9, Ele cura um cego de
nascença como demonstração de ser Ele a luz do mundo
(João 9:5). Jesus lhe aplica lama aos olhos e depois ordena-lhe
que os lave no tanque de Shiloach ("Siloé"), local de onde era retirada
a "água viva" a cada manhã da festa. Assim João 9
une os dois temas (luz e água) apresentados nos capítulos
anteriores. Em João 10, Jesus se apresenta como o "Bom Pastor" e
como a "Porta" (vss. 7, 9) através da qual se entra para a salvação,
numa alusão direta ao Salmo 118:20 ("esta é a porta do Senhor,
por ela entrarão os justos"), o principal salmo que era entoado
ao longo da festa. |