Terça-feira,
6 de agosto de 2002 |
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Na
íris, um novo caminho para os diabéticos
Engenheiro
cria sistema para medir o açúcar do sangue através
da cor da íris
LAURA
KNAPP
Se os olhos são o espelho
da alma, a íris é um retrato do corpo. A comparação
costuma ser feita pelos iridologistas, pessoas que dizem saber o estado
do organismo de alguém examinando os olhos. Os princípios
da iridologia não são reconhecidos pela medicina oficial,
mas essa rejeição não impediu que o engenheiro Armando
Albertazzi Gonçalves Jr. fosse atrás de uma opção
não invasiva para medir o nível de açúcar no
sangue de diabéticos.
Com 500 mil terminações
nervosas conectadas ao corpo humano, Gonçalves achou que a solução
para sua procura poderia estar aí, na íris. “Todo o trabalho
foi feito com base em dados científicos”, diz ele. Trabalhando primeiro
com José Ricardo de Menezes, um aluno de mestrado “bastante corajoso”,
e depois com outro estudante, Cesare Quinteiro Pica, o professor do Laboratório
de Metrologia e Automatização (Labmetro) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu um sistema não invasivo
de medição de glicemia, chamado de GlucoÍris.
“Inspirei-me na necessidade
dos diabéticos”, diz Gonçalves. Ao 8 anos, sua filha, hoje
com 15, desenvolveu diabete. Como outros doentes, precisa medir seu nível
glicêmico três ou quatro vezes ao dia, além de ter de
tomar as injeções de insulina, que regula a entrada de açúcar
nas células. A operação pode ser dolorosa, especialmente
para crianças. “Me machuca ver”, afirma. Além da dor, há
o custo. A fita com reagente, que precisa ser trocada a cada picada, custa
R$ 1,60, de acordo com o professor. No ano, a conta de um tríplice
teste diário fica em R$ 1.752,00.
O GlucoÍris analisa a
cor da íris, que se modifica de acordo com o nível de glicemia
do paciente. A imagem é captada por uma câmera digital, que
envia informações a um programa de computador desenvolvido
pela equipe de Gonçalves. Os cientistas calcularam parâmetros
de cada região da íris e perceberam que, em algumas, as respostas
são bastante claras.
Testes – A equipe pretende
aumentar o número de pacientes testados. Na primeira fase, foi feita
comparação entre os resultados do GlucoÍris e aqueles
obtidos pelos equipamentos tradicionais, que usam uma gota de sangue. Com
isso, os pesquisadores montaram uma base de dados, com as regiões
sensíveis e as variações de cor. Por enquanto, ainda
usam um protótipo grande. Em uma fase mais adiantada do processo,
a idéia é chegar a um equipamento que possa ser carregado
na bolsa, conectado a um computador de mão, ou ao menos acoplado
ao PC em casa.
A equipe já tem o pedido
de patente internacional em mãos para o sistema. Faz parte de uma
corrida internacional para encontrar métodos alternativos – e especialmente
não invasivos – para tratar de diabéticos. Recentemente foi
lançada uma insulina inalável, que dispensa a injeção.
Existe um relógio, Glucowatch, que mede a glicemia pela pele. Mas
precisa de um reagente, na forma de uma almofadinha, que custa US$ 4,00,
de acordo com o professor. Com o GlucoÍris o paciente teria apenas
um gasto inicial, com o equipamento.
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