Epidemiologia
Embora haja citações de casos desde a Antigüidade, como por exemplo, Hipócrates em sua obra Epidemia (DEMBE, 1996), foi a partir da segunda metade deste século que esses quadros passaram a adquirir relevância social, tanto pela dimensão numérica, como pelo papel social dos acometidos ou mesmo pela disseminação entre os variados ramos de atividades. Inúmeros países enfrentaram e alguns ainda enfrentam epidemias de difícil controle (MAEDA e col., 1982; NAKASEKO e col., 1982; SETTIMI e col., 1989; BAMMER e MARTIN, 1992; MILLENDER, 1992; BERNARD e col., 1994; ASSUNÇÃO, 1995; KUORINKA e FORCIER, 1995; SETTIMI e SILVESTRE, 1995; BAWA, 1997; QUILTER, 1998). WÜNSCH
FILHO, em 1997, chama a atenção para a cronicidade e irreversibilidade de
grande parte dos casos e ressalta que o National Institute for Occupational
Safety and Health (NIOSH) classifica as LER/DORT entre os dez mais
significativos problemas de saúde ocupacional nos Estados Unidos, estimando que
correspondam a cerca de metade das doenças ocupacionais notificadas. Em algumas
empresas, estimou-se que a prevalência de LER atinge cerca de 25% da população
trabalhadora (FEURSTEIN 1993). Estudo de prevalência realizado naquele país,
com 44.233 entrevistas a partir de amostra de base domiciliar, encontrou a
auto-referência à síndrome do túnel do carpo por parte de 2,65 milhões
(1,55% entre 170 milhões de adultos). Entre os 127 milhões que trabalharam nos
últimos 12 meses anteriores à pesquisa, 0,53% (0,68 milhões) referiram que a
síndrome foi caracterizada por profissional de saúde (TANAKA e col. 1994). Os
ramos de atividades com maiores prevalências foram: produtos de alimentação,
serviços de reparos de automóveis, transportes e construção civil. As ocupações
que registraram maior número de indivíduos com queixas de LER foram:
trabalhadores dos correios, profissionais de saúde e de montagem de
equipamentos em geral (TANAKA e col. 1995). Outro estudo nos Estados Unidos
estimou em cerca de 400.000 a 500.000 as cirurgias de túnel do carpo realizadas
anualmente, traduzindo-se em um custo econômico da ordem de 2 bilhões de dólares
por ano (PALMER e HANRAHAN 1995)”.
(WÜNSCH FILHO, 1997, p. 7,8). Dados do United
States Bureau of Labour Statistics mostram
consistente aumento no número de casos de LER/DORT entre 1981 e 1994 nos E.U.A..
Em 1981 houve registro de 22.600 casos que representaram 18% das doenças
ocupacionais daquele país, ao passo que em 1994 foram 332.000, representando
65% de todas as doenças, portanto, um aumento de 14 vezes. No Brasil, o sistema nacional de informação do Sistema Único de Saúde não inclui os acidentes de trabalho em geral e nem LER/DORT, em particular, o que não permite se ter dados epidemiológicos que cubram a totalidade dos trabalhadores, independentemente de seu vínculo empregatício. Os dados disponíveis são aqueles da Previdência Social, que se referem apenas aos trabalhadores do mercado formal e com contrato trabalhista regido pela CLT, o que totaliza menos de 50% da população economicamente ativa (FUNDAÇÃO IBGE, 1991). Cabe ressaltar que esses dados são coletados com finalidades pecuniárias e não epidemiológicas. Feitas essas ressalvas, na tabela 1 pode-se constatar que das doenças consideradas ocupacionais pelos critérios da Previdência Social, o grupo das “tenossinovites e sinovites”, da Classificação Internacional de Doenças, no qual foram codificadas as LER/ DORT, é amplamente majoritário.
É
importante ressaltar que nem todos os acidentes de trabalho registrados no ano
de 1997 estão representados nesta tabela 1. No caso das doenças, por exemplo,
foram registrados nessa tabela, cerca de um terço do total de doenças. Estes dados e os da tabela 2 a seguir permitem concluir que o aumento de casos de doenças ocupacionais registrado pela Previdência Social a partir de 1992 deu-se às custas de LER/DORT, a despeito da subnotificação existente (IOT-HCFMUSP; CEREST/SP-SES; SMS Campinas, 1998).
Tabela 2: Distribuição de doenças ocupacionais
no Brasil segundo ano, entre 1982 a 1997
Fonte: Boletim Estatístico de Acidentes do
Trabalho - BEAT, INSS
Quanto à idade e sexo, dados do Ambulatório de LER/DOR do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, revelam que entre março de 1993 e dezembro de 1998, de 390 doentes com LER/DORT, 91,8% eram do sexo feminino e a média da idade foi de 38,5 anos. No NUSAT (Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social de Belo Horizonte), mais de 70% dos casos de LER/DORT atendidos são de mulheres e a maior incidência ocorreu entre trabalhadores entre 30 e 39 anos de idade (CUNHA e col., 1992). No CEREST/SP (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, em uma amostra de 620 pacientes atendidos entre 1990 e 1995, 87,0% eram mulheres, com faixa etária predominante entre 26 a 35 anos (45,0%) (SETTIMI e col., 1995). Fatores de risco
Não há uma causa única e determinada para a ocorrência de LER/DORT. A literatura mostra que vários são os fatores existentes no trabalho que podem concorrer para a ocorrência de LER/DORT. São eles: repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado, esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, em particular membros superiores, trabalho muscular estático, choques e impactos, vibração, frio e fatores organizacionais. Para que os fatores acima possam ser considerados de risco para a ocorrência de LER/DORT é importante que se observe a sua intensidade, duração e freqüência. Ressaltamos a importância da organização do trabalho caracterizada pela exigência de ritmo intenso de trabalho, conteúdo pobre das tarefas, existência de pressão, autoritarismo das chefias, mecanismos de avaliação de desempenho baseados em produtividade, tudo isto desconsiderando a diversidade própria de homens e mulheres.
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