O gênero Chenopodium é cosmopolita e conta
com de cerca de 150 espécies de sub-arbustos anuais e perenes. Chenopodium
vem do grego "chen', ganso e "pous", pé (as folhas de várias
espécies lembram o formato de pés de ganso). Na família
Chenopodiaceae encontram-se muitas plantas úteis, como as Beterrabas
e o espinafre. Uma planta do gênero Chenopodium, C. quinoa, cuja
semente é parecida com lentilha, vem sendo cultivada há muito
tempo pelos povos indígenas da Costa Pacífica da América
do Sul, desde a Colombia até o Chile, sendo conhecida por "quinua".
Chenopodium ambrosioides, uma erva tropical americana pungente, é
extensamente usada na culinária mexicana, mas quase desconhecida
em outros lugares. Várias espécies não aromáticas
têm uma longa história de uso como plantas alimentícias.
Chenopodium ambrosioides (o nome ambrosoides deriva do
fato que as inflorescências se assemelham às de Ambrosia sp.)
é uma planta herbácea anual ou perene, de forte aroma, normalmente
ereta, com cerca de 1 m de altura, reproduzida por semente. A produção
de sementes é muito intensa, podendo chegar a dezenas de milhares
por planta. A planta prefere solos de textura média, com boa fertilidade
e suprimento moderado de água, tolerando solos salinos. O desenvolvimento
vegetativo é favorecido por uma boa iluminação e as
plantas se tornam mais competitivas em regiões e em épocas
de dias longos, sendo o florescimento estimulado por dias curtos. Apresenta,
especialmente nas folhas, pêlos vesiculosos que encerram um líquido
de odor desagradável. A intensidade dos pêlos depende da variedade
e das condições ambientais. Em épocas de seca a planta
reabsorve esse líquido. Flores minúsculas, verdes aparecem
em panículas no verão, seguidas por frutos verde-marrom,
contendo uma única semente preta.
É uma espécie nativa na América tropical, sendo
que diversos botanicos indicam o México como local de origem. Todavia
A. von Humboldt relata que já em tempos pré-históricos
a planta crescia nas Ilhas Canárias, e povos primitivos usavam-na
como auxiliar no embalsamento de cadáveres. Hoje é vastamente
distribuída em regiões de climas tropical, subtropical e
temperado do mundo. No Brasil é ampla a distribuição,
com ocorrência em quase todo o território e tem vários
nomes populares: Ambrósia, Quenopódio, Erva-de-santa maria,
Erva-pomba-rola, Erva-formigueira, Chá-do-méxico, Mastruço,
Mastruz, Erva-mata-pulga, Uzaidela.
As partes usadas são a planta inteira, as folhas, e óleo.
As plantas são cortadas no outono para extratos líquidos
e são secadas para fabrico de pó. As folhas são usadas
frescas e também conservadas como exigido para posterior uso. É
uma erva picante, adstringente, fortemente aromática que destrói
parasitas intestinais, aumenta a transpiração e relaxa espasmos.
Também tem efeitos expectorante, anti-fungal e insecticida. Das
folhas e flores pode-se extrair um óleo essencial que contém
ascaridol. Foram isolados dois compostos ativos: glicosídio de quercitina
e isohametina.
A "Erva-de-Santa Maria" é tradicionalmente usada no Brasil para
afugentar pulgas e percevejos domésticos, sendo colocada, seca,
sob o colchão ou lençol da cama. Fazem-se vassouras com a
planta que, ao varrer a casa, afugenta pragas domésticas. Infusões
ou extratos são usados como vermífugos, sendo realmente eficientes.
No passado cultivava-se essa planta para a preparação de
antihelmínticos oficinais, cuja descrição do processo
foi publicada na Farmacopéia Brasileira de R. ALBINO. A ação
é mais pronunciada contra ancilóstomo que sobre lombriga.
O chá preparado com as folhas é pouco eficiente contra vermes
intestinais, mas é considerado como estimulante estomacal. Medicinalmente
a erva é usada internamente para tênia, outros pequenos parasitas,
disenteria por amebas, asma e catarro. Externamente é usada para
pé de atleta e mordidas de insetos.
Componentes ativos encontrados na planta são tóxicos.
Em experimentos com administração da planta a porcos foi
constatado o desenvolvimento de lesões hepáticas e glomerulares,
sementes causaram tumores no estômago. O ascaridol provoca irritação
na pele e mucosas, vômito, vertigem, dor de cabeça, danos
nos rins e no fígado, colapso circulatório e eventualmente
morte. A ingestão de infusão ou extrato por mulheres grávidas
pode provocar aborto. Mulheres grávidas, pessoas idosas, crianças
e pessoas debilitadas em geral não devem, de forma alguma, ingerir
preparados com essa planta. Excesso causa vertigem, vômito, convulsões
e até morte.
O óleo de chenopodium contém um vermífugo de largo
espectro que é extensamente usado na medicina veterinária.
É produzido de Chenopodium ambrosioides e também da variedade
anthelminticum, que tem inclusive um teor mais alto do componente ativo.
Na Argentina era comum o emprego dessa planta para o tratamento de verminoses
de ovelhas. Também é usada como fumegante contra mosquitos
e incluída em fertilizantes para inibir larvas de insetos. Compostos
encontrados na planta são capazes de inibir o desenvolvimento de
alguns fungos de solo, bem como o desenvolvimento de insetos como Scrobipalpula
absoluta (traça do tomateiro) e Spodoptera frugiperda (lagarta do
cartucho do milho), deixando prever possibilidades de aproveitamento em
programas de controle biológico.
Chenopodium album
É uma espécie originária da Europa, sendo nativa também
na Asia. Ocorria na Bretanha já na parte final e logo após
a Era Glacial. Sementes de Chenopodium album foram encontradas no estômago
do homem de Tollund (100 AC). Ainda hoje é muito comum no Continente
Europeu, sendo cultivada como legume e erva culinária. Povos de
língua anglo-saxônica chamavam a planta de "melde" e o nome
"Meldeburna", que significa "ribeirão onde crescem meldes" foi dado
a uma povoação no século 10; esse nome foi alterado
para Melbourn que hoje também é o nome de uma cidade na Australia.
A planta alastrou-se ou foi levada para outras regiões, ocorrendo
intensamente na América do Norte, marcando presença também
na Ásia, inclusive na Península Arábica. Na América
do Sul tem uma presença mais intensa no chamado cone Sul. No Brasil
tem ampla distribuição, mas aparece quase sempre em forma
de bolsões. Na região dos Campos Gerais, Paraná, tem
ocorrido como infestante de lavouras. É uma das plantas com mais
vasta área de distribuição pelo mundo, ocorrendo desde
o Paralelo 70 ao norte, até o Paralelo 50 ao sul. Na Europa era
uma das mais importantes verduras, até ser substituída pelo
espinafre. Durante a colonização da América do Norte,
os pioneiros também usaram a planta para consumo humano e como forragem
para animais. As folhas novas eram fervidas e preparadas com manteiga,
sal e pimenta. As sementes eram incorporadas na massa de pães e
bolos e, por serem muito duras, eram previamente maceradas. |